Você Mudou escrita por Nessa pml


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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Acordei num sobressalto ao ouvir, outra vez, os gritos da minha vizinha ofuscando a música altíssima que insiste em ouvir todos os dias inevitavelmente no mesmo horário. Jessica mora no quarto ao lado do meu, e para minha total desgraça é uma fã desesperada e desequilibrada de Cristiano Araújo, qual dizem os especialistas: é uma grande promessa de sucesso mundial.

Fecho os olhos para quem sabe, se eu tiver sorte, morrer de uma vez. E nesse instante de inconsciência o som estridente enfim ultrapassa os gritos da histérica e entra nos meus ouvidos... "seus efeitos ainda dominam em mim, as lembranças só me distanciam do fim da batalha travada em tentar te esquecer..." talvez ele ainda carregue consigo aquele dom de ler minha mente e talvez, saiba exatamente que estou nessa batalha travada em tentar esquece-lo.

Ah! Que droga! Chega disso Malu, você tem que reagir, repito a mim mesma fazendo cara feia pro espelho à minha frente. Suspiro pesadamente ao lembrar da prova que tenho daqui a pouco,pela qual eu não estudei nada. Saio vagarosamente do quarto sustentada apenas pela bolsa transpassada que me carrega pelos corredores do campus em busca de um café potente e milagroso que consiga me tirar dessa letargia que vivo ultimamente.

—Bom dia! - Chega saltitando a única amiga que permaneceu ao meu lado desde a infância.

—Bom dia Alice! -Devolvo lhe o cumprimento sem ao menos saber o que significa.

—Que olheiras horrorosas são essas? -pergunta de olhos arregalados.

—Não tive uma boa noite, e claro, Jessica também não. -respondo revirando os olhos.

—Aquela garota provavelmente foi enviada pelos anjos para te ajudar a superar seu passado.  -diz com sarcasmo.

—Provavelmente expulsa do inferno. -corrijo lhe.

—Bom, vamos então à sua prova bombástica do professor Carlos. -Alice tem o péssimo habito de tentar ser engraçada a qualquer preço, o que com certeza não consegue.

—Vamos. -digo por fim.

           A prova mal começa e meu desespero está a todo vapor, não sei o que está havendo pois tenho certeza que entendi a matéria antes. Minha concentração foi pro espaço junto com as respostas, então com poucos minutos faltando para encerrar o tempo de entregar a prova, rabisco qualquer coisa e saio da sala frustrada e irritada em saber que, outra vez, a culpa é de Jessica por suas músicas altas, e de Cristiano por existir.

Entro no quarto jogando a bolsa no chão e a imitando me jogo na cama, aperto meus olhos com força tentando encontrar uma solução razoável para essa tortura que se tornou minha estadia nessa faculdade. Não há nada! Ou mato Jessica e a enterro no jardim do campus, ou largo o curso. Ser médica sempre foi meu sonho e não posso simplesmente desistir dele assim. Sinto meu celular vibrar no bolso me fazendo sair do delirante plano de como assassinar Jessica e enterrá-la junto com seus CDs.

—Oi Pedro! -Franzo o cenho ao perceber que estava morrendo de saudade do meu irmão e nem sequer havia me dado conta disso.

—Oi mana! Tô ligando pra saber como você está, já que você não obedece as ordens rígidas da mãe: Mantenham contato, estreitem os laços. —diz imitando a voz da minha mãe me fazendo rir.

—Desculpe Pedro, eu definitivamente ando sem tempo.  -me sinto mal por não ser mais presente na família, mas não consigo sequer lidar com meus problemas aqui, não poderei lidar com os conselhos chatissimos e verdadeiros da minha mãe.

—Tudo bem, tô ligando pra avisar que o pessoal vai estar todo reunido na fazenda esse fim de semana, seria legal se você viesse, sabe. Pra dar uma fugida daí e matar a saudade da galera. -faz uma pausa esperando que eu absorva a ideia.

—Já convidei Alice, e ela confirmou presença.  -completa na esperança que seja suficiente para me convencer.

—Não sei se conseguirei ir, na verdade fui bem mal numa prova hoje e sei que tenho que recuperar as notas.  -digo evitando o prolongar do convite.

—É só um fim de semana Lulu, não vai ser menos médica por uma escapada só. -insiste por obrigação, mas a essa altura sabe que não adiantará.

—Ok! vou pensar. -respondo sem convicção alguma.

—promete?

—prometo!

Mudo de assunto perguntando sobre meus pais e logo encerramos a ligação, ambos sabendo que não tentarei nem um pouco ir ao programa com os amigos.

           Mais tarde encontro Alice na lanchonete e tento inutilmente me esquivar de seus comentários irritantes sobre como sou péssima amiga, e como não valorizo todos os anos de amizade que temos.
Ela ainda esta tagarelando seu discurso de paz mundial enquanto me perco nas lembranças dolorosas e doentias que insisto em alimentar dentro de mim...


De mãos dadas andamos pela pracinha perto do condomínio que ele passou a morar.
—Cris eu tenho medo. –enfim admiti para mim mesma que ele tem mesmo chance de realizar seu sonho e se tornar o grande cantor que sabe que é.
—Por que diz isso? –esta confuso, naturalmente por não saber o medo que sustento por seu sonho.
—Tenho medo das coisas mudarem entre nós, você sabe. A fama é muito bonita e bastante atrativa. –essa noite sera a gravação do primeiro DVD dele e com os ingressos esgotados sinto que a fama realmente esta a ponto de encontra-lo.
—Que besteira Malu! Você sabe que nunca me deixaria levar por essas futilidades da fama, eu só quero mostrar o meu talento e cantar para todo mundo, dividir meus sentimentos com as pessoas.
—Desculpe amor, eu sei que é infantil da minha parte pensar assim mas, não consigo evitar...eu só sinto. –sou o mais sincera que posso, pois mentir pra ele não esta cogitado, ainda mais depois da noite de ontem, a noite que finalmente fui dele, quando entreguei a ele não só a alma, não só o coração, entreguei agora também o corpo, na verdade sempre os pertenceram, desde sempre...”

—Hey você ta ai? –Alice já percebeu que eu não estava ouvindo.

—Desculpe, estava...pensando. –me odeio por ficar moendo e remoendo meu pobre coração com essas lembranças.

—Malu vocês terminaram há dois anos. Tem que superar isso. –diz exasperada.

—Pare no viver no passado, o Cris era um cara maneiro mas, virou um idiota superficial. –sei que ela esta certa, já tive provas cabais disso, mas fazer meu coração entender, já é outra historia.

—Por isso que não posso ir nesse encontro Alice, estarei rodeada desse passado que preciso esquecer. –suspiro com pesar.

—Prefere ficar aqui sozinha, ouvindo as musicas dele o fim de semana todo?       –ela ergue uma sobrancelha .

—Já fiz uma pesquisa e descobri que a Jessica não vai sair também. -completa.

—Dividida entre diferentes tipos de morte, qual a menos dolorosa? –minha voz soa sarcástica. –Bom um pouco de ar puro pode ser “o antidoto que que salve esse amor” –digo cantarolando. Rimos.

Arrumo minhas poucas peças de roupas, suficientes para um fim de semana, também um livro para ler, caso o encontro não seja tao legal, meu Ipod, e saímos.

           Cerca de uma hora depois chegamos a fazenda dos meus pais, ela fica no entorno de Goiânia, e a proximidade da civilização não diminui a imensidão da natureza ao seu redor, senti falta das arvores e do campo, embora meus pais a tenham comprado a pouco tempo eu amo esse lugar como se tivesse nascido aqui.

—Malu! –minha mãe vem correndo ao meu encontro deixando meu pai para trás.

—Senti sua falta mãe. –é a mais pura verdade.

—Com certeza sentiu, percebe-se pelo tanto que me incomoda com suas ligações irritantes todos os dias. –fico chocada, minha mãe sendo sarcástica é algo novo para mim.

—Oi querida! –meu pai me livra das piadas sem graça dela.

—Tudo bem por aqui?

—Claro, todo mundo esta aqui, só falta agora chegar o Lucas, mas o Pedro já foi busca-lo no aeroporto, e logo estarão aqui. –diz eufórica.

—Legal mãe. –minha voz soa desanimada mais do que quis demonstrar.

—Que desanimo é esse filha? Vem, vamos arrumar suas coisas no quarto, logo os garotos vão começar a preparar o churrasco, espero que todos saiamos vivos daqui no domingo. -diz revirando os olhos.

—Mãe quando começou a imitar a Alice com essas frases sem graça? –pergunto surpresa enquanto caminhamos para meu quarto onde Alice já esta.

          Descemos para o jardim assim que sentimos o cheiro da carne assando, a musica graças a Deus é Pop Rock e finalmente senti que podia relaxar na companhia de bons amigos, mas a sensação durou pouco, meu sorriso foi se desfalecendo lentamente ao perceber que aquela silhueta encostada na pilastra com um copo na mão é de Cristiano.


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