Não era mais possível. Mesmo que Kylo Ren quisesse ou quem sabe tentasse, simplesmente não era mais possível ele voltar para o Lado da Luz, devido a uma lista de inúmeras paginas que iam de assassinatos até o fato de que ninguém mais o queria La, todos o julgariam e o mandariam embora, novamente. Por isso ele negava tudo, contatos, memórias e seus pais, principalmente seu pai, quem o guiou para mais fundo ao Lado da Luz, mas que também o afastou do mesmo.

Mas então ela surgiu.

Com seu ar de inocência, sendo pequena, teimosa, fraca, mas extremamente poderosa e agora simplesmente não saia de sua cabeça, o garoto suspira ao recordar a face da sucateira, ela era tão linda e desconhecida, sentia que a medida que se conhecessem poderiam fazer tantas coisas maravilhosas juntos...

—NÃO! – Ele grita, assustando alguma tropa de stormtroopers que fazia sua ronda costumeira – eu não irei me render a uma paixonite insignificante. Devo render-me e servir apenas ao ódio, nada além. Eu não sou e jamais voltarei a ser Ben Solo.

Ele põe as mãos em seu coração e como em uma leve prece diz baixinho:

 -Ajude-me avô, ajude-me a esquecer de tal garota ordinária.

Não que ela fosse ordinária, ele havia acabado de experimentar o poder da garota quando ela magicamente adentrou sua mente ignorando suas barreiras mentais e xeretando as suas memórias mais intimas, a Força com certeza era forte nela.

Kylo suspirou novamente contendo sua raiva, tinha de voltar a interrogar a garota e conseguir o que ele queria como sempre conseguia. Ele pôs seu capacete novamente escondendo os cachos negros, reergueu suas muralhas mentais impenetráveis e adentrou novamente a sala onde a garota de Jakku estava. Observou a placa de metal em que ela estava presa e as algemas em que ela machucava seus pulsos de força-las a ceder, mas a frente havia também uma mesa com alguns objetos de tortura e outros instrumentos fúteis que Hux insistia em utilizar em prisioneiros mesmo que Kylo possuísse sua própria técnica, e por fim seus olhos caíram sobre a garota e ele a encarou.

Ela o observava com ódio e rancor, mas o coração do garoto começou a bater mais forte sem querer.

— Acho que já passamos da fase em que você usa um capacete para tentar tirar algo de mim. – ela diz seca.

Ele hesita, não queria retirar seu capacete, sua única proteção contra aqueles olhos e contra seu constante desejo de por seus lábios ao encontro dos da sucateira, então repreendeu a si mesmo por tais desejos.

— A garota insiste que eu lhe revele meu rosto novamente para contempla-lo? – retrucou com um sorriso irônico mesmo que ela não pudesse ver por de trás da mascara.

—Na verdade, só gostaria de ver sua reação quando eu revelar e rever cada memória sua.

Kylo se conteve por não sacar seu sabre de seu cinto e atravessar a garota por tamanha insolência, apenas limitou a novamente suspirar pensando em como ela o temia a cerca de vinte minutos e agora argumentava contra ele orgulhosamente. Ele curvou-se lentamente próximo ao rosto dela e sibilou com sua voz metálica:

—Você não conseguiria nova...

—Quer apostar? – ela o interrompe desafiando-o com seus olhos faiscando com ódio e um leve temor, o que era perfeito para guia-la para o Lado Negro.

Sem responder o cavaleiro aciona uma trava e libera o capacete de seu rosto, revelando sua pele pálida que fazia um perfeito contraste a pele bronzeada e suja da habitante de Jakku, e um meio sorriso provocante que fez a garota corar e rapidamente repreender-se internamente pelo mesmo.

—Tente agora. – Ele provocou não conseguindo desviar sua atenção dos olhos da sucateira.

 Ela olhou em seus olhos e pareceu de fato tentar, ele conseguia senti-la adentrando sua mente a procura de brechas entre as suas muralhas que rodeavam as suas memórias, as quais nem ele gostaria de penetra-las, mas então tudo mudou assim que a garota fechou os olhos em busca de mais concentração e maior poder, ao admirar o rosto dela ele vacilou e por um instante abaixou todas as suas defesas enquanto pendia para frente não conseguindo mais aguentar apenas olha-la, ao selarem seus lábios  ela abriu os olhos surpresa pelo contato inesperado, ela queria negar, queria afastar o monstro que a beijava mas se rendeu ao desejo que a consumia deixando o beijo ainda mais profundo. Ela olhou a figura negra a sua frente e sentiu a defesa do garoto baixar, sentiu que seria uma ótima hora para provar que o dono da verdade na verdade, estava errado. Ela adentrou em sua mente através da Força podendo assim ver as primeiras imagens das memórias de Kylo Ren, seus treinamentos, sua fúria e medos como antes mas agora algo se destacava entre as demais memórias, uma imagem de um garotinho pálido e seu pai andando em uma nave, o garotinho se divertia examinando os botões e observando tudo com uma extrema curiosidade até ouvir o pai dizer:

—Vamos Ben, temos de encontrar sua mãe...

E antes que continuasse sua conexão é perdida quando Kylo se afasta bruscamente batendo seu corpo contra a mesa de metal perto da garota ainda presa pelas algemas. Ele a principio a olha assustado, mas então seu olhar vira uma grande mistura entre a raiva, a angustia e o medo até que enfim desvia seu olhar observando os objetos acima da mesa como se fosse obras de arte, um frio percorre a espinha dela e então decidindo quebrar o silencio a sucateira começa:

—Seu nome é Ben?

—MEU NOME É KYLO REN! – ele grita e então soca a mesa deixando uma grande marca e um rastro de dor, e a olha com uma faísca de ressentimento e tristeza em seus olhos raivosos – Ben está morto.

Ele caminha até a frente da garota novamente e subitamente ela sente seus pulsos sendo libertos das algemas que antes a continha e ela cai para frente nos braços de Kylo que a observa serio.

—Seus pulsos já estavam sangrando devido a sua força de vontade, mas como você faz isso? – Ele diz após uma quase eternidade – Como entra em minha mente me mostrando minhas piores memórias, mas ainda assim eu sinto uma paz por apenas estar perto de você.

Ela o olha e percebe o quão mais baixa que ele ela era por estar com a cabeça no peito de Kylo ouvindo seu coração batendo forte, ela toca em seu peito sentindo a textura e a formas por debaixo do tecido negro de sua vestimenta, com certeza ele era musculoso devido ao seu treinamento, mas algo em seu peito junto a tantos pensamentos na mente da garota era tão convidativo que ela não conseguiu evitar envolve-lo em um abraço acolhedor, o qual ele rejeitou a principio mas enfim envolveu-a também, aquele calor e afeto fez ambos se sentirem bem e em paz como se aquele fosse seu lugar, ela que nunca havia recebido qualquer demonstração de afeto ou carinho e ele que suplicava por te-la em seus braços. Ela então reuniu coragem e quebrou o silencio acolhedor que os envolvia.

—Eu podia sentir que você precisava de um abraço. – Ele ri.

—E eu posso sentir que você ainda esta envergonhada, eu posso ler sua mente não se lembra?

Ela amaldiçoou-se por ser descuidada, ficou nas pontas dos pés e revelou.

—Aquele... Aquele foi o meu primeiro beijo. – ela disse como se em um sussurro no ouvido enquanto corava descontroladamente e se encolhia para que tal rubor não fosse notado.

Ele a afastou o suficiente para que pudesse olhar em seus olhos transmitindo a ela uma sensação de que ela fosse um objeto extremamente delicado que pudesse ser quebrado a qualquer mau jeito.

—Então não vejo porque não repetir. – ele sorriu de canto e inclinou-se tocando levemente o queixo da garota podendo assim beija-la delicadamente e com ternura mas ao mesmo tempo deu-lhe um beijo voraz como se sua vida dependesse disso.

Essa calma, paz, esse êxtase e a luz que ela emanava e que ele sentia perto dela era algo que Kylo simplesmente não queria deixar de lado, sentir-se amado era uma memória tão que ele quase sentia uma leve camada de pó em sua mente, mas ela virou o jogo, sua atitude teimosa e inocente virou tudo de ponta cabeça e ele não sabia se a odiava ou a agradecia.

Os beijos mantinham pequenos intervalos suficientes para que ambos respirassem mas cada vez que voltavam sua intensidade subia e fazia com que ambos desejassem por mais. Ambos olhavam o próprio reflexo nos olhos do parceiro na tentativa de reconhecer qualquer tipo de ataque aparente do suposto inimigo.

—Eu ainda te odeio – A sucateira sussurrou entre um biejo e outro, Kylo limitou-se a sorrir de canto enquanto lembrava a historia de amor de seus pais.

—Eu sei. – ele riu e tornou a beija-la intensamente e apaixonadamente pedindo até mesmo por algo a mais.

Em seu interior Kylo Ren sentia medo, medo por a cada beijo, a cada momento e a cada palavra que trocava com a garota um pedaço de Ben Solo era recomposto dentro de si, como se ela estivesse montando um quebra-cabeça de se velho eu. Ele afastou-a e a olhou com seus olhos negros.

—Rey... – ele começou a dizer, mas ela então pôs um dedo sobre a boca dele para que se calasse.

—Gosto de como meu nome soa em sua voz. – E sorri.

Kylo sorri e pensa que seu plano inicial consistia em leva-la ao lado negro para ensina-la e treina-la como uma padawan qualquer, mas agora ela o levava novamente as suas origens da luz com um simples toque e olhar.

Ela era a sua luz.

Uma ponte para a redenção que um resquício de sua alma, o que o pouco que lhe sobrara de Bem solo ansiava desesperadamente.

Rey era sua luz.

E agora que eles estavam juntos e podiam enfim seguir um só caminho trilhado para onde quer que fosse ele podia sentir que nem a Força, nem Hux e muito menos Lider Snoke poderiam separa-los de seguir seu caminho pela redenção e quem sabe até pelo Lado da Luz, pois ela era aquela luz e ele a seguiria por onde quer que ela fosse como um peixe no mais profundo oceano.

—Rey, você é a minha luz – foi tudo o que ele conseguiu sussurrar.