Apenas uma chance escrita por TulipaFlores


Capítulo 1
Amsterdã




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O sol se escondia no leste de Amsterdã, nuvens negras se aproximavam avisando que uma grande tempestade estava por vir. E nesse mesmo dia minha família se mudava para o bairro Jordaan, um bairro que já foi habitado pelo famoso pintor Rembrandt, e pela garota Anne Frank. E agora abrigava a minha família, Collins.
Minha historia não é nem um pouco cativante. Sou só uma adolescente que foi obrigada a se mudar da seu país de origem porque colocou fogo em um das colegas de classe. Sim, nada demais.

Depois disso, fui encaminhada para varias psicólogas e vários internatos para pessoa com problemas como os meus. O meu problema é que não penso e faço a primeira coisa que me vem a cabeça. Como colocar fogo na Tina. Ela me insultava todos os dias e eu apenas ignorava até que um dia eu não aguentei e apaguei ela. Essa não é uma boa expressão de se usar quando se coloca fogo em alguém.

...

— Ei Violet, que aconteceu com seu cabelo hoje? Enfiou a cabeça no liquidificador? - eu realmente não arrumava meu cabelo. Ele não era um cabelo enorme, era médio e com um azul desbotado e eu só desembaraçava com os dedos antes de ir pra escola. E naquele dia não estava diferente.

Eu estava na quadra aberta, em um cantinho onde sempre fico para fumar escondido e ela foi até lá me perturbar. Traguei meu cigarro forte e soltei a fumaça na sua cara. Ela me deu um tapa na cara furiosa e a empurrei de impulso fazendo ela cair em um vão. Sua bolsa caiu e molhou ela com um liquido que o cheiro logo se espalhou. Perfume. Via sangue em sua cabeça enquanto ela tentava levantar. Num momento de raiva, meu coração acelerou e sentia meu sangue quente em todo o meu corpo, circulando rapidamente e sem pensar joguei meu cigarro nela e vi o fogo consumir o perfume sobre seu corpo e sua pele que queimava. Ela gritava de dor e logo as pessoas começaram a aparecer. Não sabia o que fazer, então sai dali, pulei o murro da escola e fui para o único lugar que podia ir naquele momento. A casa do Chet, meu namorado me entenderia.

...

Amsterdã não foi a primeira escolha, depois de varias internações. Minha mãe achou que o melhor a fazer era deixar tudo para trás do que tentar consertar.

— O que acha de Paris? Podemos ir morar lá. Lá tem escolas ótimas e os croissant são impecáveis. Assim poderíamos refazer nossas vidas. - minha mãe sempre ficou do meu lado. Conseguiu provar minha "inocência" no tribunal e pagou uma pena. Fui obrigada perante a justiça, a frequentas os tais psicólogos e viver em um internato. Tina não morreu se é o que esta pensando. Ela teve queimaduras serias por quase todo o corpo, mas sobreviveu e seu rosto saiu intacto pra sorte dela. Depois de tudo minha mãe ainda tinha esperanças que um dia eu seria a filha que ela sempre sonhou.

— Mãe, a gente nem fala Francês. Não estou afim de aprender.

Fiquei um ano sem estudar depois de tudo o que aconteceu. Agora em Amsterdã, terei que retornar o ultimo ano de ensino médio mesmo um ano mais velha do que os demais.

...

A casa era linda. Minha mãe fez questão de escolher o melhor bairro para me agradar. Do meu quarto eu via o rio que os barcos passava com casais apaixonados. Fechei a cortina na hora. Não queria me lembrar do Chet.

...

Andava atordoada pelas ruas. Eu não podia acreditar que tinha colocado fogo na Tina. E se ela morresse? E se eu fosse presa? Estava desesperada.

Cheguei na casa do Chet e toquei impacientemente a campainha.

— Oi, calma. O que você está fazendo aqui. Não era pra estar na escola? - ele estava sem camisa, só com uma calça moletom e suado.

— Preciso de ajuda, você não sabe o que aconteceu. - tentei entrar e ele me barrou.

— Acho melhor você não entrar está meio bagunçado aqui. Vamos conversar aqui fora mesmo. - ele ia fechando a porta, mas não sou burra. A casa dele nunca estava arrumada por que ele estaria preocupado com isso agora?! Empurrei sua mão com força e entrei. Vi uma garota sem camisa com cara de assustada tentando esconder os seios.

— Quem é ela Chet? - sentia meu coração acelerar e a raiva me consumir. Não estava triste nem um pouco. Não sou do tipo de menina que vê esse tipo de cena e sai correndo chorando. Eu queria mesmo erra matar ele. Senti de novo aquela sensação de raiva. Meu sangue subiu e minha pulsação acelerou. Eu não estava pensando em nada as coisas aconteciam sem eu ao menos enxergar. Ele era a única pessoa em que eu confiava e contava tudo. Sempre que eu tinha meus ataques ele me ajudava a me acalmar. Mas naquele momento não via e nem ouvia nada. Era como se fosse automático.

— Não, Violet não. - ouvi a voz de uma vizinha do Chet e foi aí que vi o que estava a ponto de fazer. Eu estava com um tesoura na mão apontada para o rosto do Chet. Que não conseguia segurar minha mão, tamanha a força que eu depositava de raiva. Soltei a tesoura e sai dali correndo. Acho que ele não prestou queixa para não me prejudicar mais depois de ouvir falar no que eu fiz com a Tina.

...

Arrumei minhas coisas e deitei na minha cama nova com uma sensação de alivio. Como se eu tivesse tirado um peso enorme das costas. Todos ficaram para trás. Tenho uma nova vida aqui. E vou fazer de tudo para não estragar e acabar com as esperanças que a única pessoa que amo no mundo, tem em mim.

...

Escola nova. Odeio ser novata. Pelo menos estamos no começo do ano, então provavelmente não sou a única novata aqui.

A escola é enorme. Minha mãe fez questão de me colocar na melhor escola da região. É uma escola interna. Mas ela me garantiu que me visitaria todo final da semana. O que eu sei que não é verdade. Ela sempre tinha uma reunião ou algo mais importante.

— Você deve ser a Violet. - a diretora me cumprimentou - Seja bem vinda a nossa escola. Estamos organizando os papeis da sua matrícula, mas você já poderá iniciar seus estudos com todos os outros hoje. Vou chamar uma de suas colegas para te apresentar a escola e seu dormitório. - ela saiu da sala e comecei a olhar em volta. Tinha vários quadro de alunos antigos. Medalhas de não sei o que. Tinha um quadro em sua mesa, ela e um garoto. Talvez seu filho. Ela sorria na foto. Um sorriso largo, o qual ela parece não dar as tempos.

Dois minutos depois a diretora entrou na sala com uma garota, baixinha e sorridente. Cabelos bem curtos e toda uniformizada. A única que vi de uniforme.

— Olá - ela disse sorridente. Sorrisos me dão ânsia.

— Oi - falei meio seca demais. Vi que ela olhava para o meu cabelo, que agora estava num tom forte de roxo que pintei em casa assim que me mudei.

— Mostre a escola para ela e depois leve-a até sua primeira aula. - a diretora sentou em sua cadeira e arrumou o quadro que tirei do lugar.

A menina me mostrou os laboratórios, me mostrou as duas quadras que eram muito maior do que a da minha antiga escola. Mostrou onde eu iria dormir, mas não tínhamos tempo para entrar, então só me mostrou o número da porta. 12.
Me falou como funciona os horários de aula e me entregou um papel com a hora e a sala de cada aula minha.

— Eu que fiz para você. O horário fica em um painel enorme lá no pátio. Mas como você é nova, não conseguiria entender - agradeci o papel cheio de florzinhas e com uma caligrafia impecável. - Ali é o vestuário. Ali do lado ficam as piscinas. Na sua antiga escola você tinha aula de natação? - neguei com a cabeça me lembrando do quão pequena minha antiga escola parecia perto dessa. - Nos temos aulas de natação uma vez por semana. Vem vou te mostrar. - entramos na áreas das piscinas e tinha três piscinas, uma mais funda que a outra - Você sabe nadar? - neguei e ela assentiu. - Você não é muito de falar ne?! - ignorei e me peguei olhando para uma sala que tinha dentro da área das piscinas. - Ali é a área de luta. É lá que os meninos ficam enquanto está tendo aula de natação. Muitos preferem lutar. - prosseguimos e ela me deixou em frente a um armário. - Aqui é o seu armário e essa é sua senha. - me entregou um papel. - Depois te ensino a mudar de senha. Aquela é a sala da sua primeira aula. - apontou para a sala ao lado do armário. - Acho que é isso, qualquer dúvida é só me procurar, meu nome é Dory. E acho melhor você ir para sua sala porque se não você vai não vai conseguir entrar. E eu também não, Tchau Violet.

Ela saiu apressada e eu fui até a sala. Bati na porta e um professor alto e pardo abriu a porta.

— Você é novata. - assenti. - Entra, já está atrasada. A primeira vez passa. Na próxima não entra. - falou rude e eu adentrei a sala, com todos olhares sobre mim. Odeio olhares tanto quanto odeio sorrisos.

Fui em direção ao fundo da sala onde tinha um lugar perfeito para ficar onde as pessoas não ficariam me olhando.

— Tem gente aí. - disse um garoto de cabelo que batiam no ombro e com o olhar frio. Com uma voz monótona e sem olhar para mim.

— Não estou vendo ninguém aqui. - falei e finalmente seus olhos encontraram o meu. Ele era serio e desafiador.

— Eu estou aqui. - todos olhavam com curiosidade para mim.

— Algum problema, Violet? Terei que ir até aí achar um lugar para você? - me virei pisando no pé do garoto que me impediu de sentar e fui sentar no outro lugar que sobrou. Lá na frente. Colada com o professor que amei assim que vi.

...

As aulas naquela escola eram um saco. Agora imagina o intervalo.
Fui até a fila e peguei uma bandeja. Peguei macarrão com molho. Uma caixinha de suco da morango e uma maçã.
Fiquei parada em pé procurando um lugar longe o bastante daquelas pessoas. Mas a única coisa que vi foi a Dory acenando para eu ir sentar com ela.

Fui até ela e ela estava sozinha.

— Oi Violet. - ela estava sempre sorrindo.

— Oi. - falei colocando uma garfada grande de macarrão na boca.

— Está gostando daqui? - balancei a cabeça afirmando, para ver se ela parava de falar. E ela começou a comer sua comida. Vi o garoto que me impediu de sentar passar por mim e me encarar. E a Dory abaixou o olhar quando ele passou.

— Quem é ele? - vi que a Dory me olhou assustada. Não sei se foi porque finalmente falei algo sem ser "oi" ou porque eu perguntei dele.

— É o Paul. - ela falava baixo. Como se tivesse medo que ele pudesse ouvir.

— É por que todos tratam ele assim? - vi um garoto estava sentado em uma mesa e o Paul o mandou sair. O garoto saiu correndo, quase derrubando sua comida.

— Todos tem medo dele. Ele é um ano mais velho. Dizem que ele já matou um garoto que arrumou briga com ele. E já estuprou uma garota, que sumiu depois que saiu com ele. E ele está um ano atrasado porque teve que cumprir pena - queria rir daquela bobagem.

— Eu não tenho medo dele. - eu encarava ele e ele encontrou meu olhar. E me encarou também. Meu olhar desafiador contra o seu olhar frio.

— O que você está fazendo? - ela viu que nos encarávamos e me olhava assustada. Vi um garoto se aproximar dele tirando a atenção dele de mim. Eles se cumprimentaram e ficaram conversando.

— E aquele quem é? - me referia ao garoto que conversava com Paul.

— A, todos tem medo dele. Exceto o Ted e o Martin, são os únicos amigos que ele tem. Aquele é o Martin. O Ted deve ter faltado.

O Martin era mais baixo que o Paul. Diferente do Paul, Martin tinha o cabelo aparado e não tinha um olhar frio como ele. Era moreno e usava óculos.

Terminei de comer e fui ver o meu horário. Biologia. Sala 17. Peguei minha bandeja e me levantei para ir para minha sala.

— Que sala você vai? - Dory caminhava do meu lado apressada, com suas pernas pequenas tentando andar no mesmo ritmo que as minhas pernas longas.

— 17. - vi ela jogar o lixo dentro de um cesto de lixo e a bandeja em um recipiente cheio delas. E logo em cima estava escrito "Lixo no lixo. E bandeja no recipiente"

— Eu também vou para lá. - ela sorriu. Ótimo.

Seu sorriso murchou. E ela tinha uma expressão de medo. Já vi essa cara antes. Paul. Quando me virei vi ele se aproximando e esbarando em mim. O suco que restava em sua bandeja, voou em minha blusa deixando uma mancha rosa no meio da minha barriga.

— Qual o seu problema garoto? - joguei minha bandeja no lixo sem me preocupar com a regra de "lixo no lixo e bandeja no recipiente". Ele me olhava com deboche. E todo o pátio parou para ver. Até as mulheres da cozinha olhavam assustadas.

— Você que esbarou em mim. - sua voz grossa e áspera, perfurou meus ouvidos. Me deixando com mais raiva ainda. Eu não podia perder o controle. Eu prometi para minha mãe que mudaria. Ele não vai fazer eu quebrar essa promessa.

— Olha aqui. - apontei meu dedo em sua cara e senti a Dory apertar meu pulso. - Se você acha que só por quê toda essa escola tem medo de você eu também vou ter, você esta muito enganado. - senti a raiva amenizando. - E você me paga por isso. - apontei para a minha barriga ensopada de suco e sai a procura de um banheiro com a Dory atrás de mim


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