Primaveras escrita por Melli


Capítulo 52
Capítulo 52




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Havia alguns dias que mamãe andava preocupada comigo e o motivo não era tão preocupante assim. Bom, pelo menos para mim. Tia Sara havia me contratado para ser babá do pequeno Aoi, já que depois de um teste feito com outra babá, o menininho não se familiarizou. Na verdade acho que a babá acabou espantada com o Aoizinho, que desde pequeno já deixava pela casa, rastros de suas “artes”. Papel higiênico rasgado, vasos quebrados, embalagens de cotonete vazias... Isso não era nem a metade das coisas que o menininho aprontava. Aoi tinha um aninho e sua personalidade se assemelhava um pouco com a dos irmãos, exceto pela irritabilidade, já que Aoi era um pouco mais calmo. Sempre quando eu aparecia por lá, já vinha de bracinhos abertos em minha direção, como se pedisse para que eu lhe pegasse no colo. Eu lhe contava histórias, sentava-se no chão para brincar de bonequinhos, assistíamos aos desenhos na TV... Enfim, o menininho era para mim como um amigo em miniatura e estar perto dele me trazia muita alegria e boas recordações de minha infância.

— “ Aoi gosta muito de você!” – Lembrei-me de tia Sara dizendo. – “ Eu ficaria muito feliz se você pudesse cuidar dele quando eu não estiver em casa. Não será muito, eu lhe prometo!”

Me foi oferecido um bom dinheiro pelo serviço, entretanto, em certa parte eu não me interessava pela quantia, mas sim, em deixar o pequeno e sua mamãe feliz. Ok, eu também gostaria de ficar perto de Sage, mas aceitei o serviço por querer ser útil e por já ter ajudado a Tia Sara com o pequenino há algum tempo. Então, com prazer aceitei o trabalho. Falando do Sage, tia Sara teve uma conversa particular comigo, dizendo para que eu tomasse cuidado com tudo o que acontecesse entre eu e Sage, já que algo estava rolando entre nós dois e ela já estava ciente. Ela também teve com o seu filho a mesma conversa que teve comigo, e alertou a ambos que Rachel estaria por lá e de olhos abertos a qualquer atitude inadequada dos dois. Essa conversa me deixava com um pouco de vergonha e medo, pois eu sentia que ela estava dando aqueles avisos porque de fato eu havia desrespeitado suas regras, mas não... Eram somente avisos, pois eu sempre busquei fazer tudo corretamente, para que não levasse nenhuma bronca.

Ela também conversou com mamãe, lhe dizendo que não tomaria o tempo de meus estudos, já que no período em que estávamos na escola, ela estaria com o pequeno. Disse ainda, que se eu quisesse, poderia levar a tarefa de casa para fazer em meu serviço, porque assim, eu poderia olhar o menininho e no tempo restante, fazer a lição juntamente com os trigêmeos. Tia Sara ainda avisou mamãe quanto ao horário de meu ballet, dizendo que ela não precisaria de meus serviços nesses dias, e que deste modo, a criança ficaria sob seus cuidados. Caso eu precisasse trabalhar no período da noite, a tia deixaria eu dormir em sua casa, no quarto de hóspedes, e me levaria até a escola pela manhã.

O que meus pais acharam disso tudo? Bem, papai me espantou com sua brilhante opinião, a qual dizia que um trabalho iria me abrir os horizontes para novas esperiências e que seria legal eu trabalhar na casa de conhecidos, pois com certeza iria ser algo muito prazeroso para mim. E claro... Terminou seu discurso dizendo que não gostaria de ouvir reclamações de que eu estava namorando em serviço. Cruzei os braços e bufei, dizendo pela milésima vez que Sage não era meu namorado. Enfim, mamãe também gostou da ideia do novo emprego, mas preocupava-se com várias coisas. “ A menina não irá incomodar suas refeições, Sara?” “ Não atrapalhará a hora de dormir?” “ E a rotina dos meninos?” Enquanto tia Sara era bombardeada de perguntas, ela apenas sorria e dizia de uma forma que até se assemelhava com Sage:

— Relaxa! Deixa tudo com a gente! De forma alguma Melli  atrapalhará. Ela fará parte de nossas rotinas e aliás, ela não terá dificuldades quanto a isso, já que a consideramos como sendo de nossa casa.

Enfim, lá estava eu em um dos meus primeiros dias e trabalho. Tia Sara havia sido convidada juntamente com tio Leon, para um jantar dos amigos do trabalho dele. Nem tive tempo de vê-la sair, já que estava no banheiro retirando a roupinha do Aoi e preparando o seu banho. O garotinho, que já andava, estava inquieto. Hora mordia a roupa, hora tentava enfiar a cabeça no vaso sanitário... Vendo aquilo, confesso que achei graça , mas como sua babá, eu tinha de fazer algo.

Ouvi risadas no corredor, e enquanto segurava o menino na banheira, voltei meu olhar em direção a porta do banheiro.

— Ei, Aoi... Tem alguém rindo aí fora! Você sabe me dizer quem é?

Mesmo sabendo que ele não falava muitas coisas (apenas balbuciava e de vez em quando soltava um "mama"), eu sempre conversei com ele. Acho que era uma forma de estimular, além de estabelecer uma relação mais agradável com ele.

— Uauauauaaa!! – Repetia o menininho, batendo as mãozinhas na água.

— Éééé! Estão se escondendo! – Olhei para a porta, depois de ver o vulto de alguém.

— Hmmm hmmmnhaaa!! – Aoi jogava água em meu rosto, enquanto tinha na boca uma mecha de meu cabelo.

— Oh nãão! Não pode pegar o cabelo da tia! – De forma delicada, eu retirava da boca dele os cabelos.

— Tá difícil aí, Melli? – Sagi aparecia na porta, ainda rindo.

— Um pouco... Mas não tem problema... Só você está aí?

— Ah não... Os cabeçudos estão aqui também, ó! – Sagi puxava pelos cabelos os irmãos.

Os dois gritavam, e irritados, por pouco não bateram na irmã. Ainda achando graça da situação e da cara que os irmãos fazia, Sagi ainda ria e debochava dos dois, que não se calaram ao ouvir as provocações e logo soltaram uma chuva de palavrões. Tampei com as mãos as orelhas do menininho, para que ele não ouvisse os insultos. Ele poderia não entender agora, mas se aprendesse a dizer aquelas palavras, certamente estaríamos encrencados. 

Após o banho do menino, tive de deixa-lo com os irmãos, pois eu iria trocar de roupa depois que o menininho sapeca me deixou toda molhada. Eles me prometeram que não iriam falar besteira alguma para ele e não haveria grosserias. No quarto de hóspedes, retirei toda a roupa molhada e coloquei um pijama confortável. Eu poderia não estar em casa, mas este hábito eu não abandonava: Logo após o banho, eu sempre colocava meu pijama, como forma de acalmar o meu corpo e prepara-lo para a hora de dormir. Tia Sara não havia me falado nada sobre não poder vestir pijama antes de dormir, então não achei que esse fosse um problema. Ela me dizia para que eu me sentisse a vontade, mas eu sempre o fiz com moderação, afinal, eu não estava em minha casa e não podia me comportar mal, mesmo que eu estivesse muito bem familiarizada com o ambiente e com os Yamazaki. Bem, eu sabia o que podia ou não vestir, então fui bem cuidadosa na escolha de meu pijama:  A blusa era de manga comprida e  coberta por estampas de pequenas e suaves flores cor de rosa. A calça era comprida e azul marinho, sem muitos detalhes. Era um pijama simples, mas que fazia eu me sentir bem, pois minha avó Lira havia me dado de presente e ele era tão quentinho e aconchegante, que eu o comparava com um abraço dela. Não era sempre que eu a visitava, pois nos era um pouco difícil ir até o litoral, então o pijama era a recordação mais próxima que eu tinha de minha avó paterna.

Vesti uma meia e de pantufas nos pés, desci as escadas até a sala, onde estavam todos.

— Demorei? – Me aproximei do sofá, onde Sagi estava sentada.

— Nossa... Demorou muito! Brincadeira, Melli! – Sagi sorria, puxando a coberta do sofá para que eu me sentasse.

— Hahaha! Desculpa... E obrigada pelo espacinho! – Me sentei ao lado de minha amiga.

— Sage está feliz por você estar aqui... Vai dormir com ele? – Sagi sussurrava.

— O QUE?? – Me espantei ao ouvir aquilo. – Mas é claro que não! Eu não quero perder meu emprego... – Sussurrei no ouvido de minha amiga.

— Pode ir... Nós  encobrimos tudo! – Sorria, de forma maliciosa.

— Você... Não pode estar falando sério...

— Mas claro que estou! Vai me dizer que nunca pensou em dormir com ele?

Olhei para Sage, enquanto ele brincava com os irmãos e naquele instante, imaginei nós dois deitados na mesma cama. Ele, de cabelos soltos, me abraçava enquanto dormia. Sentia sua respiração ofegando em minha orelha e seu corpo me transmitia um confortável calor. E eu, me encolhia toda morrendo de vergonha, mas simultaneamente, achava aquilo uma graça!

— Ei, Melli... Está mal? – Sagi olhava para o meu rosto, que deveria estar mais vermelho do que quando queimado pelo sol. – Quer tomar um pouco de ar?

— Não, não... É só...

— Vergonha? Bem... Se vocês começarem a namorar, vai ter que se acostumar com isso. E se um dia se casarem? Vai dormir na mesma cama que ele todos os dias e ainda vai aguentar as bufas!

— Só espero que ele não esteja ouvindo tudo isso...

— Está brincando com o Aoi e o Saga, não se preocupe! É um milagre que os três estejam brincando e não arrancando a orelha um do outro...

— Ah... Com certeza! Hahaha! Que gracinha...

— Claro, é porque você está aqui. Bem... Vou até a cozinha. Quer vir junto comigo? – Sagi perguntava-me, se levantando do sofá.

Quando eu estava prestes a responder a pergunta de minha amiga, Rachel apareceu sorrindo na porta da sala, dizendo que o jantar estava servido. Toda alegre, ela dizia para que eu adivinhasse o que seria servido naquela noite e eu sem ideia alguma do que fosse, disse que não sabia. Assim que escutei “macarrão com frango”, um sorriso largo estampava-se em meu rosto e meus olhos brilhavam, já imaginando o quão gostosa estaria aquela refeição. Já fazia algum tempo em que eu não provava de meu prato favorito. O motivo? Não sei... Eu gostava de macarrão com frango, pois minha avó sempre fizera para mim, então comer um prato desta delícia, na minha opinião, não me era agradável  somente por seu sabor, mas também por estar habituada a comer lá na fazenda.

A hora da comida estava sendo um pouco problemática para mim, pois o menininho Aoi também comia junto de todos e por este motivo, eu acabava por me atrapalhar um pouco, dando uma colherada de macarrão para ele, enquanto também me servia de uma garfada de comida. Eu não podia parar um segundo sequer para me servir, pois certamente o pequeno seria capaz de virar o prato de macarrão em sua cabeça. Em meio aquela confusão, percebi que eu era alvo dos olhares dos quatro. Sim, Rachel também estava jantando conosco, e por sua expressão, eu sabia que estava preocupada comigo. Minutos depois, percebi que eu deveria alimentar primeiramente o Aoi e depois comer e isso funcionou tão bem, que repeti a tática com a sobremesa.

Após o jantar, retirei Aoi do cadeirote e com uma fralda de pano levemente úmida, limpei as sujeirinhas que ele havia feito. Sem dúvidas! As caquinhas eram menores quando ele estava com babador. Da sala de jantar, era possível escutar uma falação vinda da sala, e de imediato, me dirigi para lá juntamente com o Aoi,  a fim de acabar com minha curiosidade. No momento em que cheguei na porta, percebi que os trigêmeos andavam de um lado para o outro, retirando almofadas, colocando-as em algum lugar, estendendo cobertores...

— Vamos brincar de guerrinha! – Diziam eufóricos e saltitantes.

Eu disse que não gostaria de ficar lá e me retirei com o menininho até seu quarto, onde começamos a brincar de bonequinhos.  No meio da brincadeira, Aoi começou a ficar choroso e empurrar para longe os bonequinhos que brincávamos. Talvez estivesse cansado daquela brincadeira, ou estava de fraldas sujas.  Puxei sua calça para trás, juntamente com a borda da fralda, até perceber que ali não havia sinal de cocô. Talvez estivesse com as fraldas encharcadas, e assim que eu a retirei, pude mesmo concluir que ele havia feito xixi. Eu o limpei, como tia Sara havia me ensinado, passei pomadinha e coloquei mais uma fralda nova. Pronto! Estávamos preparados para brincarmos novamente, entretanto, assim que o segurei no colo, Aoi encostou a cabeça em meu ombro, como se estivesse ficando sonolento. Aconcheguei-o em meus braços, enquanto me balançava suavemente para lá e para cá, na esperança que o menino dormisse. Seus olhinhos fecharam em poucos minutos, sua respiração tornou-se mais tranquila e lá estava o pequenininho adormecido. Prestes a coloca-lo no berço, ouvi uma gritaria, e imediatamente uma almofada voou no corredor, acertando alguém que estava por ali e certamente Aoi acordou chorando assustado com a algazarra que acontecia do lado de fora.

— Por favor, gente... Não façam barulho... – Pedi, tentando não parecer chata aos olhos dos três ruivos bagunceiros. – Estou tentando fazer o Aoi dormir...

Ninguém parou para me ouvir, então, decidi descer até a sala e acalmar novamente o menininho.

— Pronto, pronto... Estamos só eu e você aqui! – Passei as mãos sobre os cabelinhos dele, para que o deixasse mais calmo. – Eles não voltam mais...

Sentei-me no sofá com o menino nos braços e me envolvi em um cobertor que estava ali em cima. Talvez se sentindo mais aquecido ele voltaria a dormir.  Em meio a soluços, seus olhinhos tentavam fechar, enquanto algumas lágrimas escorriam. Meu coração se partia ao ver uma criança pequenininha tão assustada. Tão pequena e indefesa...

Percebendo que ainda não dormia, em voz calma, comecei a cantar uma canção de ninar, que aparentemente o deixava mais calmo. Poucos minutos depois, senti sua mãozinha soltar-se de meu dedo e ao olhar para seu rostinho, observei que havia adormecido. Rapidamente subi as escadas e o levei para seu quartinho. Encostei a porta rezando para que para que os barulhentos não acordassem o menininho, pois se assim acontecesse, certamente ele choraria de novo. Desci as escadas, me sentei no sofá, liguei a TV e me cobri com o cobertor, que há momentos atrás eu usava. Eu não sentia, mais alguém me observava por trás do sofá. Aproximava-se cada vez mais, enquanto entretida, eu nada via.

— Mas quem diria... – E lá vinha Sage, sentar-se junto a mim, depois de se jogar pulando o encosto do sofá.

— E aí! Veio me fazer companhia? – Estendi um cobertor para que ele pegasse.

— Pois é... Mas me diz aí quando foi que você aprendeu a cantar...

— Eu? Cantar? Só se for no chuveiro! Hahaha! Mas então você estava espiando... – Lancei a ele um olhar intimidador.

— Te espiando? Você acha que eeeu faria isso? – Disfarçava.

— Não só acho como eu tenho certeza, senhor Yamazaki...

— Mas é sério, cara... Nunca ouvi sua voz desse jeito... – Sage aproximava-se de mim, trazendo consigo o cobertor.

— De que jeito? Eu particularmente acho minha voz horrível. Infantil, um tanto quanto estranha as vezes...

— De um jeito diferente... Eu gosto da sua voz. Ela me deixa tranquilo...Você poderia cantar para mim na hora em que eu for dormir? – Dizia, próximo ao meu rosto.

— Mas... Eu não levo jeito com isso... – Espantados, meus olhos saltaram de meu rosto.

— Eu não quero saber! Digo... Talvez me ajude a dormir...

Acho que qualquer coisa que eu dissesse não faria ele desistir tão cedo, afinal, Sage sempre persistia até conseguir aquilo que desejava. E eu... Não sabia muito bem como reagir a um convite desses, apenas me encolhia toda no sofá, enquanto ele sorria, esperançoso de ter sua música na hora em que estivesse na cama.

— Eu não sei como vou fazer isso, Sage... Alguém pode me ver!

— Relaxa! Se alguém entrar no quarto, você inventa algo... Diz que estava colocando algo ali e se sentou na cama... Sei la... Você é boa com essas coisas de imaginação. E aí... Você vai?

Me calei alguns instantes, pensando em minha resposta. Enquanto isso, ele ficava apreensivo.

— Tudo bem, eu vou!

— Issooo! – Sage comemorou, saltando do sofá e quase me jogando para fora dele.

— Sei que você fica com sono tarde, mas quando quiser ir para o quarto, me avise! – Fechei os olhos, com vergonha do que dizia.

— Eu aviso, mas enquanto isso... Vamos ficar por aqui. Vem ca... – Sage, que após a comemoração havia se sentado, batia no assento ao seu lado, me chamando.

Aproximei-me de meu querido sentindo aquele arrepio, aquela vontade de ficar ali para sempre. Queria toca-lo, abraça-lo, sentir o calor emanar de seu corpo e transformar-se em amor dentro de minha pessoa. Talvez eu não saiba muito transformar em palavras toda a boa energia que estava sentindo. Sage estendeu a mão, buscando alcançar uma mecha de cabelo que estava presa por um rabinho atrás de minha cabeça.

— Sabe, é muito raro te ver de cabelo preso. Mas eu até que gosto...

— É mesmo? Você prefere assim?

— Gosto dos dois jeitos, mas sei la... Eu não te vejo assim todos os dias! – Sage enrolava no dedo a mecha de cabelo.

— Pois te convido a assistir minhas aulas de ballet! Assim você poderá me ver de cabelo preso em todas elas! Além disso, eu gosto muito quando você me assiste...

— Ohohooo! – Ele se esticava todo no sofá e parecia admirar-se com meu convite. – Quer mesmo que eu vá te ver dançar? Eu não tenho muita paciência, mas...

— Do que você está falando, Sage? Já me viu dançar um montão de vezes! Não venha com essa de “ eu não tenho paciência” Hahaha!

— Por isso eu digo que não vou te assistir mais uma vez! – Como forma de brincadeira, jogou a mecha de cabelo em meu rosto.

— Bobinho... Eu duvido que você não queira ver... – Cruzei os braços, fingindo estar zangada.

— Estou zoando você, Melli! Hahaha! Eu não perco por nada a oportunidade de te ver usando collant... – Sage levantava as sobrancelhas, lançando a mim mais um de seus olhares maliciosos.

Diante de sua atitude, fiquei sem palavras e antes que eu pudesse me levantar do sofá, Sage saiu correndo em direção a biblioteca.  Me levantei e também corri atrás dele e mesmo que não fosse lhe descer uma “bulachada” no rosto, fingi que lhe daria uns bons cascudos por sua audácia, afinal, aquilo me deixou muito constrangida! E só não me escondi pois... Pois... Eu também tomei coragem de fazer algo! Entrei na biblioteca e acalmei meus passos quando fui adentrando ao escuro ambiente. Acho que ele não estava ali, pois tudo estava quieto demais. Não pode ser! Juro que o vi entrando ali! Bem, pode ser que se escondeu. Em meio ao escuro, entrei pelos corredores repletos de estantes, apalpando o que estava em meu caminho. Tomei bastante cuidado para não cair, afinal, eu era a rainha das quedas. Por azar eu não estava com meu celular e por este motivo eu não pude iluminar o caminho. Lá fora, ouvi o som do vento balançar a fortemente as árvores e um arrepio percorreu a minha espinha. Imaginei-me em um filme de terror onde alguém sempre aparecia em meio ao escuro, agarrando e levando o indivíduo para algum lugar. Naquele instante eu não conseguia mais andar. Parei bem em meio ao grande corredor de estantes e ousava dar mais um passo se não fosse pelo aterrorizante barulho do trovão.

*CABRUUUUM!*

O susto que tomei foi tão grande, que caí no chão e dei uma cabeçada em algo que estava atrás de mim.

— Melli? Tá tudo bem aí? – Percebi que alguém me levantava do chão, segurando em meu braço.

— Tá tudo bem sim... É você, Sage?

— Não... Elvis Presley! – Riu.

— Puxa... Para mim ele já estava morto. Eu quero um autógrafo!

— Mas é claro que sou eu, Melli!

— Eu suspeitei mesmo... Elvis não tinha tanto cabelo assim. – Brinquei, balançando uma mechinha de cabelo.

— Tem algo contra o meu cabelo? – Senti ele me pressionar contra seu corpo, enquanto sussurrava próximo a minha orelha.

— N-não... Eu gosto dele... – Ainda bem que estava escuro, pois eu estava roxa de vergonha.

— Hm... É mesmo? – sussurrou, encostando sua testa na minha.

 Alguns fios de seu cabelo encostavam em meu rosto e comecei a ficar nervosa, temendo o que viria aseguir. Eu podia sentir de perto a sua respiração, o seu coração batendo rapidamente e o quão apaixonado estava. Minha vontade era de acender a luz e observar o quanto o seus olhos irradiava a paixão existente em seu coração, entretanto, talvez o escuro fosse perfeito para ficarmos juntos e quem sabe... O meu primeiro beijo acontecer.

— Sim, eu adoro o seu cabelo... – Com as mãos trêmulas, acariciei uma mecha que estava frente a seu rosto.

Delicadamente seus dedos acariciavam minha mão, como se ele quisesse me deixar mais calma. Eu me apaixonava ainda mais por ele quando estava tão meigo, quando assumia frente a mim uma personalidade que eu nunca pensei que pudesse ser sua.  Sage sempre era muito duro, de expressão fechada... Mas nas mãos certas, derretia-se como manteiga no pão quentinho.

— Não precisa se assustar com trovões... Não é nada. – Mal sabia ele que o motivo de eu estar nervosa era outro.

— Mas... – E lá vinha outro trovão e eu me encolhia ainda mais sobre ele.

Sage não dizia nada, mas senti que ele encostou minha cabeça em cima de seu peito.

— Você é tão fofo... – Abracei-o e acarinhava suas costas.

— Pfff! Não diga besteiras... Sou como um vulcão prestes a entrar em erupção!

— Mesmo assim, você consegue ser fofo e eu gosto ainda mais de você por isso.

Oi – Hm? Não entendo...

— Gosto de você exatamente por ser assim bravinho! E também... Porque eu consegui conhecer os seus sentimentos mais profundos... Consegui te ver mais do que um amigo...

Ele riu. Não foi de deboche, ou porque achou engraçado. Na verdade, minhas palavras acabaram-lhe tocando, mas ele escondia seus verdadeiros sentimentos atrás de seu riso, entretanto, achei que ele estava mesmo rindo para me provocar ou coisa assim.

— Tudo bem... eu não deveria ter falado isso mesmo... – Me soltei dele.

— Não Melli... Não foi isso que...

Saí da biblioteca achando que ele estava somente querendo curtir. Se ele realmente gostava de mim? Naquele instante eu achava que não, mesmo que anteriormente ele estivesse me abraçando e que suas atitudes sempre me mostrassem o quanto ele se importava comigo Subi até o andar superior, escovei meus dentes e fui até meu quarto. Entrei, me sentei em cima da cama me segurando para não chorar. Talvez fosse paranóia minha, mas eu pensava que ele realmente estava querendo me zoar. Meus olhos tristonhos não percebiam o movimento ao meu redor e eu também sequer ouvia algum som a não ser o da chuva. Ao alcance de meu olhar estavam dois pés, com meias de diferentes pares.

— Você precisa me ouvir! – Sage segurou com força meu pulso.

Subi meu olhar, limpando as lágrimas e lá estava ele com expressão zangada.

— Sage... Tá me machucando!

— Me perdoe...–  Logo me soltou. – Eu ri, mas não foi por mal. – Ele me olhava diretamente nos olhos, e eu sentia mesmo que ele estava arrependido por sua ação.

— Então você gosta de mim?

Ele bufou, não acreditando no que ouvia.

— Olha, eu vou te dizer uma coisa. Eu gosto de você. Se eu não te provar o contrário, não fique pensando asneiras! – Com olhar furioso, ele avançou sobre mim, fazendo com que eu me deitasse novamente.

— O-ok... – O olhei com medo.

— Nunca, mais nunca pense coisas sem eu te dizer! Esqueça essa ideia boba! Eu gosto de você e pronto!

— Me desculpe...

— Ta... Vamos esquecer isso, mas mudando o assunto, alguém iria cantar para mim na hora de dormir...

— Vou aproveitar que você está irritado e... – Me sentei na cama.

— Eu não estou!

— Ok, Sage... Deite-se na... Opa, espere aí.  Você vai dormir aqui no meu quarto?

— Sim, algum problema? – Ele já puxava a cama que havia em baixo da minha.

— Todo! Digo... Não, quero dizer... Por mim não tem nenhum, mas... Você sabe.

— Relaxa! A porta está trancada e todos devem estar dormindo. Vem... – Sage batia para um lugar vago ao seu lado na cama.

— Eu nunca fiz isso antes, então espero não fazer do modo errado.

— É só cantar... – Sage aninhava-se com a cabeça em cima de minhas pernas e já fechava os olhos.– Boa noite!

Oi – Boa noite!

 - ...

— ...

— Vamos! Pode começar. – Sage abriu um dos olhos.

— Ah, tudo bem então, lá vai! “ you would not believe your eyes, if ten million fireflies,, lit up the world as I fell asleep...”

Sage suspirava como se estivesse aliviado, completamente relaxado. Algumas estrofes da música seguiram até que ele adormeceu. Quando dizia que eu o acalmava, sempre pensei que não havia sentido algum em dizer isso, mas naquele instante, eu até passei a acreditar que eu tinha superpoderes ou que eu era um Jigglypuff. Eu tinha poderes sim! Tranformava as feras em doces carneirinhos e ainda derretia os mais duros corações. Que felicidade! Ao descobrir isso, o meu coração era quem desmanchava-se em tanto amor. Desmanchei-me ao ver meu anjinho ruivo dormir. Sua expressão estava tão tranquila quanto sua respiração, então eu tive certeza de que fiz um bom trabalho. Após admira-lo dormir, soltei-lhe os cabelos para que não ficasse incomodado com laço lhe prendendo a cabeça e acabei por me espantar com tamanha beleza e doçura de meu amado em meio a seu sono.

— Tão lindo... – Suavemente toquei seu rosto. – Como eu gosto de você, Sage... Como eu gosto...

Eu não percebia, mas por um instante ele abriu um dos olhos e após um discreto sorriso, voltou a dormir.

 


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