20 Primaveras escrita por Thayná Soares


Capítulo 42
Eles não sabem o que dizem


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Prontos para mais uma capítulo?



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Uma semana depois....

Acabei de chegar ao escritório depois de ter pisado em uma poça de lama e ter caído na escadinha enquanto entrava no ônibus. Acho que já deve ter dado para perceber que hoje não acordei com o pé direito né? Parece que hoje tenho exatos dois pés esquerdos... mas já fiz minha respiração e minha contagem até 1.000.000 para ver se me acalmo e não solto um xingamento.

— Esses foram os papéis que você preencheu, certo? – questionou Marta me olhando por sobre os óculos.

Ai, não! Só falta essa agora, escutar reclamações do chefe e da secretária. Eu juro que fiz tudo certinho!

— Sim... por que algum erro? Se houver eu conserto sem problemas, é rapidinho... olha já estou até com a caneta em mãos. – disse desesperada e sem pausar.

— Calma! – alertou Marta.

Eu  a olhei sem entender. Ué, ela não ia me repreender?

— Você não fez nada de errado, pelo contrário.

— Pelo contrário?

— Sim! Ficou tudo muito bem feito e vi que até fez umas observações me alertando que haviam algumas coisas com informações erradas. Muito obrigada por revisar e perceber os erros, caso mandasse esses documentos dessa forma para o senhor André, teria que ouvir reclamações até 2050. – disse divertida e sorrindo um pouco.

Eu a acompanhei no riso e aliviei meus ombros e fiquei feliz. Pela primeira vez ela me elogiou, e outra, pela primeira vez ela sorriu.

Ela parou de sorrir e voltou ao trabalho. Sentia que ela me olhava de vez em quando, como se quisesse perguntar alguma coisa.

— Você faz faculdade? – perguntou.

Não falei?

— Sim, eu curso Letras. – respondi sorrindo.

— Era o que eu queria fazer quando nova. Mas meus pais e meu irmão interferiram tanto que eu acabei desistindo. Queria muito ter sido uma educadora, ver que eu influenciava de forma positiva na educação de alguém. – respondeu.

Percebi a chateação em sua voz.

— Pretende exercer qual ramo da profissão?

— Nenhum.

Ela me olhou assustada.

— Como assim?

— Eu faço Letras, mas gosto mesmo é de arte. Pintura, desenhos, designer de projetos, coisas desse tipo.

Marta me olhou e deitou o pescoço.

— E não faz o que quer porque se deixa levar pelo o que os outros dizem, certo? – perguntou tirando os óculos e me olhando.

— Talvez. – respondi envergonhada.

— Menina, apenas quem deixa de seguir o próprio sonho é quem sente a frustração de não ter conseguido realizá-lo. Essas pessoas que dizem que não é o melhor para a gente, nada sentirão. É você, deitada na sua cama, no fim do dia de um trabalho onde você não sente prazer em fazê-lo, que vai derramar as lágrimas mais quentes que poderiam escorrer na sua face.

Marta falava com o olhar perdido, como se pudesse ver diante dos seus olhos toda a dor que me descrevia.

— Mas eu não pretendo deixar o que amo. A arte me acompanha mesmo que eu esteja ocupada demais para lhe dar atenção. Eu tenho um quarto no meu apartamento onde coleciono telas pintadas por mim, rascunhos de desenhos e designers para projetos que nem existem.  E em alguns cadernos, rascunhos de algumas escritas.

Disse e sorri lembrando. Ela, por sua vez, sorriu timidamente.

— Está mais que certa. Por mais que te digam que não é capaz, saiba que eles não sabem o que dizem. Você é capaz sim!

De maneira alguma pensei que nessa pessoa amargurada existisse um lado acolhedor e incentivador. Se ela tem tanto conhecimento dessas coisas, por que então, é tão infeliz?

O trabalho correu normalmente, nenhuma novidade acontecia, Marta não disse uma só palavra. Parecia ser instável e só conversava quando tinha vontade, se tivesse perguntando tudo o que queria, morria por ali o assunto. Senhor André não saía daquela sala por nada, era tão estranho, não sei se ele tinha família, o que o levava a ficar enfornado naquela sala o tempo inteiro. Parece que tinha o desejo que o trabalho preenche-se algo que lhe faltasse.

Olha eu mais uma vez, construindo histórias mentalmente sobre a vida dos outros. Parei de olhar para aquela porta e finalizei esses pensamentos, quando vi que Marta reunia seus objetos e se arrumava para ir embora. Fiz o mesmo e saímos juntas, mas sem dizer uma só palavra uma para a outra.

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Estava tirando a chave de dentro da bolsa, quando percebo que a porta está entre aberta.

Escuto alguém pigarreando e uma música calma começa a tocar. Soltei um sorriso imaginando quem poderia ser. O pigarreado eu conhecia, era Letícia. E o dito cujo que estava lá dentro armando alguma coisa só poderia ser o homem mais fantástico do universo: o meu Gui.

Abri a porta e tudo estava escuro. Na cozinha era possível ver apenas algumas velas e um cheiro maravilhoso de comida.

— Bom, como eu sempre digo: já vou indo para deixar o casal em paz. – disse Letícia.

Me deu um beijo na bochecha e saiu do apartamento.

 - Ele tá um gato! – cochichou no meu ouvido e apontou para a cozinha. – Aproveita! – deu um tapa no meu ombro.

Fechou a porta bem devagar e antes de sair piscou para mim. Letícia sendo Letícia era assim mesmo.

Eu estava colocando minha bolsa no sofá para ir até a cozinha quando, ainda de costas, Guilherme me surpreende.

— É aqui que reside a mulher mais linda e encantadora do planeta? – disse com a voz baixa e rouca.

Eu levantei a cabeça ainda sem me virar  e dei um sorriso. Era só ouvi-lo falar que parecia que a tristeza fazia as malas e ia embora.

Ao me virar, avistei um Guilherme de terno e gravata, ele estava o homem mais lindo do mundo, ou como Letícia disse: um gato!

— O que o nobre galante faz em minha casa e com essas vestes? – entrei na brincadeira.

Fui me aproximando dele e ele sorria timidamente e em momento algum tirava os olhos de mim.

— Como você está, meu amor? – perguntou com a voz baixa quando chegou perto.

Me deu um beijo calmo nos lábios.

— Eu estava meio triste e cansada até aquela porta. Após entrar foi como se tivessem feito uma varredura nas minhas angustias e tudo ficasse melhor. – disse e acariciei seu rosto.

— Já disse que você vai suportar tudo isso, linda. Por que não coloca todas as suas emoções nos papeis e telas? Tens um talento incrível! Coloque cor em todas essas emoções cinzas que anda percebendo nos outros. Transforme em arte tudo o que sentir.

Aconselhou-me. Eu já havia tido essa ideia, mas fiquei com receio: será que deveria desenhar, fazer ganhar vida, o que eu via de obscuro nas pessoas?

— Arte não é simplesmente você retratar o que é belo. Mas o bom artista é aquele que consegue fazer tudo virar arte e ser admirado como tal. Seja a sua obra refletindo o que é bom, ou não.

— Você abduziu meu namorado, foi? – brinquei com ele.

— Claro que não. Mas posso te contar que andei estudando sobre esse meio artístico que tanto te fascina.

Olhei-o.

— Que foi? Eu quero ser além do seu namorado. Quero ser aquele para o qual você possa falar de suas preferências e receber uma resposta a altura, aquela pessoa que ao você lembrar que te espera em casa, sorrir. Quero ser seu motivo, sua âncora, parte da sua vida, sua cor preferida. Serei seu amigo, companheiro, comparsa – sorriu ao dizer – quero ser tudo o que você precisa e procura, em apenas uma pessoa. Você é valiosa demais para eu por burrice, perder. – confessou.

Meus olhos já estavam marejados e eu apenas o abracei, de uma forma que ele sentisse, que meu coração fazia o possível para sempre, ir de encontro com o dele.


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Notas finais do capítulo

Rebecca e Gui mais uma vez sendo o casal mais amor do mundo!
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários!

Beijos!!!



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