Depois do fim escrita por Stain


Capítulo 1
Capítulo 1




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Cristal caminhava passo a passo perante o campo verde. O volumoso matagal balançava com suave vento que lhe batia de tempos em tempos, provocando um pequeno assovio quando passava por entre uma árvore oca. O rosto pálido e esquelético da mulher apontava em direção as grandes e majestosas montanhas que estavam a sua frente. Uma neve cinza quasse negra despencava, tingindo o cabelo vermelho da mulher em um marrom escurecido. Suas roupas; um roupão branco encardido que havia encontrado no meio de seu caminho. Seu corpo arrepiava-se com o frio, mas a mulher pouco se importava.

Parando brevemente sua caminhada Cristal virou seu pescoço e olhou a direita, concentrando seu olhar na margem do rio. Sua água era vermelha com o sangue dos pecadores e desgraçados; infelizes que não conseguiram sobreviver ao fim dos tempos. Bom, para ser mais direto, ao início do fim.

Se acachando, Cristal pegou uma porção de terra em suas mãos e a cheirou. Tinha o cheiro e textura de terra molhada, mas aquilo não era algo possível. Já fazia muitos anos que a terra não sentia o gosto da chuva. Jogando a terra de suas mãos fora Cristal se levantou e chegou mais perto dos corpos na margem do rio. Estavam nus e cheios de feridas. Insetos e moscas se alimentavam da carne em decomposição.

— Já nem sei se vocês obtiveram a sorte em suas prematuras mortes ou foram abençoados. Já nem sei disser… — pronunciou a mulher ao observando o céu cinza.

O mundo enfrentava aquela situação catastrófica não por uma guerra entre nações ou mesmo Deus. Foi a própria humanidade que provocou a ira da natureza e a mesma retribuiu o favor. E como todos bem sabiam; a mãe natureza nunca foi de ser clemente sobre aqueles que lhe afrontavam. Foi um genocídio de proporções épicas. No entanto, os que mais sofreram não foram os que morreram mas sim os condenados que ficaram. Não tinham lugar para fugir ou algum governo a recorrer, mas tinham a vontade de se sobreviver.

Cristal tirou os olhos do céu o observou os milhares de corpos que se alastravam no campo como sacos de lixo. E o fedor era tão forte como tal, porém a mulher continuava com suas feições imoveis. Já tinham se passado 7 anos deste que aquilo tudo teve início. Quem não se acostumasse, que arrancasse a própria vida. Aquele novo mundo não teria piedade com nenhum mísero ser vivo.

Andou mais uns metros e encontrou aos pés de uma árvore um casal de namorados que estavam para cometer o suicídio. O jovem vestia-se com roupas simples, diferente de sua suposta namorada que vestia uma saia de grife xadrez que batia acima da coxa e uma camisa branca que pouco cobria seus seios. Cristal podia ver de longe a mulher tremer de frio. Ela sangrava por uma ferida horrenda que tinha em sua perna. Provavelmente levara uma facada ou fora mordida por algum tipo de animal. A ferida já estava infeccionada e mataria a menina em poucos dias, menos se dependesse do frio. Sabendo de sua morte a menina pediu que fosse morta pelas mãos de quem amava e não nas mãos de uma infecção. Seu namorado discordou bravamente, mas depois de muito implorar, acabou que ela conseguiu oque queria; morrer nos braços de quem amava enquanto era beijada.

Uma morte romântica e trágica na opinião de Cristal. Seu namorado havia lhe deixado pra morrer quando a mesma se feriu no início de todo caos. Então, Cristal sentia-se até um certo incomodo a correr vendo que a mulher tinha o namorado que sempre desejou ter mas o mundo nunca lhe deu. Cristal tinha em suas mãos recursos para ajudar a tratar a infecção que a menina tinha poderia até salvá-la se quisesse. Mas essa não foi a sua escolha. Cristal ficou em pé onde estava e observou o rapaz matar sua companheira de longa data, e depois em lágrimas atirar em si mesmo.

Quando já estavam mortos e sangrando, Cristal se aproximou dos corpos.

Vocês são fracos. São patéticos. Não possuem determinação para sobreviver a um lugar como esse, então que morram. Garanto que não derramarei lágrimas. — disse voltando a caminhar.

A cada dia depois do fim, Cristal presenciou cenas de mortes; em primeira mão o corromper da humanidade. Viu com seus próprios olhos a moral e ética humana se reduzirem a cinzas. Vítimas das chamas do medo. Mulheres matavam os filhos, os maridos, as amigas, e assim faziam os filhos, amigos, e maridos. Não haviam heróis ou vilões. O medo e horror predominava na terra. Com o passar dos anos a mulher se tornou mais indiferente ao ser humano. A dor e angustia que sentia ao ver alguém morrer foi secando até rachar como o chão de um deserto.

Cuspindo no chão frente aos corpos, Cristal voltou a caminhar em direção a montanha. Não tinha um rumo certo a seguir. Só deixava os instintos a guiarem até um novo lugar. Cristal não procurava nada, somente estava continuando sua vida. Trilhando-a enquanto podia. Ao adentrar em um aglomerado de árvores mortas, ela as observa com tristeza. Assim que o fim deu-se inicio as plantas foram as primeiras a perecer. Tudo devido ao sol, com seu desaparecimento o mundo murchou.


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