Senhora Malfoy escrita por Eponine


Capítulo 1
Greengrass




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O jardim da Mansão Malfoy estava lotado.

O caixão no centro da cerimônia já não estava tão rodeado como duas horas atrás, mas Scorpius Malfoy ainda estava ali, olhando a madeira negra reluzente como se fosse um poço profundo e misterioso. Astoria Malfoy tomou mais um gole de seu Martini e observou as mulheres idosas ao seu redor, falando há mais de trinta minutos. Forçou um sorriso e girou os olhos, observando o jardim.

— Com licença. — sorriu Astoria, adentrando na Mansão. Seus saltos ressonavam pelo local, era ofensivo dizer, mas ela nunca pareceu tão bela. Talvez seja o fato de ter escolhido a melhor roupa de seu guarda roupa. Na verdade, aquele vestido negro fora desenhado há três anos, quando Narcissa teve sua primeira passagem ao hospital. Astoria encheu-se de esperança e até mesmo selecionou as joias para o tão aguardado momento. — Domingos, leve-me uma garrafa de vinho. Estarei no quarto da senhora falecida Narcissa.

— Sim, senhora Astoria. — Astoria posou sua mão magra no corrimão, sentindo seu coração quebrar as costelas. Admirou seu anel de diamante de 3 quilates, acompanhado de sua belíssima aliança, de 2 milhões de galeões. Suas unhas reluziam um verde escuro. Fez questão de ir ao melhor Salão de Beleza de Londres apenas para um dia inteiro de SPA momentos após ser informada.

Narcissa Black Malfoy estava morta.

Fechou a porta do quarto e observou o local. Iria tocar fogo em tudo naquele quarto e construir um escritório para ela. Especial com todas as cores e artefatos que Narcissa odiava. O odor do quarto seria de martinis, a bebida que ela mais odiava.

— O vinho, senhora Astoria.

Senhora Malfoy, Domingos.. — sorriu Astoria, agarrando a garrafa e a taça. — Eu sou a senhora Malfoy.

— Me perdoe, senhora. É que estou tão acos...

— Então mude seus hábitos. Pois agora eu só respondo por senhora Malfoy.

— Sim, senhora Malfoy. Me perdoe.

Após o mordomo sair, abriu como uma criança desesperada por seu presente. Tomou um longo gole, de olhos fechados, saboreando cada segundo. Nunca esteve tão feliz em sua vida. Nunca pensou que aquele dia iria chegar, que aquela velha maldita finalmente iria para o quinto dos infernos.

No fim das contas, nunca ter envenenado Narcissa naquele verão valeu a pena. Assisti-la definhar até a morte foi muito melhor. Terminou a taça e deitou-se na cama da idosa, sorrindo para os lençóis de seda, completamente enterrada em euforia.

— Maldita, já vai tarde. Desgraçada.

— Minha mãe não vai te ouvir daqui, querida. — Astoria sentou-se de supetão, dando de cara com Draco, tomando um gole de seu uísque. A mulher sequer corou.

— Desculpe.

— Pelo que? Todos nessa casa sabem o quanto você a odiava. — Draco observou a esposa. Astoria levantou-se da cama e admirou-se no espelho, sorrindo lentamente.

— Bem, isso é verdade. Hoje é o dia mais feliz da minha vida.

 — Queria poder dizer o mesmo. — murmurou ele, saindo do quarto. A mulher loura correu para a janela, agarrando a garrafa de vinho e tomando no gargalo. Finalmente mandava naquela casa. Pela primeira vez em vinte anos... Ela finalmente era o sobrenome após o Greengrass.

...

— Claire, me traga um Martini. — ordenou Astoria, jogando seu casaco de pele em cima do sofá. Seu escritório na empresa Miranda era um pouco menor que seu quarto na Mansão, para a nova secretária de Astoria, aquele lugar era maior que sua própria casa.

— Senhora, são dez da manhã... E... Bem, meu nome é...

— Eu pedi sua opinião?

A garota ruiva corou. Astoria tirou os óculos escuros.

— Quem é você?

— Olivia. Eu trabalho para a senhora há duas semanas.

— Ótimo, me traga um Martini e contate meu filho, pergunte se ele quer almoçar comigo.

— Sim, senhora.

— Ah, Claire!

— Sim, senhora?

— Ouviu as novidades? — sorriu Astoria, cruzando as mãos em cima de sua mesa, estava tão feliz que podia abraçar sua secretária. A garota ruiva arregalou os olhos, todos na empresa estavam falando sobre a comentada capa da Polissuco. Estremeceu só de pensar em sua chefe pedir conselhos para ela.

— Está todo mundo falando, senhora.

— Eu sei! — riu Astoria, levantando-se, observando a visão incríveis de Londres na parede de vidro atrás dela. — Estou em fazer uma réplica desse escritório no quarto dela, o que acha?

— Desculpe?

— Minha sogra. Ela morreu, ontem.

— Ah, sim, eu sinto muito senhora. Eu pensei que a senhora estava falando da capa da Polissuco.

Ela saiu na capa? — Astoria foi tomada por um ódio conhecido. Apertou sua cintura, observando o chão. Olivia conhecia muito bem a fúria de Astoria e não queria assistir de jeito nenhum.

— Não senhora, na verdade... Seu marido está na capa.

Draco?

— Bem... Ele e a senhora Weasley. Granger. — Olivia já estava tremendo. Astoria uniu as sobrancelhas, fitando quase a alma da garota.

— Explique.

— Saiu em várias revistas uma foto do seu marido... O senhor Malfoy... Em um restaurante com a senhora Weasley. Granger, desculpe, Senhora Granger.

— Draco e Hermione? — sussurrou Astoria, virando-se para a paisagem atrás dela. — Vá buscar meu Martini, Claire.

— Sim, senhora!

Astoria sentou-se em sua mesa, impassível. Acabou gargalhando quando se lembrou dos terninhos e da voz trêmula de Hermione Granger.

Se fosse alguém menos ridículos, ela desconfiaria.

...

— Ali, Cynthia. — Draco focou seus olhos acinzentados na mulher com um vestido vermelho apertado demais para seu tamanho. Astoria segurou o riso, acariciando a nuca de seu marido enquanto sussurrava em seu ouvido. Adorava quando os dois se juntavam para falar mal dos outros. — Ela é terrível. Acredita que eu tive que explicar o que é quilates?

Astoria não parava de ser fotografada. Adorava ir a desfiles, não apenas para exibir suas joias e seu modelo da noite, mas para exibir Draco e Scorpius. Amava quando via as fotos nos jornais, ao lado de seu filho, seu mau humor saia de forma magnifica através das câmeras. Astoria tomou mais um gole de seu Martini e virou-se para ele, irritada.

— Scorpius, será que dá para você pelo menos se esforçar? Sua mãe desenhou cada maldito modelo nessa passarela, será que dá pra você pelo menos olhar? — o garoto louro girou os olhos e negou-se olhar para a mãe.

Scorpius. — chamou Draco com uma voz autoritária. — Não ignore sua mãe.

— Sinto falta da vovó. — comentou o garoto, ainda olhando para qualquer ponto que não fosse a passarela. — Ela também odiava essa merda.

O quê? O quê? — Astoria parecia estar infartando. — Draco, o que ele disse? O que ele disse? Ele chamou minha passarela de quê?

A mulher loura apertou a coxa do marido com uma mão e engoliu todo o seu Martini com a outra, sentindo vontade de chorar. Draco seu um beliscão nada discreto no braço de Scorpius, que tentou desviar. Estavam começando a chamar a atenção. Astoria começou a ter um ataque de pânico só de pensar em sair mais uma vez nas revistas com a manchete “FAMÍLIA PROBLEMÁTICA”.

— Respeite sua mãe!

— Que droga, eu odeio esse lugar, eu odeio tudo isso! — resmungou o garoto, cruzando os braços. Draco suspirou fortemente e desabotoou seu terno, tomando todo seu uísque. Astoria estava começando a ter mais uma crise de tique em seu olho direito. Aproveitou a proximidade do garçom e pegou para si duas taças de Martini, tomando uma em um gole único.

Nenhum dos três falou até o fim do desfile.

...

— Então você quer ser medibruxa? — sorriu Lucius Malfoy.

Astoria Greengrass abaixou seus olhos, tímida. Tinha acordado naquela manhã crente que teria um jantar horrível com a família de Draco, seu namorado, mas estava tendo uma ótima surpresa. Todos a receberam tão bem que ela quase sentiu-se em casa. Entretanto, a mãe de Draco não parecia muito interessada na morena sob a mesa loura. Continuou cortando seu fígado com os talheres folheados em ouro, sem tirar os olhos do sangue escorrendo do filé mal-passado.

— Bem, esses são meus planos. — respondeu, tomando um breve gole de hidromel. — Eu preciso tirar boas notas nos N.O.M’s primeiro.

Quando a garota de cabelos castanhos pegou seus talheres para cortar a carne , Narcissa Malfoy focou seus belíssimos olhos azuis em Astoria. Ela agia de forma quase mecânica e controlada, com uma beleza estonteante.

— Querida, os talheres. — sorriu ela, levemente. Sua voz era sutil e formal, como se Astoria fosse alguém surtado ou com problemas mentais. A Greengrass olhou sua faca e garfo, confusa. Então a senhora Malfoy pousou seu lenço sob seu colo e tomou um leve gole de água para limpar sua garganta. — A maneira europeia de manusear os talheres pede que a faca fique na mão direita e que o alimento seja levado à boca pela mão esquerda mesmo, sem a necessidade de trocar de lado. Os alimentos devem ser espetados com os dentes do garfo para baixo e, da mesma maneira, o utensílio fica apoiado no prato.

Narcissa Malfoy sorriu levemente. Astoria estava congelada de pavor, ninguém na mesa ousava interromper a mulher. Draco permaneceu de cabeça baixa, Lucius Malfoy acendeu um charuto, desviando o olhar de Astoria.

— Você provavelmente deve estar achando isso besteira. Mas estas regras passaram a ser escritas em manuais, na Europa, a partir do século XVI, que retratavam formas de "bom-tom" ou de "polidez" no trato social. Era originalmente destinada às classes abastadas mas, com o advento das mídias de comunicação em massa no século XX e a ampliação da sociedade de consumo, passaram a se dirigir também às camadas inferiores da sociedade. — então ela voltou ao seu prato, ainda fitando Astoria delicadamente. A castanha tinha seus olhos marejados, extremamente humilhada. — Entretanto, Erasmo de Roterdão que, em 1530, publicou De civilitate morum puerilium (Da civilidade dos costumes das crianças), sendo a primeira obra que se tem conhecimento sobre o assunto; ali Erasmo procura orientar a formação infantil, no que toca ao gestual, vestimentas, expressões faciais, dentre outras, para delimitar o comportamento e demonstrando as boas e más condutas; dá grande ênfase na etiqueta à mesa, onde verdadeiramente se reconhece quem é ou não nobre.

Ela tomou um gole de água, sorrindo.

— A cor do seu cabelo já denuncia seu sangue... Se dê a dignidade de pelo menos camufla-la com um pouco de educação. — Astoria fez o possível para não chorar, mas sentia um misto incrível de ódio e vergonha quando pegou seus talheres, desacreditada. Sua sogra a ignorara durante duas horas e então lhe humilhou de forma cruel e direta, na frente de todos. Enxugou suas lágrimas rapidamente e deu mais uma olhada em Narcissa, completamente apavorada com a frieza da mulher.

Astoria despertou de seus devaneios, ainda sentindo-se mal. Ela conseguia recriar essa cena cada vez que olhava para a mesa de jantar. Para o sofá, quando Narcissa disse que era gorda demais para caber em seu vestido de noiva. Nas escadas, o sussurro para que tomasse cuidado com os degraus, apenas com dois meses de gravidez.

Parecia que Narcissa havia feito um pacto com o diabo para que ela tivesse depressão pós-parto. Tudo conspiarava a favor da grande matriarca Malfoy. Sequer conseguia olhar seu filho. Por quantos anos ele foi criado por Narcissa como se ela fosse sua verdadeira mãe? Quantas vezes ela assistiu Scorpius chama-la de mamãe enquanto ela... Além de não ser a Senhora Malfoy, era chamada docilmente de Astoria pelo próprio filho.

— Mãe! — Astoria despertou, notando Scorpius no sofá. — Você me ouviu?

— Eu estou trabalhando. — retrucou, seca. Não sabia falar com ele. Não conseguia... Perdeu tempo demais. Ele a odeia.

— Como sempre. — o garoto se levantou. Astoria engoliu seco, sentindo seu coração berrar para que falasse algo, mas era sempre a mesma cena. Seu filho se afastava cada vez mais e sua incapacidade deixava aquilo passar na mesma velocidade de uma onda em um mar violento. Abriu a garrafa de uísque ao seu lado e deu um grande gole no gargalo, sentindo-se exausta.

...

Astoria tomou mais um gole de seu Martini, prestando atenção na paisagem para o jardim. Scorpius estava com sua nova namorada, Rose Weasley. Também conhecida como filha da recém divorciada, Hermione Granger. Draco entrou no quarto e beijou o ombro da mulher, abraçando-a. Ela pousou sua taça na cômoda e virou-se para ele, cruzando os braços.

— Você está me traindo com Hermione Granger? Hermione Granger?

— Do que você está falando? — sorriu Draco, sentando-se em sua cama, tirando seu paletó.

— Aquela foto. Você nunca me disse almoçava com ela. — O Senhor Malfoy parecia querer gargalhar. Levantou-se, completamente admirado. Ele amava tanto Astoria que ainda se surpreendia com a beleza dela. Seu cabelo louro platinado, seus olhos verdes, sua expressão azeda e sua incrível má educação.

— Eu almoço com ela todos os dias.

— E depois a fode?

— Não... — riu Draco. — Não, eu não fodo... Hermione Granger.

— Não mesmo?

— Não mesmo. — ela semicerrou os olhos e então pegou seu Martini, dando um gole lento. Sentou no colo de seu marido e beijou seu pescoço. Draco riu, acariciando a coxa de Astoria, completamente embasbacado. — Você não estava com ciúmes. Por que perguntou?

— Porque não paravam de me encher o saco. — ela desabotoou sua camisa com a mão esquerda, olhando-o de forma debochada. — E eu sabia que você não iria me trair com alguém que usa terninhos.

Draco gargalhou antes de ser derrubado na cama por Astoria, que finalizou seu Martini e jogou a taça contra a parede.

...

Agnes Obel - The Curse

Astoria penteou suas madeixas louras, fascinada com a própria beleza.

Adorava o constraste de seu diamante diante do espelho. Acariciou o vestido verde escuro e analisou sua boca vinho. Abriu a porta de seu quarto e desceu as escadas, analisando seus empregados a esperando no fim da escada.

— Os convidados estão chegando, Senhora Malfoy.

— Ótimo, Domingos. Está tudo pronto?

— Sim, senhora Malfoy. O Martini da senhora já está reservado.

— Excelente. — sorriu Astoria, sentindo sua varinha vibrar no esconderijo de seu vestido. Aquilo era comum com bruxos. Quando eles sentiam ódio ou extrema satisfação, a varinha conseguia sentir. Caminhou até a sala de estar e tomou sua habitual face de ódio para o quadro de Narcissa. A mulher idosa a observava, ao lado do quadro vazio de seu marido.

Astoria chegou perto o suficiente para vê-la de perto.

— Essa é minha gargantilha. — disse Narcissa, seca.

Sua? — indagou Astoria, dócil. — Nada aqui é seu. Tudo é meu. Esta é minha Mansão. Na minha propriedade. Com os meus empregados. Meu filho. Meu marido.

Narcissa e Astoria se fitaram mortalmente.

— Tenha uma boa noite, Cissy. — sorriu Astoria, dando-lhe as costas.

— Um dia, Astoria. — a Malfoy parou no meio do caminho, encostando seu queixo em seu ombro direito, sentindo cada palavra de Narcissa penetrar em sua pele. — Uma mulher jovem e bonita irá tomar seu lugar. Espero que saiba o que fazer quando este dia chegar.

Astoria não se virou. Engoliu seco, ouvindo a voz da namorada de Scorpius no Hall. Olhou seu anel de diamantes e acariciou a gargantilha apertada de Narcissa em seu pescoço. Há décadas nos pescoços das Senhoras Malfoy.

Ela não abriria mão daquilo tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Sim, Astoria é uma loura falsa.

Gosto da minha versão malvada da Greengrass, mas não acho que uma Astoria escrita pela J.K seja assim. Na verdade ela não é ruim, ela acabou ficando assim.

E ela é meio alcoolatra, como podem ver hahahaha

É isso, espero que gostem.