DIAS MAIS TARDE...

Mamãe me contou que hoje eu vou para a casa com ela.

Eu não fiquei com medo da mamãe fadinha. Ela não me bate. Cuida de mim e me dá chocolate, igual a Dra. Grace. Mamãe também escova meus cabelos e me ajuda a tomar banho, depois ela coloca roupa cheirosa em mim e me conta história.

—Você está feliz por ir para a nova casa? —Mamãe Fadinha pergunta enquanto escova meus cabelos. Balanço a cabeça e continuo a comer o biscoito que a Dra. Grace me deu. —Que bom! Hoje você vai conhecer sua casa nova, a vovó e o vovô, minha amiga e a filha dela, e também o cachorrinho que o papai comprou para você.

Mamãe coloca um laço de fita no meu cabelo e dá uma ajeitadinha.

—Pronto! Você está linda. —Fadinha levanta e me olha com espanto. —E toda suja de biscoito também.

Penso que ela vai me bater, mas ela não o faz.

Mamãe se aproxima e eu me encolho, mas ela apenas limpa o meu vestido e meu rosto.

—Vamos?

Balanço a cabeça e com a ajuda de mamãe desço da cama. Ela segura minha mão e nós saímos do quarto.

Grace nós vê e se aproxima.

—Como você está linda Ana. —Ela diz e eu sinto minhas bochechas queimarem. —Como ela está Carla?

—Bem. —Diz mamãe.

—Quem bom. Eu fico muito feliz que vocês estejam juntas.

—Imagine como eu estou então.

—Eu devo imaginar. Bom, eu tenho que voltar ao trabalho, cuide bem dela, eu espero de coração que vocês duas sejam muito felizes.

—Obrigada Grace. Por tudo.

Grace e mamãe se abraçam e depois a doutora me dá um sorriso e um afago na cabeça. Ela sorri mais uma vez e vai embora.

Mamãe segura minha mão enquanto andamos e todos nos olham sorrindo.

Saímos do hospital e eu olho tudo com cuidado. Está caindo água do céu. É lindo e tem um som mais bonito ainda. Isso deixa tudo com um cheirinho bom.

As coisas aqui fora são tão bonitas, tudo tem um cheirinho tão bom e ninguém me bate.

A mamãe não deixa eles me tocarem.

Um homem com roupa preta e cabeça raspada se aproxima e abre algo que impede a água de nos molhar, nós caminhos até um carro preto e mamãe me ajuda a subir, depois senta ao meu lado e fecha à porta. O homem de cabeça raspada entra no banco da frente e o carro começa a andar.

—Está gostando? —Mamãe pergunta.

Balanço a cabeça e olho para a janela vendo as coisas andarem.

Ou será que nós que estamos andando?

Fico confusa com isso.

Algum tempo se passa e o carro para.

—Chegamos. —Diz mamãe.

Mamãe desce do carro e me ajuda a descer.

Nós estamos em frente a uma casa... Uma casa muito grande, com paredes brancas e um lindo jardim com muitas flores.

Caminhamos até uma porta muito grande e uma mulher abre antes que mamãe possa abrir, ela sorri para a mulher e nós entramos.

A casa é muito grande, e isso me dá um pouco de medo, mas mamãe segura firme minha mão.

Aperto a mão de Fadinha e nós caminhamos pela casa, entramos em um lugar que eu acho ser uma sala. Tem três sofás de couro branco e eu não sei o nome das outras coisas.

Em um dos sofás está papai Ray com um homem e uma mulher de cabelos um pouco brancos e pele um pouquinho, enrugada.

Em outro sofá há uma mulher loira e ao seu lado uma menina com cabelos loiros avermelhados e grandes olhos verdes.

—Tia Carla! —A menina de cabelos loiros grita e corre para abraçar mamãe.

Solto a mão de mamãe com medo e dou alguns passos para trás.

Esbarro em algo e um vaso cai no chão se quebrando.

Coloco as mãos cobrindo os ouvidos por causa do barulho e começo a chorar baixinho.

Meu peito sobe e desce e minha respiração fica acelerada.

Mamãe tenta me tocar, mas eu dou um passo para trás.

Ela não pode me tocar. Eu fiz coisa errada. Se ela me tocar vai me bater.

—Calma querida. —Diz mamãe.

—Não! —Grito. Mamãe me olha um pouco surpresa. —Não me toque.

—O que ela tem tia? —Pergunta a menina.

—Katherine, venha aqui! —Ordena a loira mais velha e a menina obedece fazendo bico.

—Tudo bem, ela só está com medo. —Mamãe diz abaixando na minha frente. —Ninguém vai te machucar meu amor.
—Ei olhe só... —A mulher de cabelos brancos se aproxima e abaixa na minha frente. —Está tudo bem querida.

Seu olhar é doce e ela me parece ter um leve cheiro de biscoitos.

Tiro as mãos dos ouvidos e vou parando de chorar aos pouquinhos.

—Viu só? —Pergunta mamãe. —Não precisa ter medo.

Balanço a cabeça um pouco mais calma, e então mamãe me apresenta às outras pessoas.

A vovó, e o vovô são os de cabelos brancos.

A Lauren e a Katherine, ou Kate, são as de cabelos loiros.

E também a Cacau, ela é uma cachorrinha bem peluda, e gosta de correr, mas sempre cai por ser pequena.

Vovó é boazinha, ela preparou um bolo de chocolate para mim, e me fez comer tanto que eu quase passei mal, mas mamãe disse que eu poderia guardar para mais tarde.

Vovó também não ligou quando eu dei bolo para Cacau.

Vovô me contou várias piadas, mas eu não entendi nenhuma, apenas fiquei o olhando e não fiz caretas. Mamãe falou que caretas não são legais quando alguém está falando.

Papai me mostrou meu quarto. Papai é legal e também não briga comigo.

Meu quarto tem coisas roxas e rosas. E têm bastantes brinquedos.

Eu não tinha brinquedos na outra casa, mas a mamãe falou que sempre que eu quiser, ela me dá.

Lauren é nossa vizinha. Ela disse que eu posso chamá-la de tia, e ela também fez uma torta de morangos para mim, mas eu não consegui comer porque comi muito bolo.

Kate é filha de Lauren, ela é muito doidinha, não para de pular nem quando está comendo, mesmo que a tia Lauren brigue, ela continua pulando.

À noite mamãe e papai me colocam na cama, eles me contam uma história e me dão um beijo.

—Seja bem-vinda minha menina... —Sussurra mamãe.

Fecho meus olhos e abraço cacau, ela solta um latido baixinho e lambe meu rosto. Abro um sorriso mínimo e logo pego no sono.