Você Mudou escrita por Nessa pml


Capítulo 15
Capítulo XIV




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—O que tem ele? Fala Alice. –ela parece ter perdido a voz.

—Ele sofreu um acidente de carro essa madrugada.

—O QUÊ? –não posso acreditar.

...

Apesar de todo calor que esta fazendo, eu sinto frio, muito frio. Isso é medo.

Sem rumo, busquei forças para acelerar o carro, e correndo com a visão embaçada por causa das lagrimas me vi chegando no hospital.

—Desculpe moça, mas ninguém pode entrar. –uma enfermeira tenta me segurar.

—Eu sou medica trabalho aqui, sou amiga, sou da família. Ah, anota o que você quiser ai, mas eu vou entrar sim. –grito exasperada. Ela não me conhece obviamente por eu nunca ter vindo à ala de emergência. Empurro-a pra longe de mim e avanço pelos corredores.

Procuro por todos os possíveis locais onde ele poderia estar mas não o encontro, então sou obrigada a pedir informações na recepção. Que tortura meu Deus.

Eu não tinha percebido, mas toda a família dele também esta lá, seus pais, irmãos, amigos.

Ah Cris, o que você tem? Como esta?

Depois de cumprimenta-los na medida que consigo,  tento descobrir as informações que me tirem dessa agonia.

—Ah, minha filha eu não sei. Parece que ele quis voltar sozinho, ele não tem costume de dirigir a noite. Não sei de mais nada. –a mãe dele chora preocupada.

—Entendo. –não posso dizer nada mais, pois sou tomada pela vontade de gritar desesperadamente.

—Dona Zenaide, eu vou acompanhar o caso dele, eu vou cuidar dele. Eu vou... –as palavras me faltam, sou engolida pelo medo de tudo estar fora de controle.

—Obrigado. –diz de olhos marejados.

...

Alguns minutos depois de conversar com os Administradores do hospital consigo acesso ao prontuário dele.

Hematomas grandes porem insignificantes em alguns locais do corpo, nenhuma fratura, só uma luxação na perna esquerda. A ressonância magnética mostra um inchaço no cérebro, por isso esta em coma induzido, ele permanecerá imóvel ate o regresso do edema.

É um procedimento padrão... É um procedimento padrão. Repito a mim mesma tentando me manter calma.

Ele vai ficar bem.

Ah meu amor, por favor fique bom logo.

...

Na capela eu faço minhas orações desesperadas por ele.

—Senhor por favor, salve-o. Eu o amo tanto, preciso dele aqui. Por favor, salve-o.

—Malu? –Felipe me encontra. –Que bom que você ta aqui com a gente. –eu o abraço apertado me perguntando se ele também me perdoará por ter lhe escondido a sobrinha. Mas agora não é hora pra isso.

—Oi, alguma novidade? –pergunto e ele balança a cabeça negando. -Vou em busca de noticias. –digo seria.

—Por isso que vim te chamar. Os outros médicos não avisam nada pra gente. –sorri sem animo.

—Já volto. –saio apressada.

...

—Ele esta estável, o quadro ainda é critico mas podemos ficar otimistas. –tento ser profissional diante da família dele, mas por dentro estou desesperada para acreditar nas minhas próprias palavras.

—Podemos ver ele? –sua mãe pergunta ansiosa.

—Podem, mas um de cada vez e bem rapidinho. Mesmo em coma eu acredito que o amor de vocês pode ajudar na recuperação dele. –sorrio com solidariedade.

—O seu também minha filha. Você não sabe o quanto o Cristiano sofreu esse tempo todo por sua causa. Ele ainda te ama você sabia? –ela diz me olhando nos olhos e segurando minhas mãos, eu não consigo responder a isso então a abraço e choro ate que não me restem lagrimas.

—Eu também o amo, amo muito. –digo chorando.

Ele ainda me ama, ele ainda me ama e eu neguei a filha a ele, neguei a felicidade a nós dois, agora ele esta assim e não posso fazer nada. Meu Deus eu sei que mereço um castigo, mas por favor, isso não. Eu aceito qualquer coisa, menos perder o Cris, ele precisa saber da Jade. Por favor, ele não.

...

Entro no quarto de UTI em silencio, observo o lugar de incertezas que sou acostumada a visitar, mas nunca imaginei estar sob essa circunstancia, não vendo o amor da minha vida ali naquela cama fria e triste.

Me sento ao seu lado na cama, e ao pegar na sua mão posso senti-la quente, então sem cerimonias me debruço sobre ele e deixo as lagrimas do meu remorso me lavarem, desabo inconsolável, sendo devorada por uma culpa que jamais pensei que doeria tanto.

O tempo parou ali, nada mais foi importante para mim nos próximos quatro dias, meu calor seria a proteção do corpo dele. Minhas preces seriam seu escudo, e o meu amor seria o motivo a fazê-lo voltar pra mim.

...

—Como ele esta? –Alice pergunta ao telefone.

—Esta bem, o edema regrediu totalmente, ele pode acordar qualquer momento. –por que não acorda? Eu não entendo, mas não digo a ninguém, não quero causar uma preocupação desnecessária.

—Que bom! –comemora. –Escuta Malu, tem uma mocinha aqui que não para de perguntar pela mamãe dela. –ela passa o telefone para que Jade fale comigo.

—Mamãe? –diz.

—Oi minha joia, como você esta meu amor?

—Mamãe eu to com saudade de você, queria te ver. –meu coração se despedaça ao lembrar que abandonei totalmente minha filha esse tempo todo.

—Querida você quer vir aqui ver a mamãe? –é a única forma de vê-la já que não posso sair do lado do Cris, quero estar aqui quando ele acordar.

—Obaaa! –grita de alegria.

—Passe o telefone para a dindinha, ate daqui a pouco meu amor. –me despeço feliz em poder ver minha pequena.

...

Por um tempo que não tenho ideia permaneci escorada na porta, chorando baixinho e implorando para que ele me escutasse e acordasse logo. Mas uma garotinha de cabelinhos lisos, compridos e com a franja presa por uma tiara me chamou atenção.

—Mamãe! –exclama alegre.

—Jade! –abraço-a igualmente feliz. –Que vestido lindo!

—Tia Alice disse que vou conhecer uma pessoa especial, então eu tinha que estar bonita. –diz animada.

—A tia Alice tem razão. –sorrio.

—Por que você ta chorando? –se preocupa.

—Um amigo da mamãe sofreu um acidente de carro, mas logo vai ficar bom. –explico.

—É ele? –pergunta apontando para Cristiano na cama.

—É, ele se chama Cristiano e é uma pessoa muito importante para nós duas. –uso minha persuasão para começar a explicar, mas contrariando minha expectativa ela muda de assunto.

—To com fome. –choraminga. Eu sorrio diante de sua inocência.

—Tudo bem, vamos na lanchonete. Mamãe vai aqui no banheiro fazer xixi e lavar as mãos. Você espera aqui ta?

—Posso sentar na cama pra ver seu amigo? –a pergunta me surpreende.

—Pode, mas não toque em nada amor, esses fios são importantes. Promete que não vai mexer?

—Prometo. –sorri. Eu a coloco no meio da cama quero que ela veja de perto seu pai.

Vou ao banheiro que fica dentro do quarto, mal fecho a porta e ouço a voz doce da minha pequena.

—Oi. –ouço-a cumprimentando alguém, e de súbito decido voltar para ver com quem ela esta falando, mas a resposta que ouço me trava com a mão na maçaneta.

—Oi. –Cristiano responde. Ele acordou, meu Deus ele acordou!

—Você já sarou? –Jade pergunta.

—Eu estava doente? –ele pergunta claramente confuso, com certeza não se lembra.

—Você é engraçado. –ela ri. –Minha mãe disse que você sofreu um acidente de carro.

—É, acho que sim. –ele coloca as mãos na cabeça, acho que recobrando as lembranças.

Eu não consigo me mexer, estou louca pra ir lá e abraçar ele com toda minha força, mas a vontade de deixa-los conversando tão indiferentes à existência um do outro me segura aqui.

—Cristiano você tem que dirigir com cuidado. –ela o encara seria.

—Ah é, e por quê? –ele pergunta com um sorriso no olhar. Ele gostou dela, ele gostou!

—Por que eu não gosto de ver minha mãe chorando, e ela estava chorando por sua causa. –seu olhar para ele é acusatório.

—Desculpe, prometo que nunca mais dirijo sem me cuidar. –ele sorri. Isso meu amor, nunca mais se descuide, só de imaginar te perder de novo me sinto morrer mil vezes.

—Como você se chama? –ele muda de assunto.

—Jade. –ela é direta.

—Muito bonito seu nome.

—Minha mãe disse que eu me chamo Jade por que sou preciosa. –diz sorrindo.

—E seu pai, também disse que é por isso? –ele se interessa. A pergunta me assusta, Jade não sabe quase nada sobre o pai, mas mesmo assim temo que pode dizer algo que entregue o segredo.

—Eu não conheço ele. –Cristiano franze a testa. –Minha mãe disse que um dia ele vai vim e me coroar como uma princesa, e que o sobrenome dele é minha coroa. –ela respira fundo. –Vou me chamar Jade Lacerda de Araújo, não é bonito?

Ele fecha a cara instantaneamente. Não me restam duvidas, ele descobriu, não por mim, mas por ela mesma. E agora o que eu faço?  Meu Deus o que eu faço?

—Jade, sua mãe se chama Maria Luiza? –pergunta depois de muito tempo, ele quer apenas uma certeza.

—Sim, ela disse que vocês são amigos né?

—Sim. –ele responde automaticamente, posso ver daqui que seus pensamentos estão em outro lugar, outra galáxia.

Não posso mais ficar aqui escondida. CHEGA!

Tomada por uma coragem assustadora, eu firmo a mão na maçaneta e abro a porta, respiro fundo e vou de encontro com a verdade que escondi por covardia e orgulho.


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