Interlúdio escrita por Lua


Capítulo 1
Theo


Notas iniciais do capítulo

O enredo, lugares e personagens, são todos de minha autoria. Obrigada por me acompanhar em mais um dos meus universos.
Faça uma ótima leitura!



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Já passamos por isso, uma centena.

— Qual foi a última vez em que dissemos “adeus”, para sempre? – Eu perguntei.

— Acho que foi na terça, quando você foi lá em casa.

— Então o de quinta feira agora não valeu? – Tentei soar divertido, mas ela podia sentir que meus músculos estavam tensos. Em outrora, ela tocaria meus dedos para me fazer relaxar, mas não daquela vez.

— Ah é, teve quinta feira.

— O “adeus” nunca é de verdade. A gente sempre arruma um jeito.

— Dessa vez, é. – Ela disse, e seus olhos negros nem se quer ficaram úmidos.

— Você me ama. – Eu falei, e ela sabia que não era uma pergunta.

— Merda, Theo. Pra que isso? Se eu admitisse, aqui, agora, que esse não é o último adeus, que diferença faria? Você ficaria comigo?

Eu não falei, mas ela escutou.

— Eu não consigo acreditar que é assim que acaba. – Disse, enfim.

— Eu também não.

— Então não é a última vez.

Suas mãos repousaram-se sobre a mesa, ela ergueu o olhar e me deixou encarar-lhe os olhos até que eu me constrangesse, mas, quando tentei desviar, silenciosamente, ela me proibiu.

Eu podia sentir a frieza a que ela se agarrava, com todas as forças.

— Você está indo embora. – Ela falou.

Não contive a lágrima, mas Catarina conteve a dela.

— Eu preciso.

O silêncio me ensurdeceu.

— Me perdoa. – Eu implorei.

Ela ainda me fitava profundamente. Vi-a ceder, e, por um momento, pensei que poderia segurar suas mãos.

— Não. – Ela chorou.

— Por favor.

— Não. – Seu tom elevou-se, mas a voz estava embargada.

Sentir-se fraca a envergonhou.

— Eu vou te ver outra vez, e vamos nos falar outra vez. Vamos tentar outra vez, mas não agora. Não hoje. Você não pode me ter por perto, você sabe.

— É. – Ela disse, e a muralha que estava entre nós desfez-se. – Eu sei.

Eu poderia abraçá-la, eu quis abraçá-la. Quis deixar o mundo para trás. Nossos caminhos eram tão diferentes, mas eu a amava tanto... Não parecia ser justo. Não foi justo. Temi que ela nunca entendesse o que estava fazendo, temi que ela, algum dia, fosse me esquecer. Era o melhor que ela poderia fazer. Eu só não conseguia aceitar.

— Não me odeie, pelo menos. – Pedi.

— Eu não consigo te odiar, não vê? Nem em um milhão de anos.

— Eu vou sentir sua falta.

— E talvez, em um milhão de anos, além de sentir minha falta, você me ame também.  

Por que as palavras pesam tanto, se não podemos segurá-las?

— Tudo bem não me amar. – Ela disse.

Havia uma certa serenidade que não havia notado. Ela parecia uma criança crescida, que rala os joelhos, mas aguenta firme, sem espernear.

— Precisamos mesmo ficar aqui até anoitecer? – A pergunta demonstrou insegurança.

— Quero prolongar isso o tanto quanto puder. – Respondi.

Ela calou-se, outra vez, e sorriu, como se dissesse “Vai sarar; logo vai sarar”.

— Fala alguma coisa divertida. – Pensei que ela fosse levantar e ir embora, mas ela ficou.

Não podíamos conversar sobre futuro, ou o passado, nem sobre os sonhos. A verdade é que não podíamos conversar sobre nada. De repente, todas as palavras eram extremamente difíceis. Entretanto, tudo o que eu precisava era ouvir um pouco mais daquela voz.

Então, Catarina começou a cantarolar uma canção feliz. Rimos juntos, ainda que todos os risos nos doessem a alma.

— Talvez os anos te tragam de volta pra mim. – Eu disse.

— Ah – ela começou e, em seguida, soltou um suspiro envolto em gargalhada. – Sobre você, não digo, mas que eles vão me tragar, sem sombra de dúvidas, vão!

— Eu te amo. – As palavras rasgaram-me a garganta.

— Esta é a última vez. – Sua voz estava mais calma do que esperava.

— Você não sabe.

— E se eu morrer? – A leveza com que as palavras saíram de sua boca me provocou arrepios. Não havia medo em seu rosto, nem espanto, nem nada. Meu coração quase saiu do peito. Seus olhos, agora, distraíam-se, e seus dedos brincavam de tocar um teclado imaginário. Catarina parecia despreocupada, entretanto, a tristeza ainda estava ali.

— Você não vai morrer.

— Você não sabe. – Ela levantou a sobrancelha, como quem dá o troco na mesma moeda. — Você não sabe. – Voltou a dizer, em sussurro. Dessa vez, de cabeça baixa.  

Ela tinha razão, eu não sabia, mas ela, sim.

Ela sempre soube.

 


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