Thanks, Roxy escrita por Mozart


Capítulo 1
You need them too


Notas iniciais do capítulo

Roxanne livremente inspirada em Tom.
Hugo livremente inspirado em Prince Bastet.
Lily Luna... um pedaço de mim, digamos assim.



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1

 

Roxanne enfiou o vestido vermelho justo pela cabeça e calçou os coturnos pretos. Ajeitou a gola negra no pescoço e prendeu os longos cabelos castanhos em um rabo de cavalo alto.

− Tem alguma coisa faltando? − indagou olhando-se no espelho da Sala Precisa.

Uma garota de longos e sedosos cabelos ruivos e muitas sardas espalhadas pela face apareceu atrás de Roxy e sorriu.

− O delineador − murmurou Molly girando a cadeira de Roxanne para passar o delineador preto em suas pálpebras. − Pronto, agora está uma digna tenente Uhura! − exclamou batendo palminhas e girou a cadeira novamente para que Roxy pudesse se olhar no espelho.

− Acho que eu nunca vesti uma coisa tão curta − começou Roxy levantando-se da cadeira para fitar a si mesma no espelho de corpo inteiro. − Sério, por que a Uhura não pode vestir umas calças de sarja ou um moletom? Eu me sentiria muito mais confortável! − exclamou aflita enquanto procurava por cada imperfeição, mínima que fosse, que pudesse haver em suas pernas, ou seus braços, ou sua barriga, ou qualquer parte de seu corpo.

− Pelo menos ela não usa um colan esmaga órgãos por cima das calças. Sinceramente, eu não sei como eu vou fazer xixi com isso! − disse uma cabeça ruiva surgindo um pouco acima do ombro direito de Roxy.

Roxanne riu com as palavras de Lily Luna e voltou-se para observar sua fantasia. A garota vestia uma calça verde, por cima um colan vermelho com mangas verdes e o R amarelo dentro do círculo preto do lado esquerdo do peito. Os longos cabelos ruivos estavam trançados e ela lutava para ajeitar a máscara preta no rosto.

− O que acha, Roxy? Pareço uma boa Robin? − indagou fazendo uma pose debochada com as mãos na cintura.

Roxanne assentiu rapidamente e sorriu.

− Mas… por que é que você vai de Robin? Sempre achei que você gostasse do Batman! − fez notar Roxanne, ao que Lily respondeu com um sorrisinho nervoso.

Lily lançou um olhar significativo na direção de Molly somente para constatar que a prima estava bastante ocupada com as meias três quartos que vestia para compor a fantasia da Cher de Clueless. Com as mãos em concha, Lily se aproximou do ouvido de Roxy rapidamente.

− Clementine vai de Batgirl. A primeira Batgirl, Katty Kane, era apaixonada pelo Robin. Depois surgiu Bárbara Gordon que namorou bastante tempo com o Asa Noturna, também conhecido como Dick Grayson, o primeiro Robin. E Stephanie Brown, que herdou o manto de Robin de Cassandra Cain, passou o manto de Robin para frente e se tornou a Batgirl. Quer dizer, Robin e Batgirl têm muita história nos últimos anos, talvez isso me ajude.

Roxanne soltou uma gargalhada baixa e abraçou Lily com afeto.

− Ela vai notar você.

− E se não notar?

Roxy pousou as mãos na própria cintura e encarou Lily com seus olhos castanhos.

− Lily Luna Potter, em primeiro lugar, você é a única pessoa capaz de ouvir músicas indie depressivas e dançar Lady Gaga com toda energia nas baladas gay do Hugo. Em segundo, só você com seu coração lufano consegue achar todas as pessoas lindas e perdoáveis. Terceiro, esse colan esmaga órgãos empinou a sua bunda de uma forma que você não vai acreditar!

Lily soltou uma gargalhada e abraçou a prima mais uma vez.

− Obrigada, Roxy! − e saiu correndo com a capa voando as suas costas.

Roxanne voltou-se para o espelho. Ainda achava aquele seu vestido curto demais.



2

 

A mesa dos Potter e Weasley era enorme, com os membros presentes todos conversando − ou discutindo − ao seu redor. Hugo ergueu-se da mesa no instante em que avistou Roxy e correu o mais rapidamente que permitia sua saia esverdeada imitando a calda da princesa Ariel. O garoto a envolveu em um abraço esmagador e lhe deu um beijo na bochecha:

− Você está linda seja lá qual for essa sua fantasia nerd − murmurou com carinho. − FELIZ ANIVERSÁRIO! −  gritou animado e a abraçou novamente quase a tirando do chão. Ele era o único que não dava a mínima para o fato de ela não gostar de ser parabenizada.

James e Dominique estavam sentados do outro lado enquanto o garoto usava de todos os artifícios para tirar a carranca emburrada que Dominique ostentava.

− E quem são vocês? O rei e a rainha da Chatolândia? − indagou Roxy jogando-se em uma cadeira vazia ao lado de James e observando sua roupagem medieval e a coroa dourada na cabeça.

− Muito engraçado − disse James girando os olhos.

− Rei Arthur e Morgana, mas Dom está com raiva porque o Jay não quer encenar a parte do romance incestuoso − proferiu Hugo em tom provocativo levando um tapa na nuca da irmã, Rose, que estava a seu lado.

− Como se não bastasse ter roubado minha fantasia, você ainda quer levar uma surra da Dominique? − murmurou a garota em um tom severo que não lhe era usual, Roxy observou a expressão da prima com interesse e esta lhe retribuiu um olhar significativo do tipo: conversamos depois.

Rose vestia uma camisa vermelha por baixo de um macacão jeans e um boné vermelho com um M amarelo bordado. Super Mário! Ela bebeu um gole de sua cerveja amanteigada e pousou a caneca na mesa com os olhos fixos em um ponto qualquer, como se remoesse uma mesma memória repetidas vezes.

Dominique deixou a mesa emburrada após as várias insistência de James, e este, por sua vez, a seguiu proferindo promessas que nunca cumpriria. Fred chegou nesse instante fantasiado de Chapeleiro Maluco e com seu cabelo afro tingido de laranja. Ele jogou-se na cadeira que antes estivera ocupada por James e já levava a mão em direção aos cabelos de Roxy, quando esta a parou no ar segurando seu pulso.

− Você sabe quanto tempo eu passei em frente ao espelho tentando me livrar de todo aquele frizz? Se você tirar um fio de cabelo do lugar, eu corto o seu pinto fora! − exclamou imperiosa e Fred recolheu a mão rapidamente.

Hugo caiu na gargalhada, e até Rose não conseguiu resistir.

− Desculpe, maninha − murmurou Fred sem-graça, e Roxy não conseguiu resistir a rir também.

Os outros primos começaram a chegar, Lily apareceu com sua fantasia de Robin pulando feito um canguru ao lado de Molly com suas vestes perfeitamente alinhadas de Cher. Logo atrás vinham Lucy e Louis vestidos como Wednesday e Pugsley Addams.

− Vocês são tão felizes, não é pirralhos? − riu Hugo quando os dois últimos sentaram-se ao seu lado.

− Meta-se com o seu próprio rabo, Hugo − murmurou Lucy em tom cortante e bebeu um gole de uma cerveja amanteigada que pertencera a Dominique.

− Cadê a música? Eu não posso chegar na Clementine sem uma desculpa − sussurrou Lily eufórica sentando-se ao lado de Roxy e retirou a máscara do rosto jogando-a em cima da mesa; gotículas de suor formavam-se em sua testa e ela parecia realmente nervosa.

− Calma, Albus já deve estar chegando. Ele disse que faria um CD R&B para mim!

Passaram-se alguns minutos, Dominique e James voltaram para a mesa, ela trazia uma expressão neutra, ele parecia um pouco magoado. Alguém atravessou o salão as pressas e Roxy só percebeu que se tratava de Scorpius quando ele se aproximou com o macacão jeans por cima de uma camisa verde e com um boné verde com um L amarelo bordado. Luigi.

− Albus pediu para te entregar, ele não sabe se vai poder vir − murmurou com sua voz rouca, sem lançar um único olhar em direção a Rose, embora estivesse claro que eles tinham combinado as fantasias.

− Ah, tudo bem − respondeu Roxanne apanhando a embalagem de plástico. − Sabe por que ele não vem? − indagou confusa.

Scorpius deu de ombros.

− Ele deve estar ocupado − e se retirou.

O CD continha todas as músicas favoritas de Roxy e mais algumas que ela estava adorando conhecer. Um a um, seus primos foram para a pista de dança envolver-se em suas coreografias malucas esfregando-se uns nos outros como selvagens. Rose foi a única que permaneceu na mesa com Roxy, a ruiva permanecia cabisbaixa e com um ar de derrota. Roxanne já podia imaginar qual era o motivo, mas decidiu aproximar-se da prima e ouvir o que ela tinha a dizer.

− E então, Cenoura − chamou sentando-se ao lado da garota; Rose a fitou com seus olhos castanhos acolhedores e deu um leve sorriso.

− Scorpius e eu brigamos − disse de imediato. − Eu disse que não quero mais namorar escondido e ele disse que eu sabia dos termos quando a gente começou, e eu disse que aquilo tinha sido em outro tempo e que eu não aguentava mais mentir para os meus pais e para todo mundo. Então, ele gritou, chorou, e disse que seu pai e sua avó nunca nos aceitariam, e eu quis abraçá-lo, Roxy, mas meus braços estavam rígidos, aí eu fui embora. Acho que nós terminamos. Eu odeio estar sozinha

Roxy segurou a mão de Rose com cuidado e entrelaçou os dedos entre os dela.

− Você gosta dele?

Rose assentiu.

− Ele gosta de você?

Novamente, ela assentiu.

− Acho que você deveria conversar com ele de novo, expor os motivos pelos quais você quer tornar isso público. E se ele continuar insistindo que não quer isso, então você pensa sobre o término. Mas não se prenda ao Scorpius por se sentir sozinha, Rose, estar sozinha é bom, você pode pensar sobre as coisas, conhecer a si mesma. Só… não faça nada antes de dar uma segunda chance para ele. Todas as pessoas merecem segundas chances.

Rose sorriu com seus lábios rosados e as sardas ainda mais aparentes.

− Obrigada, Roxy − murmurou a abraçando. − Eu vou procurá-lo − e levantou-se para caminhar em meio a festa enquanto procurava por uma cabeleira platinada em meio aos transeuntes.

Roxy ficou sozinha, com seus receios e confusões. Detestava sentir-se sozinha.



3

 

− Não vai se juntar a eles? − soou uma voz próxima ao seu ouvido e Roxy voltou-se imediatamente na direção de quem quer que fosse.

Ele vestia uma camiseta azul de manga longa, com gola preta, e uma calça preta com calçados da mesma cor. Roxy esboçou um sorriso largo ao fitar a fantasia do garoto e girou os olhos.

− Spock. Sério mesmo?

Albus riu.

− Quer ir lá fora?

O céu se estendia na imensidão como um longo tapete perolado pontilhado por pingos prateados e a lua brilhava, bela e solitária, no centro do céu. Roxanne e Albus estavam deitados na grama do jardim observando tudo aquilo enquanto os ecos das músicas dentro do salão lhes lembravam, furtivamente, de que estava acontecendo uma festa a poucos metros de onde estavam.

− Por que não estamos lá na festa, hein, Albus?

O garoto soltou um gargalhada rouca que contagiou o ambiente.

− Não suportamos o contato recorrente com humanos. De fato, eu gostaria de poder ganhar a vida deitado na minha cama, mas, infelizmente, não tem como.

− Seria ótimo chefiar uma multinacional enrolada nos meus lençóis. Sem precisar me esforçar para… para tudo.

O silêncio reinou por um momento, uma brisa fresca soprou gelando os ossos. Roxy olhou de relance para Albus, ele parecia agitado, embora permanecesse imóvel. Seus olhos brilhavam de formal incomum e os lábios estavam secos.

− Desculpa por não ter entregado o CD pessoalmente, eu realmente achei que não viria. As coisas estão um pouco complicados. Você gostou das músicas que eu escolhi?

Roxanne assentiu pacientemente.

− São ótimas − respondeu com um meio sorriso. − Mas por que você não queria vir? Aconteceu alguma coisa?

Ele levou algum tempo para proferir uma resposta concreta, parecia que a verdade se recusava a deixar suas cordas vogais.

− É tudo muito vago − disse com a voz entrecortada. − Eu não sei quem eu sou, e isso é medonho. Conheço o meu rosto, mas não o reconheço, e a todo momento eu sinto que falta algo. É irônico como o vazio pesa, não é? − completou com um risinho amargurado.

− O vazio é uma figura de linguagem − murmurou Roxy cuidadosa. − O que nós chamamos de vazio é um enorme emaranhado de coisas, muitas coisas, que não nos acrescentam em nada. E ficam esse monte de espaços ocupados por coisas que realmente não valem a pena. Você precisa encher a sua vida com coisas que importam, com sonhos que você quer realizar, com livros que você quer ler, com música boa, com uma noitada de risadas com os amigos. E o que não te faz bem, jogue fora. Você não precisa disso, você pode se livrar dessas coisas todas.

− Como se joga fora uma pessoa, Roxy? − perguntou lamurioso, as lágrimas escorriam de seus olhos e pingavam na grama, uma atrás da outra. − Pessoas são tão marcantes!

Em um primeiro momento, ela não respondeu. Depois tombou a cabeça para o lado de modo a encará-lo, ele fez o mesmo e ela pôde ver seus olhos verdes escondidos por trás das olheiras escuras e do sorriso fraco. Roxy afagou seus cabelos e deslizou os dedos pelo seu rosto delicado, tão pálido e infantil, mesmo que Albus já fosse um rapaz.

− Não vou mentir para você, não entendo muito dessa coisa de amor − murmurou rindo minimamente. − Mas eu sei que se não é recíproco, não vale a pena. Vamos lá, você é um cara lindo, inteligente e gente boa. Eu tenho certeza que tem um monte de meninas querendo te conhecer melhor, Albus. Você vai encontrar alguém que te ame de verdade, eu sei disso.

− Mas e se eu não quiser outra pessoa? E se…

− Albus − ela o interrompeu −, nós dois sabemos que Dom gosta do James, e assim que ele descobrir isso, bom…

− Ele vai espalhar isso para todo mundo se achando o tal − respondeu Albus com sarcasmo.

Roxy limitou-se a concordar.

− Eu devia parar de ser idiota − disse com raiva.

− Você não é idiota e eu aposto que estão todos querendo ver você − assegurou Roxy confiante.

Albus soltou um longo suspiro.

− Não acho que alguém sentiria minha falta mesmo que eu sumisse por um mês inteiro. Sou facilmente substituível.

− Cada estrela é única. Ninguém é substituível, Albus Severus Potter.

− Eu não sou uma estrela − pontuou o garoto.

Roxanne girou os olhos nas próprias órbitas.

− Você é um universo inteiro dentro de si. Desvende-o.

Albus a fitou com carinho, tocou seu rosto com leveza e deslizou os dedos gelados por sua pele negra e macia.

− Existem pessoas, Roxy, que nos dão os melhores conselhos, mesmo que precisem tanto deles − começou displicente. − Você faz isso o tempo todo, sabia? − Ela não respondeu, ele sorriu. − Os conselhos que você me deu hoje, use-os para você também. Você sabe que precisa.

Roxanne não respondeu, mas assentiu com a cabeça.

− Obrigado, Roxy.

E saiu andando, deixando-a perdida. Como costumava acontecer.



4

 

Roxanne permaneceu no jardim observando a lua e ouvindo as palavras de Albus ecoando em sua cabeça. Sentindo-se congelar gradativamente.

Ficou sozinha olhando a lua, e vendo a escuridão se aproximar.

Até que alguém jogou um cobertor sobre seus ombros e se sentou ao lado. Albus lhe sorriu com os olhos verdes cintilando e apoiou a cabeça em seu ombro.

Logo atrás veio Rose, de mãos dadas com Scorpius, rindo rindo rindo como se sua vida dependesse disso. Sentou-se de frente para Roxy com um sorriso largo no rosto que contava uma história sem precisar dizer palavra.

E então veio Lily saltitando ao lado de uma Batgirl que ria copiosamente ao seu lado enquanto lhe sussurrava algo em seu ouvido. A ruiva lançou-lhe um olhar discreto, então Roxy compreendeu.

De repente, James apareceu com um bolo e Dominique veio com balões.

Fred soprava confetes para todos os lados, e Hugo arrastava os gêmeos Scamander − vestidos de Capitão Gancho e Capitão Jack Sparrow.

Lucy e Louis vieram atrás com os chapéus de festa.

Molly apareceu por último com uma grande caixa em mãos que pousou ao lado de Roxy.

− Pode até ser que goste dos seus moletons sem-graça, mas tenho certeza de que vai gostar do que está nessa caixa − sussurrou rindo e se afastou.

E então, estavam todos ao seu redor rindo e cantando aquela música de aniversário que quase tingia as bochechas de Roxy de vermelho.

Roxanne se sentia sortuda, com todos os problemas malucos que conseguia enfiar em sua cabeça, ainda assim, era capaz de presenciar momentos como aquele. Onde tudo o que conhecia parecia infinitamente maior, e infinitamente infinito.

− OBRIGADO, ROXY!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :3