Quarta-feira quatro vezes escrita por Carcata


Capítulo 2
Quantos dedos eu estou mostrando?


Notas iniciais do capítulo

agradeço à deus e à minha motivação q eu meio q escrevi a fic inteira antes de começar a postar, pq confesso q as aulas mal começaram e já estou me afogando em lágrimas



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 [7:00 AM — QUA.]

 Que diabos? Quarta-feira? Não era para hoje ser quinta? Talvez estivesse quebrado. Huh.

 Foggy pensou em não ir ao escritório naquele dia, já que não iria mais trabalhar com um mentiroso desgraçado como Murdock, mas seus pensamentos foram até Karen, e decidiu que ela merecia uma explicação.

 Não que ele fosse confessar tudo sobre Matt para ela, entretanto ele gostaria de vê-la no escritório uma última vez.

 Vestiu um terno e no caminho pensou em ligar para a Funerária para perguntar se os preparativos para o enterro da Senhora Cardenas estavam prontos. Todavia quando ligou seu celular, o número do telefone da funerária não estava salvo, e a data do dia também estava errada.

 Estranho. Foggy deu de ombros e entrou no escritório, encontrando Karen.

 — Karen… — Ele mordeu o lábio ao ter que contar a má notícia.

 — Foggy! — Karen pulou e abriu um sorriso ao vê-lo. — Ah, a placa chegou hoje, como você disse! — Ela pegou uma caixa coberta com um papel marrom, e Foggy ficou tenso ao perceber que era, de fato, a maldita placa.

 Mil e uma perguntas começaram a rondar a cabeça de Nelson.

 — Mas... Matt já tinha desembrulhado, e eu—

 Eu joguei no lixo.

 — Foggy? Você está pálido, — Karen pareceu preocupada. — Está tudo bem?

 A situação ficou ainda pior e mais confusa quando Matt abriu a porta e entrou no escritório.

 Foggy começou a suar frio e fechou seus punhos com força.

 — Matt! — disse Karen, alegre. Matt retribuiu o sorriso, porém franziu o cenho segundos depois. Foggy ficou confuso no começo, mas então percebeu que Matt podia sentir seu desconforto.

 Droga. Batimentos cardíacos, certo.

 — Murdock. — Nelson nem tentou disfarçar o tom frio de sua voz.— Que diabos você tá fazendo aqui?

 Karen e Matt levantaram suas sobrancelhas em surpresa.

 — Eu... Uh, trabalho aqui. — O cretino respondeu fracamente. — Foggy, você está bem?

 — Não, seu idiota. Eu quis dizer o que você tá fazendo aqui, sendo que horas atrás você estava...

 Foggy hesitou, não querendo falar tudo com Karen presente no mesmo cômodo. Foggy tentou entender como era possível Matt andar com todas as feridas que tinha, sendo que ele não conseguia nem ficar em pé noite passada.

 E foi aí que uma ideia estúpida passou por sua mente. O alarme, a data do dia, a placa.

 — Q-Que dia é hoje? — perguntou com os olhos arregalados. — Hoje é quinta, né?

 Por favor, diga que hoje é quinta.

 — Não, hoje é quarta — Karen respondeu, pegando a mão de Foggy quando este percebeu que estava tremendo. — Foggy, você está doente ou coisa parecida?

 Um sonho, provavelmente tudo o que ele passou foi um sonho. É, faz sentido. Não é como se ele tivesse voltado no tempo, ou coisa parecida, isso é estúpido. Talvez isso tudo seja só um déjà vu.

 — É, eu só... — Foggy balançou a cabeça. — Só não dormi direito, é isso.

 Karen relaxou, mas Murdock continuou tenso.

 Se Foggy realmente tivesse voltado no tempo (o que não era verdade, simplesmente não), então a próxima coisa que aconteceria seria—

 O telefone tocou.

 Merda.

 Foi quando Nelson viu o corpo da senhora Cardenas mais uma vez que percebeu que aquilo não era um sonho, e nem um déjà vu. Ele tinha mesmo voltado no tempo.

 Ugh, nem mesmo Foggy tinha assistido episódios suficientes de Doctor Who para saber onde isso acabaria. Mas o que ele podia fazer para melhorar essa realidade? Claro, a noite anterior foi um inferno para Foggy, e ele ainda estava furioso com Matt, porém ele não tinha poder o suficiente para mudar o que aconteceria com Murdock aquela noite.

 Ou podia?

 Matt começou a ranger os dentes novamente, sua expressão irritada e propícia a fazer algo estúpido mostrando em seu rosto outra vez.

 Agora Foggy sabia o “algo estúpido” que Murdock foi fazer naquela noite. Maldito. Tantos segredos que Matt escondia, e nunca nem pensou em contar para o seu melhor amigo.

 “Mundo em chamas”? Estranho, mas aceitável.

 “Diabo de Hell’s Kitchen”? Preocupante, mas ele podia lidar com aquilo.

 Mas, filho da puta, batimentos cardíacos, que porra

 (Foggy ainda estava meio indignado com toda a situação de “Posso ouvir seus batimentos cardíacos”).

 — Quantos dedos eu estou mostrando? — Foggy levantou seu dedo do meio na direção de Murdock, que apenas elevou uma sobrancelha em questionamento. Eles estavam no bar, e Karen tinha saído para ir ao banheiro, então ambos estavam sozinhos agora.

 Nelson ainda estava bem puto com o que tinha acontecido. E agora também estava bêbado. Má combinação.

 — Não sei, Foggy — Matt respondeu nervosamente, dando uma risada fraca. — Você sabe que eu não consigo—

 — Mentiroso — murmurou ele, obviamente chateado. — Mesmo quando eu já sei de tudo, você ainda não confia em mim.

 Foggy bebeu todo o líquido do seu copo e o encarou.

 — Eu vou perguntar mais uma vez, e se você não acertar, eu juro que eu vou para o seu apartamento e rasgo aquele pijama preto que você veste quando vai bater as pessoas na rua.

 Matt congelou, ficando pálido e boquiaberto. Foggy levantou seu dedo do meio novamente.

 — Quantos dedos eu estou mostrando?

  Depois de um tempo, Matt pigarreou e balançou a cabeça em sinal de negação.

 — Foggy, eu não sei do que você tá falando, você sabe que eu não posso ver.

 Mais furioso do que antes, Foggy pegou a garrafa à sua frente e começou a beber.

 Karen voltou logo em seguida e Murdock se retirou do bar, levando Foggy consigo.

 — Como você sabe? — O moreno indagou quando os dois estavam longe o suficiente para não serem ouvidos por ninguém.

 — Só um palpite — Foggy deu de ombros, raiva crescendo em seu peito.

 — Foggy.

 — Eu sei o que você está pensando em fazer, Murdock — Ele cutucou o ombro do outro em uma posição desafiadora. — Se você for enfrentar alguém hoje, é bom você... Você...

 Ah, que se foda.

 — É bom você levar uma surra e voltar correndo para o seu apartamento, e morrer sozinho no chão da sua cozinha — Foggy cuspiu as palavras como se fossem veneno, e depois arregalou os olhos.

 Oh.

 Ele não pretendia falar algo tão forte assim.

 Olhou para Matt, e ele estava completamente quebrado, tentando falar alguma coisa, porém parecia que não conseguia achar sua voz. Em seguida mordeu os lábios, claramente magoado.

 Oh, merda.

 — Matt, me desculpa — Foggy começou. — Não quis falar essas coisas. Sinto mui—

 — Não, você quis — sussurrou o outro, a voz trêmula. — Seu coração não mentiu quando você falou.

 (Batimentos cardíacos, que porra—) Ah, é verdade. Foggy sempre se esquecia desse detalhe.

 Murdock deu uma risada sarcástica — Foggy achou isso o pior som do mundo — e passou uma mão pelos cabelos.

 Segundos depois, Matt ajeitou seu terno e saiu rapidamente, e nem mesmo a voz frenética de Foggy atrás dele o fez parar.

 Murdock não atendia o telefone,

 (— É isso o que você faz quando nós queremos falar com você? — Foggy perguntou, cansado, com o celular de Matt nas mãos. — Quando te convidamos para beber, ou quando explosões estão acontecendo, e estamos preocupados? — Ele desligou o aparelho. — Você só clica em “Ignorar”?

 Matt desviou o olhar) e Foggy tinha uma noção de onde ele estava. O que não era coisa boa.

 Sem saber o que fazer, Nelson foi ao apartamento do amigo — nem sabia se ainda o considerava um amigo —, esperando pelo pior.

 O pior veio, três horas depois, e com vários cortes e machucados, sangrando no chão da cozinha até não poder mais ficar em pé.

 — Jesus, Matt... — Foggy murmurou, e o segurou antes que o idiota caísse no chão da cozinha.

 — Hospital, não. C-Claire — O outro sussurrou, e pegou um celular do bolso. — Claire.

 Foggy rolou os olhos.

 — Então, você é o Foggy — Claire anunciou depois de ter limpado a última ferida.

 Foggy entregou a agulha antes que ela pudesse continuar, e ela só arqueou uma sobrancelha em surpresa.

 — Matt falou sobre mim? Estou lisonjeado — Ele teve que morder sua língua para não fazer mais comentários estúpidos que nem da última vez.

 — E deveria estar, mesmo. Quando ele fala algo de sua vida pessoal, esse idiota só fala de você.

 Foggy não soube o que responder. Decidiu ficar assistindo à enfermeira fazer os pontos e os retoques finais no último corte de Matt.

 — Bom, ele vai viver — Ela começou.

 — Eu fico com ele.

 Claire o encarou, depois suspirou.

 — Olha, eu sei que você está chateado, e tem todo o direito de estar, — Foggy tentou de tudo para não rolar os olhos outra vez. — Mas espere um pouco até ele acordar, e tenho certeza de que ele vai explicar tudo.

 Ela colocou a mão em seu ombro, e dessa vez Foggy afastou-se do toque.

 — Vou manter isso em mente — respondeu rispidamente, ainda magoado pelo fato de que Matt confiou um total estranho com o seu segredo ao invés de seu melhor amigo.

 Claire assentiu, sentindo a tensão entre os dois crescer. Foggy pegou uma garrafa da geladeira depois que a enfermeira se retirou do apartamento.

 — O quê eu vou fazer com você, Murdock...? — suspirou ao sentar-se em uma poltrona ao lado de Matt. Este começou a gemer de dor ao recuperar a consciência.

 — Foggy? — Matt fez uma careta ao identificar quem estava na sala. — O que está fazendo aqui?

 — Resgatando a sua bunda outra vez — Ele resumiu, dando um gole da cerveja. Não importa quantas vezes ele teria de voltar no tempo e fazer isso, nunca ficava mais fácil ver Matt todo quebrado daquele jeito.

 — Foggy, me desculp—

 — Salve sua voz, amigo — Foggy parou, pensativo, e depois levantou seu dedo do meio para Matt. — Quantos dedos eu estou mostrando?

 Matt fechou os olhos, aceitando sua derrota.

 — Um.

 — Filho da puta... — murmurou, estreitando os olhos. — Agora você fala a verdade, né?

 Aquilo deve ter tido algum efeito em Matt, porque a próxima coisa que Foggy ouviu foi o moreno gaguejando algumas palavras quebradas e depois soluços lamentáveis.

 Foggy congelou, não sabendo o que dizer enquanto escutava Matt chorar.

 — D-Des-Desculp— Fog... Foggy... — Lágrimas saíam de seus olhos, e por mais que tentasse, Murdock não conseguia controlar seus soluços.

 A cena continuou por mais alguns minutos até Matthew estremecer e um de seus pontos abrirem.

 — Woah, woah! — Foggy estava ao seu lado num piscar de olhos. — Calma, Matt. Você tá abrindo as suas feridas.

 Ele colocou uma mão no ombro de Murdock para acalmá-lo, e este pegou a manga da camisa de Foggy e a apertou com força. Foggy tentou se levantar, com medo de que Matt não o quisesse ali, mas o aperto permaneceu firme, e ele notou que Matt não largaria por nada nesse mundo.

 — Oh, Matt... — A voz deplorada de Nelson causou outro soluço quebrado de Murdock.

 Eles ficaram naquela posição por algumas horas até Matthew cair no sono. Foggy saiu do apartamento e adentrou o escritório. A placa estava na mesa de Karen, ainda embrulhada cuidadosamente.

 Matt nem teve a chance de vê-la dessa vez, e Foggy não tinha certeza se ainda tinha coragem de jogá-la no lixo.

 Sem saber o que fazer, deu meia volta e foi para casa.

 — Shot through the heart, and you’re to blame!

 Foggy colocou o travesseiro em cima da sua cabeça, tampando seus ouvidos.

 — Darling, you give love a bad name!

  Bon Jovi filho da mãe.  Ele desligou o alarme antes que o maldito solo de guitarra começasse, e olhou o horário.

 [7:00 AM — QUA.]

 Foggy começou a chorar.


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Notas finais do capítulo

gente, comentar não demora nem 2 min e faz o meu dia ;u;
please??