As Sombras de Um Amor escrita por karol_kinomoto


Capítulo 6
Talvez


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta!
E nem demorei... Quem acompanha essa fic, sabe que geralmente a atualização demora muito mais...
Queria recompensar todos que estão lendo e acompanhando essa fic. Então me esforcei de verdade pra terminar logo esse capitulo
Quero agradecer as meninas que comentaram no capitulo passado e dedicar esse cap a voces:
aluadiny,Angel__Soul e LiKinomoto
Boa leitura



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Capítulo 6: Talvez


Depois de um jantar interminável com sua mãe, Tomoyo finalmente poderia ir para seu quarto. Ela amava a mãe, com todo o coração, e o jantar era, geralmente, a única oportunidade que tinham para conversar. Mas hoje tudo foi diferente.

Tomoyo estava perdida, desde o momento em que saiu do apartamento de Touya, pensava na tarde que passaram juntos e nas declarações de Eriol.

Sonomi a chamou, aparentemente não era a primeira vez.

- Me desculpe Okaa-sama. O que a senhora disse?

- Perguntei o que fez durante a tarde?

- Eu estava numa aula de piano.

Os olhos violeta de Sonomi a olharam desconfiados . – Desde quando você tem aulas de piano?

- Desde hoje à tarde. Kinomoto-sensei se ofereceu para me ensinar. – Tomoyo notou uma quase imperceptível veia saltar, por baixo do cabelo perfeito que caia sobre a testa de sua mãe. – Eu ia lhe contar, te pedir, essa manhã, mas a senhora já tinha saído para o trabalho.

Sonomi não disse nada, apenas repetiu, mas para si do que para a filha: - Kinomoto-sensei... Você está falando de Touya-kun?

Até aonde Sonomi sabia, Fujitaka não tinha nenhuma inclinação para músico. E se ele tivesse, bem... Ai ele seria um nojento senhor perfeição. E ela não sabia se poderia lidar com aquilo.

Tomoyo confirmou. – Eu estive na casa dele por umas duas horas. Você pode ligar e checar. – A menina estava com medo que a mãe vetasse suas aulas, achando que era mais uma atividade inútil.

- Não será necessário. – Sonomi disse, enquanto colocava a xicara de café na mesa. Ela costumava odiar café, mas desde sua viagem a negócios para Los Angeles, as coisas tinham mudado. – Eu pensei que você estivesse em um encontro. Sabe o que penso sobre isso.

- Sei, Okaa-sama. – As regras da mãe eram perfeitamente claras: nada de namorados!

Sonomi não soubera nada mais de Touya desde a reunião de pais, onde ele concordou em cuidar de Tomoyo, assim ela não tinha razões para se preocupar com os garotos que tentassem cercar sua filha. E se havia alguém que ela confiava para cuidar de Tomoyo, era com certeza, o filho de Nadeshiko.

Ele entendia que Tomoyo tinha responsabilidades e não podia ter distrações. O futuro dela era importante demais.

- Então... Quer dizer que você quer tocar piano.

- Apenas durante algumas horas na semana. – Tomoyo explicou, com um tom de voz maduro e confiante, sabendo que sua mãe não era convencida por apelos sentimentais.

- E essas aulas não vão interferir nos seus deveres de casa. – Era mais uma ordem do que uma pergunta.

- Não, Okaa-sama.

- Então está tudo certo.

- Muito obrigada. – Uma pequena batalha tinha sido ganha. – Eu posso retirar-me para estudar?

- Tomoyo. – Sua mãe chamou antes que ela se levantasse da cadeira da mesa de jantar. – Você sabe que eu só quero o melhor pra você, não é?

Ela só quer o melhor pra mim. Tomoyo refletiu, agora, já na mesa de estudos em seu quarto.

Procurava o livro de química. Mas porque ela não consegue ver que o que eu quero é o melhor para mim? Talvez um dia...

Ela terminou o balanceamento na equação e fechou o livro satisfeita. Terminou todos os deveres, tanto de inglês como de cálculo cedo. E o trabalho de história era em dupla, e só faria amanhã com Meiling, após a aula.

Ela arrumou seu material para o dia seguinte. Colocou umas canetas a mais, apenas para garantir. Depois tomou um banho e vestiu um conjunto baby doll amarelo, seu favorito.

Pegou o livro que Touya lhe emprestara, deitou-se na cama. Ela apertou o livro contra o peito , fechou os olhos e sorriu ao se lembrar de como fora bom passar a tarde com ele. A sua pequena paixão já deveria ter passado, mas, ao contrário, se tornava cada vez mais intensa.

Quem era Eriol, perante o novo sentimento por Touya? Tomoyo ajeitou os travesseiros atrás de si, para que pudesse se sentar e ler.

Os capítulos eram pequenos, mas eram complexos no tratante as teorias e postulados. Não era uma leitura leve. Depois de lidos os dois primeiros capítulos, ela estava quase para fechar o livro e ir dormir quando ela notou algumas anotações no final dos capitulos.

Era a letra de Touya. Ele escrevia em seus livros?

Ela não tinha percebido isso quando deu uma olhada em seus outros livros.

Ela rapidamente foliou o livro, observando as inúmeras paginas escritas com caneta azul.

Parou em uma página aleatória e o nome Yuki apareceu.

Ela passou mais uma pagina, e depois mais outra. Yue, Yuki, Sakura, Yuki...

Ela fechou o livro com tudo.

- Eu não deveria estar lendo isso. Mas por que ele me emprestou se sabia o que tinha escrito? Talvez ele não se lembrasse. Ele disse que não o lia há muito tempo. Como pôde se esquecer? Era como se ele tivesse usado esse livro como um diário, as páginas em branco entre os capítulos, serviam para anotar pensamentos desconexos.

Ela sentiu como se estivesse invadindo a privacidade dele, mas não se conteve. Estava curiosa para descobrir mais sobre Touya.

Abriu o livro.

A final, ele havia oferecido o livro a ela. E se ficar muito pessoal, ela pararia.

Esperando que sua decisão não custasse sua amizade com ele, Tomoyo continuou a leitura.

~*~*~*~*~*~*~*~*

No outro dia...

Touya apoiou os livros no outro braço enquanto tentava desbloquear a sua caixa de correspondências. Finalmente, a chave correta abriu a porta de metal.

Ele saltou para trás quando sentiu um perfume irresistível , logo o cheiro se alastrou por todo o edifício. Como suspeitava, um envelope vermelho estava preso no meio das outras cartas.

Akizuki.

Ele passou a vista pelas outras cartas, ao passo que retornava para seu apartamento. Contas, contas e contas.

Era sempre a mesma coisa. Se não fossem pelas cartas mensais de Nakuru , ele nunca receberia algo interessante. E se não fossem pelas contas, ele provavelmente nunca checaria a sua caixa de correspondências.

Depois de deixar boa parte de seus livros em cima da mesa, ele foi para seu quarto, colocando em cima da cama o livro de musica que ele pegou emprestado para as aulas de piano. Tomoyo viria daqui a pouco para a próxima lição de piano.

Ele tomou um banho, trocou de roupa, deixou os óculos de lado e passou a mão no cabelo. Estava na hora de cortar o cabelo, ele pensou.Tirando as mexas que caiam em seus olhos.

Quando ele voltou para a sala, esticou-se no sofá e pegou a carta vermelha. Ele sempre esperava ansiosamente pelas cartas de Nakuru, mesmo que fizesse questão de não deixá-la saber disso.

Ela sempre contava as novidades sobre Eriol, Kaho e Spinel. Perguntava a ele quando iria visitá-los e disse que Yukito já tinha ido ter com eles, e que passaram um tempo maravilhoso juntos. Ela o tinha levado ao parque e ao museu. Mais uma vez ela implorou para ele vir visitá-la. E o instruiu a mandar abraços e beijos para Sakura e Kerberos. E a carta, mais uma vez, acabou com a pergunta de sempre: Touya você quer casar comigo?

E logicamente, vários corações vermelhos.

Nakuru sempre tentava manter as coisas alegres e felizes em suas cartas, e isso fazia com que Touya se sentisse bem. Ele sabia que ela não falava sério na metade das coisas que escrevia, e a insistência em seus pedidos de casamente eram apenas para deixá-lo embaraçado, o que sempre acontecia.

Mas, quando ela mencionava Yuki... Ele sentia aquele vazio.

Ele poderia continuar sua vida muito bem, sem saber nada dele.

E de repente ele se lembrou de algo, o livro que emprestara a Tomoyo.

Podia ficar ali se lamentando por tudo, mas foi interrompido pelo som da campainha.

Era Tomoyo quem estava na porta, com aquele sorriso doce e encantador e um copo de suco na mão.

- Eu comprei na rua. Quer um?

Aquele gesto simples fez com que ele se sentisse tão melhor. Era incrível como um pouco de gentileza podia mudar o humor de uma pessoa.

- Obrigada. Entre, e nós vamos começar a aula.

Tomoyo deixou sua bolsa sobre o sofá e tirou a jaqueta da escola. O nariz dela contorceu-se ao sentir o cheiro pesado de um perfume barato.

Será que ele tinha tido um encontro? Ela pensou com um pouco de inveja, mas em seguida lembrando-se que não tinha nada haver com a vida dele. Mas ai ela viu uma carta vermelha, no sofá. Uma carta de amor. Claro. Alguém tão bonito como Touya deve receber várias dessas.

Por aproximadamente cinco segundos, Touya sentiu-se extremamente feliz em vê-la. Mas ai ela tirou a jaqueta e a gravata da escola, e o gesto inocente da menina, com o simples intuito de ficar mais confortável, fez com que a mente de seu professor fosse numa direção que não era a mais indicada, principalmente pelo fato de ele ser seu professor.

Ele nunca tinha percebido que a saia do uniforme do colégio era tão curta. Quando ele ainda estudava lá, ele não tivera interesse em olhar para as garotas da época. E mesmo agora, que estava repleto de alunas, ele não prestava atenção.

Mas em Tomoyo, sozinha no apartamento dele, aquele uniforme parecia algo atrativo.

Algo como um fetiche.

Era tudo culpa daquela maldita saia curta, a blusa branca nada virginal que ressaltava os seis da menina e as meias brancas que iam até os joelhos, fazendo qualquer homem suspirar e não conseguir desviar o olhar daquelas coxas torneadas...

Pervertido, ele brigou consigo mesmo, tentando recuperar o juízo. É a Tomoyo!

- Eu estou pronta, quando você quiser.

- Como é que é? – Ele piscou várias vezes, para assimilar aquelas palavras. A menina aparentemente estava esperando por algo. As aulas de piano, gênio.

Ele andou em direção ao quarto, o que naturalmente não passou despercebido por sua mente de pervertido. Ele a queria tanto.

Mas ela era tão pudica, linda, inocente.

E ele jamais a magoaria por culpa de seus instintos insanos.

- Você está bem? – Ele se virou e percebeu naquele rosto lindo, o horror nos olhos violetas. – Você parece distante hoje. Ele a encarou, e as coisas entraram no eixo. Era próprio de Tomoyo aquele sentimento de se preocupar com os outros. Ela realmente era uma garota doce e gentil.

Sua mente agora estava vendo corretamente.

- Foi uma semana longa. – Ele respondeu, dando a ela um sorriso cansado. – E eu estava começando a me sentir só. Estou feliz que esteja aqui. – O homem não tinha a intenção de dizer tudo aquilo, mas era sincero. Havia algo naqueles olhos violetas que o faziam sentir vontade de compartilhar tudo com Tomoyo.

Fazia tanto tempo que ele não se sentia confortável em compartilhar seus sentimentos com alguém... O coração de Tomoyo disparou ao ouvir as palavras dele.

- Também estou feliz em lhe ver. – Ela respondeu, imaginando se exista algo a mais que aqueles olhos castanhos gostariam de lhe dizer. – Eu pratiquei um pouco, mas ainda assim parece com ruídos, não música.

Touya riu enquanto pegava o livro de musica que deixara em cima da cama.

– Sente-se, e nós iremos melhorar esses ruídos.

Ela sentou-se ao lado dele no banco do piano, e quando as pernas deles se tocaram, ele não quebrou o contato, mesmo sabendo que deveria.

- Se você pensou que eu estava sendo condescendente na última aula, espere até você ver esse livro que eu achei. – Touya disse a ela enquanto abria o livro na primeira página. – Tenha em mente que esse livro é para iniciantes, então eles presumem que você não sabe de nada. – A página estava repleta de figuras que mostravam cada nota com cores diferentes. – Eles sentiram a necessidade de dar um ar colorido às notas. Veja, toda a nota tem uma cara de sono. Já essa outra nota parece animada.

Tomoyo pôs a mão na boca para segurar o riso, enquanto ele lhe mostrava as figuras.

– Eu sinto como se tivesse quatro anos de idade. Poderíamos pular para algo um pouco mais avançado.

- Não, não. Você tem que aprender isso. – Ele disse tentando manter a expressão séria. Ele virou a página do livro.– A gente vai começar por aqui, mesmo!

Depois de alguns minutos guiando a mão dela sobre o piano, ele percebeu que aquilo era muito difícil, sem contar que era distrativo demais. Ele levantou-se para ficar por trás dela, o que não era uma posição melhor, porque quando ele se aproximava mais, podia sentir o cheiro de seu cabelo.

Ela puxou o cabelo para o lado esquerdo. Deixando parte do pescoço a mostra, a intenção era apenas não fazer com que as madeixas atrapalhassem o professor.

Mas, mal sabia ela, que Touya agora estava concentrado naquela área da anatomia feminina. Ele fechou os olhos e respirou fundo.

- Oh, não. O que fiz de errado? – Ela perguntou.

- Nada. Você está indo bem. – Se controle, Kinomoto. – Você está pronta para tocar uma melodia de verdade? – Ele passou mais uma página, que tinha várias notas coloridas e sorridentes. Ela reconheceu a música, ela a tinha aprendidono colégio, então ao menos ela sabia como o som da música deveria sair.

- Eu irei logo me desculpar, no caso de você quiser cortar suas orelhas fora, e terminar com a possível tortura. – Ela desejava que Touya se sentasse a seu lado, mas era melhor que ele ficasse atrás dela, ao menos assim não a veria corar, quando ele a tocava. O braço dele encostou no dela, uma mão apontou a nota e a outra ajeitou os dedos sobre o piano.

- Não é tão ruim. Vamos tentar.

Ele se aproximou mais uma vez dela, e dessa maneira Tomoyo tinha que admitir que era difícil se concentrar.

Ele cheirava tão bem, era como... Algo tão másculo, próprio dele, algo como um parque, como árvores, grama, um pôr-do-sol e a brisa. Ela apertou uma nota errada. - Ops! – Foco, Tomoyo!

- Tudo bem. Começe de novo.

Eles recomeçaram a melodia diversas vezes, e ele se afastou, deixando-a tocar sozinha. A cada vez, a música fluía melhor e a confiança dela aumentava.

- Isso é quase música. – Tomoyo disse depois de terminar a melodia, sem um erro sequer, mesmo que ela tivesse tocado mais devagar.

- Quase. – Touya concordou, e então ele grunhiu quando ela começou a retocar a música. – Não acha que já foi o suficiente por um dia? Eu estou enjoado dessa música. - Ela virou-se e deu-lhe um sorriso malicioso e começou a cantarolar a melodia. - Não me faça te machucar, Daidouji.

Se ela fosse mais corajosa ou mais experiente, ela poderia ter saído por cima com uma tréplica para flertar com ele. Em vez disso, ela simplesmente dobrou as mãos no colo e olhou-o.

Ela não queria ir embora. Esperou a semana toda para estar com ele, e passou tão rápido.

-Obrigado por me deixar vir hoje, - disse ela baixinho. – Foi legal, porque minha mãe viajou para Osaka, esta manhã, e eu não gosto de ficar só em casa.

- Eu te entendo. – Ele respondeu. Uma idéia muito, mais muito maluca passou por sua cabeça. E a parte mais maluca ainda do seu cérebro não controlou sua boca. – Você quer ficar para o jantar?

- Eu poderia?

Ele descobriu que amava aquela parte estúpida de seu cérebro. Ele queria beijar essa parte e quem sabe até lhe comprar flores.

Mais uma vez, o coração da menina bateu acelerado, por causa do convite. E Touya sabia que no fundo, ele queria que Tomoyo ficasse um pouco mais. A final de contas, ele também não queria ficar só.

– Claro que sim. Oh, mas espera. Eu não fui ao mercado, então eu não sei o que eu tenho.

Ela o seguiu para a cozinha, e ele abriu a geladeira. Revirou os olhos quando Tomoyo disse:

- Bem, você tem algumas cervejas, um resto de sopa, dois ovos e... – Touya tirou um saco com aparência suspeita. – Qualquer coisa ai nesse saco. – Ela riu. – Bem, tem uma lanchonete na esquina, podemos pegar algo de lá.

Touya confirmou.

- Mas você terá que me deixar pagar. – Ela já tinha imposto a condição.

Ele cruzou os braços na frente do corpo.

– Vou fingir que não ouvi isso. A casa é minha, eu pago.

- Entendido. – Ela respondeu com uma continência.

Touya riu do gesto dela.

O homem foi ao quarto pegar as chaves e a carteira. Voltou e a avisou. – Estarei em casa, logo. Você pode ver TV, ou fazer outra coisa que quiser. – E depois ele saiu.

Tomoyo ouviu a porta ser fechada, e o silêncio se apoderou do apartamento.

- Era estranho. Eu deveria ter ido com ele.

Mas ela não poderia negar que aquela era uma tremenda oportunidade que caiu em seu colo. Parte dela sabia que o certo era se sentar e fazer seu dever de casa, como uma boa garota faria. Mas, o que podia fazer? Era amiga de Meiling... E Meiling nunca a deixaria em paz. Quando descobrisse que esteve sozinha no apartamento de Touya e não descobrira nada a respeito de alguma namorado ou algo relevante.

Os livros e papéis da escola estavam na sua mesa, mas ela sabia que era melhor nem mexer ali. Foi então que ela lembrou-se da carta vermelha, mas isso seria ir longe demais. O único lugar que ela ainda não tinha explorado era aquele que ficava no corredor.

- Eu não deveria. – Mas seus pés não a ouviram.

Ele tinha várias fotos da família, a maioria tirada quando era mais novo. Havia uma do pai com uma Sakura ainda criança, por volta de uns dois anos. Enquanto Touya tinha nove e estava sentado, perto de sua mãe.

Também havia uma foto dos pais dele no dia do casamento.

E ainda uma foto de Sakura, já com dezesseis anos.

Escondido nesse álbum, ela avistou uma foto da época que eles foram para Hong Kong, há anos atrás. Tomoyo pegou a foto, e se pôs a analisá-la. Lá estavam Sakura, perto de Yukito e de Touya, com o rosto mais alegre possível, era a época dos dez anos. Ela estava ali também. Do lado de Touya, que tinha as mãos nos bolsos da calça, aquele tinha sido o último dia deles na cidade, antes de voltar pra casa.

Ela lembrava-se, claramente, desse dia, mas não desse momento em particular.

Ela se encarou, quando mais nova, perto dele. E se perguntou se também teria essa foto. Ela não sabia que havia uma foto deles tão pertos um do outro. Se bem, que ela nunca tinha se importado com isso.

Depois de colocar o album no lugar, ela sentou-se na cama de Touya, usando a mão para percorrer a extensão macia do edredom dele. Avistou ao lado da cama o relógio dele, e o experimentou. Em seguida, ela pegou os óculos dele, e sorriu quando viu pelas lentes que tudo era embaçado para ela.

Ela observou a capa do livro que ele estava lendo. E então deitou-se com a cabeça no travesseiro dele. Depois agarrou o travesseiro, e o abraçou, sentindo o perfume de Touya.

Ela sabia que estava agindo como uma louca, mas ela só queria senti-lo mais próximo dela. Não percebeu o quanto estava cansada. Apenas dava-se conta de quão macia era a cama dele.

Soltou um bocejo.

- Eu levantarei em um minuto e irei ver TV, como ele disse.

A próxima coisa que Tomoyo ouviu foi a porta da frente ser aberta. - Estou de volta. – Touya anunciou, e ela se levantou como um raio, rapidamente sentando-se na cama.

Ela não tinha a intenção de ter dormido. Ela correu para o banheiro para checar se seu cabelo estava feio. Lavou as mãos, e torceu para que ele achasse que ela só tinha ido para lá e não para seu quarto.

Ele estava arrumando a mesa, quando ela adentrou a cozinha.

Tomoyo tinha uma cara de culpa estampada, mas rapidamente tratou de tentar sorrir graciosamente. - Obrigada por ter me convidado para ficar. Foi muito legal da sua parte.

Ele apenas assentiu. E pegou um dos sanduíches. – Você não gosta de picles? – Ele perguntou enquanto a via pegar um hambúrguer.

- Não muito. – Ela respondeu. – Você pode ficar com eles. – Ele já estava adicionando os picles a seu sanduiche. - Você quer o meu tomate? – Quando ela assentiu, ele os botou num prato para ela.

Era como se estivesse em casa, lidando com Sakura, a não ser pelo fato de que sua irmã nunca o deixaria ficar com os picles. Mas Yukito sempre deixava, mesmo que ele também gostasse.

Eles falaram sobre a escola, enquanto comiam. E ela tentou convencê-lo a lhe dizer se eles teriam um teste de química amanhã.

- É dia de laboratório, mas isso não significa que não terão testes.

- Ok. Eu irei estudar o maldito capítulo. – Ela disse, fingindo irritação.

Ele apenas levantou uma de suas sobrancelhas para ela, ao passo que abria seu refrigerante.

Depois eles falaram sobre várias outras coisas, como arte e música, ou ainda sobre qualquer coisa que lhes vinha a mente.

Ele lhe contou sobre a carta de Nakuru, e ela sentiu-se aliviada por saber de quem era a carta perfumada.

Tomoyo lhe disse que sentia saudade daqueles dias com as cartas.

Uma pontada de dor atravessou os olhos castanhos, e ela sabia que ele tinha sido muito afetado por eventos da época . Ela precisa lhe contar sobre o que tinha lido em seu livro. E se fossem amigos de verdade, eles não poderiam ter segredos.

Bem, a não ser pelo fato de que ela tinha dormido na cama dele. Ele não precisava saber disso.

- Eu terminei de ler o livro que você me emprestou. – Em qualquer outra conversa, esse comentário não teria lógica, mas ele imediatamente entendeu.- Você quer conversar sobre isso?

- Claro. – Touya tentou soar casual, mas seus olhos estavam fixos no prato. – O que você achou da ideia do...

- Eu sei. – Ele esperava que ela esquecesse o que tinha lido, ou que ela dissesse que não tinha interesse. Touya não sabia o que sentir, sabendo que agora Tomoyo tinha lido sobre seus pensamentos incoerentes na época mais confusa de sua vida. Ele a encarou, e os olhos violetas estavam preocupados.

Talvez ela entendesse.

Talvez se eu tivesse apenas contado a alguém.

- Me desculpe. – Ela disse. – Eu não deveria ter lido.

- Não. Está tudo bem. – Touya disse, organizando os pensamentos. – Eu estava passando por ume época bem difícil. Yuki precisava de mim para salvá-lo. E eu não hesitei, mas eu não sabia o que essa decisão acarretaria para mim. Depois que eu lhe dei meus poderes, eu não me sentia apenas cansado. Eu me sentia... Perdido. De repente, tudo o que eu sentia era esse vazio dentro de mim, um buraco, que eu não conseguia preencher. – Ele conseguia sentir tudo de novo, e fechou os olhos. Por que machuca tanto? Depois de tanto tempo?

Tomoyo nem parou para pensar. Ela levou sua mão para cima da dele e a apertou, aquilo era a única coisa que podia fazer por ele. Os olhos castanhos se abriram, e recaíram sobre suas mãos, aquele era a forma dela lhe mostrar sua amizade. Ele virou sua mão para apertar a dela também. Pôde sentir melhor o calor e o conforto que Tomoyo estava lhe oferecendo.

- Eu precisava de algo. – Ele continuou. Não era estranho abrir sua alma assim, porque ele não estava realmente falando com ela. Estava falando consigo mesmo, dizendo coisas sobre as quais ele não pensava há muito tempo. – Precisava de uma identidade, um propósito. Quem eu era ou o que eu era tinha ido embora. Então eu decidi que iria me superar e ser o melhor que eu podia ser. O melhor estudante, o melhor atleta, o melhor irmão, o melhor namorado. A resposta pra essa vazio, tem que estar em algum lugar por aí. Eu só preciso encontra-la...

Ele balançou a cabeça.

– Eu tentei tanto. Sakura dizia que eu a estava sufocando, mas eu pensei que ela estava sendo apenas uma irmã traquina, então eu não prestei muita atenção. E então quando um dia o Yuki disse a mesma coisa... – As palavras dele pareciam presas, definitivamente aquele era um assunto que ele não gostava de falar. – Eu nunca fui bom em não fazer nada, especialmente quando acho que alguém precisa de mim. Eu tenho que ser capaz de fazer algo, de outra maneira, me sinto um inútil. Eu não sei como explicar isso, mas eu sei que um dia algo irá substituir essa parte que me falta, todo esse vazio. – Ele retirou uma das mãos, e passou no cabelo em seguida a olhou. – Deus, será que isso faz algum sentido?

Ela lhe deu um sorriso doce.

– Claro que sim. Às vezes, me sinto da mesma forma. Talvez seja normal. Talvez seja assim mesmo a vida, talvez ela sirva para que nós encontremos as coisas que nos completam. – Ela tinha entendido mais daquele livro do que imaginava. Esse tinha sido o ponto de vista do autor, apesar de que ele levou duzentas e poucas páginas e usou de diversas teorias abstratas. Mas em suma, era o que ela dissera.

- Talvez. – Touya colocou sua mão sobre seus olhos e depois retirou. Era como se ele tivesse voltado de um lugar muito profundo, dentro de si mesmo. Depois ele bagunçou os próprios cabelos. – Desculpe. Eu não queria tomar o seu tempo.

- É para esse tipo de coisa que os amigos servem...

A delicadeza e a sinceridade de Tomoyo tocou seu coração, e lá há muito tempo ninguém entrava.

– Obrigada. Você é uma boa menina, Daidouji.

Foi a pior coisa que ele podia ter ditto, mas ele não sabia disso. Ela tentou manter o sorriso no rosto, mas sabendo agora o que ele realmente pensava sobre ela.

– Obrigada.

Ela finalmente parou de pensar sobre aquilo, porque temia que ele fosse capaz de perceber a tristeza que se apossava dela. – Obrigada pelo jantar. Posso ajuda-lo a limpar as coisas?

Ele tinha feito algo errado. Ele havia percebido, quando ela desviou o olhar dele.

O que aconteceu? Ele pensou.

- Não. Está tudo bem. – Ele respondeu devagar. – Você deveria ir pra casa, antes que escureça mais.

- Sim. – Tomoyo foi para a sala, pegou sua gravata, ajeitou-a. Colocou a jaqueta por cima da roupa. – Então, a gente se vê amanhã na escola.

Ele estava saindo da cozinha, mas respondeu. – É. E me avise quando você quiser uma próxima aula. – Touya queria saber o que ele tinha feito de errado.

- Okay. Tchau. – A porta abriu e fechou antes que ele pudesse dizer outra coisa.

Touya ficou parado lá, encarando a porta.

- Eu devia ter perguntado a ela. Tudo o que eu fiz foi falar sobre mim, quando algo estava a incomodando. Talvez ela me conte quando estiver pronta.

Touya pensou nela pelo resto da noite, enquanto lavava os pratos e preparava a aula de amanhã. Ah, e quando estava assistindo TV e se aprontava para ir dormir. Era uma explosão de pensamentos, e todos convergiam para o fato dela ser uma mulher linda e interessante.

Ele sabia que era errado. E Talvez ela estivesse ali apenas como uma amiga. Num tempo em que ele precisava de uma boa amiga.

Mas se ele a visse, apenas como uma amiga, ele não estaria deitado na cama, pensando nela, imaginando que poderia sentir seu perfume.


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Notas finais do capítulo

Meninas... Depois desse capitulo podemos dizer que é oficial: Touya está apaixonado pela Tomoyo, mas que vacilo chamá-la de menina! Putz! Mas vamos ver o que a Tomoyo vai fazer a respeito
Bjos e comentem, please!



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