Now You've Got To Breathe escrita por LStilinski


Capítulo 25
Esquecimento




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Stiles não sabia quanto tempo ficou encarando aqueles olhos. Poderiam ter sido minutos, ou horas, e ela sabia que podia ficar ali para sempre. Um sorriso foi lentamente aparecendo em seus lábios, junto com uma onda de pura felicidade que correu em suas veias. Seu coração batia forte no peito, de uma forma boa. Lydia piscou. Ela não sorria, apenas o encarava de volta. Ele pensou que isso devia ser normal, já que ela havia ficado adormecida por tanto tempo. Seus grandes olhos verdes o observavam como se ela estivesse confusa, ou curiosa. 

— O que... - começou a dizer, mas sua voz soou rouca pela falta de uso. Ela pigarreou. - O que aconteceu? Por que estou aqui? 

Stiles suspirou, umedecendo os lábios, tentando encontrar uma forma de explicar. 

— Houve um acidente... Bom, Jackson aconteceu primeiro, então o sequestro aconteceu, e terminou numa fuga em alta velocidade, e o carro onde você estava... - ele se interrompeu por causa do jeito que ela o olhava, confusão tornando-se mais clara em seus olhos, junto com medo. Idiota, idiota!, ele gritou para si mesmo. Não devia ter simplesmente jogado toda essa informação nela desta forma, o que ele estava pensando? Deveria ter ensaiado isso. Lydia mexeu-se na cama, puxando sua mão das dele e colocando o máximo de espaço possível entre os dois. Seus olhos estavam arregalados como pratos, e Stiles odiou-se por ter a assustado daquela forma. 

— Lydia... - ele começou a se desculpar. 

— Onde está minha mãe? - ela perguntou com uma voz esganiçada. 

— Ela foi chamar o médico... Vai estar aqui em um minuto. 

— Não quero um médico, quero minha mãe! - A voz dela falhou, e ele viu que ela estava quase chorando. Seus olhos verdes escaneavam o quarto, como se procurasse uma saída. Ela não estava com medo; estava apavorada. 

— Tudo bem, Lydia. Vai ficar tudo bem, - ele disse, fazendo o melhor para acalmá-la. - Estou aqui. 

Ela franziu a testa de leve. 

— Hum... Por que você está aqui?  

Ele piscou os olhos, confuso. 

— Como assim? Estou aqui por você. 

Lydia balançou a cabeça e sentou-se ereta na cama, afastando-se mais. 

— Eu agradeço e tal, mas... E-Eu não te conheço, então... Pode ir chamar minha mãe? 

Stiles sentiu o sangue se esvair do seu rosto. 

— Como assim você... - sussurrou. - Você não sabe quem eu sou? 

— Hum, não. 

Ele quase caiu da cadeira, enquanto sentia seu peito murchar. A encarou, procurando algum sinal de que ele estava brincando. E encontrou nada. Lydia não o reconhecia, não fazia ideia de quem ele era. O chão parecia se abrir embaixo dos seus pés, puxando para o nada. Não sabia quantas vezes havia sonhado com esse dia; o dia em que ela iria finalmente acordar e tudo ficaria bem, finalmente. Bem, ela estava bem. Ele não. 

— Pode por favor procurar minha mãe? 

XXXXX 

Por quanto tempo ele encarou aquela parede? Minutos? Horas? Stiles piscou. A parede tinha aquele tom de verde doentio que ele detestava. Havia um quadro com a pintura de uma casa com um jardim. Não era tão ruim. A moldura estava inclinada um pouco para o lado. Alguém deveria ajeitá-la. O telefone tocou. A recepcionista atendeu. Algumas pessoas conversavam. Stiles estava ciente de todas as coisas que aconteciam ao seu redor. Mas ele não se mexia.  

Desde que deixou o quarto, sentia-se entorpecido. Ele vagou por dentro e por fora do hospital, por horas, e tudo parecia um sonho. O mundo parecia girar mais devagar ao seu redor. Se ela não o reconhecia, o que o restava? Por que ele lutaria? Qual era o sentido? A sensação era que seu amor por Lydia era a única coisa que o prendia ao chão, e agora ele estava flutuando como uma balão desgovernado.  

Stiles lembrava de quando tudo que ele queria era que ela esquecesse dele. Lembrava do quanto era difícil ficar longe dela, como ele quase enlouqueceu. Achava que fosse o melhor, mas ela o provou que ele estava errado. Lydia o fez ficar, e ele nunca se arrependeu. Parecia uma piada que logo depois dele finalmente aceitar de braços abertos seus sentimentos por ela, ele tivesse que assistir tudo cair no esquecimento. 

Os médicos diziam que era normal pacientes acordarem de um coma com perda de memória. Espere alguns dias, diziam. As memória vão voltar. Stiles esperou um, dois, três dias, e nada aconteceu. Até que não podia aguentar mais. Não podia mais olhar o rosto dela e não encontrar nenhum sinal de reconhecimento. Doía demais. E todos os olhavam com tanta pena, ele se viu reduzido ao pobre garoto cuja namorada esquecera dele. O deixava doente; ele detestava pena.  

Allison veio visitar a amiga, mas saiu do quarto com lágrimas nos olhos. Também havia sido esquecida. E quando olhou para ela, lá estava: a pena. Assim como Melissa, e Natalie, e Scott. 

Stiles estava tão cansado daquilo. 

Então um dia, ele foi embora. Levantou-se e saiu, sem falar com ninguém ou olhar para trás. Não podia mais ficar naquele lugar... lá não havia nada mais para ele. Entrou em seu carro e foi para casa, colocou algumas coisas na mochila e saiu de novo. Em pouco tempo, estava andando pela trilha na floresta que conhecia tão bem. Mesmo que estivesse a céu aberto, sentia que não conseguia respirar. Seu peito estava pesado, como se guardasse muita coisa. Suspirou quando a familiar casa abandonada apareceu no meio das árvores. 

Entrou, jogou a mochila no chão e preparou-se, amarrando as fitas nas mãos e punhos. Alongou-se, posicionou-se e, depois de respirar fundo, deu o primeiro soco. Pareciam ter se passado décadas desde a última vez que fizera isso. Stiles reuniu tudo que sentiu nos últimos dias, a angústia, o medo, a tristeza e tantas outras coisas, e deu socos. Reuniu tudo em seus braços e socou. Ele era muito bom em transformar tudo que sentia em raiva. 

Soco. 

A garota que ele amava não sabia quem ele era. 

Soco. 

Todas as memórias deles sumiram. 

Soco. 

O que ele iria fazer agora? 

Soco. Soco. Soco.  

— Merda! MERDA! - ele explodiu. Seus músculos queimavam e seu sangue fervia, mas pela primeira vez, a sensação não era boa. Stiles estava frustrado. Estava triste, machucado, e tão, tão frustrado. O mundo caía sobre ele, fazendo-o cair de joelhos, lágrimas rolando dos seus olhos. Soluços subiam pela sua garganta, um depois do outro, e ele não podia parar. 

Lydia não está morta, disse a si mesmo. Ela está viva e tem a vida inteira pela frente. Ela será feliz. Só que não será com você. 

— Ela não está morta, - disse em voz alta, tentando se convencer. - Apenas fique feliz por ela. 

Seu celular tocou na mochila. Ele não se mexeu para atendê-lo, deixando a ligação cair na caixa postal. O aparelho silenciou. Suspirando, Stiles levantou-se, pegou a mochila e saiu da casa. Seu celular tocou durante todo o caminho pela floresta. Quando chegou, perdeu a paciência e finalmente atendeu.  
 
— O que é? - disse, sem olhar quem era.  
 
— Stiles? Ah, finalmente! - Melissa disse do outro lado da linha, aliviada. - Onde você está? Por que não atendeu? 
 
Ele suspirou. 
 
— Melissa, o que foi? 
 
— É Lydia, - ela respondeu. Em outros tempos, seu nome faria o coração dele acelerar, mas agora o fazia afundar.  
 
— O que tem ela? 
 
— Está perguntando por você, - ela disse, e ele podia ouvir o sorriso em sua voz.  
 
Stiles abriu a boca, depois a fechou. Seu coração acelerava de repente em seu peito, como se tivesse levado um choque. Ele simplesmente tinha que sair de lá para que ela lembrasse dele? Assim tão simples? Ele umedeceu os lábios.  
 
— Mas ela... Ela não sabe quem eu sou.  
 
— Bem, ela está perguntando por você! Vamos, isso é maravilhoso! - ela tentou animá-lo enquanto ele hesitava. - Vá para casa, tome um banho, coma alguma coisa e volte para cá. Estaremos esperando.  
 
Depois que desligou, Stiles permaneceu quieto, olhando para frente. Havia uma tempestade em sua cabeça, ele não sabia muito bem o que sentir. Ligou o carro e começou a dirigir para casa, deixando a ansiedade atingi-lo enquanto segurava o volante com mais força e acelerava.  
 
XXXXX 
 
Quando Stiles deixou o hospital naquela manhã, ele não planejava voltar tão cedo. Mas não estava surpreso; as coisas não estavam acontecendo segundo o planejado ultimamente.  
 
Ele fez o que Melissa mandou: foi para casa, tomou um banho longo, até parou para se olhar depois de um longo período de chuveiradas rápidas. Sua barba havia crescido, as olheiras, mais escuras que nunca. Barbeou-se, vestiu-se e, depois de comer duas tigelas de cereal, e foi para o hospital. Andou pelos corredores com passos lentos e hesitantes, suas mãos tremendo de leve. Excitação, ansiedade e medo corria em suas veias.  
 
Stiles parou em frente á porta do quarto. Respirando fundo, deu duas batidas leves.  
 
— Pode entrar, - a voz dela veio de dentro. Ele girou a maçaneta e entrou. Lydia estava sentada na cama, encostada nos travesseiros. Não usava mais a camisola do hospital, e sim calças de moletom e uma blusa folgada. Seu cabelo alaranjado caía em ondas pelos seus ombros, fazendo contraste com sua pele pálida. Quando sorriu, ele prendeu a respiração inconscientemente; ela era linda. - Hey.  
 
— Hey, - respondeu, em pé no meio do quarto. Aquela situação era mais estranha do que imaginara; era quase como se fossem desconhecidos. Bem, para um dos dois eles realmente eram desconhecidos.  
 
— Sente, por favor, Stiles, - ela disse, gesticulando para a cadeira ao lado da cama. Havia uma certa formalidade no jeito em que ela dizia seu nome, e ele a detestou imediatamente. Por um segundo, perguntou-se quem havia lhe dito seu nome, e como.  
 
— Então, - ela começou depois que ele ocupou a cadeira. -, estou feliz que está aqui.  
 
— É, eu... Me disseram que você estava perguntando por mim, então... - Ele deu de ombros, nervoso. Sua perna quicava para cima e para baixo, suas mãos estavam suadas. Ele definitivamente não fora feito para situações como aquela.  
 
— Sim, é verdade. Eu queria conversar... com você. - Lydia também não parecia confortável; ficava apertando os dedos no colo. Percebendo que ele não queria ter que passar por aquilo por mais tempo que o necessário, ele decidiu ir direto ao ponto, puxar logo o band-aid.  
 
— Você lembra de mim? - perguntou. - Lembra de alguma coisa? 
 
Ela o olhou com tristeza. Stiles de repente desejou nem ter ido.  
 
— Me desculpe, eu... Eu não me lembro de nada, eu sinto muito. Eu só... - Ela balançou a cabeça, sem saber mais como se desculpar.  
 
— Não pessa desculpas, não é sua culpa. - Ele correu as mãos pelo rosto, suspirando. Levantou-se num movimento rápido que a fez pular. Queria sair correndo dali, e odiava-se por isso. Lydia o encarava com olhos preocupados. - Me desculpe, eu só... Se você não lembra de mim, então por que estou aqui? 
 
Lydia mordeu o lábio cheio, mexendo-se na cama até que todo o seu corpo estava virado para ele.  
 
— Eu realmente não me lembro, mas tem algo sobre você que me faz sentir... coisas. Como se não soubesse quem você é, mas soubesse que você é alguém importante.  
 
Stiles a encarou, paralisado e sem voz. Essas coisas aconteciam mesmo? Como era possível? Não fazia sentido. A memória estava perdida, mas não o sentimento? Ela gostava dele sem nem saber quem ele era? Tantas perguntas apareceram em sua cabeça que ele provavelmente ficou parado lá por horas, encarando-a como um idiota.  
 
— Por favor, diga alguma coisa, - ela pediu, tirando-o dos seus devaneios.  
 
— E-Eu não... Por que... Quero dizer, como... - Ele fechou os olhos, tentando arrumar seus pensamentos. Uma risada incrédula escapou. - Lydia, como isso é possível? 
 
— Eu não sei! - Ela jogou as mãos para cima, exasperada. - Fico me lembrando do momento em que acordei, e você estava lá, e eu ouço sua voz e sinto... 
 
— O que? O que você sente? - ele perguntou, voltando a sentar.  
 
Lydia corou.  
 
— Eu sinto... arrepios. E meu coração... - Ela suspirou, olhando para as mãos. - Eu devo ter gostado mesmo de você, porque não tenho memórias suas, mas meu coração está acelerado desde o momento em que você entrou no quarto.  
 
Stiles mantinha os olhos nela, maravilhado.  
 
— Eu te amo, - sussurrou, as palavras escapando pelos seus lábios com a facilidade de um suspiro.  
 
Ela levantou a cabeça e o encarou com olhos arregalados.  
 
— O-O que? 
 
— Eu te amo, - ele repetiu. - Acho que já sabia disso por um tempo, mas sou um idiota... nunca te disse. Não quando você podia ouvir. Agora que estamos aqui, e você está me dizendo essas coisas... - Ele balançou a cabeça. - Se você não tem certeza se gosta de mim ou não, apenas saiba que eu te amo. Me mata saber que você não se lembre de nenhum dos momentos que passamos juntos, mas eu sei que eu nunca, nunca vou deixar de te amar.  
 
Stiles não sentiu quando as lágrimas começaram a cair. Lydia também tinha o rosto úmido, e mordia o lábio para impedir os soluços. Então ela jogou as pernas para fora da cama e levantou-se. Ele fez o mesmo e a abraçou. A sensação de tê-la em seus braços depois de tanto tempo era inexplicável. Ela tinha o mesmo cheiro de flores, e ele enterrou o rosto em seus cabelos, inalando o perfume.  
 
— Eu sinto muito. Estou te machucando tanto, mas estou tentando... - Ela soluçou contra a blusa dele. - Estou tentando melhorar... Os médicos dizem... 
 
— É temporário, - ele completou. - Eu sei. Você vai melhorar.  
 
— Stiles, e se eu não melhorar? - ela perguntou, dando um passo para trás e olhando para ele. - E se eu nunca me lembrar? Não quero que você... Você merece coisa melhor.  
 
Ele franziu a testa.  
 
— Não diga isso.  
 
— Você não pode esperar para sempre, Stiles.  
 
Ele olhou em seus olhos e viu determinação. Ela queria o melhor para ele. Queria que ele seguisse em frente, e estava certa. Stiles tinha que pensar na possibilidade dela nunca se lembrar, e ter que começar uma nova vida, ter novas lembranças. Ele teria que deixá-la ir.  
 
Ele engoliu á seco.  
 
— Quanto tempo? 
 
— Duas semanas, - ela respondeu prontamente. - É o tempo que eu ainda vou ficar no hospital, e é quanto tempo que você vai esperar.  
 
— Duas semanas. - Stiles assentiu e afastou-se, indo para a porta enquanto enxugava as lágrimas.  
 
Lydia suspirou.  
 
— Quero tanto me lembrar de você... - Seu sussurro foi a última coisa que ele ouviu antes de sair do quarto.


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