Ainda me caso com você! escrita por Burogan


Capítulo 1
Ainda me caso com Você!




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Ele era um menino estranhamente quieto, sentava na ultima carteira da ultima fileira. Gostava de observar as pessoas. Sua  vida era perfeitamente normal, da casa pra escola, da escola pra casa e quando tinha um tempo livre, passava horas e horas trancado no seu quarto se preparando para o vestibular. Mas naquele dia, naquele maldito dia, aconteceria algo que mudaria para sempre sua vida.

Naquela manhã, a sala de aula estava bem agitada, os alunos murmuravam inquietos. O menino ignorou toda aquela euforia e sentou-se no mesmo lugar de sempre. O jovem não demorou muito para perceber a aluna transferida, que estava sentada na fileira ao lado, à duas cadeiras  depois da sua. “Seria ela o motivo de tanta conversa?” Pensou.  O cabelo vermelho se destacava de forma gritante, na pele branca da moça. Tão pequena. Tão delicada. Aquela menina era absurdamente linda! Sem que percebesse o menino começou a costurar hipóteses. “Uma boneca?” Ele pensou. Se ele não a tivesse visto com os próprios olhos, até consideraria a idéia, mas não. A voz grossa de um menino chamou-o, interrompendo seus pensamentos.

— Ei, Thiago! Quem é ela? – O menino indagou.

— E eu vou lá saber quem é ela? – A voz de Thiago não tinha nenhuma expressão.

— Ela veio do interior! Parece que ela veio com os pais. – Uma menina havia entrado na conversa.

— Não, não! Me contaram que ela mora sozinha. – Comentou outra jovem, que curiosamente, tinha os óculos maiores que a cabeça.

— É feio falar dos outros! – Advertiu Thiago em tom baixo.

— Não estamos falando de ninguém queridinho, estamos apenas trocando informações. – As duas meninas falaram em uníssono.

O tempo foi passando e em nenhum momento, nem mesmo quando os professores explicavam a matéria, ele deixou de observá-la. Era curiosa a mania que ela tinha de não largar o celular, era o tempo todo digitando, se ela não estava no facebook, estava trocando mensagens. Seus olhos quase saltaram das órbitas quando um menino sentou ao seu lado, concentrado, ele comprimia o globo, na tentativa de obter a melhor visão do que estava acontecendo ali. Quase num sussurro ele ouviu ela dizer “Liliana”. Então esse era o nome dela. Thiago começou a corar, uma menina tão linda como ela, obviamente teria um nome lindo desses, isso não era  nenhuma surpresa. Liliana! Esse seria um nome difícil de esquecer.

A aula já havia acabado faz tempo e Thiago já estava em casa, no seu quarto, mas sua mente estava perdida naqueles cabelos vermelhos. Seus pais pensaram que ele estava doente, pois nunca o viram  daquele jeito, completamente absorto e quando lhe perguntaram como foi na escola, ele correu e se trancou no quarto. Thiago estava doente, mas não era algo que um remédio ou um médico pudesse curar.

Thiago estava irritado consigo mesmo, por mais que a aula tivesse acabado, ele não parava de pensar em Liliana. Ele não admitia, mais no fundo ele sabia que estava apaixonado.  Talvez fosse seu fetiche por ruivas que estava falando mais alto. “Não! Claro que não.” Ele balançava a cabeça negativamente. Pensou em se declarar, mas logo viu que era uma péssima idéia. Liliana era linda,  muitos caras queriam ela também, por que entre tantos ela escolheria ele?  Um menino sem graça que só sabe estudar. Uma dor tomou conta do seu coração, era a rejeição batendo à porta. Ele sabia que não tinha a menor chance. “Trate de esquecê-la!” Sussurrou para si mesmo. Feito isso, deitou na cama e dormiu. Naquela mesma noite, ele sonhou com ela.

Aos poucos Thiago foi se afeiçoando cada vez mais pela moça.  Em uma semana, ele descobriu que ela tinha tatuagens, três borboletas na nuca, uma estrela no ombro direito e uma outra no tornozelo esquerdo. “Revoltada?” Ele se perguntava. Duas semanas se passaram e Thiago já não prestava mais atenção nas aulas, seus olhares eram direcionados somente à Liliana, e a ninguém mais. Seu caderno estava cheio de anotações com o nome da jovem, e na contra capa, as letras enormes formavam uma frase “Um dia eu ainda me caso com você!”.

Passado um mês, o menino aprendeu a desenhar. Já não ia para escola pra estudar, ele sentava no fundo da sala e começava a desenhá-la. Fazia grafites maravilhosos, era incrível como ele transformava a beleza vermelha da menina em preto e branco, chegava ser duvidoso, se era realmente desenhos ou fotografias. Ele a observava solitária e de cabeça baixa, o emaranhado de fios vermelhos escondiam a face triste. “Talvez ela seja antisocial”.  Deduziu. Porém, era só desviar o olhar um pouquinho e pronto. A magia estava feita. Ele via Liliana rodeada pelas meninas da sala conversando alegremente. “Não, não! Ela é popular.” Afirmava o menino. E assim foi até o fim do bimestre, deduzindo e adivinhando, como ela era, do que gostava. Hora ele acertava, hora errava.

Suas notas caíram de forma alarmante, aponto de chamarem seus pais na coordenação pra conversar. Ele  até tentava se concentrar nos estudos, mas logo se perdia. De uma forma abobalhada ele sorria, olhava pra parede e imaginava como seria sua vida ao lado dela. Ter filhos, morar em um apartamento e ter um gatinho. Logo o que era bom e colorido, se tornava escuro e sem vida. Ele sabia que estava sonhando demais, que aquilo nunca aconteceria. Ela nem  sabe que ele existe, nem sabe que ele a ama.

Então, chegou  aquele dia. Na saída do colégio ele à viu montando na garupa de outro cara. Aquilo foi como um tiro no peito, um buraco enorme no coração. É claro! Ele sempre soube que não tinha chances, mais ainda assim, era doloroso ver tal cena.  Thiago começou a correr até o ponto de ônibus, suas pernas protestavam cansadas, mas aquela dor não se comparava com o que ele estava sentindo em seu peito.

Ao chegar em sua casa, correu até a lavanderia e pegou o balde de alumínio de sua mãe. Subiu até seu quarto e pegou todos os desenhos dela, picotou um por um. Tinha tomado uma decisão! Jamais amaria novamente. Pegou os papéis picotados e colocou dentro do balde, despejou álcool e tacou fogo. Thiago ficou horas trancado no quarto queimando os desenhos. Observava as chamas dançarem e chicotearem no vento.

— O cabelo dela… Será que é tão quente quanto essas chamas? – Perguntava-se.

Thiago ficou alguns minutos em silêncio, apenas sentindo o calor das chamas, e pensando naquela cena. Automaticamente ele leva a mão ao peito, as lembranças doíam. O telefone toca num barulho estrondoso.

— Alô?  – A voz de um homem soou no telefone.

— Sim? – Thiago respondeu.

— Você é o namorado da dona do celular? – Perguntou o homem.

— Provavelmente não meu senhor, deve estar acontecendo algum engano. – A voz de Thiago era triste.

— Estranho… Disquei na agenda o telefone de “Amor” e foi você quem atendeu. Que seja! Aqui é o Cabo Teixeira, a dona do celular, Liliana, sofreu um acidente. O seu irmão que estava pilotando morreu, mais ela, apesar de ter se ferido gravemente, ainda esta viva. Poderia avisar os familiares, para que possam imediatamente comparecer no hospital? – O policial tinha a voz séria.

— Cla…claro! – Thiago respondeu aos tropeços.

Cada palavra, cada vírgula dita por aquele policial parecia ser mentira. Liliana havia sofrido um acidente? E outra, ela o amava? Thiago não raciocinava direito, saiu correndo, tropeçando, derrubando, vasos quebrando. MEU DEUS! O que ele faria? Não conhecia a família da menina, como poderia avisá-los? Como ela tinha o seu número? Perguntas, perguntas, perguntas e, nenhuma resposta. Colocou as havaianas e pegou as suas economias, sem nem mesmo saber se o dinheiro ia dar, ele foi até o ponto. Tudo o que ele queria agora, era estar com ela. Ele queria sorrir, mas não podia. Que injustiça, descobrir que ela o ama bem no fim da sua vida. Sem saber o que fazer, Thiago saiu apenas com um nome em mente, “Liliana!”.

No hospital, Liliana estava entre a vida e a morte. Os médicos haviam falado à Thiago, que seu coração havia sido esmagado com o impacto da batida. Os pais de Liliana estavam a caminho, mas a menina precisava de um transplante urgente. O tempo era precioso.

— Doutor! Se possível, gostaria de doar o meu. – Thiago levantou a mão.

— Claro que não meu jovem! Você ainda tem uma vida inteira pela frente, se você fizer isso, irá morrer. – Respondeu o Doutor boquiaberto.

— Você não entende doutor, não há opções. Até os pais dela chegarem e vocês procurarem um doador, ela já poderá ter morrido. Eu sou o único pode salvá-la agora. – As palavras de Thiago saiam automaticamente.

— Não diga besteiras! Não desista de sua vida assim. – O médico era firme com sua palavra.

— Se ela morrer… eu me mato doutor. Esse coração já não bate mais por mim, e sim por ela. – Depois de ouvir Thiago, o médico ficou alguns segundos pensativo.

— Está bem! Vamos fazer os exames para ver se é compatível. – A voz do médico já não tinha emoção.

Depois de algumas consultas, foi descoberto que o coração de Thiago era compatível. O fim estava próximo. Ele observava da vitrine, a ruiva deitada na maca do hospital, um emaranhado de tubo e fios rodeavam a menina. “Você vai ficar bem.” Pensou. Logo o médico veio chama-lo para a sala de cirurgia. Thiago não estava assustado, mas aliviado, pois sabia que ela ia ficar bem. Que no fim, ela viveria. Ele entrou na sala com aquela roupa azul, mostrando parte de sua bunda e deitou na maca. O médico segurou sua mão.

— Você não precisa fazer isso! – Disse o homem de touca.

— Ei, doutor! Diga que eu a amei até o último segundo. – Thiago sorria.

A cirurgia começa. A tensão só aumenta. Nesses últimos meses, tudo o que ele fez foi amá-la. Ele começou a lembrar daquele vermelho. Tão quente. Tão formidável. Na sua mente só havia um nome, “Eu te amo Liliana! Eu te amo Liliana! Eu te amo Liliana! Eu te amo Li…” PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII…………..

Naquela mesma noite, passou no noticiário,  que uma casa não muito longe dali havia pegado fogo. Os bombeiros disseram que o fogo veio de um balde cheio de papéis e, no meio dos entulhos, foi encontrado um pedaço de papel queimado, um papel que trazia uma frase “Um dia eu ainda me caso com você!”

                         

                            Fim!


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Notas finais do capítulo

É isso aí pessoal, espero que tenham gostado =)



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