Você Mudou escrita por Nessa pml


Capítulo 11
Capítulo X




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            Como um ser invisível me dirijo para a aula, agradecendo a Deus por ser sexta-feira. E depois de implorar ao professor por outra oportunidade de entregar um trabalho que não fiz a tempo, saio da sala apressada, preciso de um café só para provar algo mais amargo que minha vida.

 Alice entristeceu depois de usar todos os seus métodos infalíveis para me animar, porem, simplesmente não desistiu.

—Malu, não vejo outra maneira de te convencer a voltar a viver, então vim mais uma vez te pedir para fazermos alguma coisa. – diz esperançosa.

—Tipo o que? –pergunto só por perguntar, já que não tenho vontade de nada.

—Vamos sair, passear, encher a cara, qualquer coisa, não aguento mais ficar nenhum dia te vendo nessa fossa toda.

—Ta ruim assim é? –esboço uma tentativa estranha de sorriso.

—Você não tem ideia.

—Se esta ruim apenas ver, imagine sentir. –debocho.

—Alice sofrer por amor? JAMAIS. –ela levanta a cabeça prepotente.

Dou-lhe outra vez meu patenteado sorriso fraco. Talvez eu tenha mesmo que sair, eu sei  que onde quer que eu vá a saudade dele ira me acompanhar, então não adiantará passar a vida aqui sofrendo em vão. Eu já me condenei pela minha escolha, portanto tenho que aprender a enfrenta-la. Tomara que eu consiga.

—Qual sua ideia? –tento me animar.

—Podíamos ir hoje na Woods, que tal? –não aguento e dou risada.

—É serio? Ta me chamando pra ir na Woods? –pergunto balançando a cabeça por pura descrença

—O que tem demais?

—Alice o nome do meio da Woods poderia ser “Cristiano Araújo”, de tanto que ele vai lá.

—Desencana Malu, hoje é sexta com certeza ele tem algum show agendado, claro que não estará lá.

—Não sei não. –balanço a cabeça preocupada.

Mesmo sabendo que Alice não tem a mínima ideia do que esta fazendo, me deixo levar por sua boa vontade em me ajudar. Então as nove da noite partimos para a boate. Animada como quem vai a um funeral eu me sento ao seu lado e observo a portaria se encher de gente enquanto ela passa uma cantada no garçom.

—Sua busca por uma reprodução acidental é assustadora. –digo torcendo a boca.

—Ah, seria um prazer ter esse gato como meu reprodutor. –sorri sacana e eu só consigo revirar os olhos.

—O que vamos beber? –pergunto por fim.

—Cerveja.

—To afim de algo mais forte, pode chamar o garçom pra mim?

—Amiga, nada me daria mais prazer. –sorri de uma orelha a outra.

Peço um whisky e depois de quase morrer afogada umas três vezes, acabo me acostumando com o sabor, na verdade acho que, tanto o whisky quanto o álcool que usamos nas aulas praticas tem o mesmo cheiro. Não entendo a diferença.

—Pensei que a gente bebesse pra ficar mais feliz, isso vai demorar a acontecer Alice? –pergunto já zonza.

—Ah amiga, vai depender de quão triste você esta, quanto mais infeliz mais bebida é necessário. –zomba.

 Eu a encaro como se dissesse: ESTOU MORRENDO AQUI, ela ri e acena para o garçom.

—Querido, mais uma dose pra minha amiga aqui por favor. –ela flerta com o coitado na cara de pau.

Enxergando muito mal, vejo um rapaz magricelo subir no palco e pegar o microfone, abaixaram o volume da musica para que possamos ouvi-lo falar.

—Boa noite pessoal, então como tínhamos prometido, ele chegou pra animar nossa festa. Vamos dar um salve para nosso amigo: CRISTIANO ARAUJO. –mesmo não enxergando bem, meus ouvidos estão ótimos então não posso evitar o desespero com o que acabo de ouvir.

Olho com toda minha fúria alcoolizada para Alice, que me devolve um risinho sem graça pedindo desculpas.

Tento me levantar, mas a tontura me faz sentar desajeitada de volta na cadeira.

—BOA NOITE GALERAAA. –ele entra no palco. Esta tão contente, tão animado, tão...Cristiano.

Os gritos me ensurdecem momentaneamente ate ele recomeçar a falar.

—Hoje contaremos com a presença mais que especial da minha amiga Bruna Andrade. –ele beija a mão da moça e as pessoas enlouquecem ao ouvir seu nome.

—Malu, vamos pra casa. –Alice se levanta prevendo uma confusão.

—Não senhora, senta aí! –aponto para a cadeira. –Você queria sair, nós estamos saindo, e também eu estou me divertindo muuuuito. –mal consigo falar.

—Eu sofrendo, chorando como louca e ele cantando com essa Bruna Andrade. –aponto com desdém. – Isso é tão injusto. –choramingo.

—Foi você quem quis assim Malu. –Alice diz com suavidade, talvez pena.

—Ah é! –me dou conta de que é por minha culpa que estou assim, então começo a rir descontroladamente feito uma idiota, não muito diferente de quando estou sóbria.

—Malu, vamos eu já paguei a conta. –ela me estende a mão que eu aceito de bom grado já que não consigo me levantar sozinha.

—Se pudesse sentir a minha dor, voltaria pros meus braços correndo... –enquanto eu pensei estar cantando, ou miando, no carro Alice gemia de desgosto ate chegarmos em casa.

—Quer tomar um banho pra tirar a ressaca? –me pergunta preocupada.

—Você ta rodando. –digo num chiado.

Não me lembro como, ou quando foi, mas acordei de pijama na minha cama as onze horas da manha com uma dor de cabeça pulsante.

Tomo um banho, um analgésico, devolvo meu café na privada e me pergunto se esse dia pode ficar pior. Então saio do quarto decidida a não voltar ate ter colocado meus pensamentos em ordem, a pé sei que não posso ir muito longe, assim sendo, vou para o jardim atrás do campus, me sento de frente para o lago e me perco em meus pensamentos.

Saber que o Cris se recuperou facilmente me magoou mais do que a própria dor de tê-lo perdido, não consigo acreditar que era tudo encenação, ninguém tem essa capacidade teatral...

Bruna Andrade, bonita, jovem e canta, eles tem tanto em comum. Aquele beijo que ele deu na mão dela disse muito mais do que sua intenção de mostrar...

Sem que eu me desse conta me pego chorando novamente. Me odeio ainda mais por isso.

—Precisa de um lenço? –me surpreendo com uma voz masculina atrás de mim, como não a reconheço me viro para ver quem é.

—Não, obrigado. –digo para o rapaz moreno alto, de olhos e cabelos pretos que me estende um lenço.

Sem que eu o convidasse, ele se senta ao meu lado. Me sinto estranhamente constrangida diante de seus olhos, são como um espelho, intensos.

—Posso ajudar? –pergunta solidário.

—Tem algum remédio pra causar esquecimento? –pergunto olhando novamente para o lago.

—Tenho, mas se eu te contar terei que te matar, sabe como é né? Muita gente querendo. –diz sorrindo.

—Chegou atrasado, já estou morta. –balanço a cabeça.

—Guilherme. –me estende a mão esperando que eu me apresente, de cara feia penso seriamente em procurar as câmeras escondidas para desmascarar a pegadinha.

—Guilherme? –pergunto de testa franzida, ainda desacreditada.

—Algo errado com meu nome? –pergunta ainda sorrindo.

—Guilherme. –afirmo a mim mesma, lembrando de Alice e suas intromissões desnecessárias.

—Se quiser pode ficar com ele pra você. –debocha outra vez.

—Desculpe, Maria Luiza...Malu. –aperto sua mão.

—E então Malu, por que essa tristeza?

—Agora eu é quem teria que te matar, sabe como é né? Coisa de FBI. –repito sua frase.

Ele ri.

—Ah, você esta ai sua louca, já te procurei em todos os lugares, faltava só procurar entre os mortos. –Alice chega exasperada.

—Devia ter começado por lá, ela disse que esta morta. –Guilherme ironiza.

—Ah, oi Gui. –ela se aproxima dando os dois beijinhos de praxe.

Enquanto eu encarava Alice com minha melhor cara feia, ela ria de mim como se eu fosse uma piada engraçadíssima.

—Que bom que se conheceram, agora nem tudo será mentira viu Malu. –ela ri ainda mais.

—Do que exatamente estamos falando? –Guilherme pergunta visivelmente confuso.

Eu encolho os ombros e olho para ele como se dissesse: sinto muito, também já desisti de entender.

—Vem vamos comer alguma coisa, você esta com uma aparência horrível. –Alice me estende a mão.

—Eu pago. –Guilherme se oferece, eu penso em recusar mas Alice me interrompe lascivamente, ela não perderia a chance de comer de graça. Reviro os olhos exageradamente pra ela.

            Agora deitada na cama, encarando o escuro do anoitecer, estou fazendo uma retrospectiva do meu dia, que, surpreendentemente foi agradável, ignorando claro, os momentos em que Alice quase me matou literalmente de vergonha contando toda minha historia de vida para Guilherme. Houveram instantes em que ela parecia saber mais que eu mesma.

Claro que não! Só eu conheço a dor e a felicidade que é amar tanto  Cristiano Araújo.

—E ai o que achou do Gui? –pergunta cheia de segundas intenções.

—Legal. –respondo sem ter nada melhor para dizer.

—Ele é lindo não é? –insiste.

—É ele é lindo, tanto que estou pensando em pedir a mão dele em casamento. –ironizo esperando que ela entenda.

—Casamento é impossível esperar de você Malu, mas bem que você podia dar uns amassos com ele, isso com certeza iria te tirar dessa deprê chata. –diz revirando os olhos.

Eu a ignoro e me viro para o canto tentando dormir sem me arrepender de tê-la convidado para dormir comigo.

—Você vai aceitar o convite dele para irmos ao clube amanha né? –pergunta suplicante.

—Talvez, e boa noite Alice. –sou direta, quem sabe assim ela se cale e durma.

Essa noite sonhei com ele, sua voz ecoando varias e varias vezes “eu vou te esquecer Maria Luiza” me fez acordar assustada, então chorei baixinho o restante da noite por perceber que enquanto eu tiver vida, ela será assim... sempre provando o dessabor da despedida.


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