Prelúdio

Era uma vez, há nem tanto tempo assim, uma família feliz.

Eles formavam um grupo adorável e gostavam de passar o tempo livre na companhia do outro, contentes.

Os dias eram alegres e animados. Haviam alguns pequenos desentendimentos, mas nada que não pudesse ser contornado e não virasse motivo de risadas depois. A mãe, o pai e seus três filhos eram sortudos e ficavam extremamente agradecidos por isso. E como as coisas eram exatamente da maneira como deveriam ser, tudo estava bem.

A escuridão, no entanto, como alguém desagradável que todos se empenhavam em evitar, sempre chegava; e frequentemente no pior momento possível, simplesmente porque lhe agradava esse tipo de diversão perversa.

Certo dia, então, um acidente horrível aconteceu. A mãe, para o lamento de todos, não sobrevivera. A surpresa pela tragédia inesperada, talvez, fora grande demais. Era incompreensível que uma pessoa tão bondosa, que sempre tinha uma palavra de conforto para quem quer que fosse, tivesse um fim tão abrupto; mais inconcebível ainda era que aquela família tão unida sofresse dessa forma, pois eles não mereciam tamanho infortúnio.

A felicidade virou tristeza e os dias alegres logo passaram a ser vazios e sem graça. O pai e os três filhos, cada um infeliz a sua maneira. O tempo passou e, aos poucos, a inconformidade se transformou em melancolia; a dor, mesmo que não completamente atenuada, ao menos mais suportável.

Essa história, contudo, não é sobre a morte nem nada tão deprimente quanto, muito menos sobre o destino cruel de pessoas tão queridas; é sobre segundas chances, sobre recomeços e, sobretudo, sobre o amor. Ah, sim, o amor.

Era uma vez, um acidente.

Era uma vez, uma família despedaçada.

Era uma vez, um menino mau humorado.

Era uma vez, uma menina alegre.

Era uma vez...