A falta de ar, a dor em cada centímetro de seu corpo, o ar frio vindo da janela quebrada. O sangue.

Tudo ao redor de Stiles era vermelho. 

O único barulho era dos carros passando á distancia. Ele desejava que alguém - qualquer pessoa - viesse ajudar. Apesar da brisa fria do lado de fora, estava incrivelmente quente dentro do carro destruído, como se estivesse em chamas.

Não, ele estava em chamas. Começava na sua cabeça e se espalhava pelo seu corpo, como um câncer. Algo estava errado. Mesmo que ele conseguisse sentir a dor, ele não sentia seu corpo. Como se tivesse perdido o controle.

— Mãe,- Stiles chamou, mas não ouviu a voz feminina que esperava. Ele tentou de novo: - Mãe?

Ele respirou fundo. Isso não estava acontecendo. Ela estava bem, só não havia acordado como ele. Ela tinha que acordar.

— Pai? - ele chamou. De alguma forma, a mão de seu pai estava perto dele. Stiles sufocou um grito quando seu braço queimou em dor quando tentou alcançar a mão de seu pai. Ele a balançou, mas o homem não se mexeu. - Pai!-

Pela primeira vez desde que abriu os olhos naquele carro, Stiles sentiu medo puro correr em suas veias. Lágrimas caíram dos seus olhos e ele chamou pelos seus pais de novo, e de novo, e de novo, e então ele percebeu que não havia ninguém para ouvir. Ele gritou por ajuda. Gritou como nunca havia gritado antes, ignorando a dor, ele gritou novamente. Vou morrer, ele pensou. Vou morrer, vou morrer, vou morrer...

Stiles acordou com um grito preso em sua garganta. Seu rosto estava molhado de suor, assim como sua blusa e travesseiro. Ele respirava rápido, seu peito queimando. Não havia ar o suficiente. Não havia ar.

Ataque de pânico.

Ele jogou suas pernas para fora da cama e se levantou. Sentiu-se tonto imediatamente, como se tivesse acabado de sair de uma montanha russa, e quase caiu para trás. Ele conseguiu chegar ao banheiro, segurando-se a tudo em seu caminho. A falta de ar fazia sua cabeça girar. Stiles se posicionou embaixo do chuveiro e o ligou. O choque da água gelada em seu pele aquecida pelos cobertores fez com que ele segurasse a respiração por alguns segundos.

Stiles descansou sua cabeça na parede fria e fechou seus olhos, respirando devagar. Mesmo que esses ataques de pânico acontecessem há anos, toda vez era um inferno. Eles aconteciam sempre que eles tinha aquele pesadelo. Mas ele sabia que não era só um pesadelo. Era uma memória. A memória da noite que mudou sua vida para sempre.

Aquela droga de carro. O acidente.

Stiles desligou o chuveiro e se secou. Vestiu roupas secas e voltou para a cama. Ele encarou o teto branco do seu quarto, nem sequer tentando adormecer de novo. Ele sabia que isso não ia acontecer. Bom, ele deveria tentar, já que o dia seguinte seria o primeiro dia de aula depois das férias de verão. Ele não usou um minute inteiro para perceber que ele não ligava nem um pouco. Então ele assistiu a noite virar dia. Ele gostava de fazer isso, assistir o preto se transformar em um azul escuro, depois em um azul não tão escuro, e então explodir em tons de laranja, misturado com azul, que depois toma conta de todo o céu.

O céu azul claro não combinava com seu humor miserável. A parte boa era que ele estava acostumado em se sentir desse jeito, então sem surpresas. Ele se levantou e vestiu seus jeans de todo dia, uma de suas blusas quase idênticas, junto com seu casaco e seu Converse. Pegando sua mochila, ele saiu do seu quarto bagunçado, parando só para tirar um papel de doce da sola do seu tênis.

No andar de baixo, sua tia preparava café da manhã. Stiles entrou na cozinha, sentou em uma cadeira e deixou sua cabeça cair na mesa.

— Bom dia, querido,- Melissa disse com um sorriso. - Pronto para seu primeiro dia?

Stiles a lançou um olhar cansado. Ele realmente não entendia como adultos ficavam sempre tão animados com escola. Eles não tem que sobreviver horas de seus dias num lugar designado a fazer todos dentro dele infelizes. Claro, ele nunca diria isso a um adulto, já ele não queria ouvir o discurso "Espere até você começar a trabalhar". Fodam-se os trabalhos. Escola era pior.

— Não, não estou,- ele respondeu, pegando uma maçã para comer.

Melissa o analisou.

— Você parece cansado,- ela observou. - Dormiu bem?

Ele não teve que responder. Pelo jeito que ele a olhou, Melissa quase podia ler "SÉRIO?" escrito em sua testa. Ela suspirou. Quando ele era mais novo, era ela que sempre acordava com seus gritos. Stiles teve que aprender a cuidar dos seus ataques sozinho, para não incomodá-la mais. Mesmo assim, ela sabia de tudo pelo o que ele havia passado. Ela entendia.

Stiles suspirou também. Era isso que ele fazia com as pessoas: a preocupavam. Ele odiava isso. Os olhares de pena, os suspiros, tudo isso.

Ele terminou sua maçã, pegou sua mochila e suas chaves e foi para a porta.

—Tchau,- disse.

— Tenha um bom dia!- Melissa disse atrás dele.

Ele entrou em seu Jeep, jogou sua mochila no assento do passageiro e dirigiu para a escola. Ele teve que lutar com toda sua força consigo mesmo para não ir para outro lugar. Era seu último ano de escola, depois ele estaria livre para fugir. A maioria dos adolescentes quer terminar o ensino médio, ir para a faculdade e ter uma carreira, ou conhecer alguns lugares legais. Stiles só queria ir embora. Ele não sabia para onde, ou por quanto tempo. As pessoas o diziam para matar deus demônios, seguir em frente. Matar meus demônios uma ova, ele disse a si mesmo. Stiles queria se esconder deles.