20 Primaveras escrita por Thayná Soares
Notas iniciais do capítulo
Hey!
Prontos para mais uma capítulo?
Uma semana depois....
Acabei de chegar ao escritório depois de ter pisado em uma poça de lama e ter caído na escadinha enquanto entrava no ônibus. Acho que já deve ter dado para perceber que hoje não acordei com o pé direito né? Parece que hoje tenho exatos dois pés esquerdos... mas já fiz minha respiração e minha contagem até 1.000.000 para ver se me acalmo e não solto um xingamento.
— Esses foram os papéis que você preencheu, certo? – questionou Marta me olhando por sobre os óculos.
Ai, não! Só falta essa agora, escutar reclamações do chefe e da secretária. Eu juro que fiz tudo certinho!
— Sim... por que algum erro? Se houver eu conserto sem problemas, é rapidinho... olha já estou até com a caneta em mãos. – disse desesperada e sem pausar.
— Calma! – alertou Marta.
Eu a olhei sem entender. Ué, ela não ia me repreender?
— Você não fez nada de errado, pelo contrário.
— Pelo contrário?
— Sim! Ficou tudo muito bem feito e vi que até fez umas observações me alertando que haviam algumas coisas com informações erradas. Muito obrigada por revisar e perceber os erros, caso mandasse esses documentos dessa forma para o senhor André, teria que ouvir reclamações até 2050. – disse divertida e sorrindo um pouco.
Eu a acompanhei no riso e aliviei meus ombros e fiquei feliz. Pela primeira vez ela me elogiou, e outra, pela primeira vez ela sorriu.
Ela parou de sorrir e voltou ao trabalho. Sentia que ela me olhava de vez em quando, como se quisesse perguntar alguma coisa.
— Você faz faculdade? – perguntou.
Não falei?
— Sim, eu curso Letras. – respondi sorrindo.
— Era o que eu queria fazer quando nova. Mas meus pais e meu irmão interferiram tanto que eu acabei desistindo. Queria muito ter sido uma educadora, ver que eu influenciava de forma positiva na educação de alguém. – respondeu.
Percebi a chateação em sua voz.
— Pretende exercer qual ramo da profissão?
— Nenhum.
Ela me olhou assustada.
— Como assim?
— Eu faço Letras, mas gosto mesmo é de arte. Pintura, desenhos, designer de projetos, coisas desse tipo.
Marta me olhou e deitou o pescoço.
— E não faz o que quer porque se deixa levar pelo o que os outros dizem, certo? – perguntou tirando os óculos e me olhando.
— Talvez. – respondi envergonhada.
— Menina, apenas quem deixa de seguir o próprio sonho é quem sente a frustração de não ter conseguido realizá-lo. Essas pessoas que dizem que não é o melhor para a gente, nada sentirão. É você, deitada na sua cama, no fim do dia de um trabalho onde você não sente prazer em fazê-lo, que vai derramar as lágrimas mais quentes que poderiam escorrer na sua face.
Marta falava com o olhar perdido, como se pudesse ver diante dos seus olhos toda a dor que me descrevia.
— Mas eu não pretendo deixar o que amo. A arte me acompanha mesmo que eu esteja ocupada demais para lhe dar atenção. Eu tenho um quarto no meu apartamento onde coleciono telas pintadas por mim, rascunhos de desenhos e designers para projetos que nem existem. E em alguns cadernos, rascunhos de algumas escritas.
Disse e sorri lembrando. Ela, por sua vez, sorriu timidamente.
— Está mais que certa. Por mais que te digam que não é capaz, saiba que eles não sabem o que dizem. Você é capaz sim!
De maneira alguma pensei que nessa pessoa amargurada existisse um lado acolhedor e incentivador. Se ela tem tanto conhecimento dessas coisas, por que então, é tão infeliz?
O trabalho correu normalmente, nenhuma novidade acontecia, Marta não disse uma só palavra. Parecia ser instável e só conversava quando tinha vontade, se tivesse perguntando tudo o que queria, morria por ali o assunto. Senhor André não saía daquela sala por nada, era tão estranho, não sei se ele tinha família, o que o levava a ficar enfornado naquela sala o tempo inteiro. Parece que tinha o desejo que o trabalho preenche-se algo que lhe faltasse.
Olha eu mais uma vez, construindo histórias mentalmente sobre a vida dos outros. Parei de olhar para aquela porta e finalizei esses pensamentos, quando vi que Marta reunia seus objetos e se arrumava para ir embora. Fiz o mesmo e saímos juntas, mas sem dizer uma só palavra uma para a outra.
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Estava tirando a chave de dentro da bolsa, quando percebo que a porta está entre aberta.
Escuto alguém pigarreando e uma música calma começa a tocar. Soltei um sorriso imaginando quem poderia ser. O pigarreado eu conhecia, era Letícia. E o dito cujo que estava lá dentro armando alguma coisa só poderia ser o homem mais fantástico do universo: o meu Gui.
Abri a porta e tudo estava escuro. Na cozinha era possível ver apenas algumas velas e um cheiro maravilhoso de comida.
— Bom, como eu sempre digo: já vou indo para deixar o casal em paz. – disse Letícia.
Me deu um beijo na bochecha e saiu do apartamento.
- Ele tá um gato! – cochichou no meu ouvido e apontou para a cozinha. – Aproveita! – deu um tapa no meu ombro.
Fechou a porta bem devagar e antes de sair piscou para mim. Letícia sendo Letícia era assim mesmo.
Eu estava colocando minha bolsa no sofá para ir até a cozinha quando, ainda de costas, Guilherme me surpreende.
— É aqui que reside a mulher mais linda e encantadora do planeta? – disse com a voz baixa e rouca.
Eu levantei a cabeça ainda sem me virar e dei um sorriso. Era só ouvi-lo falar que parecia que a tristeza fazia as malas e ia embora.
Ao me virar, avistei um Guilherme de terno e gravata, ele estava o homem mais lindo do mundo, ou como Letícia disse: um gato!
— O que o nobre galante faz em minha casa e com essas vestes? – entrei na brincadeira.
Fui me aproximando dele e ele sorria timidamente e em momento algum tirava os olhos de mim.
— Como você está, meu amor? – perguntou com a voz baixa quando chegou perto.
Me deu um beijo calmo nos lábios.
— Eu estava meio triste e cansada até aquela porta. Após entrar foi como se tivessem feito uma varredura nas minhas angustias e tudo ficasse melhor. – disse e acariciei seu rosto.
— Já disse que você vai suportar tudo isso, linda. Por que não coloca todas as suas emoções nos papeis e telas? Tens um talento incrível! Coloque cor em todas essas emoções cinzas que anda percebendo nos outros. Transforme em arte tudo o que sentir.
Aconselhou-me. Eu já havia tido essa ideia, mas fiquei com receio: será que deveria desenhar, fazer ganhar vida, o que eu via de obscuro nas pessoas?
— Arte não é simplesmente você retratar o que é belo. Mas o bom artista é aquele que consegue fazer tudo virar arte e ser admirado como tal. Seja a sua obra refletindo o que é bom, ou não.
— Você abduziu meu namorado, foi? – brinquei com ele.
— Claro que não. Mas posso te contar que andei estudando sobre esse meio artístico que tanto te fascina.
Olhei-o.
— Que foi? Eu quero ser além do seu namorado. Quero ser aquele para o qual você possa falar de suas preferências e receber uma resposta a altura, aquela pessoa que ao você lembrar que te espera em casa, sorrir. Quero ser seu motivo, sua âncora, parte da sua vida, sua cor preferida. Serei seu amigo, companheiro, comparsa – sorriu ao dizer – quero ser tudo o que você precisa e procura, em apenas uma pessoa. Você é valiosa demais para eu por burrice, perder. – confessou.
Meus olhos já estavam marejados e eu apenas o abracei, de uma forma que ele sentisse, que meu coração fazia o possível para sempre, ir de encontro com o dele.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Rebecca e Gui mais uma vez sendo o casal mais amor do mundo!
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários!
Beijos!!!