Vísceras escrita por Aeikin


Capítulo 1
Capítulo Único: As chuvas que se passaram do verão


Notas iniciais do capítulo

Eu deveria estar fazendo o presente da Shi, mas essa ideia não saiu de mim! :~



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Vísceras

O clima do outono nunca fora tão ameno.

Parecia solitário, confuso entre esquentar ou esfriar. Como se ele mesmo pudesse ser personificado, quando se observava o outono, ele parecia estar em contradição. As chuvas de verão ainda o perseguia, assim também como as folhas que caíam com o soprar do vento. O outono parecia perdido.

E o outono havia sido perdido.

Talon estava ao lado da janela, olhando através dela o jardim. Aquela grama no futuro começaria a morrer, e ninguém iria se importar com isso a partir daquele momento.

Permanecia ainda sem sua blusa, o quarto fechado mantinha a mesma temperatura agradável de todas as noites. O sol que deveria nascer se escondia entre as nuvens nubladas, precipitando a chuva. E ele sabia que aquele era o momento.

Engolindo seco e com seu coração na mão, ele se atreveu a virar-se e olhar a mulher na cama. A pele nua contrastava com os lençóis bege, como se ela pertencesse a vida toda apenas aquela cama.

Bem que ele gostaria. Gostar de permanecer ali ao seu lado, como fizera em todas as noites anteriores. Adoraria olhar para seus cabelos vermelhos e não sentir remorso. Gostaria, de por um segundo apenas, olhar para qualquer cômodo que fosse naquela mansão inteira e não lembrar do pai dela.

Queria não sentir saudade.

Ela dormia calmamente, agarrada a um travesseiro como sempre havia sido. Talon imaginou o mesmo ato sendo repetido e repetido diversas vezes por todas as noites a partir de agora. Imaginou-a dando-lhe vários socos repetidos e logo depois o abraçando, como fizera com ele próprio tantas vezes.

Ele estava no quarto dela. Usava a cama dela. Dormia com ela. Comia com ela. Saía com ela. Protegia ela. Matava com ela. Matava por ela. Hesitava por ela. E se fosse até mesmo necessário, ele respiraria por ela.

Só que Katarina não poderia preencher a falta que Marcus fazia colocando Talon em todos seus momentos. E nem mesmo ele o faria.

Não poderia nunca ignorar a forma como tudo ocorrera.  E mesmo sem honra, mesmo apunhalando tudo e todos por trás... ele não conseguiria e não iria esquecer aquele homem. Talvez não chegasse nem a ser uma dívida e sim uma vingança.

Por isso, ele colocou sua blusa com calma. Prendeu seus longos cabelos com calma. Olhou também com calma para o seu reflexo no espelho, e pode ver Katarina dormindo novamente. Com a calmaria que pairava pelo ar, seus atos se encerraram ao olhar a sua face.

Ele rasgaria seu coração.

E ele sabia que no futuro em que os aguardavam, apenas o ódio seria o que ela sentiria por ele. Sabia que o mataria na primeira possibilidade, cega demais por achar uma pseudotraição. Sabia também que as pupilas verdes refletiriam apenas a ira, tão gélida e tão superficialmente estável quanto o oceano.

Mas era desse jeito mesmo que ele gostaria que fosse, sem sentimentalismo e sem esperanças. Nunca diria a ela que faria isso mais por ela do que por ele, não encheria o seu ego. Não usaria mais a palavras nós ou eles, pois o único elo afetivo permaneceria no passado.

 E não se despediria.

Ela não o impediria, e ele não olharia em seus olhos. Covarde. Só que a mulher que dormira diversas noites ao seu lado estava estraçalhada. Katarina estava quebrada e seus cacos não seriam facilmente colados. Talon podia ver a ruína refletido em seus olhos verdes, da mesma forma que via a instabilidade escorrendo por sua face.

Mas ele não era de se abalar, não era de voltar atrás de decisões já tomadas. Nunca temia seus erros, apesar de os conhecer muito bem. E sabia que no momento que saísse por aquela porta, ele a quebraria e quebraria cada vez mais, pisando em seu coração como se ele fosse vidro. Talvez até ele virar pó.

Mas Talon estava a deixando, e não ela não poderia mais o impedir.


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