Meu pesadelo Benjamim escrita por Larissa Lionel


Capítulo 4
Trovoada


Notas iniciais do capítulo

O capítulo ficou meio grande, mas era necessário para se encaixar bem no próximo. Espero que gostem.



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Eu temia encontra-lo, mas era inevitável. Na faculdade as pessoas até mesmo estranhavam os olhares dele fixos em mim. Pra piorar, sorriu quando olhei sem querer. Fugi até mesmo de Sara, eu ia para todos os lugares em que ele não estava, mas parecia me seguir.

Banheiro? Ele estava lá. Sala? Benjamin. Secretaria? Garoto loiro. Sala de informática? Acenava pra mim. Acredito que ele deva estudar em Hogwarts nas horas vagas, era um bruxo que aparecia em todos os lugares. Tentei me refugiar na biblioteca. Por uma milagre divino, não estava. – vai ver Voldemort o encontrou no meio do caminho.

Consegui encontrar alguns livros para uma pesquisa complicada. Quando fui pegar um na estante uma mão surgiu por trás de mim roubando-o. Virei na hora.

— Está fugindo de mim?

Derrubei todos os livros. Benjamin me encurralou entre as duas estantes, colocou as mãos na prateleiras próximas ao meu rosto – para que eu não fugisse?

— Por que está me seguindo? – eu estava nervoso.

Me pressiona contra a parede aproximando o rosto do meu.

— É uma pergunta retórica? – riu de canto.

— Me deixe sair – empurrei-o levemente, mas não surtiu efeito.

— Eu irei te encontrar em qualquer lugar que você for, Ariel.

Estávamos quase nos beijando de tão próximos que os lábios se mantinham. Virei o rosto, mas ele gentilmente tocou no meu queixo, puxando para que eu o olhasse.

— O que quer?

— Você.

Senti minhas pernas tremerem, por que não conseguia empurrá-lo?!

— Por que está fazendo isso, somos dois homens... – sussurrei.

— Ah... – ele parecia surpreso – então é isso, ainda está na fase de aceitação?

— Eu não sou gay!

— Então por que não me empurra?

Viro o rosto, não respondo.

— Aconteceu o mesmo naquele dia em que nos beijamos.

— Você.... Vo... Você me bagunça, eu não me entendo! Apenas pare de me perturbar...

— Se eu fosse uma mulher, você sairia comigo?

Olhei para ele.

— Eu…. Bem.... Você não é uma....

— Isso tem alguma diferença?

— Tem! – era óbvio – é errado.

— Quem disse que era?

Me calei. Quem disse que era errado?

— Você é que não está se permitindo. Mas entendo. Já passei por essa fase. – sorriu docemente – que tal isso, as três, cinema?

— Cinema?

— Sim, no shopping do outro lado da rua.

— Bem.... – por algum motivo eu piscava doidamente os olhos.

— Estarei te esperando na entrada do cinema. – me dá um beijo na testa.

Sorriu e se afastou lentamente, parecia não querer fazê-lo.

Minhas pernas estavam bambas, deslizei até o chão derrubando o resto dos livros. Minha respiração ofegante me deixava dúvidas sérias, eu apenas fui embora rápido para casa.

No caminho, recebi um telefonema. Era Miguel – o cara das pizzas.

— Ariel...

— O que aconteceu?

— Não precisa trabalhar hoje.

— Por que?

— Estou doente, não vamos abrir.

Suspirei. Que cara problemático. Isso acaba totalmente com a desculpa de que estaria trabalhando. Cheguei em casa meio abalado.

— Seu rosto está vermelho. – disse Ítalo, na sala.

— É? – sentei ao lado dele no chão – como foi a escola?

— Esquece e me diz, o que aconteceu?

Eu sou tão transparente assim?

— Como assim?

— Parece nervoso.

— É que... Uma pessoa me chamou para sair e eu não sei se é uma boa ideia, acho que não...

— Você quer ir.

Olho para ele.

— Está escrito na sua cara. Por que está se reprimindo tanto? Vai logo.

Mas que ousadia.

— Fique sabendo rapazinho, que não é assim que as coisas funcionam.

— É sim. Pare de mentir para si mesmo e se manda.

— Ítalo, não me jogue assim para os outros.

— Vai fazer bem a você Ariel. Pare de se enganar, vai tomar banho e vestir algo decente. – exigiu.

Levantou e me puxou, saiu me empurrando até o banheiro. Mas que garotinho atrevido, imagino onde ele aprendeu essas coisas. Não menos importante, ele escolheu minha roupa e deixou na cama. – dá pra acreditar nisso?

Acabei indo, estava num nervosismo que não conseguia explicar. Mesmo assim não dei meia volta. Benjamin sorriu quando me viu chegar, esperava na porta com pipoca e refrigerante.

— Não saia comprando as coisas antes dos convidados chegarem. Eu queria dividir a conta, e além do mais, e se eu não viesse?

— Tinha certeza que viria – sorriu, deixando transparecer as covinhas – comprei os ingressos, vamos.

— Que?! Fique sabendo que....

Ele me dá um selinho, assim mesmo do nada.

— Ei! Não saia tocando a boca alheia sem permissão!

— Desculpe, não consigo me controlar quando olho para essa boca vermelha. Eu imagino o que posso fazer com ela.

QUE?!!!

— Seu pervertido! – corei na hora.

Ele sorri, e me guia até a entrada. Filme de terror. Terror?! Eu odeio essa coisa, parecia que ele tinha planejado tudo! Aquele maldito. Eu mal assistia e, quando algo aparecia, me assustava.

Benjamin colocou a mão na minha cabeça, me puxando para perto de seu ombro.

— O que está...

AHHHHHH – gritou a protagonista do filme, e eu também.

Ele me abraçou mais forte, enquanto tentava não rir.

— Droga mas por que fazem filmes assim?! Essas pessoas são idiotas? Tem um assassino na casa e eles resolvem se separar? Como assim? Para mundo! E pior, ao invés de correrem como se não houvesse amanhã, vão para onde? Isso mesmo, aquele porão escuro que ninguém entrava há duzentos anos antes de cristo!

Ele ri. E a mulher grita, não consegui assisti, acabei escondendo meu rosto no peito dele enquanto agarrava firmemente a blusa branca que usava. Eu sei, eu tenho certeza que ele fez aquilo de propósito – mas como ele sabia que eu odiava filmes de terror? Lembra de Hogwarts? Então. Bruxos são ninjas. – de alguma forma.

Saí irritado, enquanto ele ria muito.

— Não foi engraçado. – falei.

— Pra mim foi. Não se divertiu?

— Ah... Sim.... – desvio o olhar.

— Está com fome? Vem.

Ele sai me arrastado pelo shopping segurando na minha mão. Elas eram macias e quentes. Eu não queria soltá-las, apesar da minha cabeça dizer o contrário. Às vezes acho que a cabeça é separada do corpo, porque cada um me diz coisas controvérsias, corpo – vai com tudo. Cabeça – fuja como se fosse a última coisa que irá fazer na sua vida.

Acho que o corpo pode ser representado melhor como... Coração? Ele comprou dois hambúrgueres e refrigerantes, sentamos numa mesa que ficava na praça de alimentação – bem movimentada.

— Devia ter deixado dividir comigo! – falei.

— Guarde o dinheiro para você e Ítalo.

Silêncio breve.

Ele pagava porque sabia que o pouco que eu ganhava era para sustentar a mim e meu irmão. Imaginei que tinha pago para me irritar e dizer que não posso dividir. Mas agora que deixou claro pude entender. Não era hora de ser orgulhoso, era pelo Ítalo.

Benjamin se aproxima, me deu um beijo na bochecha e sorriu em seguida. Senti meu rosto corar, o virei, e nisso vi uma mulher olhando para nós dois com olhos ameaçadores. Passou jogando uma frase pronta no ar.

— Que vergonha, dois homens se beijando na frente de tanta gente! É um absurdo, má influência para as crianças! – falou alto de propósito.

Me deprimi, Benjamin percebeu.

— Acho... Melhor irmos para casa.... – o que eu estava pensando?

Senti algo aveludado abraçar minhas orelhas, Benjamin coloca seus fones, agora menores – era outro – em mim.

— Não precisamos ouvir pessoas ruins falar sobre o que não sabem, não é?

— Mas...

— Espero que goste das minhas músicas. – sorriu.

 Começa a tocar. Não podia ouvir nada além da melodia tranquila com letras românticas que nasciam daqueles fones. Entendi. Ele usava aquilo para não escutar o que as pessoas diziam? Quem era aquele mulher que não me conhece, mas que acha ter importância suficiente para nos julgar?

Como ele não queria pensar nem ouvir nada sobre isso, apenas.... Se agarrava às músicas.... Era um bom menino afinal.... Esperou que eu terminasse de comer. Não falou nada porque sabia que não ouviria.

Quando saímos, tirei o fone. Fomos conversando até o carro dele.

— Desde quando sente atração por homens? – perguntei.

— Não sinto atração por homens.

Não?

— Sinto por você.

— Ahrinemoe....

— O que?

Tusso para me concentrar e conseguir formular uma frase, ou uma palavra.

— Eu não entendo...

— As dúvidas que você tem, Ariel, também tenho. É tão recente quanto o seu. Simplesmente não paro de pensar em você desde que o vi. – falou com naturalidade.

Sério que eu fiz um cara ser gay?! Espera. Ele fez o mesmo comigo.

— Nunca te entendi. Ou melhor, não sei nada sobre você, não é justo.

— É verdade. – riso – posso lhe garantir um resumo.

Olho para ele, estávamos caminhando no estacionamento.

— Moro numa rua depois da faculdade, numa casa grade com meus pais e dois irmãos. Meus pais trabalham como médicos, e me obrigaram a fazer o curso atual.

— Espera, tem irmãos? E não escolheu ser médico?

Era o curso que fazíamos na faculdade.

— Uma mulher e um rapaz. Não gosto de medicina, confesso, minha maior vontade é abrir uma fábrica de brinquedos.

— Por que? – perguntei.

— Gosto de ver crianças felizes... Brinquedos são como uma forma de amaciar a realidade tão difícil que muitas delas tiveram de passar... Funcionava comigo... – sussurrou o final.

Temi perguntar, como assim “funcionava comigo?” Ele parecia estar levemente deprimido.

— E você, por que escolheu medicina?

— É que.... – olhei para o chão – quando vi minha mãe falecer na minha frente, quando a vi tendo um infarto e não conseguir fazer nada.... Me senti culpado...

Estávamos no mercado, quando eu e ela voltávamos para casa, o encontramos com a outra. Minha mãe ficou muito nervosa, pouco depois ela desmaia. Foi uma cena chocante.... Houve demora no atendimento... Eu me via como uma pessoa terrível, fui eu quem a chamou para o mercado, e também o mesmo que pediu para voltar mais cedo.

Sei que a culpa não é minha, mas não era algo que podia controlar.

— Queria estudar muito para salvar as pessoas que são importantes para mim... Se eu soubesse de algo naquela época, eu poderia tê-la salvo...

— Era uma criança, Ariel. Não existia escolha.

Ele me abraça.

— É um motivo bonito... – sorriu.

Chegamos ao carro, ele me levou até minha casa. Evitamos falar muito porque não queria atrapalhá-lo ao dirigir.

— Hoje foi um dia muito bom... – disse ele, olhando para mim após ter estacionado na porta do meu prédio.

— Sim... Foi... Ahn...

— Algo te incomoda?

— O que te fez ficar interessado em mim, Benjamin?

Sorriu.

— O mesmo motivo pelo qual você se interessa em mim. É algo que não dá pra explicar, Ariel.

Desvio o olhar.

— Ei... – ele ergue meu queixo com os dedos sutilmente, me obrigando a olhá-lo – eu quero você, Ariel.

— Qu.... Que?

— Namora comigo?

Senti um arrepio em lugares que nem sabia que tinha no meu corpo. – Deus do céu, como faz isso comigo, eu não aguento...

— Eu... Q... quer dizer... Bem... – eu estava absurdamente vermelho, vi pelo retrovisor.

Ele riu.

— Não precisa responder agora.

Puxa meu queixo sutilmente até a sua boca. Eu comecei a senti-la novamente. Colocou a outra mão na minha nuca e massageava meu cabelo enquanto aproximava sua língua da minha, ele parecia querer me devorar.

Sua boca estava quente, sua língua parecia dançar em movimentos lentos enquanto se enroscava com a minha.  Não queria soltá-lo, apenas continuar a explorar aquele lugar pouco conhecido por mim.

Largou a nuca e me trouxe para mais perto puxando minha cintura. Ah, era um beijo venenoso... Meu corpo agiu por impulso, coloquei meus braços envolta do pescoço dele. Assim o trazia para mais perto, o cheiro dele me dava êxtase. Senti ele colocar a mão dentro da minha blusa, a deslizava gentilmente pelas minhas costas.

Aquilo não acabaria bem, me separei dele o empurrando de leve.

— Desculpe. – disse ele, lambendo os beiços.

— Acho... Acho melhor eu ir.... – meu corpo estava quente, não queria fazer nada que não devia.

Saí do carro, e esperei na porta até que ele fosse embora. Mas o carro não quis ir.

— Qual o problema?

— Acabou a gasolina. – olha para mim.

É sério isso? Ele sai do carro e se aproxima de mim.

— Isso é mal.... Quer que eu chame um táxi? – falei.

— Bem...

O céu – já era noite – estava anunciando a chegada de uma tempestade.

— Vai me mandar embora mesmo com tudo isso acontecendo? Que crueldade. – falou.

É sério que até mesmo os céus estavam ajudando Benjamin?! É sério isso vida?!

Ele acabou indo pra minha casa. Encontramos Ítalo na porta.

— Boa noite garotinho. – disse Benjamin ao menino.

— Oi! Você não é o cara do sorvete?

— Sim! – disse contente.

— Então vocês saíram juntos?

— Que?! Somos só amigos! – falei.

— Não disse que não eram. – garoto de língua afiada – bem, já que voltou para casa, vou dormir.

— Espere Ítalo. – falei – Benjamin vai dormir com a gente, mas não temos sofá para ele... Dorme comigo e ele fica no seu quarto.

— Minha cama é de criança, ele não cabe. – cruzou os braços, sorriu para Benjamin.

É um complô?

— Pior que é verdade – cama de carrinho, sabe, sem dinheiro para comprar uma maior para ele.

— Por que vocês não dormem juntos?

Esse garoto tem uma língua que só Deus... Como assim?! Que espécie de sugestão é essa?

— Não irei me importar. – sorriu Benjamin.

— Ótimo, boa noite! – saiu correndo e se trancou no quarto.

Resultado. Eu e Benjamin fomos para meu quarto. É, antes eu dormia com Ítalo, mas meu pai vendeu a minha cama para comprar bebida. Passei a dormir no sofá, mas como ele resolveu que iria ficar plantado lá, passei a dormir no quarto dele – com cama de casal. Meu pai morreu e vocês já sabem o fim que levou o sofá, ou seja, só tínhamos duas camas.

— Só para você ficar sabendo, não toque em mim! – falei enquanto deitava na cama.

Ele riu.

— Sim senhor.

Ficamos de costas um para o outro. A tempestade começava a ficar mais forte. Eu não esperava por trovoadas. Eu tinha medo delas. A cada barulho forte eu me encolhia, tremia e tentava tapar os ouvidos com o travesseiro, Benjamin estranhou.

— Tem medo de trovões? – virou para mim.

— B... Bem eu...

Um trovão forte quase ensurdece meus ouvidos, fiquei mudo e simplesmente me agarrei ao Benjamin. Ele retribuiu me abraçando. Tapou meus ouvidos com suas mãos, me sentia protegido envolto naqueles braços que me aninhavam e acalmavam.

— Eu estou aqui, está tudo bem... – beijou a minha testa.  


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Notas finais do capítulo

Olá pessoinhas, gostaram do capítulo? Então deixe seu comentário, ele é muito importante pra mim! OBS. PREPAREM O CORAÇÃO PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO ;)



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