I Want Die escrita por Innanis


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Saudações colega o/
Esta é uma one bem curtinha que eu escrevi no meu celular quando meu notebook estava no conserto. Na verdade eu não planejava postar, mas como achei que tinha ficado legalzinha trouxe pra minha conta c:
Espero que goste, boa leitura ♥ Nos vemos lá embaixo o/
*Eu acho que o texto possa ter ficado desalinhado por motivos que desconheço, de qualquer forma, se ocorreu, minhas sinceras desculpas :c espero que não incomode*



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Estava sentado em minha cama.

Ele me fitava intensamente. Ele. O outro.

Todos os dias ele direcionava aqueles olhos cansados para mim. Tentava me convencer de que eu era como ele imitando meus gestos. Mas eu sabia que não era. Eu não tenho aquele semblante cansado. Suas densas olheiras sob os olhos.

Por que estava sendo assim?

Não me lembro da última vez que me levantei para abrir as janelas e permitir que os raios solares iluminassem meu quarto sombrio. A vida havia se tornado algo inútil, algo sem sentido. E estava sendo assim desde aquele dia.

Aquele dia.

Eu andava calmamente em minha pacata rua. Estava arruinado. Ela havia terminado comigo. Fui até o bar que meu pai frequentava antes de falecer e me sentei em um dos bancos diante do balcão. 
— Eu quero a mais forte que você tem. – Pedi apoiando as mãos sobre a superfície gelada. 
O bartender se aproximou enquanto enxugava um copo com um pano branco e arqueou uma de suas grossas sobrancelhas para mim. 
— Garoto, você é menor de idade. 

Bati meu punho cerrado na mesa.
— Apenas me sirva logo! – Ordenei apertando minha mão até minhas unhas machucarem-na.
O homem repetiu meu gesto ao colocar as mãos sobre o balcão, antes deixando o copo sobre o mesmo, e se aproximou de meu rosto. 
— Nós não costumamos burlar as leis aqui, meu caro. 
Ergui a identidade do meu pai. Éramos extremamente parecidos, mas claro, eu era mais jovem.
— Você não vai me enganar com essa, eu sei que você não é o Sr. Wallace. Ele morreu ano passado. – Disse voltando a limpar o copo – Desista, garoto.
Tirei a arma, que havia pegado mais cedo, de meu bolso e apontei-a para ele. As pessoas ao redor voltaram suas atenções a mim. Alguns levantaram enquanto outros apenas observavam. Aquela típica curiosidade humana. 
— Você não quer fazer isso... – O bartender recolocou o copo sobre a mesa e ergueu as mãos.
Eu estava descontrolado. Só queria fugir daquela terrível realidade que ela me submeteu naquela manhã. Só queria esquecer o que fez. Esquecer que ela virou de costas para mim e abraçou outro homem.
— Me serve essa porra de bebida! – Gritei. Minha mão tremia de uma maneira que nunca tremera antes.
O homem assentiu com sua cabeça e despejou uma bebida transparente em um copo. Guardei a arma e virei-o. Repeti isso por mais umas vezes até perder minha consciência.
Tudo se tornou uma escuridão que parecia aconchegar-me, abraçar-me. 
Quando acordei estava largado em um banco. Fedia. Retornei para casa cambaleando, minha cabeça latejava. Quando cheguei apenas me joguei na cama e fiquei lá. 
Segundos, minutos, horas. Quem sabe?
Quando resolvi sair dali tirei a camada de sujeira que recobria minha pele com um longo banho, estava parecendo um mendigo. Minha boca exalava um odor de carniça, era repugnante. Minha mãe estava trabalhando, então apenas vesti uma roupa qualquer e liguei a TV em um volume bem alto.
Foi aí que meu pulmão parou. Os olhos arregalaram. Arregalaram muito. O pânico que tomou conta de mim escorria pelos olhos com a ajuda das lágrimas. Minhas mãos que tremiam novamente abraçaram minha boca arreganhada involuntariamente.
O repórter bem vestido informava sobre uma jovem adolescente assassinada. Ela recebera três tiros no peito. O problema é que era a minha garota. A minha
Corri até minha calça pútrida e retirei o velho revólver de meu pai de seu bolso traseiro. 
E aí todo meu corpo travou. 
Faltavam três balas. 

Três balas.
Três.
Em um ato desesperado larguei-a sobre a calça. Não queria mais ver aquele objeto terrível diante de mim. Fui eu, eu que matei. Eu tirei a vida da minha garota com aquela coisa. 

 

Sem ela a vida não era nada senão escuridão. Não me lembro mais do gosto dos meus alimentos favoritos. Músicas, elas não passavam de barulho sem sentido. Quem sabe quanto tempo se passou desde que tudo isso aconteceu?

Há quanto tempo que a vida deixou de fazer sentido?

Só consigo me lembrar dela entrelaçando seus dedos nos dele e abaixando o olhar. Aqueles olhos tomados pela culpa.

Nós éramos tão felizes. Sentia vontade de eternizar todos nossos momentos, tudo que nós fazíamos e sentíamos.

“Eu te amo” Ela dizia com aqueles olhos cintilantes. Agora o que eram essas palavras senão um vazio sem sentido?

Mas eu tinha que tomar uma decisão. Eu não queria mais que fosse daquele jeito, pelo menos no fim alguma coisa boa eu iria fazer. Peguei uma folha de meu caderno de história e o lápis azul de meu estojo. Estiquei-a sobre a escrivaninha e suspirei.

      Estou aqui, escrevendo isso, para dizer algo que está martelando em meu peito. Algo que está me matando por dentro. Me devorando. Certo dia um desastre aconteceu, estava eu e uma arma. Bebida. Muita bebida. Não sabia o que havia feito, até acordar e ouvir o noticiário.  Sou um assassino agora. Matei Mary. Três balas faltavam em meu revólver. 
      Eu sinto muito... mãe... todos... 

     

Parei. Fiquei um tempo ali ponderando. Ponderando sobre tudo. Levantei para vê-lo. 
Ele me olhava. Seus olhos tremiam, tremiam de angústia. Aqueles olhos um dia tão invejados. Eles desviaram para o canto do meu quarto onde umas roupas estavam largadas, roupas que fediam mais do que cadáveres em decomposição. Eu sabia o que ele queria dizer. 
Fui até aquela nojeira e tirei-a de lá. A arma. Tive que fitá-la por um tempo antes de voltar para vê-lo. Ele assentiu com sua cabeça para mim. Ele tinha razão. Era aquilo. Tinha que ser. Levantei vagarosamente o cano e enterrei-o abaixo de meu queixo.  
Iria tirar daquele mundo corrupto mais uma existência desprezível. Uma existência nojenta. Neste mundo onde nós caminhamos por aí como pessoas comuns, nos misturamos, conversamos, brincamos, fazemos várias coisas como se fôssemos como elas. Nós, monstros. 
Não somos como eles. 
Alguns são encontrados, outros, como eu, se entregam, mas o resto... o resto continua perambulando por aí como se fossem iguais, como se fossem gente. 
Mas não somos como eles.
Somos monstros, monstros colocados nesse mundo com o objetivo de plantar discórdia. E agora eu estou com meu instrumento de destruição e morte apontado para minha própria cabeça.
Cansei de pensar, apenas puxei o gatilho.

Um disparo é a única coisa da qual me lembro.

Sempre quis saber o que estava além, o que tinha depois de nossa morte. Nunca acreditei que um homem barbudo e cabeludo olhava por nós lá em cima.

Os humanos apenas precisavam de algo plausível a eles que explicasse sua existência. E era a imagem de um homem sustentada por eras. Um homem que nos cuida. Eles precisam daquilo, mas nunca souberam ao certo por que estavam ali. Por que viviam.
Um blecaute. A escuridão parecia vir até mim e me aconchegar em seus braços. Envolver-me.

Então ele veio. Apareceu diante de mim. Encarava-me com um sorriso no rosto. Parecia feliz. Abriu seus braços, me chamando para um abraço. Fui até ele e o abracei. O meu guia. O homem que me aconselhou no fim. Eu estava feliz em seus braços quentes.
Mas eu não podia me esquecer. 
Eu sou um monstro. 
Senti algo afiado no bolso esquerdo frontal de minha calça. Nem pensei duas vezes. Peguei o objeto e avancei-o contra o abdômen vacilante de meu guia. 
— Você não precisa mais disso. – Sussurrou em meu ouvido. 

Sua mão segurava firmemente a lâmina a poucos centímetros de sua pele. Eu estava ali agora.
Estava naquele lugar. Fui parar ali por não aceitar. Não podia suportar vê-la nos braços de outro. Seus doces lábios roçarem em lábios que não eram os meus. Eu não podia deixar aquilo acontecer. 
Então a matei. Tirei a vida daquele lindo ser iluminado. Um anjo. Um anjo que se apaixonara por um demônio.

Éramos felizes. Muito felizes.
E esta alegria sumiu como se fosse dissolvida. Como se fosse pisada. Aqueles lábios retraídos no final, como se pedissem perdão. 
Meu guia afastou-se. Ele sorria. Sorria para mim. E sumiu simplesmente. 
Encontrei-me então só novamente. Como sempre deveria ficar. Como sempre mereci ficar. Mas então ela voltou, a escuridão. Abraçou-me novamente. 
Era o lugar que eu deveria ficar.
Uma imensidão sem fim.
Um mundo sem cores.
Agarrado.
Agarrado no aconchego que a névoa me proporcionava.

O meu único aconchego.


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Notas finais do capítulo

Quando eu escrevi isso eu não havia pensado em passar nenhuma mensagem profunda ou nada do tipo, mas alguns de meus amigos que leram dizem que sentem algo quando leem isso e a autora aqui não sabe bem o por que disso.
Anyway, anyway, é isso ^^ Foi uma one beem curtinha mesmo, mas a achei bem interessante.
Espero do fundo do coração que você tenha gostado o/ Nos vemos numa próxima c:
Um ótimo dia pra você!