Ela era uma garota,

Ele um garoto.

Poderia ser mais óbvio?

Ela fazia ballet, ele era um punk.

 

Estavam juntos, ambos fitavam o céu da manhã num dos jardins da escola. Ele tinha um olhar doce, e por mais que se esforçasse nunca conseguiria esconder o que sentia por ela. Enquanto que a mesma tinha certo receio na relação, olhava mais para que os outros pensavam do que para o que tinha por dentro.

—Porque não me apresenta seus amigos? - dizia ele com um sorriso resplandecente no rosto abraçando-a por trás. - Hoje teremos um evento á noite, seria uma boa oportunidade.

Ela meditou, o que seus amigos pensariam se ela o fizesse?
—Eu não sei... - dizia enquanto saia do abraço.
—Não sabe o quê? - falou tentando compreender o que ela dizia, não acreditava que fosse o que estivesse pensando, mas também não eliminava essa hipótese.
—Talvez eles vão contra algumas coisas... - ela coçava a nuca enquanto o olhava dos pés a cabeça.
—Ah, deixe disso! - ele voltou a abraça-la. - Tenho certeza de que vai correr tudo bem. - fechou os olhos.
A quem ela estava enganando?! Era certo de que aquilo não iria ocorrer...

**

 

Naquela mesma noite todos já estavam reunidos, mas o Skatista ainda não havia chegado. A garota e seus amigos batiam um papo, enganando a si mesmos quanto ao mundo e suas regras:
—Mas e então - falou uma das garotas mudando de assunto. -, ouvi boatos de que você está ficando com um Skatista, é verdade isso? - provocou com nojo na voz.
A garota abriu a boca para falar, e naquele momento o Skatista chegou, e ela, como se nem o conhecesse afastou-o de todos.
—O que está fazendo? - ele disse confuso ao ver o que ela fazia.
—Te vejo depois garoto. - disse lançando um último olhar nos olhos dele.
Sem nem dizer mais uma palavra ela o deixou ali, indo ao encontro do resto do bando de narizes empinados que o olhavam dos pés a cabeça. Sim, eles tinham algum problema com as roupas largas dele.
Perplexo e magoado por dentro o garoto notou o fora que levou, conclui que talvez ela não o considerasse bom o bastante pra ela.

Ela poderia ter um rostinho bonito, mas sua cabeça estava no espaço.

 

**

 

Cinco anos depois ela estava sozinha em casa, como toda mãe alimentava seu bebê e afim de se distrair um pouco ligou a TV. O que viria a seguir foi uma surpresa: o garoto Skatista arrasando na MTV. Ela mais depressa pega o telefone e liga para os amigos, eles já sabiam. Naquele mesmo final de semana compraram ingressos para o show dele e esbarrando para passar no meio da multidão com olhos brilhantes ela olhava o garoto que rejeitou. Uma das garotas que estava ao seu lado a viu e comentou:
—Seu rostinho bonito vê o que ele vale? — a mesma garota começou dizendo no ouvido da outra. - Agora ele um superstar detonando com sua guitarra!
A garota olhou para ela, por dentro arrependida, em outros casos teria retrucado, mas aquela era verdade e precisava ouvir calada.
—Desculpe garota, mas você errou o alvo, bem, azar o seu, aquele garoto é meu agora, e nós somos bem mais que bons amigos. — ela pegou os óculos escuros que carregava consigo. - Pena que você não pôde ver o homem que aquele garoto poderia ser. — dito isso ela simplesmente colocou os óculos e desapareceu na multidão.
A garota viu inúmeros pensamentos ecoarem por sua mente, e se viu sozinha na multidão...

Há mais do que o olho encontra, eu vejo a alma que tem dentro.

Eu estou com o garoto Skatista,

Eu disse te vejo depois garoto,

Estarei nos bastidores depois do show,

Cantando a canção que escrevemos,

De uma garota que ele conhecia.