Ma serannas escrita por moonabel


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Amo o Cullen. Amo elfos. Amo esse jogo. Bom, deu nisso. Inspirado pelas maravilhosas músicas de tavernas e do incrível carinho que sinto pela história. Boa leitura, espero que gostem ♥


ps: Algumas palavras estão escritas em outra língua, para melhor imersão. Pelo contexto se entende perfeitamente, mas se quiser, tem um ''dicionario'' completo aqui: http://dragonage.wikia.com/wiki/Elven_language



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Recolhi com cuidado a lenha, observando como a madeira era levemente suja pelos meus dedos com as pontas cheias de pixe. Joguei a cabeça para trás, tirando os fios de cabelo que me caíam sobre os olhos. Sem pressa, marchei de volta ao acampamento.  

   Hallas, graciosos cervos brancos me observavam de longe, e se eu não estivesse tão cansado, não conseguiria resistir-lhes um agrado. Suas galhadas refletiam a luz do sol de meio dia, timidamente aparecendo por espaços vazios que as folhas das imensas árvores não cobriam totalmente. Eu tinha de prestar atenção ao caminho, para não tropeçar nos troncos que pareciam mais antigos que a própria Thedas.

Chegando ao meu destino, cumprimentei a Zeladora, que observava cada detalhe do bosque parada na frente do acampamento, de braços cruzados. Seu rosto rabugento de sempre mudou para um sorriso quando me viu, com seus cabelos que lhe caíam sobre os ombros balançando vagarosamente junto à brisa. Tamlen era jovem demais para o trabalho de administrar uma pequena comunidade, mas pelo o que eu soube, ela não teve muita escolha.  É de longe, apesar de tudo, a pessoa mais responsável que eu conheço.

Debaixo de uma montanha, uma depressão na pedra criou um local plano, além de ser protegido da maioria dos problemas que os céus poderiam trazer. Nosso acampamento era pequeno, provisório. Mesmo assim, meu sentimento de que poderíamos estar em perigo nunca mudava. Estávamos a mercê de tudo. Aprendi a cuidar de algo tão frágil, nunca ficávamos parados num mesmo local por muito tempo.

Guardei meus pertences e armas num baú deixado ao lado da cabana, e acabei sentando num banco próximo, fechando os olhos cansados. Um casal passou atrás de mim, e assim pude ouvir alguns trechos da conversa:

— Disseram que outra fenda se abriu ao norte - a elfa disse, com a voz trêmula.

— Pelos Deuses, esse mundo está um caos!  - ele respondeu, e nisso eu virei minha cabeça para eles, sem pensar.

— Fenarel, meu garoto ! Não sabia que já tinha voltado da sua patrulha, como foi? – Ilen se aproximou de mim, trazendo a moça pela mão, como uma criança orgulhosa de um prêmio. Alim me cumprimentou, e eu me levantei do banco num pulo.

— S-sim, hoje foi boa – dei uma risada rouca, tombando um pouco o pescoço para o lado.

Seguimos juntos até o rio, que se encontrava um pouco seco pela escassez de chuvas naquele mês. Aproveitei para colher algumas ervas que cresciam ao longo da margem, que dariam ótimas poções. Ao longe, algo chamou minha atenção. Um som alto de cornetas, um cheiro sufocante de fumaça. Apoiamos-nos num rochedo e lhe escalamos rapidamente, possibilitando uma vista melhor das redondezas.

—  Shemlens! – gritei com uma enorme amargura na voz, rangendo os dentes.

— Rápido, melhor voltarmos para o acampamento! – Alim falou, apalpando o cinto em busca de sua adaga, com o rosto preocupado.

Dalish! Não lhes desejamos nenhum mal, apenas queremos dividir essa terra por um breve momento - uma moça loira com uma armadura pesada segurava uma longa espada em suas mãos, com um olhar que me provocava calafrios. Seu sotaque era algo que eu nunca ouvi igual. 

Diferente de outros clãs, o nosso muito raramente tinha contato com aquele tipo de gente, numa tentativa de preservar nossa própria cultura, extremamente danificada por vermes de orelhas curvadas.

— Represento a Inquisição como Arauto de Andraste – Ela se curvou, fazendo um barulho metálico com a armadura.

A Zeladora balançou os ombros, correndo os olhos no pequeno exército que se erguia atrás da estrangeira que lhe falava.

Shemlen.  Não me vejo numa posição de negar, já que não somos donos de nada. Apenas lhes imploro que não afetem o ambiente, é sacro para nós – Tamlen ergueu o queixo – E não ousem fazer nenhum mal ao meu povo.

— Entendido – Ela fez um sinal de agradecimento e pôs sobre a cabeça um elmo, e por debaixo dele pude ver um longo sorriso. Exausto e verdadeiro – Homens! Marchem! -  ordenou, apontando na direção da clareira mais próxima.

A arauto de Andraste. A mulher que fecha as brechas no céu. Seu nome era sussurrado, com vozes igualmente divididas entre medo e respeito.

—_________________________________

Pessoas de todas as maiores variedades e tamanhos se reuniram em volta da fogueira, dando gargalhadas e muitos goles de uma bebida que lhes alteravam. Shemlens eram engraçados. Dei um suspiro, abraçando minhas pernas que descansavam numa colina ao lado do acampamento. De lá, podia lhes observar durante toda a noite sem ser notado, o que era minha intenção. Obviamente, brincar com o fogo pode machucar. E, mesmo sem perceber, eu me aproximei demais de suas chamas.

— Mais um encanto da floresta rapazes! – Uma voz grossa acompanhada de mais três surgiu atrás de mim, fazendo-me virar em um pulo.

Uma figura monstruosamente grande com enormes chifres riu, segurando um copo vazio. Seu rosto coberto de cicatrizes se encontrava levemente vermelho, e soluços escapavam sua boca.

— Esses Dalish realmente são umas coisas... – segurando- se contra uma arvore do meu lado como se estivesse caindo, o segundo shemlen acompanhou a risada.

Meu coração acelerou. Olhei para todos os lados arquitetando uma rota de escape, sem sucesso.  Nojentos. Não sei o que queriam, mas tenho certeza que não é nada bom.  Eles se aproximaram:

— Diz, elfinho... O que acha de se divertir um pouco hoje a noite? – Seus braços do tamanho do meu corpo todo seguraram minha mão, fazendo me encolher muito os ombros em repulsa.

— Você tem o cabelo grande, até parece uma moça – o bafo do terceiro me causou náuseas.

— Chega, Touro.

Ergui os olhos procurando a voz. Soava terna e calma, ao mesmo tempo imponente. Um shemlen mais alto que eu puxou o braço do monstro, olhando-o com seriedade.

O homem com chifres por sua vez apenas grunhiu, recuando. Cuspiu algumas coisas em outra língua, nem quero imaginar quantas palavras ruins ele usou para me descrever.

Fez um sinal para seus companheiros lhe seguirem, e assim o fizeram. Ficamos sozinhos, eu e o misterioso shemlen.

— Você está bem? – seus lábios me hipnotizaram.

Eu apenas fiz um sinal com a cabeça, afastando meu corpo. 

— Você... – ele olhou para o lado, sem parecer saber as palavras – sabe minha língua?

— Infelizmente, shemlen.

Tão bonito para eu odiar. Ele deu uma risada abafada que me fez tremer, e estendeu-me a mão.

— Cullen, prazer.

Olhei-o dos pés a cabeça, cautelosamente estendendo minhas mãos trêmulas para ele, que se surpreendeu ao perceber o quão geladas estavam. Motivo de muito arrependimento por minha parte, por ter esquecido minhas luvas. Sempre era frio durante a noite naquelas partes. Vasculhei minha mente para meu próximo passo, mas ela se encontrava em branco. Ao ver que eu demoraria a responder, ele continuou:

— Bom, apenas tenha mais cuidado ao andar sozinho.  Estarei no acampamento, se precisar de mim.

Ele sorriu para mim, evidenciando sua cicatriz que lhe cortava o lábio.

—_______________________________________

O dia seguinte se iniciou confuso. Minha intuição não me fazia me sentir melhor, então simplesmente saí para um passeio. O sol se erguia com vigor nas montanhas, e a névoa ainda cobria a floresta, deixando o ambiente extremamente úmido. Eu já explorei muito a floresta. Seus mistérios e beleza me intrigavam de uma maneira... que me lembra aquele shemlen. Balancei a cabeça ao lutar com tais pensamentos, seguindo minha trilha matinal.

Um choro ecoou até meus ouvidos. Uma criança estava sozinha, sentada em uma pedra coberta de limo ao lado do rio. Ela apoiava os braços no colo, com os ombros tremendo.

Quando comecei a me aproximar, uma pessoa familiar a mim teve a mesma ideia. Ele parecia não ter me visto,  agindo sem cuidado.

— Ei... por que está chorando? – Ele se agachou na frente do pequeno elfo, apoiando-se na pedra. Aquela voz... Deuses, o que estava acontecendo comigo...?

Ma halani... Lasa ghilan— Ela olhou nos olhos do loiro, que secou-lhe as lágrimas com o polegar.  A criança pronunciava com dificuldade as palavras, no meio de soluços.

— Óbvio – ele suspirou cabisbaixo – Você não fala inglês, né?

Ela balançou a cabeça, sem entender. Intervi, saindo de trás do pinheiro:

Da’len len dar dareth, ghilas haren. Vir tasallen.

Ele se levantou, boquiaberto, curvando levemente as costas. A pequena e frágil criatura correu para me abraçar rapidamente, desaparecendo por entre as árvores ao seguir minha ordem.

Olhei para o shemlen. Sua cara confusa era extremamente adorável.

— Se importa em explicar?

Len numlin perdeu sua mãe. Expliquei-lhe para seguir até onde nossa Zeladora estaria.

Sua expressão mudou, se tornou algo mais parecido como uma admiração. Ele chegou mais perto de mim, com as mãos apoiadas no cinto de metal, reluzindo.

— Pensei que fossem treinados apenas para matar – dei um riso sarcástico, cruzando os braços.

— Somos, em nossa maioria. Mas um lugar lindo como esse merece uma exceção... – ele olhou em volta.

Me perdi novamente em seus olhos. Refiz a postura,estendendo os ombros para frente. Ele era um shemlen, pelos Deuses. Devo odiá-los, tratá-los como tratam outros elfos.

— Vou voltar ao meu dever. Passar bem – me virei, mas fui segurado. Sua mão coberta por uma extensa luva de couro rígido puxou meu braço. Ele me olhava, extremamente inquieto na tentativa de falar algo:

— Eu... verei você novamente?

— Reze para seu Deus – rosnei, com um aperto no peito.

— Por favor, te esperarei nesse mesmo local hoje à noite -  ele soltou-me, limpando a garganta.

—_____________________________________

Não quero admitir o quanto me seduzi  facilmente pelo shemlen.  Não quero admitir que eu me encontrava caminhando vagarosamente, guiado pela lua, até à margem do rio. Jamais admitirei que meu coração quase derreteu ao encontrar com seu sorriso.

— Achei que não viesse.

Me arrependi no mesmo momento.

— Diga logo o que quer, shemlen.

— Me chame pelo meu nome. Assim como eu deveria saber o seu – ele inclinou a cabeça, apoiando as mãos na cintura.

Como posso ser tão tolo?!

— Fenarel – mordi o lábio – me chamam desse jeito, ao menos.

Ele coçou a barba mal feita, com os olhos inundados em pensamentos. Tentou começar a falar diversas vezes, gaguejando a cada sílaba que lhe escapava.  Me aproximei, encostando levemente a mão em seu braço. Ele me olhou assustado, e finalmente reuniu coragem:

— Eu não consigo lhe tirar da minha mente.

Franzi o cenho, recuando.  Não consegui responder.

— Sei que somos homens, sei que você deve me odiar. Mas eu não conseguiria me perdoar se não tirasse isso de mim – ele parecia determinado. Seus olhos estavam pesados, cansados.

 Senti algo diferente dentro de mim. Era raiva. Uma raiva misturada com um extremo desejo que por mais que eu me esforçasse, não consegui conter.  

Shemlen, você pode se arrepender... – desviei o olhar, sentindo o rosto quente.

— Posso te beijar?

Virei o rosto rapidamente em sua direção, para nos encontrar próximos um do outro. Próximos demais. Era muito perigoso, deixar minha guarda baixa assim. Eu estava como um carneiro tolo prestes a ser abatido por um leão faminto, e não poderia fazer nada. Ele passou os dedos nas tatuagens que cobriam meu rosto.

Seus lábios tinham um gosto bom. Meu corpo inteiro se arrepiou quando ele tocou-me, fazendo de leve um carinho em meus cabelos. Delineou meu rosto, enquanto movia o queixo para me beijar melhor.

Eu estava tão confuso, que comecei a pensar apenas nele. Seus olhos, seu sorriso. Minha forma mais primitiva, mais selvagem. Segurei suas costas, enquanto as palavras soavam na minha cabeça como em uma caverna.

Nossa – sussurrei, encolhendo os ombros.

— Me perdoe... isso foi.. – ele olhou para o lado, sorrindo – foi muito bom.

— Você se arrepende?

Ainda com mãos firmes em meus quadris, seus braços largos me envolviam, esquentando meu espírito.

Nos beijamos novamente, tão ansiosos para provar de uma paixão tão repentina e impossível.

—_________________________________________

— Tenho que voltar para a fortaleza.

Senti uma pontada no estômago.

Nos encontramos durantes vários dias, e justo nesse por do sol tão lindo, ele faz isso comigo.

— Como consegue me abandonar tão facilmente?

— Todos precisam de mim, eu... Fenarel. V-venha comigo – ele se ajoelhou, tomando minhas mãos, beijando-as.

Quê? Realmente acha que eu vou ser aceito lá? Seu povo me despreza.

Puxei-o para levantar, odeio pessoas sendo submissas à outras. Ele parecia surpreso.

— Isso é tudo da sua cabeça – senti-lhe fazendo um carinho na minha bochecha – Eu te imploro.

Senti o cascalho da estrada em meus pés descalços. Senti minha mão suar. Senti medo.

— Confie em mim – ele continuou, com olhos preocupados.

Dei-lhe um rápido selinho, quando todas as memórias da minha vida naquela floresta passaram na mente. O mundo estava acabando. Se eu não fizesse nada... Me sentiria incompleto.  Era muito cedo para dizer que eu não viveria sem ele, mas ainda tenho muito a vivenciar. Se eu deveria morrer um dia, que seja feliz, e não dentro de um casulo, amargurando tudo e todos.

Ma vhenan... – suspirei, quando nossas bocas se separaram.

— O quê? – ele me perguntou, confuso, arqueando uma sobrancelha.

— Meu amor.

Beijei-lhe novamente, sem dar-lhe espaço para me responder.

 


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Notas finais do capítulo

Meu deus, quero um Cullen para mim



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