Filha da Eternidade - Parte III escrita por NandaHerades


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês, espero que gostem!



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Saraí

Olhei para Irriel por alguns segundos e por um momento percebi que nosso tempo havia acabado. Eu estava entregue aos demônios, meus braços lutavam para se soltar, em vão. Fui arrastada o suficiente para ter meus tênis manchados de sujeira de asfalto e minha calça rasgada na perna esquerda. Os demônios não eram gentis, eles puxavam meu cabelo e torciam meu braço sem piedade, a cada minuto que passava mais dor eu sentia. Não apenas dor física, no fundo eu sabia que meu destino estava sendo traçado aos poucos, a única certeza que eu poderia ter era de que nada seria bom para mim.

O transporte com os demônios é algo assustador, porque não havia calmaria. Eles não eram leves e preocupados com minha segurança, estavam me transportando como uma carga indesejada. Meu corpo estava pendurado, sem um piso para se apoiar. Eles me seguravam pelas axilas, enquanto íamos para um lugar desconhecido por mim. Por causa dessa posição desconfortável eu gritava sem fôlego e mesmo que dissessem que passei apenas trinta segundos no transporte, eu diria que a sensação era de que uma hora havia se passado. Eu poderia jurar que estava caindo em uma dimensão alternativa. Merl me dissera a algum tempo que muitos anjos se perdiam no transporte... Onde eles estavam? Se eu caísse ali, para onde iria? Aqueles eram os trinta segundos mais longos de minha existência!

Fui jogada no chão de cimento, as pedrinhas do piso machucaram a pele de meu braço. Os demônios estavam de pé a minha frente, eles sorriam com um ar vitorioso, que me deixava irritada e com medo, tudo ao mesmo tempo. Tentei levantar, mas um deles pisou em minha cabeça. Desgraçado! Sua bota de couro apertava meu crânio sem piedade, o outro demônio ria como uma hiena. Minha cabeça poderia explodir com a pressão da bota. Fechei os olhos e me concentrei em algo melhor do que a dor.

O último mês não estava sendo o melhor da minha vida. Depois que Lukiel tomara o poder eu estava mais livre, mas ainda sentia falta de Merl. A cada sonho eu via seu rosto e me lembrava, exatamente, de seus olhos vidrados depois da morte. Ela olhava para o teto do Salão de Shamayim, mas eu poderia jurar que era para mim. Só de pensar nisso me sentia mais assustada do que ter uma bota esmagando meu cérebro. Além disso, passara o último mês sem ver Irriel. Eu não poderia ir a Eretz e ele não poderia ir a Shamayim, pois mesmo com os Caídos do nosso lado, os anjos rejeitavam Irriel, como vampiro a alho. É verdade que os anjos caídos estavam sendo de grande serventia, eles atacam esconderijos dos demônios em Eretz e nos avisavam de emboscadas. Lukiel, o Chefe dos Anjos, conseguia trabalhar bem com Arghaus. Contudo, alguns anjos não se sentiam confortáveis com os Caídos.

O demônio retirara a bota de minha cabeça. Eu começava a sentir uma dor de cabeça causada pela pressão. Os dois demônios que me sequestraram me arrastaram para a parede e me prenderam a correntes grossas demais para mim. Depois passaram a mão por todo meu corpo e encontraram meu punhal, o mesmo que Irriel me dera em nosso primeiro treinamento na praia. Eles saíram da sala escura e me deixaram trancada.

Eu sentia o sangue escorrer do meu nariz. Estava dormindo, mas acordei quando não conseguia mais respirar. Passei a mão pelo nariz e limpei o máximo que pude. Ainda estava sozinha na sala, tinha a impressão que já havia amanhecido. As correntes impediam que eu me virasse ou ficasse de pé, por isso minhas pernas estavam formigando por causa da falta de circulação. E meus braços estavam cobertos de arranhões causados pelo piso de cimento daquela sala.

Ouvi a porta sendo destrancada. A luz repentina me deixou cega por alguns segundos. Vi a silhueta de um homem chegar perto de mim. Ele parou em minha frente e depois me deu um chute na barriga. Contorci-me, ser imortal não me impedia de sentir dor.

O demônio abaixou-se e soltou as correntes. Depois me arrastou para fora da sala sem delicadeza, ou seja, meus braços continuaram a ser lixados contra o cimento. Percebi que eu estava em uma espécie de masmorra. Havia umas vinte celas, mas a maioria estava vazia. Apenas duas estavam ocupadas, mas não vi por quem, ser arrastada não favorecia minha visão. Continuei meu tour por uns três minutos, até outra sala. Eu a chamaria de a sala do interrogatório.

Uma mesa de madeira estava no meio e em cada lado havia uma cadeira pequena de metal, exatamente como nas cadeias de seriados. Fui colocada em uma cadeira e tive meus braços e pernas amarrados em correntes que estavam grudadas na parede, tudo isso para que eu não me transportasse. Meu nariz voltara a escorrer sangue, mas minhas mãos não estavam acessíveis, tive que esfregar meu rosto no meu ombro, sujando minha camisa de sangue.

Minutos depois outro demônio entrou. Ele não sorria, não expressava nada. Seu olhar era assustador, mas não parecia que iria me matar. Ele sentou na cadeira em minha frente e colocou as duas mãos juntas sobre a mesa.

— Prazer em conhece-la — ele disse sem sarcasmo na voz, o que me deixou intrigada — Sou Marshel.

Não falei nada. Não sabia o que dizer, na certa Marshel estava lá para tirar informações de mim e isso era tudo que eu não faria.

— A Salvadora — ele falou alegre — Saraí, a Salvadora. Acho que você sabe o quanto queríamos vê-la, não é mesmo?

Sorri com ironia. Meus olhos reviravam como uma criança mal educada. Marshel ignorou minha resposta silenciosa e continuou:

—Você tem duas opções: contar-nos tudo o que sabe ou sofrer as piores coisas que alguém poderia sofrer. E ai, o que escolhe?

Não respondi, é óbvio. Ele sabia o que eu escolheria. Não contaria nada sobre os anjos, porque isso iria contra meus planos.

— Você está machucada. Não aguentaria um terço do que aqueles demônios estão preparando para você — Marshel disse calmo, agora eu sabia seu papel naquilo tudo: ele era o intermediador.

— Se vocês me matarem nunca saberão o que precisam— falei pela primeira vez.

— E se não te matarmos, não saberemos de qualquer jeito. É isso que você quer dizer?  — ele analisou minha reação.

— É você quem diz isso — falei sentido o gosto de sangue na boca.

— Vamos lá Saraí — ele falava como se me incentivasse — O que você ganha protegendo os anjos? Eles mataram seus pais! Você se lembra disso?

— Vocês me matarão de qualquer jeito — constatei olhando para ele.

Marshel se mexeu na cadeira. Sua paciência não era tão infinita afinal. Eu não blefaria se não fosse imortal. Até porque os demônios não sabiam nada sobre minhas habilidades e isso com certeza era uma vantagem.

— Estou tentando te ajudar — ele falou —Mas já que você não que colaborar podemos mudar o jogo.

Ele saiu da sala, levando seu ar superior para longe.

Eu estava suando muito. O ar daquela sala parecia ser mais denso, o que fazia meus pulmões se esforçarem para funcionar.

Eu pensava no que me esperava. Uma sala de tortura com ar fétido. Ferros quentes para me marcarem, assim como fizeram com Irriel e ainda havia a imortalidade. Só que mesmo com toda essa ameaça eu não achava que seria certo dizer o que eu sabia sobre Shamayim.


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Notas finais do capítulo

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