Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 48
Vitória


Notas iniciais do capítulo

Olá aos queridos leitores de Desajustadas! Faz um bom tempo, não é? Quase 3 anos sem atualizações e mais de 6 anos desde o início.
Essa fanfic é um pedacinho de mim, marca minha trajetória enquanto autora e pessoa, afinal comecei a escrevê-la enquanto ainda era apenas uma adolescente e hoje já sou uma adulta.
Por isso, decidi dar a ela o fim que ela merece.

Com todo meu amor, boa leitura!



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Silena abraçou o próprio corpo, segurando um leve tremor de frio, que não fazia jus aos vinte e cinco graus daquele dia ensolarado. Tanborilou as unhas cor de rosa no copo grande de café que segurava e suspirou. Pegou seu celular e conferiu o grupo com as meninas. Katie avisou que sairia do trabalho em alguns minutos, Thalia estava a caminho e Annabeth vinha do ginásio de natação. Logo se encontrariam na frente do hospital geral Flor de Lótus. 

Era sua consulta de retorno. Silena faria uma pesagem e checagem geral de saúde. Precisava ter ganhado peso e restabelecido o nível de ferro e vitaminas no seu corpo. 

Ela estava esperançosa, sinceramente. Estava comendo melhor do que em anos, tudo graças a força tarefa desempenhada pelas pessoas que amava. Seu pai a acordava todos os dias com uma bandeja de café da manhã com pão tostado, avocado e iogurtes. Seu lanche da manhã era sempre por conta de Katie que levava frutas deliciosas que colhia em seu jardim. O almoço era em grupo, e Charles fazia questão que ela repetisse ao menos a sobremesa. 

O jantar preferia fazer sozinha. Respirando fundo entre cada garfada e apreciando o sabor único que a sensação de comer lhe trazia. Negou a si mesma por tantos anos esse prazer que seria capaz de cair em prantos com um pedaço de chocolate.

Sabia que havia ganhado peso. E sabia que isso deixaria suas queridas amigas, seu pai e seu amado Charles felizes. Deixaria os médicos tranquilos também. Mas ela ficari? Em sua mente este questionamento aparecia, vez ou outra, como um pensamento furtivo e quase clandestino. Se perguntava, em dor, conseguiria ver os números na balança sem querer fugir disso novamente? 

Tinha medo. Um puro, sincero e rudimentar medo. Medo do progresso a jogar para trás. Que irônico, não? Tinha medo de que a mudança lhe fizesse querer voltar a antiga Silena. Ir para frente a fazia olhar para trás.

De certa forma, sentia um vazio. Nunca estivera tão feliz, sendo tão amada. Mas uma parte de si, uma parte que cultivou por anos, não existia mais. Contar calorias, fazer exercícios em excesso, medir o próprio corpo…. Aquilo era parte do seus dias. Era sua rotina, preenchia seus momentos ociosos e era seu foco nos momentos nebulosas. E agora havia um espaço em branco. Um momento sem nada que as vezes a jogava no ócio mental, dolororos segundos de ausência própria. Silena nem se lembrava a última vez que havia se pesado e isto era, em proporções quase iguais, uma vitória e uma derrota de si mesma. 

Não queria voltar a ser aquela menina. Ao seu passado. Ser aquela que não tinha forças para nada. Existiam pessoas pelas quais queria lutar. Sendo a antiga Silena, não conseguiria. Precisava, em primeiro lugar, vencer a si mesma. Vencer seus próprios medos, dificuldades e tristezas. Não estava sendo fácil. Mesmo tentando com afinco todo os dias não ficava mais fácil.Às vezes sentia um pânico gelado lhe corroer os ossos. Pela manhã, quando colocava uma calça que agora lhe apertava ou quando sentia seus braços mais pesados… Nesses momentos sentia um medo tão profundo quase capaz de paralisar todo seu progresso. Não conseguiria sozinha. Se não sentisse Charlie acariciando suas costas toda a vez que comia o macarrão no almoço, ou visse Thalia lhe sorrir gentil enquanto entregava um chocolate escondido na aula de matemática… se não tivesse a eles, provavelmente já teria desistido. Cada pequeno ato de amor que lhe dava força para vencer a si mesma. Continuar. Por eles e por si.

Podia sorrir diante disso. Não estava sozinha

—Princesa! -Ouviu de longe um berro acompanhado de uma buzina. Silena sorriu sincera ao ver Thalia estacionando sua caminhonete. -Peguei um trânsito terrível. Pior que atravessar o tártaro. As meninas já chegaram?

—Estão a caminho. Estamos adiantadas, não se preocupe, meus exames são daqui 30 minutos apenas. -Riu da amiga punk, que pulou do carro. -Quer café? -Ofereceu o copo em direção a ela.

—Acabei de tomar um milk-shake com o Luke. -Thalia abraçou a própria barriga. -Não foi uma boa ideia competir quem tomava mais em menos tempo. 

Silena gargalhou. Com certeza uma competição de bebida contra os filhos de Hermes era uma péssima ideia. 

Neste minutos, as amigas conversaram sobre amenidades, planejando uma festa do pijama para o próximo final de semana e um lanche para comemorar o pós exame da filha de Afrodite. 

—Chegamos. -Uma Annabeth de cabelo molhado e com bochechas vermelhas anunciou. Ela vinha de braços dados com Katie, que usava uma jardineira marrom e ainda tinha um pouquinho de terra na bochecha. -Chegamos a tempo?

—Sempre pontual, senhora Jackson. -Thalia riu. -E esse cabelo molhado aí? -Deu um sorriso malicioso e gargalhou ao ver a amiga enrubescer mais ainda. 

—Estava na minha aula de natação. -Annie rebateu, fazendo um bico.

—A lição do dia foi respiração boca a boca? -O tom malicioso do questionamento de Thalia fez Annabeth ficar ainda mais vermelha e arrancou genuínas gargalhadas de Silena e Katie. 

—Vamos entrar logo. -A loira bufou, arrastando as amigas, que ainda riam, para a recepção do hospital.

Silena entregou seus documentos para a atendente e logo foram direcionadas para a sala de exames. A médica que lhe atenderia, a doutora Calipso, já lhe esperava.

—Bom dia, senhorita Beauregard. Como está se sentindo hoje? -Sorriu terna ao ver as bochechas coradas de Silena. Da última vez, havia aquela palidez que dominava a bela face da menina, neste momento, porém, um brilho vivaz dominava aquela bela moça. 

—Bom dia, doutora. Eu estou muito bem. Trouxe minhas amigas para me acompanharem, como minha psicóloga me recomendou. Estas são Annabeth, Katie e Thalia. -Sorriu enquanto apresentava-as. 

—Sim, me lembro delas. Fiquem a vontade, podem sentar-se ali, podemos seguir com o exame? -A médica sorriu e entregou um pacote para Silena. -Por aqui é o banheiro, pode colocar este macacão hospitalar? Não é da última coleção de moda médica mas tem uma modelagem incrível. -Brincou.

—Azul hospital é minha cor, com certeza. -Silena riu, enquanto entrava no banheiro e trocava de roupa. Respirou fundo, seu coração agora batia acelerado. Estava chegando a hora da pesagem. O pânico lhe gelou e por alguns momentos foi sufocante estar ali.

Segurou a maçaneta fria. Não percebeu que estava tremendo. Quase suava frio. Se sentiu paralisada.

Mas, um sorriso lhe dominou. Sobreponto o medo, um sentimento terno lhe aqueceu. Conseguiu ouvir ao fundo Thalia fazendo piadas com Annabeth e Katie rindo, tentando deixar a loira menos constrangida. Era tranquilizador saber que não estava sozinha ali. O riso das amigas era uma canção doce ao seus ouvidos que por tantos anos apenas ouviram reclamações e cobranças.

"Coragem, querido coração." Diria C.S.Lewis. Ela conseguiria.

Saiu do banheiro com o peito apertado, os dedos tremendo. Sua tiara brilhante destoava entre o roupão. Abriu o melhor sorriso que pode.

—Azul hospital é realmente sua cor. -Doutora Calipso fez graça ao observar o nervosismo da sua paciente.

—Todas as cores são de Silena Beauregard. -Katie respondeu em falso ar de desdém, arrancano risos das amigas que concordaram. 

A médica a conduziu até o canto da sala, onde uma balança de bioimpedância estava. O objetivo da consulta era averiguar ganho de massa muscular, gordura e recuperação dos órgãos que haviam sido afetados pelas dietas extremas e anos de restrição.

A doutora explicou o procedimento geral, conferiu a ficha de anamnese respondida pela paciente e, antes da pesagem, solicitou a uma enfermeira que fizesse a retirada de sangue para um exame completo posterior. 

—Preparada? -A médica questionou, enquanto regulava a balança. 

—Sim. -Silena respondeu, mas a voz não passou de um sussurro. Olhou para o canto da sala onde as amigas estavam e ao ver as três lhe sorrindo encorajadores, sorriu de volta. -Sim. -Respondeu com a voz mais firme. 

Silena, então, subiu na balança e fechou os olhos pelos infinitos minutos que levaram até o apito da máquina avisar que ali estava o resultado. Nesse momento, seu estômago revirou com força. "Coragem, coragem, coragem." Repetia em sua mente. Soltou o ar e olhou para baixo, receosa. No visor, garrafais números revelavam o que antes teria sido o pesadelo de Silena.

—Um ganho de 2 quilos de gordura e 3 de massa magra. -A doutora anotou em sua prancheta. -Sem retenção de líquidos. Estou impressionada, Silena. É um resulto excelente. Meus parabéns, meu amor. Você lutou muito bem.

Ela poderia desabar ali. Uma parte de si gritava que ela corresse até não aguentar mais, até a vista ficar escura, até sua calça mais justa ficar larga, até não haver mais nada na balança. Mas outra… A outra parte, que agora era maior que si, sorria. Aliviada

Silena se virou com os olhos cheios de lágrimas e sentiu os braços de suas amigas apertados ao seu redor. Um uníssono de "parabéns" e "estamos orgulhosas" era ouvido por ela. Uma doce melodia de amor.

O resto da consulta foi tranquila. Os exames de sangue sairiam em poucos dias, mas a médica estava com boas expectativas. Silena recebeu uma nova orientação de dieta, suplementos e medicações. Renovou seu contrato com a psicóloga e marcou um retorno para o mês seguinte. 

Antes de saírem do consultório, recebeu mais uma parabenização da médica, que tinha olhos brilhantes de sincero orgulho. Aquele orgulho maternal de quem vê uma criança vencendo uma dura batalha. Silena sorriu, seu coração se derreteu. Mal podia esperar para contar ao seu pai e a Charles. Eles ficariam muito orgulhosos.

As quatro saíram abraçadas pelos ombros, rindo de alguma bobeira. Todas visualmente em êxtase, contemplando a felicidade que há em amar. A alegria era tanta, estavam todas imensamente orgulhosas. Silena parecia, finalmente, viva. Com bochechas brilhantes e sorriso esperançoso. Não ganhará apenas peso, ganhou controle sobre si mesma. Era apenas o começo da caminhada, mas era um incrível começo.

—Então, hambúrguer, pizza ou comida japonesa? -Thalia questionou a Silena. As amigas iriam comemorar a boa consulta com comida, claro. 

—Bom… Acho que podemos deixar eles escolherem. -Foi Katie quem respondeu, sorrindo doce ao mirar o estacionamento. 

Silena focou o olhar e sentiu o coração disparar ao ver diante de si um sorridente Charles Beckendorf. Em sua calça jeans de sempre segurando um buquê de brilhantes rosas vermelhas.

—Chalie! -Silena correu até aos braços do namorado, que logo, entre risos, girou-a no ar. -Eu consegui! Eu ganhei 5 quilos.

—Sempre soube que você conseguiria, minha princesa. -Sorriu doce, enquanto colocava uma mecha dos cabelos dela atrás da orelha. -Você é a melhor guerreira de todas. Estou muito orgulhoso, meu amor.

—Eu venci. -As lágrimas rolaram soltas entre o sorriso amoroso.

—Você venceu. -Charles beijou a testa da amada com ternura. -Para você. -Estendeu as flores. Silena sentiu as bochechas esquentarem e riu, era um verdadeiro cavalheiro.

Aproximou o rosto para cheirar as flores e estranhou a frangância suave de chocolate que subia. Observou com cuidado e reparou que no miolo de cada uma das rosas estava um bombom, cuidadosamente embrulhado entre as pétalas. Não aguentou e soltou uma gargalhada profunda. Chocolate, quem imaginaria que seu antigo pesadelo era hoje, de fato, um doce prelúdio.

—Katie? -Virou para a amiga que assobiou disfarçando.

—A ideia foi do Baeckndorf, eu apenas dei vida a sua criação mirabolante. -Sorriu. Havia amado o momento em que o namorado da amiga timidamente apareceu em sua floricultura, querendo presentear Silena com algo especial.

—Você não existe. -Silena deu um selar em seu namorado, genuinamente feliz

—Graças aos deuses, existo. E estou bem aqui, com você. Se me deram a dádiva de viver foi apenas para te encontrar. -Ele respondeu, em um sussurro apaixonado, embalando em um beijo profundo.

—Pelo amor dos deuses, tem criança aqui. -Travis Stoll soltou um berro esganiçado enquanto tentava tampar os olhos de Katie Gardner, que ria fugindo do namorado.

Somente então Silena olhou ao redor, enrubescendo ao perceber que focou tanto em Charles que sequer notou que Luke, Percy e Travis também estavam ali no estacionamento. Cumprimentou aos meninos sem jeito, quase se escondendo entre os braços do namorado, que riu de seu constrangimento.

—Finalmente notou alguém além do mecânico gostoso, hein. -Luke assobiou recebendo logo em seguida um tapa de Thalia, que gargalhava junto. 

—To' com fome. -Percy reclamou e recebeu uma censura de Annabeth. -Que foi, sabidinha? Eu tô mesmo. Você acha que é fácil manter o corpo desse nadador aqui? -Choramingou. E deu um leve soquinho em Travis ao ouvi-lo lhe chamar de sardinha.

—Eu adoraria uma pizza agora. -Silena sorriu.

—Seu desejo é uma ordem. -Charles conduziu Silena até sua caminhonete abrindo a porta para ela.

Todos seguiram até a pizzaria D'angelo e comeram o mais delicioso rodízio possível, com todos os sabores de recheio que puderam imaginar. E Silena, pela primeira vez na vida, não contou quantos fatias comeu. Estava em paz. 

—Tenho um anúncio a fazer. -Silena aproveitou o momento em que todos se prepararam para comer a sobremesa para, alegremente, chamar a atenção dos amigos.

—Eu vou ser titio? -Travis berrou com a boca cheia de queijo, recebendo um belo tapa de Charles em seguida. 

—Diga, querida. 

—Eu recebi uma proposta de estágio na Nyx Modas. Farei uma experiência durante as férias de verão, na parte de desenho e criação. Enviei alguns croqui para eles e fui chamada para essa experiência. -Silena sorria de orelha a orelha. -Estava esperando assinar os papéis para contar a todos. Obrigada por terem me apoiado até aqui, assim encerro minha carreira de modelo e começo meus primeiros passos como estilista.

A mesa se tornou uma enxurrada de abraços e parabenizações. Silena não poderia estar mais feliz, rodeada por toda essa alegria genuína.

Estava bem, tinha pessoas que amavam e agora começaria sua carreira. Estava finalmente se ajustando a sua própria realidade. Era uma vitória sobre seu passado, sobre seus medos, erros e problemas. Um novo dia raiava para si.


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Notas finais do capítulo

Graças a esta história conheci minha melhor amiga, cresci como autora e eternizei uma parte da minha adolescência. Existe amor e boas memórias entre todos os capítulos postados aqui.

Anuncio aqui que a história como um todo passará por uma revisão e Reescrita e será, devidamente, finalizada. Tenho os próximos capítulos prontos e eles serão passados semanalmente.

Desajustadas merece um fim digno e dessa vez eu o trarei, prometo!

Obrigada a todos que acompanharam até aqui, espero que gostem do final!

Um beijo para Keila, que me incentivou até aqui e foi minha leitora beta hahahaha



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