Missing escrita por Mozart


Capítulo 1
I can't breathe


Notas iniciais do capítulo

Essa história estava guardada nos submundos do meu notebook e acabei encontrando por acaso. Não mudei nada do que tinha escrito, então espero que esteja legal, haha!



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"Caro Almofadinhas,

 

Sei que tenho demorado a lhe escrever, mas é que as coisas estão bem corridas aqui em casa. Eu agradeço todos os dias por termos tido filhos na mesma época, assim, tenho certeza de que você vai compreender o quanto essas coisinhas pequeninhas que chamados de filhos podem dar um imenso trabalho. Lily grita demais comigo ultimamente porque diz que às vezes pareço mais criança do que o bebê Harry. Sempre rio dela nessas ocasiões porque fico imaginando o que ela diria se tivesse se casado com você, haha!

E, bom, como eu estou? Eu estou bem apesar do esconderijo. E é óbvio que espero que você tenha consciência de que parte da demora das cartas é por causa da possibilidade de elas serem extraviadas. Dumbledore sempre diz para termos muito cuidado. Enfim... Tudo tem estado muito bem por aqui e espero que por aí também. Conte mais sobre as coisas do lado de fora, pelo menos, o que for possível dizer. Estou ficando agoniado com esse escuro.

E a pequena Alya, como vai? Harry e ela precisam se conhecer logo, não quero que cometam algum tipo de incesto quando forem mais velhos. Até porque, uma coisa que tenha nascido de você não pode mesmo ser uma pessoa muito decente. Espero sinceramente que ela se pareça com a Lene, seria um castigo muito grande para um bebê tão inocente ter a sua cara.

Desculpe por essa carta curta, mas o Harry começou a chorar de novo e a Lily vai começar a berrar se eu não fizer alguma coisa porque está no meu turno, sabe? Só desejo, sinceramente, muitas felicidades, meu amigo. E que possamos nos encontrar o mais brevemente possível.

 

Pontas."

 

I

 

Sirius observava com uma expressão afetada os pequenos dedinhos que se enrolavam ao redor de seu indicador. As bochechas rosadas e macias, os curtos fios de cabelo negros no topo da cabeça, o peito subindo e descendo conforme a respiração uniforme. Repentinamente, os olhinhos se abriram revelando tons de turquesa fundidos ao azul marinho, ele só vira aqueles olhos em uma única pessoa em toda a sua vida... Permitiu-se esboçar um sorriso abobalhado enquanto continuava hipnotizado pela composição angelical da aura da criança.

O jovem Almofadinhas nunca teria imaginado que seria capaz disso. Dessa grande responsabilidade que se chama ser pai, tampouco imaginou que pudesse gostar daquela ideia. Enquanto observava os traços delicados de Alya e se via em sua imagem sentiu um prazer indescritível. Imaginava como seria quando ela estivesse com um ano e corresse por toda a casa derrubando tudo o que encontrasse pela frente. Como seria quando encontrasse o bebê Harry e o tivesse como um irmão, como o irmão que James era para ele.

Ele sorria e fantasiava com todos aqueles momentos futuros enquanto olhava atentamente aquela coisinha que tinha o seu sangue correndo em cada centímetro de suas pequenas veias e artérias. Sorria tão estupidamente e da mesma forma que ele vira no rosto de Pontas quando viu o pequeno Harry pela primeira vez, e sentia-se extremamente estúpido por isso, mas não conseguia se controlar enquanto fitava sua Alya, sua filha.

Nesse momento, Marlene adentrou sorrateiramente pela porta do quarto e apoiou-se na grade do berço ao lado de Sirius sem dizer palavra. Ele voltou-se para encará-la, mas ela apenas sorriu e deu de ombros voltando-se rapidamente para observar o bebê que mantinha os olhos focados nas íris cinzentas de seu pai. Marlene, então, iniciou um diálogo bobo com a criança fazendo aquela característica voz esganiçada que as pessoas geralmente fazem para conversar com crianças pequenas. Sirius não se aguentou e soltou aquela sua risada que parecia um latido, e Marlene revirou os olhos pegando Alya no colo.

− Você acha que ela vai gostar de quadribol, Six? − indagou ninando a menina com palmadinhas leves no bumbum.

− Marlene, ela tem um mês de vida. Não é o momento mais oportuno para se preocupar com quadribol − murmurou em tom sarcástico e jogou-se na poltrona cor-de-rosa que Lene montara ali para os momentos de amamentação.

− Ah, vai me dizer que você também não pensa nisso! − exclamou ansiosa. − Não fica imaginando o futuro depois que... que isso tudo acabar? Quando Você-Sabe-Quem for derrotado e finalmente tivermos paz?

Sirius não quis dizer, mas era notório que pensava nisso todos os dias. Ao invés de dizer isso, no entanto, ele deu de ombros e soltou um longo suspiro voltando os olhos cinzentos para um ponto qualquer onde a guerra voltasse a ser um assunto distante de seus principais pensamentos.

 

II

 

− SIRIUS, VEM AQUI! VEM! CORRE!

− O QUE FOI, MARLENE?! − gritou Sirius depressa correndo em seu auxílio a toda velocidade.

− Ela está falando! − exclamou animada.

− O QUÊ?! − berrou aborrecido encarando-a estupefato.

− Nossa filha está tentando falar, presta atenção!

− MARLENE, EU ACHEI QUE ALGUÉM TINHA MORRIDO!

− SIRIUS BLACK, CALA A BOCA E SENTA AÍ LOGO!

Ele girou os olhos jogando-se no tapete da sala de estar e observou enquanto a pequena Alya se esforçava para pronunciar alguma coisa.

− P-p-p-p...

− P... Ah, não, ela não pode falar "papai" antes de "mamãe" − desesperou-se Marlene.

− Por que não?! − murmurou Sirius ofendido.

− Porque não! − ela devolveu dando o assunto por encerrado.

− P-pu-u...

− Acho que não é "papai" − ele refletiu com ar pensativo.

Marlene concordou com a cabeça, mas continuou em silêncio esperando pelas próximas sílabas da misteriosa palavra que Alya lutava para despejar.

− Pu-t... Put-

Marlene franziu o cenho e voltou-se para Sirius desconfiada. Ele se encolheu em seu lugar não acreditando que aquilo estava mesmo acontecendo.

− P-ut... Puta!

− PUTA QUE PARIU! − berrou Sirius amedrontado, mas levou as mãos a boca no mesmo instante olhando receoso para Marlene.

− Pu-ta! − repetiu Alya sorrindo e batendo palminhas.

Os olhos com mesclas de turquesa e azul marinho de Marlene voltaram-se ferinos na direção de Sirius e ele só teve tempo de sentir os vários tapas em todos os lugares de seu corpo enquanto ela gritava efusivamente:

− Quantas... vezes... eu... já... te... disse... para... não... dizer... esses... malditos... palavrões... na... frente... dela?

Sirius tentava segurar o riso enquanto se esforçava para segurar as enormes mãos de Marlene no intuito de proteger-se de virar seu saco de pancadas. Os dois enrolaram-se em um emaranho de mãos e pés até que uma vozinha estridente ecoou pela sala deixando-os totalmente paralisados:

− Maman!

Marlene e Sirius caíram na gargalhada instantaneamente.

E esse foi um momento de que ele nunca se esqueceu.

 

III

 

− Tem certeza de que vai ser rápido? − indagou Marlene preocupada, seus olhos faíscavam de ansiedade enquanto fitava a partida de Sirius.

Ele sorriu e depositou um beijo em sua testa, depois um beijo na testa de Alya.

− Vai ser rápido, Lene. Tudo vai ficar bem. Não precisa se preocupar!

E realmente, Marlene não precisava se preocupar. Era uma missão simples e ele voltou depois de muito poucos dias, mas quando voltou percebeu... Ele é quem tinha motivos para ter se preocupado. As corujas não conseguiram alcancá-lo no local de sua missão e não havia alguém que pudesse ir levar a notícia sem se arriscar a ser mais uma perda. Não houveram cartas, houve apenas a visão da  casa dos McKinnon total e completamente destruída, apenas os caixões lacrados dos sete McKinnon que jantavam em família naquela noite.

Entre eles, Marlene... e Alya.

O que Sirius sentiu? Ele se sentiu sufocando. O ar não entrava e ele se sentia culpado por tentar respirar enquanto elas não podiam mais. Seu corpo todo vibrava como se ele estivesse ligado a uma corrente elétrica. Seus membros se enrijeciam de repente e ele só conseguia pensar em como aquilo tudo era tão cruel. Só conseguia ver suas fantasias tolas despedaçadas. Só conseguia ver o fio de esperança se apagando de uma vez, bruscamente.

Mas ele nem teve tempo de respirar.

No mês seguinte foram os Potter, Sirius viu com seus próprios olhos o corpo gelado de James de olhos abertos para o teto. E sentiu que tudo desmoronava enquanto sacudia seu amigo desesperado, mas ele não respondia. Ele via tudo se desfarelando ao seu redor, sentia o enorme nó que se formava em sua garganta e depois o choro estridente e agoniado que saía de algum lugar dentro de si mesmo enquanto ele olhava seu amigo impotente e tentava, mesmo assim, de todas as formas possíveis trazê-lo de volta a vida.

Quem acreditaria em um mundo de Almofadinhas sem Pontas?

Não, não. Impossível!

 

***

 

"Meu velho amigo Pontas,

 

Não sabe o que eu daria para ter você aqui agora, as coisas ficaram bem complicadas. Eu sinto falta do passado a todo o tempo e isso é extremamente doloroso. Não nos vimos depois de sua carta e não nos veremos nunca mais. Marlene se foi, minha filhinha se foi... E você se foi. Talvez o fato de Harry ter sobrevivido tenha sido um sinal para que eu e você continuassemos juntos.

Onde você e Alya estiverem, eu sei que vai cuidar dela para mim.

E enquanto eu estiver por aqui, cuido do Harry para você.

Assim está bom, não acha?

 

Sinto sua falta,

Almofadinhas."


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Notas finais do capítulo

Eu dei uma choradinha quando reli isso.
O que acharam? Comeeeeeeentem. ;)



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