Você Mudou escrita por Nessa pml


Capítulo 3
Capítulo II




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O garoto, agora homem que foi o responsável por toda essa dor que criou raízes dentro de mim bem ali na minha frente, ele me levou ao extremo dos sentimentos, do paraíso ao inferno, do desejo à perdição, da paixão à loucura, do amor ao ódio.

Paralisada, sem mover sequer um músculo da face eu o observo, rindo e bebendo como antigamente totalmente alheio a minha presença ali, provavelmente ainda não me viu. Seu rosto ainda está exatamente igual ao dia que o vi pela última vez, os olhos sonhadores, o sorriso fácil e a beleza singular, ainda é o mesmo por fora, embora por dentro tenha tirado o lugar do simples sonho de cantar e dado espaço a ambição desmedida...

"Engula o choro, eu disse a mim mesma, já chega! Você não é mais a garotinha que brincava de casinha com o cantor famoso, você é agora a ex-namorada descartável dele, assuma seu papel. Limpo a inoportuna lágrima que insiste em cair, respiro tão fundo como se fosse a última vez que meus pulmões sentiriam o ar e digo as palavras mais difíceis que tive que dizer.
—Acabou! Cristiano, você está livre agora para entregar-se a sua fama, às suas fãs e a esse mundo que não me cabe. -as palavras pareciam vir encobertas por lâminas afiadíssimas, cortando desde a dignidade até a alma.
—Você está se ouvindo falar? Está me deixando por que eu bebi demais e fui agarrado por fãs sem que eu pudesse impedir? Isso é tolice Malu, eu mereci essa comemoração, eu lutei desde criança para estar onde estou, e agora me condena por desfrutar disso? Sabe quantas dessas moças desejam estar no seu lugar, ao meu lado?  -diz com uma soberba assustadora.
—Não Cristiano, não é pela bebedeira de ontem, não é pelas fãs te agarrando, tampouco pelas marcas de batom no seu pescoço, ou o perfume diferente do meu nas suas roupas, não é nada disso, sei que tudo faz parte de um jogo de mestre para atiçar ainda mais a fama. Estou te deixando Cristiano, por que não encontro mais amor nos seus olhos, não sinto mais o calor do beijo arder, não sinto mais seu prazer em ter meu corpo -suspiro reprimindo a dor.—Cris você não me ama mais. -abaixo meu olhar por que é insuportável demais manter os meus olhos nos olhos frios dele...é isso, essas são as palavras que eu adiei tanto em dizer, talvez ele não tivesse se dado conta ainda, porém não anula o fato que ele não me ama mais!
—Eu sei! -ele suspira e desvia o olhar já sabendo que acabara de me matar por dentro. Não consigo mais ouvir nada, estou enjoada, o estômago revirando dentro de mim procurando seu lugar em meio ao corpo morto em pé que me tornei.
Recupero o resquício de ar que insiste em inflar meus pulmões e não digo mais do que cruas palavras.
—Espero que finalmente encontre a felicidade que procura e que ela não lhe traga arrependimentos. Adeus Cristiano.
Ele tenta inutilmente me segurar pelo braço mas percebe que nada que diga agora mudará o novo rumo que nossos destinos tomaram e então solta. Segurei o choro o máximo que pude até perde-lo de vista e perde-lo da minha vida..."

Nunca mais o tinha visto até hoje.

—O que você tá fazendo aí? -Alice sussurra me tirando dos meus devaneios,e subitamente recupero a voz.

—Diz que é uma miragem, delírio, truque de mágica, qualquer coisa -digo exasperada apontando para o desumano a nossa frente.

—Quem dera! Pedro disse que o encontrou chegando de viagem no aeroporto, e o boca grande do Lucas contou nossos planos, disse que ele simplesmente se ofereceu para vir já que também faz parte do grupo de amigos, é mole? -diz com as mãos na cintura e balançando a cabeça.

—Vamos sair daqui! -pego-a pelo braço e saímos de la apressadas na esperança dele não ter nos visto.

—Pode sair agora Malu mas ele sabe que você está aqui, não pode fugir o fim de semana todo. -ela está certa, meu Deus como vou encara-lo depois de tanto tempo? Eu prefiro ouvir milhares de vezes Jessica grunhindo suas músicas do que ter que olhar para ele. -coloco às mãos na cabeça desesperada.

Entro no quarto em busca de inspiração, ou quem sabe um milagre que me ajude a sair dessa situação desastrosa que me meti.
A confusão se expande ainda mais me levando as lembranças que escondi atrás do ódio no meu coração...

"O telefone toca, é Alice outra vez, Cristiano apareceu na TV com uma moça feliz e sorrindo, são namorados agora ela afirma, e eu não tenho reação pois estou letárgica. Não posso me importar com isso são dois meses sem ele, é óbvio que não ficaria sem uma garota por tanto tempo..."

Balanço a cabeça tentando afastar às lembranças amargas que arrebentam meus neurônios mas é inútil...

"Tenho 13 anos e estamos andando de mãos dadas na praia, estamos de férias...
—Malu, eu queria tentar uma coisa. -me olha confuso e meio envergonhado. -Mas só se você quiser, Lucas disse que já passou da hora da gente se beijar. -ele coça a cabeça, e eu entendo onde quer chegar. -Mas se você não quiser eu não vou pegar no seu pé, eu não ligo se...  -antes que ele terminasse de dizer o que queria sou impulsionada pela alegria de ama-lo tanto, então me jogo em seus braços e beijo-o de surpresa, no início só chocamos os lábios de forma bruta, mas em seguida continuamos com aquele que seria nosso primeiro beijo, de forma desajeitada e acredito que também errada, tocamos nossas línguas e lentamente sentimos o fluir, não só do beijo adolescente mas também do amor que sempre esteve ali. Ir a Disney, pular de paraquedas, conhecer a Britney Spears, nenhuma dessas emoções sequer se compara ao beijo que trocamos aquele dia, eu não senti borboletas no estômago, senti que as borboletas aplaudiam nosso amor, tudo perfeito, até às ondas do mar pararam de bater nas rochas para assistir o primeiro capítulo da nossa história de amor.
—Eu acho que te amo Malu. -diz afastando sua boca da minha, ainda de olhos fechados.
—E eu acho, que te amo Cristiano. -digo ofegando..."

—Malu, você me assusta quando fica em órbita assim, faz uma cara meio bizarra. -Alice me interrompe outra vez.

— Não sei o que fazer. -digo entristecendo.

—Finja que ele não está lá, ora bolas.

—Alice você é tão madura! -essa garota é inacreditável.

—Bom você tem duas opções: ou desce e age como se ele não estivesse lá, ignorando o totalmente, ou se ajoelha a seus pés implorando por umas migalhas do seu tempo precioso, sei que está se segurando pra não fazer isso.  -diz revirando os olhos.

Ela tem razão, já perdi a conta de quantas vezes me segurei pra não ligar implorando pra voltar, mas aquela frase curta porém cruel me fazia recuar: Eu sei! Eu ainda posso ouvir aquela voz ecoando no meu inconsciente.

— Acho que sei o que fazer, mas aviso que terá que se esforçar muito pra não dar bandeira. -Alice arqueia a sobrancelha e percebo que coisa boa não vem.

—Sei que vou me arrepender por perguntar mas, estou desesperada então....desembucha. -digo de uma vez.

—Seguinte... -diz esfregando as mãos maquiavélica -Você irá assumir outra personalidade, eu ia sugerir fingir que mudou mas sei bem que você é péssima atuando. -nem me dou ao trabalho de bater nela pois admito que sou mesmo péssima.

—Atuar? mudar? já bebeu Vodka hoje? -Alice e seu dom torto de salvadora da pátria, não sei se meu estômago aguenta.

—É bobinha! Você irá assumir outra personalidade enquanto estiver perto do Cristiano, estudei isso no primeiro semestre, claro que a maioria das pessoas que agem assim tem um tipo de transtorno, mas você nunca foi muito certa da cabeça mesmo, vai dar certo. -Alguma coisa nas palavras acusatórias e absurdas de Alice me levam a crer que ela será uma péssima psicóloga.

—Explique! -perco a paciência.

—Malu, o Cris acredita que você está na fossa, na pior por causa dele, sabemos que ele tem razão -ela torce a boca. -mas podemos mostrar que ele está enganado, vai ser ótimo vê-lo caindo do pedestal que ele vive.

—E como você acha que eu e minha deselegância natural vamos engana-lo? -sou uma desastrada e definitivamente não sei fingir ou mentir.

—Por isso sugeri que assuma essa personagem na frente dele, pois a Malu que conhecemos é uma pamonha, sem ofensas. -da um risinho. -mas a Maria Luiza é forte e independente, vai por mim, sei o que digo.

Alice passou mais quarenta e cinco minutos dolorosos insistindo e me dando garantias de seu plano infalível, eu por outro lado, tramava um plano de como fugir usando lençóis e um carro roubado.

—Só uma tentativa, se der errado arrumamos uma desculpa e vamos embora hoje mesmo. -ela insiste.

— Ok Alice, mas quero avisa-lá que se der errado, te darei apenas dois minutos de vantagem para correr, depois disso te mato, entendeu? -digo rosnando.

Ela me ignora me dando as costas.

—Bom vamos ver o que vestir. -diz enquanto revira minhas roupas.

—Acho que mudar o jeito de vestir já é exagero. -me preocupo.

—Está enganadíssima minha amiga, é exatamente seu novo jeito de vestir que deixará o Cris delirando querendo saber o que houve com você. -sei que Alice é mentalmente anormal mas confesso que imaginar o possível interesse de Cristiano por mim me acendeu algo que estava apagado há meses.

Como não encontramos grandes coisas nas poucas roupas que trouxemos, ousamos em usar apenas um biquíni, um short jeans rasgado e, como trata-se de uma festa, trocamos os usuais chinelos por botas cano curto.

         Já anoiteceu, o alaranjado do sol poente deu lugar ao acinzentado calor do verão no céu. O vento quase imperceptível moveu meus cabelos soltos deixando os mais volumosos, Alice está ao meu lado soltando risinhos pela minha histérica reação ao me ver de batom vermelho no espelho.

Meu pânico é visível,quase palpável pois sinto que estou cavando minha própria sepultura para a morte de vergonha.
Dou uma rápida conferida no local: Os garotos com suas namoradas dançando, Pedro e Lucas cortando a carne e lá está ele, de costas para nós pegando uma cerveja no cooler. Agradeço aos céus por ele ainda não ter me visto, mas isso dura pouco já que Alice grita, me fazendo quase petrificar ali no meio do jardim. Maldita Alice!

—PEDRO CHEGAMOS, MORRENDO DE FOME! -repito maldita Alice.
Cristiano se retrai, certamente ao reconhecer a voz irritante de Alice, e como se fosse uma cena daqueles filmes de terror grotescos, ele se vira lentamente para olhar em nossa direção.

 


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