Deixo Sataniel para trás e começo a ir em direção da porta, furiosa e transtornada, um dia no inferno e já estou noiva de um galinha, não que eu fosse realmente me casar com um cara que se acha tanto, quero dizer, seria uma relação a três, eu, ele e a merda do seu grande ego.

Acho rapidamente a porta vermelha e entro novamente no mundo dos corredores sem fim, infelizmente não consegui gravar o caminho de volta para o meu quarto, e não sei se existe algum tipo de magia de transporte, meus pês começão a doer intensamente com esses malditos saltos, fecho os olhos e me vejo vestindo um confortável tênis.

Abro novamente e sinto um alivio imediato, mas não por muito tempo, ouço passos vindo em minha direção, viro-me na esperança de encontrar alguém para me mostrar o caminho certo antes que eu morra a minguá nesse labirinto desgraçado pela própria natureza, para o meu azar, quem eu encontro vindo em minha direção e justamente quem eu menos gostaria de ver nesse momento.

— Acho que já conversamos tudo que tínhamos de conversar - viro-me irritada, convencida a achar o caminho sozinha.

— Eu me lembro de você me prometeu brincar um pouco - diz Sataniel me alcançando.

Começo a rir sarcasticamente, só podia ser brincadeira, o cara não tem mesmo semancol.

— Nem por todo ouro do mundo rapaz.

— Qual é? a gente vai se casar mesmo.

Fico mais furiosa ainda só pela possibilidade de um dia casar com alguém, ainda mais se esse alguém vem com o ego maior que o celebro.

— Você não pensou na possibilidade de eu simplesmente escolher ser um anjo?

— Nunca, e preferível ser um mero humano do que um anjo pomposo...

Olho mais a frente e milagrosamente vejo a porta do meu quarto, e se não for meu quarto, bom, eu me tranco lá de qualquer forma ate Sataniel ir embora e me deixar sozinha para procurar.

— Qual o problema em ser um anjo?

— Ter alguém vinte quatro horas na sua cabeça não e muito legal sabe, o criador esta sempre vigiando os seus brinquedinhos angelicais, falando em suas cabeças, ordenando eles a fazerem as coisas, coisas que eles não tem escolhas, e fazer ou enlouquecer, se lembra do seu amiguinho anjo, ele estava a ponto de enlouquecer, aposto tudo que ele estava a muito tempo lutando contra a ordem de matar você... - paramos na porta do meu quarto, não consigo entrar e me trancar lá antes de saber mais sobre o que Sataniel esta falando.

— Como você sabe isso?

— Simples, todos os demônios de verdade, já foram anjos minha linda, Lúcifer o portador da luz era o mais poderoso entre todos nós, nosso líder, não apenas dos que cairão, mais sim de todos os anjos, apenas alguns dos anjos tinham as mesmas aspirações que Lúcifer, queríamos liberdade da tirania que nos cercava a milênios, então o criador fez o homem a sua imagem igual nos fez, mas adivinha nossa surpresa quando os humanos podiam fazer o que bem entendessem em nosso jardim, enquanto todos os anjos foram colocados como meras babás, eramos seres celestiais servindo a meros mascotes.

Enquanto Sataniel me revela a verdade do exilamento dos anjos eu fico horrorizada, tio Gabriel parecia seriamente louco quando tentou me matar.

— Gabriel era o segundo anjo mais forte, ele se conformou em proteger e vigiar os humanos, Lúcifer queria a liberdade, seguimos ele, imploramos ao criador para nos tornar meros humanos, para que pudéssemos ter o milagroso livre-arbítrio, ele nos ignorou, então quando Lúcifer estava quase conformado em viver para os mortais deus criou Lilith, a primeira mulher, criou-a como criou Adão, todos nos apaixonamos por ela, uma amazona, linda, perfeita aos olhos de Lúcifer, mas ela foi feita para Adão, enquanto os outros humanos terminavam de evoluir fora do jardim, Adão e Lilith eram os escolhidos, para serem para sempre o guia da humanidade...

— Lilith, foi quem cuidou de mim...

— Sim, Sim, bom realmente era Lilith, mas ela já não vive entre os mortais, ela apenas saiu de seu exílio de morta para cuidar de você a pedido de Lúcifer, seu único e grande amor, foi assim que caímos princesa, Lúcifer se apaixonou pela primeira mulher criada no jardim, e ela se apaixonou por ele, escondido eles se amavam, até que nosso pai, o criador, descobriu, Lilith estava gravida do primeiro mestiço - aquilo realmente me choca, Lilith, a mulher que cuidou de mim enquanto eu não podia, viveu um romance com meu pai — O criador não aceitou, os anjos sentiram pena de Lúcifer e imploraram que o criador os deixasse, mas papai apenas matou Lilith, ainda gravida, perdoou Lúcifer e criou outra humana, mas diferente de Lilith essa humana era parte de Adão, eles eram podres princesa, não respeitavam as leis, não amavam nada alem de si mesmos, Lúcifer estava determinado a mata-los, o fruto proibido que os humanos não poderiam comer era uma pequena frutinha, a fruta dos anjos, qualquer ser que não fosse um anjo que comesse essa fruta era imediatamente morto, então Lúcifer atraiu Eva com promessas de poder angelicais se ela comesse junto de Adão.

Seus olhos estão perdidos em memorias que nem mesmo eu posso traze-lo de volta.

— Eles comeram, mas em vez de morrerem haha, eles sentiram os sentimentos que nunca lhes foram apresentados, eles só conheciam o amor, ganancia, e paixão, mas então eles sentiram a vergonha, o medo, a avareza, o ódio e a dor, ah o criador ficou irado, decidiu exilar Lúcifer aqui, sem asas, eternamente fadado a cuidar dos mortos, a julga-los, emfim longe do paraíso ele poderia fazer o que bem quisesse assim como ele tanto implorou, contanto que nunca jamais sai-se totalmente do sub-mundo, então os mais leais a Lúcifer se rebelaram, recebendo castigos semelhantes, tornando-nos demônios, arrancando nossas asas, o que antes eram nossos dons, virou nossas maldições...

— Tudo isso por que um anjo se apaixonou por uma humana?

— Você ainda não entendeu, todas as lendas, os deuses sempre foram retratados como seres cruéis que eram adorados por humanos, no final não somos humanos Lilith, também não somos deuses, tudo sempre se tratou de adoração cega, o criador queria vencer os outros deuses, ele queria humanos perfeitos que o adorassem, quando isso não aconteceu ele os matou, então matou novamente e novamente em um ciclo sem fim, até que todos ou acreditavam nele e o adoravam ou simplesmente não iam contra ele deixando assim de acreditar em qualquer entidade, tudo sempre se tratou de adoração, por isso a liberdade, para que o adorassem, os anjos não tinham escolha, mas os humanos sim, Lilith escolheu adorar o seu único amor, e Lúcifer como todos os outros que cairão lutaram contra a adoração que sentíamos por nosso criador, caímos e evoluímos para o que ele mais detesta.

Fico calada, toda essa conversa só me faz crer que não importa o que eu escolha, ele nunca vai me deixar viver, não sem uma guerra, não sem o apoio dos dois lados, eu sou uma contradição.