Linhas Cruzadas. escrita por MissDream


Capítulo 19
Pânico.


Notas iniciais do capítulo

Olha quem voltooou!!
Dessa vez nem demorei muito né? Então deixa eu agradecer primeiramente a vocês pelo carinho enorme que recebi, foi maravilhoso ler cada comentário de apoio, cada palavra de carinho e cada opinião. Eu amei. Confesso que até me ajudou a desenvolver alguns pontos da história.
Então como eu sou uma autora que sabe retribuir, trouxe pra vocês um capítulo enorme, mas como nem só de coisas boas vivemos, eu tenho uma noticia boa e uma ruim.
A boa e que teremos olicity (aeeeeeeeeew, posso ouvir um amém?)
A ruim é que eu vou ficar off por um tempo. Segunda feira vou fazer uma pequena cirurgia dentária e vou precisar ficar de molho (me mandem energia positiva porque eu tenho pânico de dentista).
Anyaway, espero que vocês gostem porque eu demorei para concluir esse kkkk
BOA LEITURA!!



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"I've been cold, I've been merciless, but the blood on my hands scares me to death..."

 

 

Oliver Queen.

Eu estava assustado, me sentia perdido no meio daquela imensidão vermelha que manchava tudo ao meu redor. O corpo de Helena caído em meus braços, tão frágil e desfalecido que me aterrorizava, seus olhos estavam grudados nos meus enquanto ela arquejava tentando respirar. Tudo aconteceu de forma tão rápida, em um momento ela tentava me contar algo, num outro um tiro lhe atravessou as costas, um tiro tão silencioso que por mais que eu girasse meus olhos pelo local, não conseguia identificar de onde viera.

̶  Helena, olhe pra mim, apenas pra mim. – pedi ainda a segurando. – Fique comigo, não feche os olhos.

̶  Está tudo bem, Oliver. – ela falava com dificuldade. – Agora está tudo bem. – se engasgou no próprio sangue.

̶  Precisamos tirá-la daqui, a ambulância está a caminho. – Felicity estava ao meu lado tentando afastar as pessoas.

̶  Ollie... – a morena chamou num sussurro fraco. – Você se importa. – sua tentativa de sorriso fez os lábios carnudos tremerem, enquanto uma lágrima escorria pelo canto dos olhos.

̶  Claro que eu me importo, eu prometi cuidar de você, lembra? Eu estou aqui agora. – sorri para ela sentindo uma lágrima quente arder minha bochecha. – Vai ficar tudo bem.

̶  Me perdoa... 

̶  Helena, está tudo bem. – ela entrelaçou seus dedos nos meus que estavam pousados em seu rosto.

̶  Lembre-se que eu te amo. – senti sua mão escorregar da minha, enquanto ela soltava um suspiro, e eu via a vida abandonar seus olhos, olhos esses que eu sempre admirei. Deixei que as lágrimas tomassem seu caminho de forma discreta, ela havia partido e não tinha nada que pudesse ser feito.

A ambulância chegou a tirando de meus braços para levá-la ao hospital, mas eu sabia que não tinha nada que pudesse ser feito, nada traria Helena de volta. Encarei minhas mãos corbertas por seu sangue e senti o ar estancar em minha garganta. Era mais uma vida ceifada as minhas custas, por minha causa Senti uma mão tocar meu ombro, apertando a região, me virei apenas para encarar os olhos azuis de Felicity que tinham um tom avermelhado por seu choro contido.

̶  Respire, Oliver. – as palavras saíram quebradas por seu suspiro. – Você precisa respirar. – eu tentei puxar o ar, mas ele parecia não querer vir. O desespero tomava conta de mim enquanto todo o meu corpo parecia uma batedeira. Eu estava tendo um ataque de pânico.

̶  Felicity... - ela me olhava preocupada, eu podia ver em seus olhos o pavor, mas o medo era mais forte, ele me chamava para a escuridão como um imã. O lugar parecia girar no ritmo de um carrossel enquanto o rosto de Felicity perdia o foco.

̶  Você está suando frio. – ouvi a voz dela, mas não consegui identificar sua proximidade. – Oliver, fique comigo. – as imagens das fotografias no meu apartamento começaram a rodar na minha cabeça junto com a visão da minha família e Helena caída ali. Eu era o único responsável por todo esse derramamento de sangue. – Apenas respire Oliver. Respire. – a voz calma me atraia para si enquanto senti apertos suaves na mão.

A voz de Felicity estava cada vez mais consistente, ela me chamava com ternura, me pedindo para lutar por minha respiração enquanto acarinhava minha mão. Aos poucos consegui regular meu sistema respiratório, e só quando abri os olhos é que percebi estar sentado próximo ao elevador com ela de frente para mim. Seu rosto tendo o poder de me acalmar.

̶  Obrigada. – suspirei me sentindo cansado. Toquei meu rosto percebendo só agora as lágrimas ali.

̶  Se sente melhor? – assenti enquanto ela me oferecia uma água, passei meus olhos pelo lugar e ele parecia vazio. – A pericia está lá fora esperando para entrar.

̶  Eu... Cuide deles para mim, preciso ficar sozinho.

̶  Tem uma coisa que eu preciso te contar, Oliver. – ela se afastou enxugando o rosto. – Helena não morreu por acaso. 

̶  O que? – seu rosto estava serio, ela parecia tensa em continuar. – Como assim? Felicity, ela morreu por minha causa, eu fui o culpado por deixá-la vulnerável.

̶  Vamos subir, o que eu tenho para te contar é muito importante. – caminhou para chamar o elevador enquanto eu a seguia totalmente confuso apenas observando ela liberar a entrada para a polícia.

O caminho até o esconderijo pareceu mais longo que o de costume, eu estava curioso para saber o que de tão grave foi capaz de tirar Felicity de seu equilíbrio emocional a ponto de deixá-la nervosa.

̶  Pronto, já pode me contar. – eu estava curioso e ainda precisava me limpar

̶  Preciso que confie em mim. – ela olhou dentro dos meus olhos num pedido mudo. – Helena estava trabalhando para o alfa. – foi como se eu tivesse levado um soco na boca do estomago, capaz de arrancar todo o ar de meus pulmões.

̶  Não, ela não teria como fazer isso sem eu saber. 

̶  Essa era a missão dela, se envolver com você e ganhar sua confiança para te enfraquecer, ela era uma infiltrada aqui dentro. – ela caminhou até a mesa de Ray pegando o tablet e digitando algo antes de me entregar. – Está tudo aqui. – encarei a ficha completa de Helena Bertinelli, sua verdadeira origem, seu codinome no mundo do crime, suas especialidades e todos os trabalhos que ela já fez. Estava tudo ali de forma bastante detalhada.

̶  Não pode ser... – senti uma ira crescer dentro de mim enquanto absorvia toda aquela informação. – Eu não posso ter sido tão cego ao ponto de me deixar enganar por ela, não Felicity. Helena era doce, ela seria incapaz de me fazer mal, ela... Me amava.

̶  Oliver, olha pra mim. – pediu. – Helena foi contratada para descobrir suas fraquezas, ela era um bode expiatório, mas ela cometeu um grande erro – me encarou profundamente de modo enigmático. – Ela se apaixonou pela presa, ela te amou todo esse tempo, e eu acho que foi por isso que ela morreu. – as últimas palavras saindo de forma arranhada da boca dela. 

̶  Dois anos. Dois malditos anos sendo espionado por ela, e agora eu nem si quer consigo odiá-la. – bati o objeto na mesa ouvindo o display rachar. – Eu não posso odiá-la sabendo que mesmo de forma errada, ainda continua sendo minha culpa a sua morte, mas eu também não posso sentir sua perda, não agora depois de tudo isso.

̶  Oliver, eu sinto muito. – ela se aproximou. – Helena te traiu, mas ela se foi agora e já não há mais nada que você possa fazer, odiá-la não concertará as coisas.

̶  Eu só quero que esse pesadelo acabe. – passei as mãos pelos cabelos sentindo todo o cansaço me atingir. – Eu não aguento mais, Felicity, não posso lidar com todas essas perdas. – respirei fundo sentindo todo aquele peso sobre meus ombros, mas apesar de tudo, eu não consegui chorar. Talvez não houvesse mais lágrimas.

̶  Foi minha culpa. – a voz dela soou amargurada. – Eu a joguei pra morte.

̶  Por que está dizendo isso?

̶  Quando eu descobri quem Helena era de verdade, eu a pressionei a te contar tudo, dei a ela dois dias para te procurar, acho que foi isso que fez ela ir atrás do alfa, ela buscou por ele. E ele a matou para calar sua boca, talvez a redenção dela fosse te contar sobre ele no intuito de você a perdoar.

̶  Como soube de Helena? – senti seu corpo tencionar com a minha pergunta e ela logo se afastou de mim. – Se nem mesmo a Argus tinha essa ficha sobre ela, como você conseguiu?

̶  Helena vem de uma família de mafiosos, ela não era nenhuma ingênua, não foi fácil se manter no radar da Argus como uma órfã de família falida, essa foi a ideia desde o começo. Ela implantou uma ficha falsa no banco de dados de todo o sistema nacional.

̶  Isso ainda não responde como você descobriu tudo. – ela engoliu em seco. Algo não estava certo.

̶  Eu entrei no bando de dados Kuttler. – qualquer um sabia o quão impossível era acessar os programas de Noah Kuttler, ele era o maior hacker do sistema nacional, um ex-agente cibernético da Argus que foi demitido após criar sistemas ilegais na web, não era em vão que ele era conhecido como o calculador. O cara era um gênio da tecnologia. Ela pareceu ler meus pensamentos, pois a resposta veio em seguida. – Eu sou filha de Noah Kuttler.

̶  Você o que? – foi como se uma bomba estivesse prestes a explodir no meu colo. – Amanda sabe? – ela afirmou com um aceno de cabeça. – Eu não posso acreditar. – na verdade era até fácil de acreditar, Felicity tinha a mesma facilidade em quebrar códigos confidenciais, ela era tão boa quanto o pai.

̶  Oliver... – antes que ela falasse mais alguma coisa, meu telefone tocou. 

̶  A policia está na recepção do hotel, teremos que prestar depoimentos. – bufei irritado. De repente todos estavam mentindo para mim, eu me sentia cada vez mais sozinho nesse inferno.

̶  Ei. – ela segurou meu braço me fazendo virar em sua direção. – Eu ainda quero conversar sobre isso.

̶  Depois. – vi em seus olhos o quanto meu tom frio a ressentiu, mas eu não queria e nem podia pensar nisso agora. Eu tinha muito a processar. – Depois você mente mais para mim.

Felicity Smoak.

Percebi no momento em que lhe revelei à verdade a decepção brilhar nos olhos de Oliver, ele me olhou de forma tão indescritível que pela primeira vez eu não soube ler suas íris azuis então por hora resolvi que seria melhor me manter distante.

̶  Felicity? – a voz de Roy me tirou de meus pensamentos. – Você está bem?

̶  Sim. – enfiei um sorriso no rosto espantando meus pensamentos. – Precisa de algo?

̶  Na verdade, Ray é quem precisa. – franzi o cenho me aproximando. – Ele pediu para você levar esta bolsa até Sarah e ajudá-la com a volta para casa.

̶  E onde Ray se enfiou? – ele deu de ombros parecendo tão escasso de informação quanto eu.  ̶  Tudo bem. – suspirei pegando a bolsa de suas mãos. – Avise a Oliver que eu estarei fora.  ̶  ele apenas confirmou indo em direção ao pequeno acolchoado onde as vezes nos exercitávamos. 

O caminho até o hospital não foi tão longo, devido ao horário não tinha congestionamento no transito da cidade, enquanto esperava o sinal abrir me lembrei de que Sarah ainda não sabia da morte de Helena, e sobraria para mim ter que contá-la. Na verdade, eu mesma ainda não tinha processado esse acontecimento, Helena morreu como queima de arquivo, ela sabia de algo e estava prestes a contar para Oliver, e por isso teve sua vida roubada de forma tão cruel. Pensar isso fez meu estomago se revirar, o pensamento de que poderia ser eu ali me fez arrepiar, o alfa não estava para brincadeira quando prometeu infernizar a vida de Oliver. Suspirei ao observar a entrada do prédio hospitalar, eu não gostava de estar ali. Fedia a morte.

Abri a porta do quarto observando uma Sarah extremamente entediada encarar o teto enquanto batucava os dedos no punho esquerdo, a imagem me arrancou uma breve risada que não lhe passou despercebido.

̶  Graças a Deus, já estava cogitando a ideia de fugir vestida nesse avental. – ralhou rabugenta.

̶  Você está parecendo Oliver com essa capa de mal humor. – entrei fechando a porta. – Não seja dramática, estou apenas uma hora atrasada por culpa do seu marido que só me avisou em cima da hora. – a menção a Ray fez o rosto pálido se contorcer numa careta. Algo estava errado. – O que houve?

̶  Ray... Ele se culpa. – ela parecia escolher as palavras. – Ele não voltou para me buscar, porque para ele é mais fácil rackear todo o sistema federal em busca de algum suspeito a ter que olhar para essas escoriações em meu corpo.

̶  Sarah, deve doer nele te ver toda machucada desse jeito.

̶  Era exatamente isso que ele queria Felicity, causar essa quebra psicológica no nosso time. Ele sabe que tanto Oliver quanto Ray, ambos se culparão por não estar mais atento, ele sabe a tendência de Oliver em se afastar quando deixa a culpa entrar e ele apostou essa mesma ficha em Raymond. E conseguiu. – suspirou com melancolia. – Esse deveria ser o momento de nos fortalecer, mas Oliver parece ter se fechado em sua bolha, e Ray começa a criar a sua própria, enquanto isso eu me sinto mais abandonada do que se eles tivessem partido.

̶  Hey. – a chamei. – Eu estou aqui agora, Girls Power, lembra? – ergui um braço como se estivesse mostrando meu músculo, a fazendo dar uma breve risada. – Vamos juntas trazer esses marmanjos de volta aos trilhos, nem que pra isso tenhamos que os arrastar pelas orelhas.

̶  Você não sabe o quanto eu sou agradecida por sua chegada, desde que Lau... – ela pareceu recuar com as palavras, temendo algo.

̶  Você ia falar de Laurel, não é? Tommy me contou que ela era sua irmã. – ela pareceu surpresa com minhas palavras. – Por que escondeu isso de mim?

̶  Não queria que me achasse fraca por ter perdido alguém importante, ou que só estava ao lado de Oliver para suprir uma ausência. – encolheu os ombros.

̶  Eu jamais pensaria isso, Sarah, ela era sua irmã e apenas você sabe da sua dor, eu não posso nem quero te julgar. – ela sorriu de uma forma sincera. – Vamos?  - chamei antes que a melancolia do momento aumentasse. 

̶  Não vejo a hora de sair daqui. – falou arrancando os fios do soro em seu braço e se erguendo da maca.

̶  Você não deveria esperar alguém para retirar isso? – apontei recebendo um olha significativo.  ̶  Tudo bem, pode ir se trocar.

Sarah não demorou mais que quinze minutos para se trocar, foi o tempo exato do médico entrar assinando sua alta.

̶  Até que enfim vou sair desse lugar. – parou em frente ao meu carro tomando uma lufada de ar. – Isso é bom.

̶  Não seja dramática, foram apenas dois dias. – arranquei com o carro quando já estávamos posicionadas.

̶  E Oliver, onde está? – perguntou depois de alguns minutos de silencio. – Aposto que se agarrando com Helena pelos corredores do hotel. – revirou os olhos enquanto eu sentia um certo desconforto. Nesse momento, Oliver deveria estar cuidando da papelada do enterro de Helena e prestando depoimentos na policia.

̶  Sarah, sobre isso... – tentei ir com calma para não assustá-la. – Aconteceu algo.

̶  Oliver está bem?

̶  Sim... E não. – respirei fundo antes de voltar a contar, pressionando meus dedos no volante com mais força. – Helena, ela se machucou. – optei por uma meia verdade tendo em vista que o transito de Star city não seria o melhor lugar para se ter aquela conversa. 

̶  E ela está bem? – talvez meu longo silêncio tenha entregado ou a careta amargurada que eu não contive ao lembrar-me da cena de Helena engasgando no próprio sangue. – Felicity, não me poupe, diga o que aconteceu?

Me mantive em silêncio, concentrada apenas no caminho até o apartamento da loira, ela pareceu entender que o assunto era delicado demais para ser tratado ali, e eu agradecia por isso. Parei meu carro em frente ao prédio alto, ainda em silêncio ajudei Sarah com sua bolsa. Percebi seu desconforto ao se forçar a entrar no ambiente, mas tudo ficou mais notável quando sua mão tremeu enquanto ela tentava por a chave no fecho da maçaneta.

̶  Dê-me aqui. – estendi a mão lhe pedindo o molho.

̶  Não, eu consigo. – suspirou balançando a cabeça e voltando a direcionar a chave a fechadura, dessa vez conseguindo. Vi seus ombros ficarem rijos assim que atravessamos o arco da porta. Ela estava revivendo tudo.

̶  Quer saber? Ainda podemos ir para o meu loft, pelo menos até vocês encontrarem outro lugar para morar. 

̶  Eu agradeço sua preocupação, Lis, mas eu não vou para outro apartamento. – não deixei de observar a forma carinhosa como ela me chamou ao recusar meu convite. – Eu preciso matar esses demônios, fugir só vai adiar o inevitável.

̶  Você está certa. – traguei o ar passando meus olhos pelo cômodo que estava arrumado. Era um apartamento de luxo, a sala era ampla com janelas que iluminavam o ambiente, porém agora as persianas impediam o sol de invadir. Um bar no canto com algumas garrafas de bebidas sobre uma estante espelhada, um sofá gigante que deveria ser bastante confortável e uma bela mesa de jantar, esses foram alguns dos pontos que reparei.

̶  Você vai mesmo fugir dessa conversa? – eu olhava para um quadro na parede quando tive minha atenção roubada por Sarah.

̶  Sarah... – respirei fundo tendo em mente que não sairia dali até lhe contar a verdade. – Helena...

̶  Se machucou, eu sei. – chacoalhei a cabeça negando suas palavras.

̶  Ela morreu. – soltei o ar que nem percebi prender, as palavras pareciam chumbo em minha língua.

̶  Oh meu Deus. – ela jogou a mão sobre  boca numa expressão de horror. – Foi... Foi o alfa? – sua voz saiu trêmula, eu apenas afirmei com a cabeça. 

̶  Helena trabalhava para o alfa. – vi algo como choque atingir seus olhos enquanto passei a lhe contar toda a história de como descobri a verdade, assumindo para ela de quem eu era filha e por fim lhe contando como Helena morreu e como Oliver reagiu ao saber de tudo. Sarah durante todo o momento permaneceu quieta, absorvendo toda a informação de forma neutra. – Fale alguma coisa. – pedi quando se passaram alguns minutos e ela permaneceu em silêncio.

̶  Ele está fugindo. – franzi as sobrancelhas sem realmente entender do que ela falava, ou melhor, de quem. – Oliver está fugindo das suas explicações.

̶  Por que? 

̶  Felicity, pense bem, todos mentimos para ele em algum momento. Ele já deve ter percebido que eu era um alvo e que eu sabia disso, optando por lhe esconder a verdade. Helena mentiu para ele por todo esse tempo, e você escondeu algo importante dele. Oliver reergueu seu muro de proteção, ele está voltando a se fechar por acreditar que não pode confiar em ninguém. – ela tinha tristeza na voz. – Você precisa mudar isso.

̶  Eu? 

̶  Sim, no momento você é a única que pode mudar isso. Você precisa mudar isso, Felicity. Não deixe Oliver voltar para sua caverna escura de desconfiança e solidão.

̶  Você o conhece melhor, Sarah, ele não confia em mim.

̶  Você não percebe, não é? Você o testa de todas as formas possíveis, o desafia e o tira de sua zona de conforto. – enumerou me encarando. – Oliver se sente atraído por você pelo simples fato de que você o desestabiliza, o faz perder o equilíbrio, e ele não está acostumado com isso. Então sim, você pode impedir que ele volte a estaca zero.

(...)

Encarei a porta a minha frente sentindo um leve tremor consumir meu corpo, as palavras de Sarah ainda rodando minha cabeça. Eu não sei exatamente o porquê, mas preciso fazer com que Oliver me escute. 

Toquei a campainha duas vezes esperando que ele abrisse a porta, segundo o porteiro do prédio, ele estava em casa. Passaram-se alguns minutos e o silêncio no corredor já me angustiava, ele estava me evitando.

̶  Oh querida, seu namorado sempre deixa uma chave reserva embaixo do carpete. – uma senhora que saia de seu apartamento falou antes de tomar o elevador. 

̶  Obrigada. – sorri agradecida. Que tipo de agente dá um mole desses? Não me surpreende o alfa ter entrado em seu apartamento antes. Balancei a cabeça para afugentar os pensamentos enquanto me abaixava em busca da chave. Tentando não fazer barulho, girei a maçaneta enfiando meu corpo para dentro.

O lugar estava escuro, apenas um abajur ligado no canto da sala impedia a escuridão de engolir tudo. Respirei fundo com as imagens frescas de dois dias atrás, todas as fotos que foram cruelmente espalhadas ali para torturar Oliver, eu não podia imaginar o quão confusa a mente dele se encontrava. O barulho de água caindo me fez despertar para o real motivo de estar ali. Segui o som já tendo uma noção de onde ele me levaria meu bom senso apitando para que eu permanecesse na sala o esperando ou até mesmo fosse embora, mas um impulso dentro de mim me fazia continuar andando em direção ao quarto. Parei em frente à porta que estava entreaberta, ponderando pela primeira vez se eu estava agindo correto em invadir o espaço dele.

O vapor quente que saia do banheiro me fez suspirar desejando estar ali, parei próxima a pia sem saber exatamente o porquê de estar o observando, era como se uma força magnética me levasse até Oliver, o corpo dele parecia sempre chamar o meu, os olhos azuis me atraiam para esse abismo que eu já havia experimentado antes, e mesmo sabendo o quanto era perigoso estar lá, eu continuava ali. Encarei o corpo nu que estava de costas para mim separado apenas por um vidro embaçado, mas ainda assim me dando uma boa visão de seus músculos, as pernas torneadas entreabertas enquanto as mãos se apoiavam no azulejo só deixava claro sua tentativa em relaxar. Meus olhos fotografando suas costas largas decoradas com cicatrizes adquiridas em campo, ele conseguia exalar sensualidade até mesmo quando não estava vendo. Parei por mais tempo do que percebi admirando o traseiro redondo e másculo. Eu estava fodidamente perdida.

 Me despi com cuidado para não chamar sua atenção, mas ele parecia perdido demais em seus próprios pensamentos para me ver ali. Entrei no box tomando cuidado para não escorregar no chão molhado, toquei suas costas com minha mão esquerda sentindo sua pele arrepiar com o contato gelado em seu corpo quente pela água.

̶  O que faz aqui? – ele ainda estava de costas, sua voz gravemente rouca me excitando. Concentrei-me em sua pergunta tentando buscar uma resposta plausível para estar nua em seu banheiro.

̶  Não sei. – optei pela verdade. Ele se virou para me encarar, suas pupilas estavam dilatas fazendo uma eletricidade correr por cada pedaço de pele que ele olhou até parar em meu rosto. Seus lábios estavam tão vermelhos que eu me sentia convidada a prová-los, e foi o que eu fiz. Beijar Oliver sempre me afazia sentir um frio na barriga, e apesar de já terem existido outros homens na minha vida, eu sempre me sentia inexperiente quando suas mãos tocavam o meu corpo, era como se fosse minha primeira experiência, o nervoso estava lá para provar isso.

̶  Felicity... – sussurrou quando nos separamos em busca de ar. – Por que está fazendo isso?

̶  Eu quero ser sua, Oliver. – me assustei com a facilidade com que as palavras escaparam de minha boca numa confissão tão verdadeira. Senti as mãos calejadas me puxando para si num gesto possessivo, logo minhas costas estavam grudadas a parede enquanto ele erguia minhas mãos tendo total acesso aos meus seios. Sua língua brincava com meu mamilo de forma indecente, mordendo, sugando, lambendo a região sensível. Tombei minha cabeça para trás apreciando o prazer do momento, os beijos dele iam subindo pelo vale entre meus seios passando por meu colo, pescoço, clavícula até chegar em minha boca onde abandonou um beijo cálido puxando meu lábio inferior com os dentes. 

̶  Hey. – sua voz sussurrada era capaz de me provocar arrepios desconhecidos. Encarei sua imensidão azul encontrando algo desconhecido ali, não sei por quanto tempo ficamos nos encarando, mas era intensa a forma como eu me sentia mergulhada em seu olhar. – O que você está fazendo comigo? – a pergunta retórica me fez prender a respiração por um breve momento. – Está arrancando o resquício de sossego que me resta.

Sem esperar mais ele me ergueu fazendo com que eu enlaçasse as pernas em seu quadril enquanto sua mão ia até a base da minha coxa espalmando-as na região. Cruzei meus braços em volta do pescoço de Oliver me dedicando a beijar seu pescoço enquanto meus dedos se acomodavam em seus curtos cabelos, o senti andar para fora do banheiro no intuito de nos guiar até o quarto. Sem dizer nenhuma palavra Oliver me deitou sob o colchão fazendo seu corpo vir junto, ele voltou a me beijar lentamente, não tínhamos pressa. Senti sua ereção tocar minha barriga quando ele soltou um pouco do seu peso sobre mim passando a beijar meu pescoço, a quentura em minha intimidade me fazia querer espremer as pernas uma na outra para aliviar o desejo, mas o corpo musculoso em cima de mim não permitia. Senti os beijos descer por meu colo voltando a percorrer o mesmo caminho de antes, agora de forma contrária, sua língua brincando em meu ventre causando-me um espasmo precoce, ergui meu quadril, ansiosa pelo próximo ato, mas Oliver parecia me torturar indo e vindo com os beijos na minha barriga.

̶  Por favor. – pedi erguendo meu quadril em sua direção. – Oliver... – esqueci completamente como se respira quando senti um dedo seu acariciar meu clitóris, ele estava me torturando.

̶  Molhada. – ele estava concentrado no meu centro de prazer, parecia adorar trabalhar aquela área. Os dedos ágeis brincavam ali enquanto ele encostava a ponta da língua apenas para retirá-la depois, fazendo uma eletricidade correr por toda a região. Ele sabia o que estava fazendo. – Doce. – falou voltando a encostar sua língua dessa vez lambendo toda a extensão dos meus lábios menores, pressionando o clitóris e fazendo meu baixo ventre arder. – Apertada. – Sua língua me penetrou de surpresa fazendo um gemido escapar da minha boca, mas logo foi subsistida por seus dedos que entravam e saiam de mim com toda a calma do mundo me fazendo suspirar impaciente. 

Sem aviso prévio, Oliver voltou seu rosto para cima me arrancando um resmungo baixo por estar quase chegando ao gozo, ele se esticou para apanhar um preservativo na gaveta ao lado me entregando em seguida. Arranquei a embalagem e desci minha mão de encontro ao seu pênis, deslizando a camisinha enquanto acariciava a carne dura, sem tirar os olhos de seu rosto vi Oliver suspirar se encaixando entre minhas pernas enquanto eu terminava com a proteção. 

Senti minhas paredes o acomodar com facilidade e reconhecimento enquanto ele se enterrava dentro me mim sem quebrar o contato visual, ele ficou alguns segundos sem se movimentar para que eu me acostumasse com sua espessura, movimentei meu quadril sinalizando para que ele continuasse quando me senti confortável. O ritmo era imposto por ele, lento e sincronizado. Oliver investia todo o seu membro entrando e saindo com uma lentidão sobre-humana.

̶  Calma, não tem porque ter pressa. – sussurrou sobre meus lábios quando eu tentei apressar o ritmo. – Me deixa sentir você. – pediu olhando nos meus olhos. Assenti. Seus cotovelos estavam apoiados ao lado da minha cabeça, fazendo com que nossos rostos ficassem o mais próximo possível, nossas respirações se misturarem e nossos lábios roçar um no outro. Tinha um magnetismo naqueles olhos que me prendia, eu não conseguia desviar do azul, lhe entregando todos os meus gemidos. Era diferente dessa vez, não tinha toda a selvageria de antes, estávamos ultrapassando as barreiras carnais.

̶  Oliver... – suspirei quando ele investiu mais firme fazendo minhas dobras o apertar.

̶  Goza pra mim. – seu pedido fez uma labareda subir por meu corpo enquanto seus lábios trabalhavam no lóbulo da minha orelha. – Só pra mim. – sussurrou antes de trazer seus lábios de encontro com os meus. Ele beijava minha boca de um jeito erótico e sensual, enquanto continuava me estocando. Não demorou muito até que eu alcançasse meu ápice, quebrando um beijo com gemidos. Mais algumas estocadas e Oliver também encontrou sua libertação.

Senti um vento gelado beijar meu corpo quando ele se desvencilhou de mim indo até o banheiro para se livrar do preservativo, girei na cama encarando a porta a minha frente. A consciência do que tinha acabado de acontecer invadindo minha mente se misturando as palavras de Sarah. Senti uma lágrima solitária escorrer pelo canto do olho constatando o estrago já feito, eu estava me apaixonando por Oliver e podia enumerar vários motivos para isso ser considerado errado. Respirei fundo quando senti o espaço atrás de mim afundar, o cheiro dele invadiu minhas narinas sem pedir permissão. Minha respiração ainda descompassada se estendendo quando seu braço rodeou minha cintura me puxando mais pra perto, nos deixando numa posição de conchinha. 

̶  Por que mentiu pra mim? – perguntou depois de um longo silencio. Seu tom era baixo, não tinha indícios de raiva, ele estava apenas questionando.

̶  É mais complicado do que parece. – encarei mais uma vez a porta tentando encontrar as palavras certas. – E eu não menti para você.

̶  Omitiu. – contrapôs e eu não consegui segurar um sorriso mínimo por sua teimosia.

̶  Minha mãe morreu vitima de depressão quando eu tinha dezesseis anos, ela vinha sobrevivendo desde que eu tinha sete que foi quando meu pai nos abandonou. Ela o amava como uma louca, e para ela foi um baque muito grande quando ele saiu de casa sem deixar rastros ou pistas. – comecei a lhe contar ainda de costas, eu não tinha coragem de olhar em seus olhos, não suportaria ver mais um olhar de compaixão, muito menos de Oliver. – Foram anos tentando tirá-la do fundo do poço, mas sempre quando ela parecia bem, a doença lhe derrubava de novo. Da ultima vez foi fatal, mamãe não conseguia sair daquela crise e eu já não sabia o que fazer para ajudar. Aos poucos ela foi parando de sair, comer... Viver. – respirei fundo afastando o nó que já se formava em minha garganta. – Quando ela morreu eu me senti totalmente perdida, desorientada, e foi então que Amanda apareceu. Eu estava com dezessete anos e tinha acabado de entrar pra faculdade, num certo dia acabei achando um sistema confidencial na internet e tentei decodificá-lo, foi quando entrei no radar da Argus, Waller me recrutou ao perceber meu jeito com tecnologia e desde então já fazem oito anos.

̶  E você voltou a ver seu pai? – perguntou enquanto seu polegar fazia um carinho desleixado em minha barriga.

̶  Sim. Numa missão no Caribe, ele ainda trabalhava para a Argus e foi nessa missão que ele tentou fraudar o sistema. – lembrar disso me fazia mal, mas agora eu iria até o fim. – Noah tentou me envolver em suas tramoias e quando viu que eu não aceitaria ajudá-lo, quis me sabotar. Meu próprio pai tentou me incriminar para a Argus. – ri com amargura. – Eu já o culpava pela morte da mamãe, então fingi ceder as suas chantagens e passei a informar todos os seus paços para Amanda, juntei todas as provas que consegui para provar seu mau caráter.

̶  E você conseguiu?

̶  Levou um tempo, mas sim, eu consegui expulsá-lo da Argus e desde então ele é um fugitivo. – me virei para encará-lo. – A questão é: quando eu fui enviada para esta missão achei que seria fácil, em nenhum momento passou pela minha cabeça criar afeição com nenhum de vocês. – ele me olhava atento. – Eu não esperava me envolver com você. Pra mim seria mais um caso que eu ajudaria e depois ia embora, eu não tinha o porquê contar quem eu era, entende?

̶  E agora?

̶  Agora eu não sei, está tudo uma bagunça, o alfa te quer no fundo do poço e depois do que aconteceu com Sarah e... Helena. – vi um lampejo de tristeza correr por seus olhos. – Eu sinto que devo ser honesta com você, eu confio em você, Oliver, mas e você?

̶  Felicity, tudo tem estado fora de ordem, então eu descubro que Helena mentiu por todo esse tempo e em seguida você me diz que é filha do homem que eu tentei prender e falhei miseravelmente. Meu primeiro instinto foi recuar. – toquei seu rosto que parecia cansado.

̶  Desculpa. – acariciei sua bochecha vendo-o fechar os olhos em sinal de entrega. – Não estava nos meus planos me... Envolver com você.

̶  Preciso que tenhamos confiança um no outro para que eu poça te proteger, não só você, mas todo o time. Eu sei que Sarah sabia que estava correndo perigo, assim como sei que Tommy pode ser o próximo na lista.

̶  John Diggle. – ele confirmou com um aceno de cabeça.

̶  Quando Sarah foi para o hospital, ele me contou sobre a descoberta de vocês, e me aborrece saber que a minha equipe não confia em mim.

̶  Sarah quis te contar pessoalmente, e eu não sei porque ela desistiu. – eu realmente não sabia. – Mas agora nós sabemos o próximo passo do alfa, só precisamos ficar de olho em Tommy.

̶  Sim, mas ele resolveu deixar um recado. – se afastou de mim para levantar da cama em busca de algo na mesinha que antes ele pegou o preservativo. Oliver voltou com um envelope branco e me entregou. – Estava no chão da sala quando cheguei mais cedo.

 

Espero que esteja se divertindo tanto quanto eu, pois o jogo está apenas começando.

PS: desculpe por Helena, mas é como dizem: em boca fechada não entra moscas.

O cartão era escrito com letra datilografada, as palavras eram frias, apesar de poucas. Ele sabia exatamente como desestabilizar sem precisar de muito, aquele aviso subentendia perigo, estávamos todos na mira do alfa. Meu corpo gelou com essa constatação.

̶  O que faremos agora? – ergui meus olhos para Oliver que estava sentado a minha frente.

̶  Precisamos de uma estratégia, eu preciso pensar em uma. Ele está me cercando por todos os lados, eu preciso estar mais atento para não acontecer com mais ninguém o que aconteceu a Helena. – se levantou indo em direção a janela ficando de costas para mim. Oliver se culpava e carregava o peso do mundo em suas costas, e isso era uma fraqueza, pois o inimigo sempre o atacaria por ali.

̶  A morte dela não é sua culpa. – me levantei caminhando até onde ele estava, passei meus braços por sua cintura o abraçando por trás num gesto impensado. 

̶  Não, é minha responsabilidade. – respondeu olhando para a cidade. Resolvi que por hora o silencio seria melhor, Oliver precisava ver que tinha aliados fortes, e parar de lutar sozinho, afastar as pessoas só o deixaria mais vulnerável.


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Notas finais do capítulo

Gente, vocês gostaram? Esse deu mais um pouco de trabalho, porque eu precisava organizar os sentimentos do personagens com calma. Olicity foi lindo, né?
Deixem suas opiniões e tenham um cadinho de paciência, assim que eu me recuperar, volto ;)
BEIJOOOOOOOOO! ;)



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