- Eu estava te esperando, Kouyou. – Ele me sorriu, enquanto abria espaço para eu entrar em seu apartamento, já sabendo o porquê da minha ida até lá.

Eu apenas sorri, grato a quem quer que fosse por ter me dado um amigo tão especial quanto o moreno, que me entendia e estava disposto a me dar conforto a qualquer hora, por qualquer motivo.

Eu entrei, tocando seu braço com carinho quando cruzei com seu corpo. E eu sabia que meus dedos estavam quentes, apesar do ar frio lá fora.

- Espero não estar atrapalhando, Yuu. – Eu disse, sincero, parando perto dele.

- Não seja idiota. – Ele me disse, com o sorriso mais lindo que tinha, um sorriso que eu sabia ser dedicado apenas aos amigos. – Eu sei como você se sente quando chove, e eu sei quem você me procura.

Me senti culpado por estar jogando nos ombros do mais velho toda aquela responsabilidade de me aturar, consolar, ouvir em dias como aqueles, quando eu me lembrava de coisas que ainda me machucavam.

- E eu fico muito feliz em poder ajudar um amigo, Kouyou. – Ele se aproximou, colocando seus dedos em meu ombro, carinhoso, apertando suavemente.

- Obrigado, Yuu. – Sorri, me deixando ser conduzido pelo outro até que estivéssemos no sofá, lado-a-lado.

E, durante aquela tarde chuvosa, mais uma entre muitas que já haviam acontecido, e muitas outras que provavelmente ainda iriam acontecer, Yuu me acolheu em sua casa, me tratando exatamente com o mesmo carinho que ele sempre dedicou a mim.

Ele havia me tratado daquele mesmo jeito da primeira vez que eu o tinha procurado. Havia me ouvido e secado minhas lágrimas, exatamente como um bom amigo, me mostrando que eu realmente podia contar com ele.

E novamente eu estava vivendo tudo aquilo, a cena que fazíamos na sala já não sendo mais novidade. E eu contei para ele toda a tristeza, a decepção e a amargura que aqueles dias chuvosos me traziam.

Yuu era o único que sabia que a chuva me lembrava tanto o dia que eu havia conhecido uma certa pessoa quanto dia que eu havia sido deixado por ela também.

Ele era o único que sabia o que aquele clima significava pra mim, porque foi o único amigo que eu deixei chegar tão perto assim de algum relacionamento meu.

Porque ele ela o único amigo que valia tanto, tinha tanto espaço em meu coração, que eu não queria que se afastasse em momento algum.

.x.x.x.

- Yuu, eu vou embora. – Disse, colocando um sorriso em meu rosto, feliz por ter dito tudo que eu precisava dizer pra me sentir melhor.

E a presença do moreno ali foi fundamental para que eu esquecesse toda aquela angústia e a dor de ser sido abandonado.

O abraço quente, as mãos gentis secando minhas lágrimas, me davam a certeza que ele não se importava em escutar aquela história a quantidade de vezes que me fizesse sentir melhor.

- Tem certeza que não quer ficar essa noite, Kouyou? – Ele me perguntou, apertando meu braço com gentileza, com sorriso simples e os olhos me cobrando suavemente.

Mas eu me sentiria culpado demais em fazê-lo me agüentar por mais tempo. Eu já estava satisfeito com o carinho que meu amigo demonstrou por mim durante todo aquele dia.

Nos despedimos, e eu marquei em minha memória o sorriso dele, que nunca mudava, apesar dos dias e dos anos.

Quando cheguei à calçada coberta, em frente ao prédio em que se encontrava a casa de Yuu, eu parei, me chutando internamente por ter esquecido o guarda-chuva mais cedo, quando havia ido até lá de táxi.

E eu fiquei mais do que apenas alguns momentos olhando para uma das lâmpadas na rua, vendo como as gotas da chuva passavam rapidamente na sua frente, sendo iluminadas.

Suspirei, pronto a começar meu caminho até minha casa, a pé.

Mas fui surpreendido por dedos gentis me segurando, me impedindo de entrar debaixo da chuva.

Virei, me deparando com os olhos gentis de Yuu e seu sorriso perfeito, um guarda-chuva na mão, já preparado para ser aberto sobre nossas cabeças.

- Como eu poderia te deixar ir pra casa sozinho, na chuva, de noite, Kouyou? – Ele me perguntou, maroto, abrindo o guarda-chuva e me puxando para andar ao seu lado.

Apenas bufei, rindo, adorando o jeito como ele parecia meu irmão mais velho em algumas horas. Encaixamos nossos braços e andamos, em silêncio, nossos corpos juntos por causa do vento frio que soprava contra nós.

Mas, apesar do tempo não muito favorável, meu corpo estava quente, eu estava satisfeito e feliz em ter alguém tão especial, tão amigo quanto o moreno sempre ao meu lado.

E eu ainda ficava fascinado com isso.

- Yuu, você vai ficar, certo? – Perguntei, pressionando-o com um olhar interrogador diretamente em seus olhos. – Eu não quero que você volte sozinho á essa hora, ainda mais nesse frio.

Ele me olhou, vasculhou meus olhos e eu não sei o que ele viu ali dentro, mas seu sorriso foi o mais brilhante que recebi naquele dia. Yuu apenas balançou a cabeça num sim.

Entramos no prédio, logo percorrendo o caminho até o elevador e, em poucos minutos estávamos entrando em meu apartamento.

Não trocamos mais nenhuma palavra, porque sabíamos que não precisávamos. Nossa amizade era forte demais, e simples olhares, às vezes, diziam muito mais do que as palavras diriam.

Nos livramos do excesso de roupa, e pouco tempo depois, ele estava instalado no quarto de hóspedes e eu na minha cama, sem conseguir dormir.

E aquela era a pior parte. A hora em que eu me encontrava sem ele, e a chuva ainda batia contra a janela do quarto, e todos aqueles pensamentos invadiam minha cabeça de novo.

E eu já não queria mais chorar, porém a angústia não era menor.

Nem vi quando Yuu havia entrado no quarto, mas eu senti a cama afundando ao meu lado e o cheiro característico dele me envolvendo o denunciou.

Me aconcheguei em seus braços, contra seu corpo, ainda meio confuso sobre todo aquele comportamento anormal de nossa parte. Mas eu não ousaria resistir quando meu amigo me oferecia todo o conforto que eu precisava naquela hora.

E o calor que emanava do seu corpo estava me afetando, esquentando gostosamente meu peito e eu podia realmente me sentir feliz por estar daquele jeito.

Mas eu me sentia feliz por estar com ele. Por serem seus braços a me envolver, por me sentir protegido por ele.

Por ser Yuu o único que conseguia me fazer sentir daquele jeito.