O carro estava num silêncio completo, exceto pelo barulho do motor. Stiles olhava diretamente para a pista, ignorando-a completamente. Lydia mordeu o lábio. Ela podia muito bem suportar silêncios confortáveis, mas o silêncio no carro estava o mais longe possível de confortável. Mesmo que nenhum dos dois estivesse falando, ela podia sentir a tensão entre eles, quase tocá-la. 

— Como está sua cabeça? - ela finalmente perguntou. 

— Vamos considerar que sua tentativa de me matar falhou. - ele disse sem olhar para ela. 

Ela revirou os olhos. 

— Eu pedi desculpas. 

— E eu escutei todas as cem vezes que você pediu, – ele disse. - Mas agora eu adoraria que você calasse a boca. 

— Stiles, eu realmente acho que você deveria... 

— Não, não deveria. - ele a interrompeu. - Cale a boca. 

Lydia respirou fundo para se acalmar. Ela odiava quando a interrompiam, principalmente quando ela estava tentando dizer algo importante. 

— É sério, Stiles. Acho mesmo que você deveria... - Ele a lançou um olhar que a fez se calar. Lydia jogou as mão para cima, exasperada. - Tudo bem! Qual seu plano, hein? Quer sangrar até a morte? 

— A única coisa que coisa que estou planejando é te largar aqui. – disse. 

— Você não faria isso. 

— Quer apostar? - provocou. 

Lydia revirou os olhos novamente. 

— Pode me ameaçar o quanto quiser. Você já parece que saiu de um filme de terror mesmo. 

— Muito engraçado, - ele ironizou. - Pelo menos eu sou a vítima aqui. 

— Vítima porcaria nenhuma! - ela quase gritou. - Estou aqui tentando te ajudar, mas você prefere ficar aí reclamando e não fazer nada! 

Stiles parecia ouvir o que ela dizia, mesmo que tentasse ignorá-la. O corte em sua testa parecia horrível. Mesmo que ele estivesse a irritando, a visão do sangue manchando o casaco dele fazia com ela se sentisse muito culpada. Ela tinha que revisar suas táticas de autodefesa. 

Ele tocou o lado da cabeça e olhou seus dedos, cobertos de sangue. Então viu que a palma da sua mão estava coberta de vermelho, de quando ele a usou para cobrir a ferida. Tinha sangue no volante, e em todo os lugares que tocara com suas mãos ensanguentadas. 

— Droga... - ele murmurou, olhando hipnotizado para o sangue em sua mão. 

— Stiles... - ela chamou com a voz cheia de preocupação quando viu toda a cor deixar seu rosto. Ele não pareceu escutá-la. Lydia estava começando a ficar aflita porque ele não estava olhando mais para a pista, quando ele de repente parou o carro no acostamento. - Stiles! - gritou quando ele pulou para fora. Ela foi atrás dele. 

Estava acontecendo de novo. Tudo ao redor de Stiles estava vermelho. 

Seus joelhos dobraram e ele se apoiou no carro, escorregando até cair no chão. Não importava o quanto ele respirasse, o ar não era o suficiente. Lydia correu até ele e ajoelhou-se ao seu lado. Seu rosto estava pálido como uma folha. Stiles tinha os olhos fechados e seus dedos agarravam o tecido sobre seu coração como garras. Ele parecia estar sufocando, seu peito subindo e descendo muito rápido. 

— Eu estou bem... só me dê... um segundo... - ele arquejou. Isso não podia estar acontecendo. O ataque o pegou desprevenido, e agora não havia como parar. 

Lydia não sabia o que fazer. Stiles mantinha os olhos fechados enquanto tossia e lutava para respirar. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo, se aquilo era um ataque de asma, ou algo pior, mas ela podia deixá-lo sufocar até a morte. Ele não parecia notar que ela estava ali, mas ela não suportava a dor em seu rosto. 

Ela colocou uma mão em ambos os ombros dele. Seus olhos se abriram e ele olhou diretamente para ela. Seus olhos âmbar estavam cobertos de dor e até desespero, o que não combinava com uma cor tão bonita.  

— Está tudo bem, Stiles... Eu... Eu estou aqui... - ela disse. - Confie em mim, ok? Deixe-me ajudar. 

Stiles a encarou. O que ela estava fazendo? Por que estava ali? Por que ela não o deixou? Todas essas perguntas apareceram enquanto ele encarava aqueles lindos olhos verdes. O que ele estava pensando? Ele não queria que ela fosse embora. Ele precisava dela, da sua ajuda, da sua presença. Então fechou os olhos de novo, porque não podia precisar dela assim. 

— Ei, olhe para mim, - sua voz doce o chamou. Stiles sentiu arrepios estranhos e violentos descendo pela sua espinha quando ela segurou seu rosto entre as mãos pequenas. Se qualquer pessoa, á qualquer hora, fizesse isso com ele, ela a afastaria e a diria para ir se ferrar. Mas não naquele momento. Ele abriu os olhos novamente e ela o encarou com intensidade. - Apenas se acalme, ok? Tudo vai ficar bem. 

Uma onda de dor veio do seu peito e Stiles, sem pensar, agarrou o braço dela, procurando apoio. 

— Respire comigo, - ela murmurou. 

Stiles balançou a cabeça. Estou tentando, não consigo!, ele quis gritar. Mas ele não podia desviar seus olhos do dela. 

— Vamos, Stiles! Isso, - ela pressionou uma mão contra seu peito, bem onde o coração dele batia. -, isso não é nada. 

O coração dele batia como uma bateria embaixo da mão dela. Lydia respirou fundo e sentiu o peito dele se erguendo junto com o dela. Ela repetiu o movimento, murmurando palavras tranquilizadoras, até que sua respiração se acalmou. Os olhos dele continuavam presos aos dela durante os minutos de silêncio que se seguiram. Por um segundo, o olhar dele vagou até seus lábios cheios, e Lydia tinha certeza que ele ia beijá-la. Pensar nisso a deixou morna por dentro, e ela mordeu o lábio. 

— Uhm... Você está bem? - ela perguntou quando finalmente achou a voz. 

— O que? - ele perguntou com a voz distante. Então balançou a cabeça e sentou direito. - Ah, sim, sim. Estou bem. Perfeitamente bem. Eu só... wow!  

Stiles parou de falar quando ela o abraçou. Por um curto momento, ela descansou a cabeça em seu ombro, seu cabelo laranja claro roçou em seu rosto. Tinha cheiro de flores, ou algo doce. Stiles começou a se perguntar como ela conseguia cheirar bem assim depois de um dia inteiro na floresta. 

Lydia inclinou-se para trás. 

— Desculpe! - disse. Ela não sabia se queria se dar um tapa por ter o abraçado nem pensar em qual seria sua reação, ou rir, porque Stiles a encarava com a boca aberta, mais fofo do que nunca. Stiles teve que balançar a cabeça antes de falar alguma coisa. 

— Tudo bem, ahn... - Stiles coçou a nuca. - Acho que... hm... Acho que a gente deveria ir. 

— Sim, claro, - ela concordou e se levantou. - Deixa eu te ajudar... 

— Não precisa, - ele disse, se levantando também. Ele ainda estava pálido, mas era só a cor normal do seu rosto. Ele abriu a porta do carro e Lydia franziu a testa. 

— Não seria melhor se eu dirigisse? - perguntou. Ela inda não sabia o que havia acontecido, mas não queria arriscar outro ataque daquele durante o caminho. 

Stiles olhou para ela como se ela tivesse enlouquecido e dito algo muito estúpido. 

— Não. 

— Mas... - ela tentou argumentar. 

— Lydia, - ele a interrompeu. Ela percebeu que era a primeira vez que ele dizia seu nome, e ela gostava de como ele soava em sua voz. - Você não dirigir meu Jeep. Ponto. 

Ela revirou os olhos. 

— Certo. 

— Ainda quer uma carona? - ele perguntou enquanto entrava no carro. 

Lydia mordeu o lábio. Deu a volta no carro e sentou no banco do carona. Durante o resto da viagem ela não conseguia se controlar e continuava o lançando olhares rápidos e preocupados, só para checar se ele estava bem. Stiles percebeu um dos olhares e revirou os olhos. 

— Pare de fazer isso, - disse. - Está começando a assustar. 

— Desculpe, - ela disse, olhando para suas mãos em seu colo. - Só quero ter certeza que você está bem. 

Stiles suspirou. 

— Estou bem. 

— Isso acontece muito? - ela perguntou. - Você sabe, esses... ataques? 

Ele segurou o volante com mais força. Ele não queria falar sobre isso. Ele não ia falar sobre isso. Ela não entenderia. Seu passado era seu segredo, e desde que se mudara para Beacon Hills, ele não havia falado sobre isso com ninguém. 

— Stiles? - ela pressionou. 

— Não vai acontecer de novo. - Foi tudo que ele disse. Lydia suspirou e olhou para baixo de novo. Silêncio caiu sobre eles de novo por mais alguns minutos até que ele parou o carro. - Chegamos. 

Lydia olhou em volta e encontrou seu carro. Ela desafivelou o cinto e saiu do carro. Antes de fechar a porta, ela se inclinou para a janela. 

— Então... Obrigada pela carona, - disse. 

— De nada, - ele respondeu, formalmente. 

Ela deu um sorrisinho e deu para ir até seu carro, mas depois de alguns passos, ela se virou. 

— Stiles? - chamou. 

— Sim? 

— Tenha cuidado, ok? E cuide disso aí, - ela gesticulou para a testa dele. Ela se sentiria muito melhor se fosse embora depois de fazer esse pedido. 

Ele piscou duas vezes antes de acenar com a cabeça. Lydia sorriu de novo e foi até seu carro. O vento estava muito frio, e ela queria ir para casa, comer algo, tomar um banho e dormir. Acima de tudo, ela queria que ele seguisse seu conselho.