Epistolar escrita por Hitsatuke


Capítulo 1
Epistolar


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!
One para o desafio Crackshipper do grupo mais legal do wpp!
Minha desafiante foi Mirys e peguei meu shipper lindo, master, maravilhosoooo! Admito que foi uma bosta para escrever. Tive algumas ideias e as descartei, mas consegui. Não tá nada muito elaborado... Mas tá legal!
Sem mais delongas, fiquem com Epistolar.
Boa leitura.



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Ohayo, Sakura.

Por favor, leia até o final. Nem é tão longa.

Eu te amo.

 

Aposto como agora abriu a boca, surpresa. Ou talvez tenha apenas levantado uma sobrancelha, se perguntando quem e por que alguém faria uma brincadeira dessas. Sinto prazer em lhe dizer que não é uma brincadeira. Amo-te desde que pus meus olhos em você pela primeira vez. Há tantos anos que não vale a pena nos lembrar o quanto nosso tempo já passou. Não tente descobrir de quem se trata. Na hora certa, saberá. Seu trágico acidente não destruiu apenas a você, acredite, mas está na hora de agir. E saber que eu jamais conseguirei viver sem você me deu forças para escrever. Não que as palavras doces de um completo estranho venham a fazer alguma diferença. Não farão. Pelo menos por hora. Mas eu precisava romper essa barreira que está dentro de mim. Não há no mundo, alguém que a ame mais.

Dito isto, farei com que se apaixone por mim. E então as coisas voltarão aos trilhos.

                                                                                                                                                                              Com amor.

 

Li a carta com uma sobrancelha levantada. Quando percebi, arquejei. Olhei ao redor, mas só havia um casal idoso sentado em seu jardim, do outro lado da rua. Dobrei a carta e a devolvi ao envelope. Um envelope azul. A caligrafia era rígida e calma. A tinta não estava muito forte e eu não fazia ideia do que aquilo significava. Coloquei o envelope dentro de uma das bolsas que trazia da feira e tirei a chave de casa do bolso.

 

Eu ainda sentia um incômodo na cabeça, no lugar em que os pontos ficavam. Pinicava um pouco, apesar de sempre ter sido suportável. Até a chegada daquela carta. O que quer que significasse, tinha ficado para trás. Num passado recente e do qual eu não me lembrava. Levei as compras para a cozinha imaginando, forçando minha mente a pensar num rosto por trás daquelas palavras, mas não havia. Bufei e parei de tentar. Minha cabeça tinha começado a doer. Olhei o telefone e havia dois recados. Um era de Tsunade, a médica que cuidou de mim enquanto eu estava internada, e o outro era de alguém se identificando como Kakashi Hatake. Ouvi o recado de Kakashi para descobrir que ele era do banco e que havia uma conta no meu nome que tinha sido aberta recentemente e que eu devia ligar para pegar os dados. Disquei o número que ele deixou no recado e o telefone chamou três vezes antes de alguém atender.

— Senhor Hatake? Aqui é Sakura Haruno. – falei e esperei.

Ah, sim, senhorita Haruno. Estava esperando seu contato.

— Como assim há uma conta aberta recentemente no meu nome? – perguntei, estranhando. – Não abri conta alguma.

Sei que não, senhorita. Cuidaram disso para a senhorita.

— Pode me tratar por você. Quem fez isso? 

Infelizmente a pessoa pediu para não ser identificada, Sakura. Mas não se preocupe. Tudo foi feito de forma legal.

— Olha, uma conta vinda de uma pessoa que eu não conheço não me atrai nem um pouco, senhor. Eu não quero essa conta. E espero que não seja uma espécie de golpe. Ou vou ligar para a polícia. – avisei.

Como eu disse, é legal, Sakura. Seus dados serão mandados para seu endereço residencial. A conta já foi aberta e há uma boa quantia depositada. A pessoa responsável por isso não quer que nada lhe falte.

— Ainda assim eu recuso. Não vou mexer em um dinheiro que não é meu.

Isso fica a seu critério.

Quem estava fazendo aquilo? Era certo que eu precisava arrumar um emprego logo. Que minhas economias estavam no fim, mas eu não precisava de alguém surgido do nada para me oferecer um dinheiro suspeito. Desliguei o telefone e tranquei as portas. Um tremor arrepiou os pelos dos meus braços e os esfreguei. O sol estava brilhando do lado de fora, mas eu estava cismada. Primeiro a carta e agora aquela ligação. Ouvi as batidas na porta e meu coração subiu até a garganta.

— Sakura, abre a droga da porta, rápido! – era Ino. A pessoa que se dizia minha melhor amiga. Respirei fundo e fui até lá. A loira entrou como um furacão e correu até a cozinha. Trazia uma garrafa de vinho na mão e procurava pelos copos.

— O que está fazendo, Ino?

— Tenho uma boa notícia! Consegui um emprego para você.

— Sério? – acabei sorrindo. Ino era espevitada e barulhenta, mas eu me sentia confortável com ela por perto. Por isso acreditava quando ela dizia que éramos melhores amigas.

— Sim, não é grande coisa, mas já é um começo. É num bar elegante no centro. Estão precisando de garçonetes que saibam falar inglês. Eu conheço o dono e falei de você. Quando falei de seus cabelos rosa, ele te quis na hora, porque o lugar inteiro é bem despojado. Então, quer ir até lá dar uma olhada?

— É claro. Eu estou mesmo precisando trabalhar. – pensei em mencionar a carta e o telefonema do banco, mas me calei. As coisas estavam muito confusas na minha cabeça ainda.

— Ótimo. Coloca uma roupa bonita e vamos até lá. Depois do vinho.

— Vamos deixar eu conseguir o emprego e depois comemoramos, que tal? – pedi. Ino acabaria bebendo demais. Como na noite em que eu saí do hospital…

— Tudo bem, estraga prazeres! – sorri em agradecimento e fui me arrumar para conseguir aquele emprego.

 

 

O bar era realmente elegante. Ainda estava cedo, então alguns poucos funcionários andavam por ali arrumando as mesas e pondo tudo em ordem. Ino entrou e cumprimentou muitos deles. Parou quando chegou a um homem pálido e o cutucou de leve. Quando ele se virou, abriu um sorriso calmo para a loira. Ela lhe deu um beijo muito íntimo na bochecha e desviei o olhar. Não sei por que fiz aquilo.

— Olá, amor. – Ino o cumprimentou. – Ah, Sakura, esse é Sai, meu… amigo. – apertei a mão do homem bonito e ele sorriu.

— Você é a famosa Sakura. Ino fala muito de você.

— Ah, prazer, Sai. – retruquei e também gostei daquele sorriso. Era verdadeiro e carinhoso.

— Nossa querida raposa está? – Ino perguntou ao “amigo” e ele assentiu.

— Só um segundo.

Enquanto Sai ia atrás do dono do lugar, olhei por ali. Mesas estavam espalhadas por todo o lugar. Havia algumas mais altas e com tampos pequenos e outras baixas e mais largas. Todas eram de madeira escura e envernizada. O piso também era de madeira. Eu adorei aquele lugar. Nos fundos, havia um balcão longo. Uma estante de bebidas estampava a parede atrás, bem abaixo do nome do bar, exibido de forma cursiva e brilhando em laranja. Kurama. Ainda estava observando aquela palavra tão simples e tão significativa para mim, mesmo que eu não soubesse por que, quando Sai voltou. Vinha acompanhado de um homem alto e loiro. Os olhos me atingiram de primeira. Azuis. Lindos azuis brilhantes.

— Sakura. – ele falou e sua voz era grave. Havia um sorriso tranquilo em seu rosto. – Ino me disse que era bonita. Eu só não sabia o quanto. Vai fazer mais sucesso do que nossos cantores.

Acabei corando. Ele era lindo. Os olhos azuis estavam fixos nos meus, mas ele não parecia estar esperando nada de mim. Nem que eu respondesse, na verdade. Mesmo assim, me obriguei a abrir a boca.

— Obrigada. O lugar é lindo. Eu vou adorar trabalhar aqui.

— Excelente. Vamos discutir os termos com mais calma, mas precisa saber que é um trabalho noturno. Abrimos o bar por volta das oito e só o fechamos lá para as seis. Ainda está interessada?

— Sim. – respondi. Eu precisava trabalhar.

— Então vamos à minha sala. Para sua sorte, sou um homem que detesta lidar com burocracia, então tudo será bem rápido. – ele falou e coçou a cabeça, encabulado. Sorri daquele gesto de menino e o segui. Ino ergueu os dois polegares para mim.

Menos de meia-hora depois e eu estava fora. Acertamos o salário, que foi bem maior do que eu esperava e ele me passou o uniforme. Vesti para ver se servia e, por incrível que pareça, ficou perfeito. Perfeito demais. Ainda mais considerando que era um uniforme feito sob medida. Naruto sorria tranquilamente e disse que provavelmente eu preferiria usar o cabelo preso. Porque, apesar do ar-condicionado potente do lugar, à noite ficava quente pela quantidade de clientes. Avisou que as gorjetas eram muito boas e que não se importaria se eu jogasse “um charme” para os clientes. Pelo menos garantiria que eles voltassem no dia seguinte.

— Brincadeira. – falou logo em seguida. – Você não precisa aturar clientes mal educados. Somos todos amigos aqui. Se um cliente te incomodar, chame o Chouji, que está sempre de segurança na porta. Ou chame os outros. Eles não vão hesitar em dar uma lição num abusado qualquer. – riu. Eu também sorri e disse que ele podia deixar comigo.

Conheci os demais. Além de mim, havia apenas mais uma mulher: Karin. Ela tinha os braços tatuados e fazia questão de deixá-los à mostra usando regatas pretas e justas demais. Ela era a barwomen. Fazia coquetéis com aquelas manobras incríveis.

Atrás do balcão também havia Sasuke e Suigetsu. Os dois igualmente tatuados, usando blusas sociais pretas dobradas na altura do antebraço. Suigetsu me cumprimentou animadamente. Sasuke não. Sasuke ficava me olhando fixamente. Desviei meu olhar do dele, sentindo uma pontada incômoda na cabeça.

Conheci também os garçons que estariam andando por ali como eu. Shikamaru, um homem tranquilo que logo disse que aquele trabalho era chato demais. Sai, a quem eu já tinha sido apresentada; Neji, um homem de cabelos longos e mais bem cuidados do que os meus; Lee, uma figura um tanto inusitada e divertida. Chouji, que ficava na porta ao lado de Juugo. Dois grandalhões. O primeiro um grandalhão simpático. O segundo, caladão e assustador. Kiba, que estava o tempo todo sorrindo.

Conheci ainda Hinata, Tenten e Shino, que cuidavam da comida. Petiscos, de maneira geral, mas eles podiam fazer de tudo. Naruto contou que teve um casal uma vez que os fez trabalhar. A mulher estava grávida e resolveu ter desejo por pizza de palmito. Era quase três da manhã. Se não fosse por Shino, o pobre marido teria que se deslocar até uma pizzaria que funcionasse vinte e quatro horas. Eu ri de verdade enquanto ele contava.

**

Quando fiquei sozinha em minha casa, senti o vazio. Minha casa. Eu não a considerava um lar. Não era aconchegante. Não parecia ... certo. E eu não entendia por que. Disquei o número de Tsunade e ela atendeu em seguida.

Sakura! Está tudo bem? — perguntou com preocupação.

— Sim e não. Tsunade, disse que minha perda de memória foi total, não foi?

Sim, por quê? Está se lembrando de algo?— agora havia esperança em sua voz.

— Não exatamente. Eu só sinto que falta alguma coisa. Estou em casa, na minha casa, mas não me sinto em casa, entende?

Sakura, você acabou de sair do hospital. Isso depois de uma semana apagada. Chegou à sua casa faz menos de um mês. Você logo vai se acostumar novamente. Finja que acabou de se mudar.

— Mas e esse sentimento de vazio? – eu ficava cada vez mais angustiada.

Seres-humanos são o que são por causa de suas memórias. Não digo que entendo pelo que está passando, mas pense em si mesma como uma pessoa que acabou de nascer. Mas, diferente de um bebê, você já foi jogada num mundo em que vê e entende tudo. Um mundo em que pessoas te conhecem e esperam algo de você. Esse estranhamento é normal. E também vai ser amenizado quando você sentir que está em casa. Faça novos amigos, fortaleça os laços feitos com os antigos, e tudo vai ficar bem. Você precisa ter paciência.

— Entendi. Esperar. – ouvi Ino entrando na casa como um furacão e me despedi de Tsunade. Respirei fundo.

— Podemos abrir o vinho agora? – ela abriu os braços e eu assenti. Tsunade tinha razão. Enlouquecer por causa disso não faria diferença nenhuma.

 

Naquela noite, eu estava pronta para o trabalho. Prendi meus cabelos de forma rebelde e cheguei no Kurama para minha primeira noite de trabalho. Achei que não veria Naruto, mas lá estava ele, vestido de garçom.

— Você trabalha de garçom?! – não contive minha curiosidade. Naruto assentiu.

— É bem mais divertido do que ficar lendo papeis. – Naruto riu e dobrou as mangas. Seus braços eram bronzeados e fortes. Ergui  os olhos por seus braços até o pescoço forte e e então até o queixo firme. Seus olhos azuis estavam fixos nas portas, então pude admirá-lo. Ele era lindo de verdade. Mas não era só isso. Havia mais… - O que foi? – senti a mão de Naruto em meu ombro. Percebi que estava com os olhos fechados quando o rosto de Naruto foi finalmente focado.

— Foi só uma pontada. Estou bem. – sorri de volta para ele, mas Naruto continuou atento a mim por mais alguns segundos.

E então o expediente começou. Eu não tinha tempo para pensar em qualquer outra coisa. De uma hora para a outra o lugar estava cheio. Kiba estava de DJ naquela noite e as pessoas se intercalavam entre as mesas e a pista de dança, que podia ser tanto o espaço vazio mais próximo ao balcão, como os espaços entre as mesas. Mas foi divertido. A alegria era geral ali. Eu estava suada, exausta, mas o sentimento de vazio tinha se dissipado. Esbarrei com Naruto duas ou três vezes e ele sempre brincava, perguntando se a novata estava dando conta. Mostrei meu caderninho cheio de pedidos e perguntei se o chefe estava dando conta. Rimos juntos e voltamos a trabalhar.

**

— Sakura? – ouvi a voz de Naruto vindo do escritório. Tirei o avental e o dobrei enquanto andava para lá. Os demais deixavam o lugar e se despediam. Sorri verdadeiramente para cada um deles e fui até Naruto.

Ele estava sentado, com uma pilha de papeis espalhados pela mesa. Estava igualmente exausto, mas seu trabalho ainda não tinha acabado. Ele me parabenizou pela noite e disse que todos tinham gostado muito de mim. Esticou os braços e ouvi suas costas estalarem.

— Você devia ir descansar. – me peguei falando. Ele me olhou de soslaio e sorriu.

— Eu passei a noite na pista porque quis. Mas tenho que fazer o balanço das vendas da noite, inventário de mercadoria para reposição. Isso tudo tem que estar pronto até às oito da manhã para que eu consiga comprar mais mercadoria e que ela chegue até às quatro, para dar tempo de arrumar tudo.

— Então por que passou a noite lá?

— Porque lá estava melhor do que aqui. Todo mundo estava lá se divertindo.

— Estávamos trabalhando.

— Diz para mim que não se divertiu. – ele me encarou com desafio. Seus olhos azuis brilhavam apesar do cansaço. Era apenas o segundo dia que eu o via e já queria por as mãos em seu rosto, acariciar as maçãs e quem sabe…

— Foi muito divertido. – falei quando minha cabeça voltou a doer. – Mas nem sempre vai ser assim. Um dia vai ser estressante. E isso vai te deixar psicologicamente estressado.

— Psicologicamente estressado. – Naruto repetiu, pensando.

— Sim. Por mais alegre que uma pessoa seja, quando sua mente se esgota, não há mais saída.

— Você está errada. – agora ele estava mais sério. – Eu não aceito isso. Esperança, Sakura. Psicologicamente estressado não é sinônimo de derrota. Se você tiver esperança e um motivo para seguir em frente. Um motivo para sorrir, você nunca vai se esgotar.

— É lindo na teoria.

— Na prática funciona.

— Para quem?

— Para qualquer um que estiver disposto a sofrer agora para sorrir no futuro. – Naruto falou e sorriu. Eu não o entendia. Então fiz a única coisa que podia fazer.

— Quer ajuda com isso aí? Dois cérebros pensam melhor do que um. E quatro mãos trabalham melhor do que duas.

— Com certeza. Eu estava pensando como te induziria a me oferecer sua ajuda. – agora o sorriso estava mais largo e Naruto puxou uma cadeira ao lado da sua. Trabalhamos mais.

 

 

Querida Sakura,

Partiu meu coração.

Te amo.

Sou a pessoa que você se recusa a lembrar. A pessoa que a amou tanto, que esqueceu de si própria e acabou por machucá-la. Você sentiu mais por mim do que jamais sentiria por si mesma. Me odiou por me amar daquela forma. E odiou a si mesma por estar me odiando. Eu não entendia. Primeiro achei que havia outro. Achei que não havia ninguém, o que era ainda pior. Achei que não me queria mais. O sofrimento que incutimos um ao outro depois daquilo não deve ser descrito em cartas. É algo que não espero mesmo que se lembre. É algo que torço todas as noites por esquecer. É meu pesadelo acordado.

Agora está tão longe de mim quanto está de si mesma e do que um dia foi. Mas talvez eu possa trazê-la de volta. Não há mais respostas no passado. Não para você. Mas há inúmeras possibilidades de futuro. Estou moldando o meu futuro para que condiga com o seu passado. E, então, você voltará a me amar.

                                                                                                                                                                                          Com amor.

 

A vida continuou assim pelos dois meses seguintes. No entanto, havia dias que Naruto simplesmente não aparecia no bar. E Shikamaru era o responsável pela contabilidade e reposição de mercadoria. Eu não ousava perguntar nada a ele, mas sentia aquela falta.

Minha casa continuava não sendo um lar.

 

 

Querida Sakura,

Reconheceria o som de ondas batendo em pedras?

O som do mar. O som que mais amava. Sentar-se na areia ao por do sol. Ver a maré subir enquanto alguns pássaros continuam em sua tarefa árdua de conseguir pescar algo para sua sobrevivência. O horizonte ficando vermelho enquanto o enorme sol se despede de nós por mais uma noite.

Foi onde nos beijamos pela primeira vez. Eu tinha dezesseis e você, quinze. Estávamos descobrindo um mundo novo. Um mundo de hormônios à flor da pele. Um mundo de rebeldia e de amores infinitos. Vimos aquele por do sol com as mãos unidas. Você usava uma blusa grande por cima do biquíni e um chapéu grande demais para sua cabeça, mas era a visão mais linda do mundo.

                                                                                                                                                                                   Com amor

 

Naruto estava especialmente cansado algum tempo depois. E foi isso que me fez perguntar o que ele fazia nos dias que não aparecia no bar.

— É um segredo. – ele falou enquanto passava o braço por meus ombros e me apertava devagar.

— Você anda muito cansado, Naruto. – retruquei.

— Preocupada?

— Muito. – respondi. Aquele cabeça oca não percebia que era importante para mim?

— Tudo bem. Faremos assim: eu troco esse segredo por um segredo seu, que tal?

— Não tenho segredos. – respondi e Naruto riu.

— Sério? Todo mundo tem segredos. Eu estava curioso a seu respeito, então perguntei ao Sai, que perguntou à Ino. Ela não quis dizer tudo. Só disse que você tinha passado por uma coisa muito ruim e que estava tentando redescobrir seu lugar no mundo. Serei honesto com você. Eu sei o que te aconteceu. Sei porque você não reconheceu o Sasuke.

— Sasuke? – virei minha cabeça bruscamente e Naruto assentiu. Sasuke era uma figura muito curiosa. Ele estava sempre me olhando e não fazia questão de ser sutil. Era sempre eu a desviar o olhar. E nunca consegui ver o que se passava por aquela mente cada vez que ele me olhava.

— Você e o Sasuke se conheciam. E acho que você era apaixonada por ele. – Naruto falou me olhando fixamente. Aquilo me fez engolir a seco. Eu era apaixonada pelo Sasuke?! Por que ninguém tinha me contado aquilo? Por que Ino não me contou?!

— E nós tínhamos alguma coisa? – perguntei.

— Sinceramente? Eu não sei. Sasuke nunca me respondeu quando eu perguntava. Só que eu também não sei de tudo, e devo admitir que estou muito curioso. Ino disse alguma coisa sobre você ser campeã de judô. – Naruto falou e eu ri. É, tinham me contado aquilo também.

— Vou te contar o que eu sei e você me conta o seu segredo. – falei com empolgação.

— Ótimo. Que tal um sorvete?

— Temos tempo para isso? – perguntei olhando ao redor. Algumas mesas precisavam ser arrumadas ainda.

— Temos sim. Há uma vantagem em ser o chefe. – ele riu e passou o braço ao meu redor. Era comum fazer aquilo e eu adorava.

Passar o dia fora de casa era a melhor parte da minha vida. E eu sabia que era por causa deles. De todos os amigos novos que eu fiz indo trabalhar no bar. Mas, principalmente, por causa de Naruto.

Andamos devagar pela rua e passamos numa sorveteria. Ele pediu sorvete de passas ao rum para nós dois sem nem me perguntar o que eu queria. Quando me ofereceu, percebi que era porque ele também estava confortável comigo. Como se sempre tivéssemos feito aquele tipo de coisa.

— Desculpa. Você queria outro sabor? – ele me perguntou.

— Não. Adoro passas ao rum. Obrigada.

Ele sorriu, aliviado, e me ofereceu seu braço. Aceitei e continuamos caminhando. Eu resolvi começar.

— Eu sofri um acidente. Me disseram que foi acidente de carro. Que eu não estava usando cinto de segurança e por sorte não morri. Eu só sei que acordei um dia no hospital e não me lembrava de nada e nem de ninguém. Foi desesperador. Eu comecei a chorar. Sentia medo de todos que passavam do meu lado. Ino estava lá. E meus pais. Tive que reaprender tudo, Naruto. A médica que cuidou de mim, Tsunade, diz que eu nasci de novo literalmente. Que eu virei um bebê. Algumas coisas que são coordenadas por algumas partes do cérebro não foram afetadas. Eu ainda sabia andar, falar. Mas não sabia como se usava um garfo. Quando fui comer sozinha, comi de colher. Tive que ouvir como o mundo funciona. Isso eu consegui pegar e fui redescobrindo tudo de novo dia após dia. Mas eu não podia me lembrar de ninguém. Ino disse que era minha melhor amiga e eu aceitei porque gostei dela de cara. Meus pais. Eu sentia que aquelas pessoas eram muito importantes para mim, mas não me lembro delas. As únicas lembranças que eu tenho, são as que eu fiz desde o dia que saí do hospital.

— Meu Deus… - Naruto estava pálido e me encarava com o rosto preocupadíssimo. Seus olhos estavam meio marejados e achei que ele começaria a chorar.

— Por favor, não fica assim. – apertei seu braço com mais força e sorri. – Não há dor, Naruto. Só vazio. Mas esse vazio está sendo preenchido. Com o pessoal do bar, com a Ino. Com as pessoas novas que eu conheço todos os dias. E com você. Então não precisa sofrer por minha causa. Agora é sua vez.

— Meu segredo é um lixo perto disso. – Naruto secou os olhos e sorriu com tristeza. Ele não esqueceria aquilo tão cedo. – Eu tenho outro trabalho. Meu trabalho verdadeiro, antes de assumir o bar.

— Ah é? O que você faz?

— Sou dentista. – gargalhei. Naruto acabou rindo comigo. Todo mundo parou para olhar para os dois retardados gargalhando histericamente no meio da rua. Alguns carros buzinaram, mas quem olhava demais acabava rindo também. Senti minha barriga doer de tanto que eu ria. Engasguei com o sorvete e tossi enquanto ria. Naruto riu batendo nas minhas costas de leve, até ele mesmo engasgar. Eu nunca me senti tão feliz estando ao lado de uma pessoa. E acho que aquele riso não se deu só pelo que Naruto tinha falado. Estávamos rindo de tudo. Até do que não deveríamos rir. Sentamos no meio-fio e Naruto segurou minha mão com força. – Fa-falo sério! – brigou entre risos. As lágrimas escorriam dos meus olhos.

— E-Eu acredi-dito em vo-cê! – ri também até minhas bochechas começarem a doer.

— Parecemos dois idiotas. – Naruto secou meu rosto com o polegar e aquele toque carinhoso reverberou por todo meu corpo.

— É, dois idiotas. – nos olhamos por algum tempo e vi Naruto desviando o olhar para minha boca por apenas um segundo. Ele logo virou a cabeça para seu sorvete e apenas a sombra do sorriso podia ser visto em seu rosto bonito. – O que acha do Sasuke?

— Por que perguntar do Sasuke agora? – franzi o cenho.

— Já vi os dois se encarando. E ele é um cara bonito e legal.

— Sim, ele é. – respondi e os ombros de Naruto tremeram ligeiramente. – Mas somos só amigos. Acho que nem isso, se depender do Sasuke. Somos mais como colegas de trabalho.

— Colegas de trabalho. – Naruto repetiu, pensativo, e se levantou. – Passamos muito tempo fora. Temos que voltar.

— Eu sei. – me levantei com ele e Naruto segurou minha mão novamente. Sorriu.

— Você tem certeza de que está bem com isso? Ninguém te contou como aconteceu o acidente?

— Estou bem sim. E não, ninguém me contou como aconteceu o acidente. Eles querem me proteger de alguma coisa. E, posso te contar uma coisa?

— Claro.

— Acho que perdi alguém no dia do acidente. Alguém que era muito importante. Porque eu não me sinto em casa quando estou sozinha. Mesmo que o vazio que eu sentia no começo tenha sido quase completamente preenchido, há uma parte que eu não consigo entender. É como se essa parte vazia não pudesse ser preenchida por qualquer pessoa. Só que eu não sei como perguntar à Ino, ou aos meus pais. Porque se eu perdi mesmo alguém, eles vão querer me proteger. E para me proteger, o ideal é que eu não me lembre dessa pessoa. Entende?

— Entendo. Não se preocupa com isso. Um dia alguém vai te contar.

— Acho que já estão contando. – resolvi me abrir mais um pouco.

— Como assim?

— Eu venho recebendo cartas. A pessoa diz em todas elas que me ama. Me conta coisas do passado. Eu fiquei preocupada no começo, mas eu sinto, eu sei, que é só a forma de alguém se desculpar por alguma coisa. Acho que a pessoa que está me mandando as cartas é a pessoa que eu perdi. Acha que pode ser o Sasuke? – Naruto negou com a cabeça.

— Eu não sei. Você espera que seja ele?

— Não. Eu não espero nada. Mas você disse que eu já o conhecia. Por qual motivo ele não falaria comigo quando apareci? As pessoas que me conheciam apareceram. Por que ele não apareceu? Talvez ele se sinta culpado. Talvez tenha medo de me fazer odiá-lo se eu souber a verdade.

— Se soubesse que está assim agora, sem poder se lembrar de nada, por causa dele, você o perdoaria? Perdoaria de verdade?

— Não tenho por que perdoar ninguém, Naruto. – falei com sinceridade. – Eu não me lembro de nada. É como eu te disse: eu nasci de novo. Eu não vou odiar ou amar alguém por lembranças que alguém tenha me contado. As ofensas, o rancor, ou mesmo os beijos e as amizades, sumiram. Eu não sou amiga da Ino porque ela me disse que éramos amigas antes. Sou amiga da Ino porque eu quero ser amiga dela agora. – acabei sorrindo. Naruto estava fazendo aquela cara de novo. A de quem começaria a chorar.

Foi aí que minha ficha caiu. Mordi a boca para não gritar o que passou pela minha cabeça naquele momento. Eu não podia ter certeza, mas era algo que eu simplesmente descobri ali.

— Eu vou esperar mais um pouco. Quero que essa pessoa que me manda as cartas me conte tudo. Ela disse que faria eu me apaixonar novamente. Então e tenho que saber porque eu era apaixonada antes. Quero saber sobre o acidente. E sei que ele vai me contar. – falei com um sorriso mais calmo e Naruto assentiu. Voltamos para o restaurante de braços dados e em silêncio. Não era um silêncio incômodo. Era confortável como devia ser.

As cartas continuaram vindo. Eu ficava na janela quando tinha oportunidade, mas jamais vi alguém se aproximar da caixa de correio. Quando o próprio carteiro aparecia, eu corria para saber se havia alguma carta dele junto das demais. Mas nunca havia. As cartas especiais vinham sempre sozinhas.

 

 

Querida Sakura,

Eu te amo.

 

Nossa vida depois não foi exatamente fácil. Nossos pais não gostaram de saber que estava grávida e por pouco não te tiraram de mim. Éramos crianças imbecis, mas eu te amava mais do que a mim mesmo. Lutei por você. Saí de casa, trabalhei em qualquer coisa e esperei. Fiz você esperar, eu sei.

Mas a vida tem um jeito estranho de colocar as coisas no eixo. Nós perdemos o bebê ainda muito no início da gestação e aquilo nos destruiu. Todo o esforço que tínhamos feito; todas as guerras que lutamos e os sapos que tivemos que engolir pareceu em vão naquele momento. Achei que a perderia, mas aquilo nos uniu mais do que nunca. Continuei estudando, sabendo que precisava cuidar de você a todo custo. Mas você não deixaria seu sonho morrer. Era a melhor lutadora de judô do Japão. Nunca quis olimpíadas, nunca quis grandes campeonatos. Queria apenas se divertir com o que amava fazer. E queria fazer isso perto de mim.

Então a vida adulta nos reclamou. Ainda nos seus vinte e três anos, conheceu novas pessoas. Uma em particular que poderia pôr fim ao meu sonho. Você se apaixonou por ele. Tenho certeza que sim. Então eu acabei de frente para o sentimento mais destrutivo do mundo: o ciúme. Ele me corroía por dentro. Vieram nossas primeiras brigas feias e nosso primeiro término. Foram as semanas mais angustiantes de toda a minha vida. Não sei como você se sentiu e imagino que nunca vá descobrir.

Um dia, você estava na minha porta. Chorava. Eu não queria saber o motivo. Apenas a abracei e deixei que chorasse no meu ombro. Me pediu desculpa inúmeras vezes. Dizia que tinha entendido. Que eu era o homem mais incrível do mundo por deixar que percebesse por conta própria o seu erro. Pediu mais uma chance. Eu lhe disse que não queria mais sofrer por você, mesmo que  isso significasse sofrer por não tê-la mais. E eu estava decidido. Mas a dor que vi em seus olhos, me fez mudar de ideia. Eu aguentava sofrer por você estar com outro homem; aguentava sofrer por não estar com você; mas jamais deixaria que você sofresse por minha causa. Então nós voltamos.

Não foi a mesma coisa. Estávamos diferentes um com relação ao outro. Quando discutíamos, e essas discussões se tornaram muito mais frequentes, você gritava que eu só estava com você por pena. Que eu não a amava mais. Que eu devia ir embora, desistir. Eu gritava de volta, dizendo que você tinha me abandonado uma vez. Você, que sempre dizia que me amava quando estava nos meus braços. Eu gritava que era você quem não me amava mais. Que tinha voltado para mim por orgulho ferido. Por ter sido rejeitada por outro homem. Estávamos morrendo aos poucos. O que tínhamos estava morrendo aos poucos. Dormíamos em quartos separados. Algumas vezes, um de nós não dormia em casa por conta de uma desculpa qualquer. A visão um do outro inervava a ambos. Nosso amor estava morrendo…

 

Havia marcas mais escuras no papel. Lágrimas. E só percebi que não eram as minhas, quando a primeira gota escorreu do meu rosto e foi se juntar às que já estavam ali. Deixei as cartas com as demais e liguei para o bar. Eu não queria vê-lo naquela noite. Shikamaru atendeu do outro lado e eu avisei que não iria trabalhar. O telefone foi passado para alguém e era Sasuke do outro lado. Ele nunca tinha falado comigo além de assuntos profissionais. Até me assustei quando ele perguntou se eu estava bem.

— Estou bem. – respondi. E não me contive. – Por que não me contou? Por que não me contou sobre nós?

Por que eu contaria?

— Porque fez parte do meu passado. E agora…

E agora o quê? Você não me amava, Sakura. Não de verdade. Só demorou demais para perceber isso. As coisas não foram como você esperava entre nós dois porque você queria me espelhar nele.

— Nele quem? – eu precisava ter certeza! Sasuke…

Ainda falta uma carta, eu acho. Talvez você deva ler antes de voltar. – Sasuke falou e desligou.

 

Passei aquela noite em branco olhando para as cartas sobre a mesa. Amaldiçoei aquela falta de memórias e chorei até não poder mais. Eu só queria me lembrar de alguma coisa. Nem que fosse ínfima! Um sorriso já me bastaria. Mas todas as minhas lembranças estavam ali, iniciadas há apenas alguns meses. Ouvi apenas uma batida na porta e me levantei correndo. Quando a abri, havia um envelope no chão. O sol ainda não tinha nascido e aquele silêncio desconfortável permeava o finalzinho da madrugada. O envelope estava naquele chão frio, abandonado e sozinho. Meus olhos se encheram de lágrimas de novo. Da mesma forma que eu não pudera controlar o riso dias atrás, agora eu não conseguia controlar as lágrimas.

Recolhi o envelope e o levei para dentro, onde demorei quase três horas para acumular a coragem necessária para abri-lo.

 

 

Querida Sakura,

Te amo hoje mais do que amei ontem e a manhã amarei mais do que hoje.

 

Eu estava morrendo junto com o que tínhamos. Mas, como eu disse antes, a vida tem um jeito estranho de nos ajudar a parar de sofrer. Você fugiu de mim. Foi até ele. Em minha cabeça, eu a via de joelhos na frente dele, implorando para que ele lhe desse outra chance. Porque você não me amava mais. Porque eu não te amava mais. Senti ódio. Um ódio tão nocivo para mim quanto seria para você. Peguei aquela chave e fui atrás de você. Estavam no bar. Os dois. Houve uma grande briga. Ele se deixou apanhar. Você gritava para que eu parasse, que eu estava errado. Eu não ouvia. Eu batia. Eu terminava de nos destruir. Jamais aceitaria um término pela metade. Se fosse para aquele amor acabar, acabaria de vez.

Mas não acabou. Não para mim. Acabou para você, acredito. Estávamos indo para casa. Discutimos no carro. Você tentou tirar o volante da minha mão. Queria que eu a deixasse descer. Queria ficar longe de mim. Mas, numa medida desesperada para não nos destruir completamente, não deixei. Eu queria ouvir de você o que você estava sentindo. Queria que me dissesse que não existia mais nada para nós. Cometemos um erro, Sakura. Investimos em nosso primeiro amor. Ninguém deve fazer isso. É preciso ter com o que se comparar. Nós devíamos ter seguido caminhos diferentes quando a vida nos obrigou a isso. Não devíamos ter lutado. Mas lutamos. E sofremos. E vimos a coisa mais linda do mundo perecer em nossas mãos. Derreter aos poucos, sem perceber nenhuma esperança de revivê-la. Você continuou. Puxou o volante com força. Um caminhão desgovernado fez o resto. E assim a vida garantiu que você não sofreria mais por minha causa.

Vi seus olhos se abrindo. Vi você olhando para sua mãe e perguntando quem era ela. O chão cedeu sob meus pés. Não tive coragem de entrar. Ouvi de mais de uma boca que era melhor assim. Que agora não podíamos mais minar um ao outro. Que estávamos livres para vivermos nossas vidas de forma separada. Por isso dei meia volta. Por isso deixei aquele hospital. Por isso desisti de nós.

Mas ele estava lá me esperando. Seu rosto estava machucado. Assim como o meu, mesmo que por motivos diferentes. As mãos dele estavam nos bolsos e ele me disse apenas: “Ela não me amava”. Entendi tudo. Perguntei por que estavam naquele bar. “Ela estava me pedindo ajuda. Não queria perder você.”, ele me respondeu. Chorei. A culpa foi minha, Sakura. Me perdoa. Eu estava tão desesperado por não deixar aquele amor morrer, que sequer percebi seus esforços de fazer o mesmo. Fui tão egoísta que esqueci que estava te machucando tentando não te machucar.

Isso me deu forças para tentar de novo. Do começo. Todos me ajudaram. Todos escolheram não aparecer para você para que pudessem te conhecer novamente e para que você pudesse conhecê-los novamente. Lhe daríamos uma vida nova, feliz. E eu te amaria de novo. Como amava no início. Com a simplicidade de um amor que está nascendo aos poucos e que parece indestrutível. Estamos mais velhos agora. Eu estou mais velho. Sei que para fazê-la feliz eu só preciso deixar que você me ame da forma como preferir. Mas eu vou amá-la independentemente do que escolha daqui para frente. E não vai haver sofrimento para mim enquanto não houver sofrimento para você.

Se ainda quiser saber quem eu sou, se ainda quiser me dar essa chance, venha ao bar hoje à noite.

                                                                                                                                                                        Com todo amor.

 

 

Ele estava de boca aberta. Seus olhos estavam esbugalhados e Naruto engoliu a seco quando terminei de ler. Eu iria ao bar sim. Mas ele iria comigo. Eu estava em seu consultório naquele momento. Naruto usava um jaleco branco e um paciente tinha acabado de deixar sua sala. Entrei e fechei a porta. Comecei a ler antes que ele perguntasse o que eu estava fazendo. Então ele se calou e ouviu até o final.

— Eu sabia. – comentei ao final da carta. Eu não chorava mais. Apenas sorria. – Sabia que era você. Soube que era você no dia que te contei o que aconteceu. O sofrimento que eu vi no seu rosto te entregou. Além do mais, aquele vazio de que eu te falei, não me incomodava quando você estava por perto. Ainda assim, eu só vou confirmar isso no final da noite.

— Sakura…

— Não. Eu não perdoo você. – Naruto não desviou os olhos dos meus. – Não tenho esse direito. Você tem sofrido mais do que eu. – me aproximei e pus a mão em seu rosto. – Como é possível que eu o ame novamente? Como é possível que eu esteja apaixonada por você de novo? Me responde.

— Você não está. – Naruto sorriu amargamente.

— Eu estou. – eu sorri também e meus olhos se embaçaram novamente por conta das lágrimas. – Estou tão apaixonada por você, que eu me odeio por ter esquecido. Me odeio por ter deixado você sozinho. Eu não te abandonei quando fui falar com Sasuke, Naruto. Eu te abandonei quando deixei que o acidente tirasse de mim a coisa mais importante que eu tinha. Você.

 

O beijo que trocamos depois corroborou cada palavra dita por mim e escrita por ele. Meu peito se abriu de felicidade e as coisas pareciam quase certas. Mas havia algumas coisas que eu precisava saber. A primeira delas, e que eu tinha quase certeza de que a resposta seria sim, foi:

— Nós morávamos juntos, não morávamos? – perguntei enquanto Naruto me abraçava. Era confortável sentir aquele corpo contra o meu. Certo.

— Sim.

— Na casa que eu estou morando agora.

— Sim. Compramos aquela casa juntos. Você escolheu por causa do jardim. Eu por causa da quantidade de quartos. Eu queria uma sala de jogos e você queria uma biblioteca. – riu.

— Acho que era isso. O vazio era sua ausência. Vai voltar para casa, não vai? – não foi uma pergunta. Ele tinha que voltar.

— Se é o que quer. Eu não me importo de te dar todo o tempo que precisar.

— Não preciso de mais tempo. Preciso recuperar o tempo perdido. E foi você que criou a conta do banco.

— Aquele dinheiro é seu também, Sakura. Nós tínhamos uma conta conjunta. Quando você acordou e não se lembrou de ninguém, eu decidi que não te faria mais sofrer. Eu sumiria da sua vida. A primeira coisa que fiz foi ir para casa e limpar minha existência de lá. Tirei os porta-retratos, tirei minhas coisas, tirei tudo que pudesse dar a entender que havia outra pessoa morando com você. Então desfiz a conta e pedi para Kakashi, que é um velho amigo nosso, criar uma no seu nome e depositar o dinheiro lá. Eu não queria que te faltasse nada.

— Quando Sasuke te contou que nós não tínhamos nada, você resolveu voltar atrás.

— Sim. Mas eu não sabia como me aproximar de você. Seus pais jamais permitiriam que eu chegassem perto de você no hospital. Então falei com Ino. Ela também não queria deixar tudo aquilo acontecer de novo, mas eu implorei. Eu precisava de uma última chance. E ela me ajudou. Disse que você estava procurando emprego. Bem, não teria como eu te dar um emprego aqui no consultório. Então comprei o Kurama, que era o nosso bar preferido, e pedi ajuda dos outros.

— Até do Sasuke?

— Sasuke foi o primeiro com quem eu falei. Ele era seu amigo, Sakura. Era com ele que você conversava quando brigávamos. Você achava que ele seria capaz de te ajudar a me entender. Se eu soubesse disso, nada daquilo teria acontecido. Teríamos rido de toda aquela situação. O que tivemos foi uma terrível dificuldade de comunicação.

— Você acha? – perguntei com um sorriso e me agarrei mais a ele. Inspirei seu cheiro profundamente e suspirei. Eu me sentia tão feliz! – Não acredito que comprou um bar só para me dar um emprego! Agora faz muito sentido o uniforme caber tão perfeitamente em mim.

— Conheço o seu corpo melhor do que ninguém. – ele falou gravemente em meu ouvido e senti calor. Meu rosto esquentou e Naruto riu. Beijou meu pescoço.

— Eu senti tanta saudade de ter você assim, nos meus braços…

— Estou aqui agora. Eu gostaria de ir até os outros. Agradecer por terem feito isso por nós. E depois eu quero que nos leve para casa e que fique lá comigo por toda essa noite. Nós vamos nos deitar, vamos nos beijar e nos amar várias e várias vezes. E, quando eu acordar amanhã, vou ter inúmeras lembranças felizes de nós dois.

— Eu não proporia algo melhor. – Naruto me abraçou novamente e me beijou. Senti sua língua se enroscar na minha com uma paixão há muito reprimida. E retribuí. Abracei seu corpo com mais força para sentir que era real. Que o homem que eu amei no passado e voltara a amar estava ali de verdade. E eu nunca mais o deixaria fugir.


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Notas finais do capítulo

Foi mais dramático do que eu esperava. Principalmente esse final... kkkkkkk
Desafio postado! O que acharam??



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