A Culpa - Parte Ii escrita por Mara S


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo.



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Era uma sensação estranha sentir-se vazia. Fraca e tola como uma humana. Repleta de amargura e remorso. Não havia mais motivos para continuar aquilo, pensei enquanto olhava a manhã fria de outono nascer.

 

Havia coisas que precisava fazer, coisas que não me perdoaria caso deixasse para trás e que me perseguiriam caso houvesse algo depois da morte.

Só esperava saber como estava meu bebê e olhá-lo mais uma última vez.

 

Fechei o diário repleto com todos meus sentimentos mais íntimos e que tentei expulsar de meu coração com o decorrer dos anos. No final, fora em vão. Contudo, não podia deixar minha memória desaparecer daquela forma. Coloquei-o sob meu casaco e sai de casa uma última vez.

 

Cinco anos haviam se passado desde o nascimento de meu filho e foram longos anos de solidão, mas tudo terminaria hoje.

 

Lá estava o orfanato de Fortuna. Imponente e antigo. Havia um bonito jardim em seus fundos e era lá que eu espreitava, sobre uma árvore, pequenas crianças brincarem, outras sozinhas sentadas no gramado com o olhar de tristeza e desânimo. Não foi difícil encontrar a única criança com cabelos brancos e olhos azuis. Ele estava isolado das demais e brincava com uma lesma no chão de terra. A criança estava próxima o suficiente de mim, mas não ousei me aproximar ou chamar sua atenção, contudo ele olhou em minha direção o que me fez estremecer. O pequeno garoto levantou-se do chão e caminhou até perto do muro, onde a árvore em que estava era próxima. Ele não me viria, mas mesmo assim não podia correr o risco, apesar de desejar tanto dizer que o amava.

Apenas o olhei pela última vez e desci da árvore com um pulo.

Espero que sua sorte seja melhor que a minha.

 

Havia mais uma pessoa que gostaria de rever. A pessoa que mais se assemelhava a um irmão e que há mais de cinco anos não via.

 

Bati na porta da loja Devil May Cry e esperei vários minutos até ouvir passos. Uma jovem de cabelos escuros e olhos de diferentes cores atendeu. Não a conhecia e ela me olhou intrigada, esperando que dissesse algo.

- Dante, por favor.

Ela olhou para trás e disse entediada:

- Entre.

Assim que entrei, Dante que estava em sua mesa, como de costume, me olhou com um misto de raiva e surpresa e falou:

- Taria? Por que decidiu me visitar?

- Eu quero falar com você.

- Claro... – levantou-se e caminhou em minha direção. – Lady, pode me deixar sozinho, por favor? – pediu calmamente para a jovem que concordou com a cabeça e saiu pela porta da frente na mesma hora.

- O que aconteceu? – Dante perguntou sem cerimônias.

- Eu queria te entregar algo – fale tirando do casaco meu diário.

Assim que dei em suas mãos, continuei:

- Por favor, não me julgue ao ler isso.

- Por que está me entregando isso?

- Uma forma para pedir perdão, talvez.

Dante perdeu o olhar irritado e disse sem esconder sua preocupação:

- Você está tão diferente. Até seu olhar mudou... Taria, pare de sofrer, por favor.

- Dante, você não sabe muita coisa. Eu tenho meus motivos para estar assim, mas acho que entenderá o que eu digo.

Caminhei na direção da porta e disse antes de sair:

- Adeus, Dante.

- Você não pode simplesmente ir embora. Não depois de tudo o que aconteceu! Olhe só para você! Não pode ficar sozinha! Vai acabar cometendo uma loucura!

Ele caminhou até a porta, mas eu o impedi. Sabia que Dante teria essa reação, mas não podia deixá-lo argumentar, porque sabia que aquilo seria apenas pior para nós dois.

- Não, Dante. Não se desgaste com isso. Eu só queria dizer que você foi como um irmão para mim.

- Se você gostasse assim de mim não iria embora desse jeito.

- Boa sorte caçando demônios. Você sempre foi muito bom nisso.

Dei um sorriso tímido e desci as escadas. Dante ainda estava parado na porta, mas ele não conseguiu me seguir. Acreditava que, em seu íntimo, ele sabia que seria inútil.

Eu vou sentir sua falta, mestiço...

 

Voltei para minha mansão e subi as escadas lentamente até a biblioteca. Despedi-me daquele lugar cheio de lembranças, nem todas agradáveis, e sentei-me no divã. Havia uma pequena mesa ao meu lado e de lá peguei um pequeno frasco translúcido; apenas um veneno presente no diário de Vergil que havia encontrado. Bebi seu conteúdo e derrubei o frasco já vazio no chão. Deitei-me e olhei o dia de outono que se arrastava do outro lado. Finalmente não seria mais necessário sentir o tempo correr lentamente enquanto continuava tentando viver uma vida normal.

 

Sentia meus olhos pesarem. Iria me despedir de um mundo que não via mais lógica. Seria fraqueza aquele ato?

Se me perguntassem anos atrás, eu diria que apenas almas fracas buscavam o suicídio. Eu não estava errada naqueles tempos. Hoje, eu era uma alma fraca, uma mera lembrança do que eu era antes.

 

Era estranho despedir-se do mundo daquela maneira.

 

Não muito longe dali, sabia que Dante lia o conteúdo do diário. Ele entenderia, mais que ninguém, como era sentir-se isolada.

 

Senti meu coração perder o ritmo. Suspirei profundamente e percebi que havia lágrimas em meus olhos. Era o fim.

 

Limpei as lágrimas de minha humanidade e fechei os olhos finalmente.

 

FIM


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Notas finais do capítulo

É, "A Culpa" chegou ao final. Um final triste, mas acho que inevitável. Tentei encontrar outra solução para a Taria, mas ela era uma alma desesperada. Acho que era humana demais e por isso sofreu tanto assim com as perdas que teve.

Espero que tenham gostado da fanfic, até mesmo do final suicida.
Foi um prazer escrever essa fic e também fiquei chateada com o final que tive que dar para a Taria, afinal eu gostava muito dela e não é legal matar suas criaçõee favoritas. Mas foi necessário.

Obrigado por terem acompanhado.



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