Humbug escrita por Suco de Fruta


Capítulo 1
Pseudoserenata


Notas iniciais do capítulo

Essa minha primeira fanfic. Espero que gostem, deixem sua opinião, críticas, sugestões, etc. ;)



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Eu faria com o meu orgulho aquilo que dois meses antes eu havia feito com todas as fotos e possíveis lembranças de nós dois. Todos aqueles rastros da existência do que naquele momento era visto por mim como um “falso amor” me machucariam ainda mais. Eu precisava descarregar a raiva; eu precisava acabar com tudo.

Dois meses antes, eu havia destruído tudo que restara para me lembrar da nossa relação. E naquele momento eu estava prestes a fazer algo que aniquilaria o que restara de minha soberba; qualidade que até então me mantivera distante de Andrew mesmo depois de me arrepender daquele rompimento. Mas eu não podia suportar mais. Sentia-me culpada.

Sentei-me em minha cama uma última vez ainda hesitante. Repassei o plano mentalmente enquanto balançava as pernas, tensa: primeiramente, eu teria de me virar com o violão nas costas enquanto me dirigia, pedalando, à casa de Andrew; chegando lá... Interrompi a sequência de atos em minha mente com uma dúvida: como eu chamaria a atenção dele? Jogaria pedras em sua janela? Não, melhor não. Além de ser muito “filme”, isso poderia machucar alguém ou quebrar algo. Olhei para o relógio no criado mudo ao lado da minha cama. 16:30. Se as coisas não tiverem mudado muito em dois meses, ele estaria saindo de casa em breve para jogar bola às 17:30. Precisava me apressar. Eu improvisaria. Tudo o que tinha em mente é que seria o pedido de desculpas mais profundo e talvez mais arriscado de minha vida. Contudo, ele precisaria aceitar. Eu estava prestes a fazer algo parecido com uma serenata – minha nossa, como isso soa ridículo – para ele.

Meus devaneios de repente focaram no quanto aquela música que eu planejava tocar era parte essencial de nossa história. “Serenata”... Isso soa ridiculamente ridículo. Eu simplesmente o chamaria na janela e pediria desculpas, e talvez tocasse a música para lembra-lo dos velhos tempos. Uma menina tocar para um menino pode não ser tão comum, mas não há nada de errado nisso. Oh, como eu queria não me importar com as aparências e opinião dos outros. Quem estava querendo enganar? Aquilo seria estranho. Era melhor eu simplesmente tocar a campainha e pedir para entrar e conversar com ele. Não, mas a mãe dele poderia atender e seria constrangedor. Melhor chama-lo à janela e pedir para subir.

Encarei o relógio novamente. 16:45. Era inacreditável quanto tempo eu perdia pensando – e repensando – em tudo. Eu não tinha mais tempo. Não podia mais refletir sobre isso. Sentia minha mente guerrear com todas as suas forças contra meu coração dentro de mim. Mas, infelizmente, ele era forte. E estava me guiando agora, por mais que a razão conseguisse me deixar confusa e hesitante. A emoção vencera aquela batalha, que também ferira meu orgulho.

Levantei-me de ímpeto, com um suspiro decisivo. Coloquei o violão nas costas tentando não pensar demais, tentando não voltar aos devaneios e tentando, sem sucesso, conter as borboletas que invadiam meu estômago. Saí do quarto e desci as escadas correndo, feliz por nem meus pais, nem Claire, estarem em casa para perguntar aonde eu ia. Eu não estrava tremendo, mas de alguma forma o nervosismo dificultara o simples ato de trancar a porta de entrada da casa. Montei em minha velha e amada bicicleta e comecei a pedalar.

O tempo estava bonito – para mim. A luz solar era fraca. Olhei para o céu; não tardaria a chover. O som dos pássaros trazia um clima agradável que quase me fizera esquecer o que eu estava prestes a fazer. Na verdade todas aquelas árvores e as ruas tranquilas daquela pequena cidade me trouxeram outras lembranças.

Voltei dois meses, novamente.

— Andrew, seu idiota! Como pôde fazer isso comigo?! Eu sempre confiei em você – eu havia gritado.

— Eu não fiz nada! Você quer me escutar? – ele gritara de volta, já quase tão nervoso quanto eu.

— “Não fiz nada”?! Eu tenho fotos, Andrew! Eu tenho fotos, tenho testemunhas. Eu não posso viajar tranquila que você se aproveita, seu canalha!

— Quer saber? Pra mim já chega, Margot. Eu não sou obrigado a escutar tanta merda. Eu vou embora, e você se resolve aí...

— Eu me resolvo?! Eu não tenho nada o que resolver, está tudo acabado! – eu estava chorando. Queria explicações, queria entender, queria que não fosse verdade. Porém não era capaz de ouvi-lo. As palavras saíam aos nervos dos meus lábios e eu não podia contê-las. Eu estava fora de mim.

— Ótimo! – foi sua última palavra, pronunciada com algo parecido com incredulidade encoberta por uma falsa satisfação, enquanto erguia os braços e depois os soltava como se estivesse cansado de discutir, como se desistisse. Ele deu alguns passos até a porta e depois se virou, abrindo a boca como se fosse falar mais alguma coisa. Entretanto, apenas balançou a cabeça e continuou seguindo seu caminho.

Eu chorei por mais algumas horas, até acabar adormecendo, já sem lágrimas. Mas o que aconteceu nesse dia e nas semanas seguintes, não era importante agora. Era melhor ser esquecido. Uma parte da história que em minha mente gostaria de sempre poder pular. Até chegar um mês depois da briga. Um mês antes do que eu planejava ser um pedido de desculpas.

— Margot, como você é ingênua! Deveria ser mais desconfiada com essas coisas que recebe. Ainda mais hoje em dia em que se vê de tudo na internet – falou Maia, sorrindo.

— Eu estava nervosa... Não conseguia pensar direito – respondi envergonhada.

Havíamos acabado de entender tudo. Sentadas em minha cama – confortáveis e despreocupadas quanto sua posição como são duas grandes amigas quando estão juntas – numa tarde de sábado, estávamos conversando sobre o episódio de um mês atrás.

Ela sabia o quanto eu havia sofrido com tudo aquilo. Havia sido a primeira informada no dia em que, sem qualquer aviso, recebi fotos do Andrew beijando outra menina. Sara era a remetente, mas não a autora das fotos. Ela apenas tinha recebido, de alguém que não quis falar o nome. Desesperada, liguei para Maia na mesma hora.

Toda aquela história havia me convencido. O fato de que ele havia ido em uma festa de aniversário enquanto eu viajava; as fotos do beijo; pessoas comentando. Minha raiva não permitiu que eu investigasse melhor. Porém, um mês depois, a verdade viera à tona. Maia – stalker profissional –, em suas rotineiras pesquisas em redes sociais, havia encontrado fotos incrivelmente semelhantes às que eu havia recebido. Percebeu o que eu já deveria ter pensado: haviam editado as fotos. Eram montagens.

Quando me contou tudo, eu não quis saber quem havia feito isso; eu não pensei em entender porque duas pessoas diziam ter realmente presenciado o beijo. Eu apenas me senti estupidamente idiota por fotos falsas terem me convencido de que Andrew me traiu. Apenas algumas horas depois é que muitas dúvidas invadiram minha mente. Por que haviam feito isso? Quem? Resolvi falar com as “supostas testemunhas” novamente, um mês depois do ocorrido.

Elas pareciam ter mudado sua história. De repente tudo parecia incerto. O que antes era “Vi o beijo” se tornou “Vi eles conversando e depois não vi eles mais”, quando eu perguntei novamente sobre Andrew e a garota na festa, depois de ter informado a descoberta de Maia sobre as fotos. Tudo parecia uma farsa. Porém, passada uma semana, desisti de tentar entender tudo. Aquela “investigação” não me levaria a lugar algum. Porém, as poucas descobertas que eu havia feito eram o suficiente para convencer a todos de que não existiu beijo. Eu fui enganada. Não fui a única, mas me sentia estúpida. E culpada. Eu havia acabado com um relacionamento de um ano por causa de uma bobagem.

Passei as semanas seguintes tentando esquecer tudo. Tentativa fracassada.

E lá estava eu, já próxima à casa de Andrew, diminuindo o ritmo da pedalada. O portão para o que parecia um jardim de entrada – mas não exatamente – estava aberto. Entrei com a bicicleta e a deixei apoiada em um muro. Retirei o violão da capa e com ele atravessei o local até me aproximar da janela de seu quarto, que estava aberta.

Fiquei parada lá por uns instantes, sem saber o que fazer. Sentia minha barriga congelada. Precisava fazer aquilo e não pensei em jeito melhor; gritei:

— Andreeew!

Arrependendo-me logo em seguida. Parecia que minha garganta estava congestionada e que eu não pronunciava uma palavra a séculos. Minha voz saiu em um volume e em um tom inesperados. Senti-me envergonhada assim que imaginei a reação que alguém, que não fosse ele, poderia ter ao me ouvir.

Não demorou mais que alguns segundos para uma garota aparecer na janela. Ela estava nua. Pelada. Eu não vi nada exatamente, mas sabia disso. Ela segurava alguma roupa ou algo do tipo a sua frente, tampando o necessário acima da janela. Pareceu assustada assim que apareceu, mas quando me viu pude notar um traço de divertimento em sua expressão. Em poucos instantes Andrew apareceu – adivinha? Também despido – ao seu lado. Ele aparentava surpresa.

Tudo aconteceu muito rápido depois disso. Eu me dei conta de que estava com um violão no jardim de frente para a janela do meu ex-namorado sendo observada por ele e por uma menina com quem fazia sexo às 17 horas de uma quarta-feira. Situação um tanto peculiar, pensei.

E se eu já me sentia ridícula, as coisas ficaram piores ainda quando a garota começou a sorrir, quase rindo. Por um instante cogitei que pegaria o celular pra registrar a cena.

— O que você quer? – perguntou Andrew, em um tom que não era grosseiro, mas não chegava a ser gentil.

Paralisada por um instante, permaneci em silêncio. Mas não estava pensando no que falar. Não conseguia pensar. Só conseguia me perguntar por que diabos eu havia tido essa maldita ideia. Queria que a razão tivesse detonado meu coração naquela guerra interna, para que eu não me encontrasse, naquele momento, petrificada olhando que nem uma idiota para um ponto fixo na janela, sem saber o que dizer.

— Eu... Eu só...


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