Primaveras escrita por Melli


Capítulo 42
Capítulo 42




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Bem, a essa altura, acho que devo explicação sobre uma porção de coisas. Se lembram do meu amigo Lysandre? Pois é, resolvi sair com ele para resolver aquele assunto que tanto me deixava aflita. Fomos até o parque e lá eu pude dizer, mesmo que ainda confusa o que estava acontecendo, e me surpreendi com a reação dele. Achei que ele iria chorar na minha frente, não me deixar ir embora, mas ele simplesmente sorriu e disse: Ok! Talvez estivesse magoado, mas não quis demonstrar isso enquanto estavamos juntos. Para mim também foi difícil assumir os meus sentimentos, pois era como se eu estivesse fazendo algum mal para o meu amigo. Pode ser que eu não saiba direito o que queira, mas prometi a Lysandre que eu sempre seria sua amiga, e que nossa relação não iria mudar, não importa o que aconteça. Claro, eu acho que ele não seria tão carinhoso como antes, pois certamente saberia que Sage iria ficar com ciúme. Sim, ele já está sabendo que eu gosto do Sage, e inclusive se dispos a me ajudar em tudo ao que se relaciona com a atração que eu sinto pelo carinha dos cabelos avermelhados. Enfim... No final das aulas de uma sexta-feira, eu retirava do meu armário todos os meus pertences. Me causou certa comoção retirar tudo dali e colocar em uma caixa, mas aquilo seria preciso. Livros, revistas, cartinhas das amigas, bilhetes de cinema pregados com adesivos... Retirei tudo, sentindo um nó se formando em minha garganta. Por mais que eu quisesse mudar de escola, a Red Roses sempre será lembrada por mim, pois eu estava ali desde muito pequena, e aliás, foi nela que conheci os trigêmeos e a Tiffany, meus melhores amigos da escola. Mamãe estava na sala de aula junto com os outros pais na reunião em que seriam entregues nossas avaliações, enquanto eu, sozinha no corredor recolhia as lembranças de meu armário sentindo cada vez mais vontade de chorar. “Vamos, Melli... Pode chorar, ninguém vai te ver...” Quando acabei de limpar o meu ex armário, me coloquei frente a ele e não aguentei. Senti meus olhos se enchendo de lágrimas e antes mesmo que eu pudesse sair dali, senti alguém passar atrás de mim e dar um tapa em um dos rabinhos do meu cabelo.

— Escutem, meninas! Hoje teremos festa! – Era Karen, que aos pulos comemorava junto ás amigas. – A caipira vai embora!

— Isso, comemore... – Limpei minhas lágrimas. – Aliás, eu deveria estar fazendo a mesma coisa por não mais ter que ver essa sua cara de nojenta!

— Uiii, ela sabe ser durona! Escute aqui, meu amor... Se tem alguém aqui que é nojenta, esse alguém é você! Eu não nasci no chiqueiro, não mamei nas vacas... Não sou uma estranha, e claro, eu já cresci né queridinha... Eu não uso mais maria chiquinha no cabelo.

— E veja só! É uma adulta que está dizendo... – Sagi, que deveria estar escutando os insultos apareceu por ali. – Escuta aqui... Ser riquinha e ter tudo o que quer não te da o direito de falar assim com as pessoas.

— Chegou a macho... Por um acaso você está namorando a estranha? Gosta de mulheres?

— Menina macho? Hm...Talvez eu seja.- Sagi riu. - Mas é melhor ser taxada de ``macho´´ do que ser uma idiota e fútil que vive as custas de pisar nas pessoas.

 – Então você anda tendo um caso com ela. Se afaste de mim, por favor... Deve ser contagioso!

— Hehehehehe, então acho melhor se afastar de mim mesmo,vai que a minha ``macheza´´ contagie a barbiezinha. - Sagi estava se divertindo.

— Ainda não consigo entender o porque de você defender tanto essa criancinha nojenta...

— Porque, ao contrário de você, ela tem uma amiga que se importa de verdade com ela. Viu? Suas amiguinhas não estão mais aqui... Olha, o lugar de onde as pessoas vieram não tem nada a ver com o jeito que elas são! Vê se para de ser besta e não olhe só para o seu próprio umbigo. Pelo menos a Melli tem orgulho de ter nascido em um lugar tão bonito e ter aprendido muitas coisas lá!

— ... – Karen revirava os olhos como se não estivesse mais aguentando as palavras de Sagi.

— Ficou quieta porque? Se assustou? – Sagi a segurou pela camiseta a ameaçando. – Você deveria pagar por tudo o que fez a ela...

Sagi cada vez mais subia a voz cada vez mais e temendo que algo de ruim acontecesse, eu saí correndo sem que alguém percebesse. Bem, assim eu queria, mas não tive tanta certeza que as duas não iriam me ver correndo pelos corredores da escola.

— A Melli nunca te deu motivos para você odiá-la... E se você a odeia porque ela sempre está com o meu irmão, saiba que você nunca, mais nunca vai conseguir a atenção dele, porque ele te acha fútil! E quer saber de uma coisa? Sage e ela estão ficando! – Olha a mentirinha! –Até a nossa mãe já sabe... Ah! E se você disser alguma coisa para o seu papai sobre a nossa conversa... O Leon pede demissão,e é você quem vai se ferrar com o seu pai. Tchau, babaca! – Sagi a jogou no chão.

Eu nem sequer sabia o que estava se passando lá em cima, pois a essa altura eu estava no pátio bebendo água e segurando a caixa com meus livros. Estava morrendo de medo do que estivesse acontecendo com as duas, entretanto não voltaria lá por nada. Eu espero que ninguém tenha ouvido a briga, pois certamente iriamos ganhar um sermão daqueles. Ainda ofegante, me sentei nos bancos do pátio pela última vez e observei pelas grades do portão a rua. Ouvi passos atrás de mim, e temendo que fosse a Karen, rapidamente virei minha cabeça em direção ao som.

— Ei, calma... Sou eu! – Ufa! Era o Sage, para a minha alegria.

— Ah, eu pensei que fosse outra pessoa.

— Quem?

— A Karen...

— Se ela vier aqui eu mando ela pastar.

— ... – Em silêncio, olhei para a minha caixa.

— Você me parece assustada... – Dizia, olhando diretamente para meu rosto. – Aconteceu alguma coisa?

— Por favor... Não vá atrás. Eu sei, você é teimoso...

— Ei! – Ele me interrompeu.

— Não vá, por favor... – Agarrei o braço dele.

— Tá, eu vou ficar aqui! Mas você vai ter que me contar o que está acontecendo.

— É que... Sagi estava discutindo com a Karen.

— Porque? O que aconteceu?

— Eu estava retirando minhas coisas do armário e a Karen veio me insultar... E daí a Sagi viu, e achou ruim. Eu não quis ficar lá em cima, porque parecia que as duas iriam brigar, então eu saí correndo e vim me sentar aqui.

— Hahahaha! Ai, Melli... Não precisa ficar com medo! A Karen merece que alguém diga a ela algumas verdades! Relaxa, Sagi não vai bater nela, mesmo que seja isso o que ela mereça.

— Eu não gosto de brigas... – Triste pela situação, mirei o chão.

— A Karen precisa aprender que ela não é o centro do mundo... Só porque ela nasceu riquinha, despreza as outras pessoas. Eu me lembro do casamento da mamãe, quando ela ficou falando mal de você... Eu contei para Leon o que ela fez, e Leon contou para o pai dela. Acabou que ela ficou de castigo...

— Sabe... As vezes eu me sinto triste, mas não é só por conta das coisas que ela me diz.

— Porque? Pode falar, eu não me importo, claro, se você não se importar em dizer...

— É que... Eu me sinto... Não sei. Vocês fazem tanto por mim e eu nunca defendi vocês de ninguém. Não tem como eu retribuir o que vocês me fazem!

— Ai, Melli... É claro que você faz! Não precisa se preocupar com isso.

— Mas eu não consigo saber o que eu faço...

— A sua amizade. – Ele olhou diretamente para os  meus olhos.

— Hm? – Eu também olhei para os olhos dele.

— Você não me deve nada, porque somos amigos! Você se preocupa demais com isso... Relaxa...

— Bem... Talvez você esteja certo... Mas eu me pergunto como será depois que eu me separar de vocês e for estudar na Sweet Amoris...

— Não vamos nos separar, Melli...

— Não? – Perguntei, surpresa.

— Mamãe vai nos matricular na Sweet Amoris junto com você!

— AAAAI, MAS QUE LEGAL! – Abracei-o fortemente, quase o derrubando do banco.

— Nunca vou querer me separar de você... – Enquanto nos abraçávamos, ele sussurrava em meu ouvido.

— Iria ser muito ruim se nos separássemos... Mas... Não vamos falar de coisa ruim. Vamos falar dos preparativos para a nossa viagem!

— É hoje a noite, não é?

— Sim! Minhas malas já estão prontas! Estou tão animada... Tiffany também vai conosco, então a viagem vai ficar ainda mais divertida!

— Hahaha! Pode ter certeza que sim!

— E aê, do que estão falando? – Opa, Sagi apareceu.

— Da viagem de hoje... Mas... E a Karen? – Perguntei.

— Ficou lá no corredor com uma cara de idiota! Não se preocupe, não apanhou não, mas e deu vontade de dar um sopapo na fuça dela!

— Ufa... Bem, mas vamos falar da viagem!

— Você sabe nadar, Melli? – Sage me perguntava.

— Olha, pra ser sincera... Eu até sei, tive agumas aulas de natação quando criança, mas não garante que eu sobreviva a ondas fortes! Hahahaha!

— Hahaha! Melli vai nadar de bóia! – Sagi brincou.

— Sério? Você vai nadar de bóia? – Sage perguntou.

— Não, mas... Até que eu acho bonitinhas as bóias que vendem na praia, mas... Não significa que quero uma pra mim.

— Ah, eu gosto das pranchas... Poderíamos aprender a surfar não é, Sage?

— Cara, gostei da ideia! Mas quem nos ensinará?

— Podem ficar tranquilos! – Me levantei do banco. – Meu pai e meu tio sabem surfar muito bem! Eles não se importariam de ensina-los a surfar.

— Você sabe surfar? – Sage me perguntou.

— Sou péssima! Hahaha! Prefiro ficar na beiradinha do mar só olhando.

— Ah, meu... Vai ser emocionante essa viagem! – Sagi estava empolgada.

— Podem acreditar!

Após a reunião, fui diretamente pra casa, onde mamãe conversava comigo sobre o que se passou na  reunião de pais naquela tarde. Segundo ela, a reunião funcionou no mesmo esquema de sempre: A professora fala, alguns pais se revoltam, e no final, uma fila imensa se forma ao redor da dela, pois todos, ou pelo menos a maioria deles querem saber a respeito do desempenho dos filhos, e aí começa a bagunça. Mamãe disse que foi breve em sua conversa com a professora, perguntando apenas das matérias que eu mais sentia dificuldades, já que das outras a própria professora afirmou que estava tudo bem. Além disso, fora entregue aos responsáveis uma pasta contendo todas as avaliações que realizamos no ano, inclusive as com notas abaixo da média.

— Bem, eu espero que você recupere suas notas nas disciplinas exatas na nova escola... –  Na sala, mamãe analisava algumas provas de dentro da pasta.

— Eu também espero... Será que vai ser difícil?

— Bem, talvez não... Você estudou em uma escola rigorosa, não vai ter dificuldades na Sweet Amoris. Pelo que eu soube, é uma boa escola, mas com certeza lhes exigirão menos de você.

— Ah, que bom!

— Mas não quero ver relaxo, está escutando dona Amellie?

— Vish, chamou de Amellie... – Eu sentia um pouco de medo quando ela me chamava assim.

— Exatamente! Você sempre se esforça para estudar, e não é porque a escola tem um ritmo mais “light” que você vai deixar de estudar.

— Não, mamãe... Eu não faria isso!

— Quero só ver! Além do mais, nessa nova escola você ficará por mais tempo.

— Como assim?

— Bem, digamos que a Sara e eu já andamos pesquisando algo sobre a escola. Já está sabendo que os trigêmeos estudarão lá, não é? Então... A escola possui algumas atividades extraescolares em alguns clubes. Existem vários a disposição dos alunos, e eu achei isso bem interessante.

— Uau! Eu gostei também! A senhora sabe que tipo de clubes existem?

— Informática, Química, jardinagem, basquete, natação... São vários! E o melhor é que são fora dos horários de aula.

— Jardinagem? Natação? Estou dentro!

— Bem, quando formos fazer sua matrícula você vai junto para sabermos mais sobre a escola e até conhece-la um pouco. Já acabou de arrumar suas malas? – Mamãe se levantava do sofá. – Já avisou seus amigos que iremos sair daqui as nove da noite?

— Sim, está arrumada! Ah, todos estão avisados e estarão aqui dez minutos antes de partirmos!

— Ótimo! Eu conversei hoje com a avó da Tiffany e ela disse que será a primeira viagem que ela irá fazer com os amigos.

— Ela deve estar preocupada... Ainda mais que... Ela tem um pouco medo que a Tiffany saia sozinha e tal... Uma vez, chamamos ela pra ir tomar sorvete. Era de noite, a tia Sara ia com a gente, mas a avó dela não deixou...

— A dona Margot tem um pouco de medo, mas olha... Deixou ela viajar com a gente.

— Eu só espero que a avó dela não saiba da relação que ela tem com o Adrian...

— Bem, ela vai ter que contar um dia...

— Por isso me preocupo um pouco com a Tiffany... Puxa, e agora?

Naquele dia, eu não sabia o que fazer para que a hora passasse mais rápido, pois queria a todo custo que chegasse a hora de viajarmos. Era meu último dia de aula, quer dizer, não teve aula, então eu estava com a cabeça livre. Livre de preocupações com trabalhos, provas e leitura de livros super exensos. Papai estava no mercado comprando algumas coisas para levarmos, então em casa estávamos só eu e mamãe. O que eu poderia fazer? Acho que seria uma boa ideia eu ir até a casa da Bany para conversar, já que ela morava no mesmo edifício que eu. Fui até sua casa e quem me recepcionou foi Aoi, o irmão dela.

— Ah, é você... –  Virava as costas brincando, fingindo não dar importância para a minha presença.

— Boa tarde, Aoi! Sua irmã está? – Olhei para dentro do apartamento, na esperança de vê-la.

— Não, pode ir embora. – Eu espero que ele esteja brincando...

— MAS, MENINOOOO! – E lá aparecia ela, dando algumas almofadadas na cabeça do irmão. – Não dê atenção para esse tonto, Melli! Vem, entra! – Depois de dar um empurrão em Aoi, Bany abriu a porta para que eu pudesse entrar.

— Hahahaha! Com licença!

— Limpe os pés antes de entrar, ô mal educada!

— Cala a boca, Aoi! – Bany o empurrou em direção ao quarto dele.

— Vai conversar com ela no seu quarto! Eu não quero escutar a conversa das bonecas! – Aoi fazia careta.

— Hahaha, pode deixar... Você não vai ouvir nossa conversa! – Falei.

— Vamos lá pro meu quarto! – Após me segurar pela mão, Bany me levou.

Quando chegamos ao quarto dela, me deparei com o paraíso cor de rosa: Cortinas fofas, ursinhos de pelúcia e milhares de fofuras, claro! Não posso me esquecer de relatar a sua estante repleta de livros. Me sentei no chão e ela logo quis saber quais eram as novidades. Poderíamos ser vizinhas, mas as vezes eu passava algum tempo sem falar com ela, não porque queria, mas por conta da escola, ballet e tudo mais, porém, isso não impedia tanto que nos víssemos. Quem dera um dia também poder viajar com ela, mas convencer pais a isso é um pouco difícil. E quando assim digo, não estou falando somente dos pais dela, mas dos pais em geral, mas o incrível é que isso não acontece com a tia Sara, pois ela conhece meus pais há muito tempo, e confia em deixar os trigêmeos passearem conosco, e isso também acontece da parte dos meus pais.

— Então você vai pra praia... – Dizia, lançando a mim um olhar de malícia. – E ele vai juntooo! Menina, essa é sua chance!

— Mas chance do que? – Perguntei.

— Como assim, chance do que? Não seja bobinha! Sol, mar... Sage de sunguinha... Melli lindona exibindo o corpitcho em um biquíni... Sage babando na Mellita... Hm, entendeu?

— Hahahahaha! – Quase caí no chão de tanto rir. – Conta outra! Ele lá repara em mim? Menina, estamos falando do Sage! O cara mais... – Ela me interrompeu.

— O carinha mais lindo do seu mundinho! Vai, me diz... Como é o seu biquini?

— Ah, eu tenho vários... Aliás, eu gosto mais de nadar de maiô, porque não mostra muita coisa e não vai embora com as ondas.

— Pode ter certeza que ele vai te olhar! Você estando com o que for!

— Eu não acredito muito não... Hahaha. Se pelo menos eu fosse bonita, vamos lá, mas pfff!

— Ai Melli... Pára de se rebaixar! Vou te dar uns cascudos!

— Não estou mentindo... Ele não repara no meu corpo, nós somos amigos!

— Ó, vou te ensinar como faz. – E lá ia ela aprontar... – Quando você perceber que ele estiver te olhando de longe, olha de volta e dê uma jogadinha no cabelo. Ele vai ficar babando!

— Ai menina... Hahahaha! Só você mesmo... E já deu certo com você?

— Eu nunca tentei, para falar a verdade... Mas é assim que fazem nos filmes! Não custa você tentar...

— Tenho vergonha... Não vai dar não. Hahahaha!

— Chega de vergonha! Você tem uma sorte danada que é seu amigo...

— Eu não penso assim... Hahaha! Eu acho que se um dia ele descobrir tudo, nossa amizade acaba, e eu não quero que isso aconteça... Eu não vou nem poder ser amiga dos irmãos dele!

— Não, não vai acontecer isso... Pensa que... Que... Você tem que ser simpática com ele, sorrir... Se você quer que ele goste de você, de motivos para que isso aconteça!

— Puxa... É verdade. E aquela coisa de ser a gente mesma ajuda, não é?

— Acho que sim... Nossa, estou com um pouco de fome... Você quer chocolate? Se o Aoi não comeu tudo, ainda deve ter...

Bem, eu acabei ficando por algumas horas na casa da Bany, porém, próximo das sete da noite, mamãe apertou a campaínha e logo tive de ir embora. Ao chegar em casa, tomei banho contando as horas para que todos os meus amigos estivessem aqui em casa, para que então, pudéssemos colocar o pé na estrada. Eu ainda tive de pegar o meu kit de sobrevivência a viagens! Não que eu não gostasse de viajar. Muito pelo contrário! Mas, bem... Digamos que sempre alguém acaba ficando na mão por falta de alguma coisa, seja papel higiênico ou água para beber. Então, revirei meu quarto a procura de coisas que não me deixassem em uma situação ruim: Agasalho (caso sentisse muito frio dentro da van), cobertor (para o mesmo fim e também puxar um ronquinho gostoso quando o sono chegasse), garrafa de água (porque ficar com sede ninguém merece), papel higiênico (nunca se sabe quando vai precisar de um), e claro! Chiclete! Você deve estar pensando “Mas que inutilidade, Melli! Que serventia tem o chiclete em uma viagem?” Bem, para não deixar o ouvido tampar nas serras! Não me lembro ao certo, mas algum professor da escola me disse alguma coisa de que, chupar chiclete enquanto você está descendo ou subindo a serra ameniza a sensação de ouvido tampado. Então, eu logo comprei uma caixinha! Claro, eu dividiria com meus amigos e com meus pais. Após me certificar de que tudo estava dentro de minha bolsa, busquei minha mala e a coloquei na sala, ao lado do sofá. Me sentei por ali, liguei a TV e anciosa, balançava as pernas para cima e para baixo, não vendo a hora que a campainha ou o interfone tocasse.

— Ah... Sim! Pode deixa-la subir. – Mamãe conversava com o porteiro pelo interfone.

Pulei do sofá, já sabendo de quem se tratava. É, claro... Não poderia ser outra pessoa além da Tiffany. Não demorou muito e ela já estava na porta de casa.

— Olá Tiffany, boa noite! – Mamãe a cumprimentou com um abraço e um beijo. – Boa noite, dona Margot! – Mamãe também cumprimentou da mesma forma a avó dela.

— Olá Elizabeth, boa noite! Tiffany, obedeça-a por favor! Não saia de perto dela por um segundo, está ouvindo?

— Sim, vovó... A senhora pode ficar tranquila! Eu não sairei do lado da Liza por nada! – Tiffany dizia, concordando com tudo o que a avó dizia.

— Fique tranquila, dona Margot! Além do mais, Tiffany é um amorzinho. – Mamãe passou a mão no cabelo dela.

— Bem, esta aqui é a mala dela. Não se esqueça... Na cama às nove e levante as sete!

— Ok, vovó... – Acho que ela estava farta de ouvir as recomendações da avó.

— Tudo bem, querida... Eu já vou descer. Não me esqueça de me ligar, ok? – Dona Margot se despedia da neta dando-lhe um beijo na testa. – Até logo! – E a vovó da Tiffany logo descia pelo elevador.

— Pode deixar, Tiffany! Eu vou seguir todas as recomendações de sua avó, ok? – Dizia mamãe.

— Tia Liza... Não tem problema. Eu já não aguento mais tanta regra! Minha avó acha que eu ainda sou um bebê...

Oi – Fique tranquila! Vai sair tudo bem, ok? Você vai estar com seus amigos! Aliás, a Melli está aí dentro. Se quiser ir lá com ela, pode ir. Eu vou descer até a garagem para levar algumas coisas até a van.

— Ok. – Tiffany entrou pela porta da sala. – Melliii... Onde você está?

— OOOOI! – Gritei. – ESTOU NO BANHEIRO, JÁ VOU!

Não demorei muito para aparecer na sala. Depois de fechar a porta da sala que mamãe deixou aberta, fui logo cumprimentar minha amiga, que vestia um lindo vestido longo estampado de folhagens. Estava tão fofinha... Será que ela se vestiu assim para ver meu primo, ou será que queria estar bonita para a viagem? Mas que pergunta! Tenho que parar de ficar colocando meninos em todo quanto é assunto. Daqui a pouco estou parecendo a Karen correndo atrás de seus ficantes. Bem, o que importa é que Tiffany parecia bem feliz, pois não parava de sorrir um segundo sequer. Talvez aquela fosse a sua primeira vez na praia, então teríamos de faze-la ser inesquecível!

— E então... Está preparada? – Perguntei, colocando a mala dela ao lado da minha.

— Preparadíssima! Sabe, hoje eu fiquei tão ansiosa, que não sabia o que fazer para a hora passar!

— O mesmo aconteceu comigo! Hahaha! Mas aí eu fui até a casa da minha vizinha e o tempo passou rapidinho!

— Hahahaha! Eu fiquei lendo, mas mesmo assim as horas não pareciam passar!

— Assim é muito ruim... Digo, ler é uma coisa boa, só que quando as horas não passam, ficamos desesperadas! Hahaha!

— É, você está certa. Ei... O seu ruivo já chegou? – Ela se referia ao Sage.

— Ah, o Sage? – A esta altura eu já deveria estar com o rosto inteirinho vermelho.

— Sim! Ele e os irmãos já chegaram? Hahahaha! Menina! Calma aí... Não precisa ficar toda vermelha!

— Ele ainda não chegou... Nem ele, nem os irmãos. Olha que eu achei que seriam os primeiros a chegarem aqui, já que não moram longe.

— Eles moram aqui perto?

— Pertíssimo!

— Que sorte a sua, hein! É amiga do menino, mora perto... Alguma coisa mais favorece esse relacionamento?

— Ah, deixe me ver... Somos amigos desde quando éramos crianças, nossas mãe são amigas...

— Pára tudo! Porque não se casou com ele ainda? Hahahaha! Brincadeira. Mas puxa, eu acho que vocês podem dar certo sim...

— Eu acho que não... Você sabe como ele é. Não deve gostar de meninas assim como eu.

O interfone tocou, eu fiquei eufórica e rapidamente fui atender, mas não era quem eu pensasse que fosse. Foi apenas mamãe, pedindo para que eu levasse a minha mala e a da Tiffany até a garagem. Descemos rapidinho e voltamos para o apartamento, pois certamente o interfone iria tocar na hora em que os trigêmeos chegassem. Nos sentamos no sofá e colocamos no canal dos clipes musicais, para dar aquela animada. Eu estava tão feliz, que acabaria dançando ali mesmo na frente da minha amiga, mas isso não era comum, pois eu tinha vergonha de dançar na frente das pessoas. O interfone tocou mais uma vez, e agora não tinha erro. “ Os três ruivos estão aqui em baixo. Posso deixa-los subir, Melli?” Dizia o porteiro.

— Tiffany... Chegaram! – Falei para a minha amiga, que estava sentada no sofá assistindo tv.

— Hahahaha! A sua cara é a melhor!

— Porque? O que tem? Tem alguma coisa nela? – Passei as mãos em meu rosto.

— Não, não tem nada! É que você parece nervosa... Fica calma, Sage não morde, é amiguinho! – Ela dizia como se ele fosse um cachorro. Hahaha!

— Mas é que... – E a campainha do apartamento tocou e levei um susto daqueles.

Olhei pelo olho mágico e ali estavam os três, bagunçando como sempre e cheios de malas.

— Melliiiii!! – Os três chamavam em frente ao meu apartamento.

— Ai Tiffany... Lá vou eu! – E logo abri a porta. – Oiiiiiiii! Boa noite, gente! Vamos, podem entrar!

— Mano, isso aqui tá pesado... – Sage se referia a mala que carregava.

— Ei, essa mala é minha! – Dizia Saga. – Mas pode carregar.

— TIIIIIIIIIIIIIFFANY! – E lá foi Sagi a abraçar.

— Eu achei que a dona da casa era a primeira a ser cumprimentada...

— Hahaha! Ciumenta! – Sage me cumprimentou com um abraço e um beijo no rosto.

— Ah, eu achei que ela iria me cumprimentar...

— E aí, Melli... Está levando as bóias? – Saga me perguntava ao mesmo tempo que me cumprimentou da mesma maneira como o irmão.

— Hahaha! Não, sem bóias!

— Agora eu vou te cumprimentar, ciumenta! – Sagi se aproximou de mim e me deu um abraço muito apertado.

Bem, mamãe apareceu em casa alguns minutos depois, nos avisando que já poderíamos ir para a van e aproveitou para fechar as portas e janelas do nosso apartamento. Papai estava lá em baixo fazendo algumas revisões antes de partirmos.

— Ah, vocês já chegaram! – Ela se referia aos trigêmeos - Preparados para a viagem?

— Claro! – Disseram os três ao mesmo tempo.

— Nós vamos dar a Tiffany a melhor viagem que ela já fez! – Falei, envolvendo meu braço nos ombros de minha amiga.

— Hahaha! Já está sendo muito divertido só de todo mundo estar reunido!

— Bem, eu vou fechar as portas. Melli, leve seus amigos lá pra van, assim vocês podem se ajeitar.

— Tá, mãe... Eu já estou indo! Vamos, geeeente! – Corri para o elevador arrastando minha mala de rodinhas.

— Ei Melli... – Sage me chamou.

— Sim?

— Pode deixar que eu carrego a sua mala, deve estar pesada... - Mas que... gracinha!

Sagi e Tiffany se olhavam e riam uma para a outra dentro do elevador, sem que os meninos percebessem. Enquanto o elevador descia, eu dançava a musiquinha que estava tocando ali dentro.

— O elevador toca música, Melli? – Sagi me perguntou.

— Toca de vez em quando... As vezes eles desligam. Geralmente de madrugada eles ligam a música e não sei porque...

— Hahahaha! Ai, que estranho... – Tiffany achava graça.

— Talvez seja um fantasma... – Sage brincava.

— Aiiiiiiii! Não diga isso, menino! – Me encolhi atrás da Tiffany, morrendo de medo.

— Hahahahahaha! – E os dois meninos soltaram uma gargalhada escandalosa.

Logo chegamos ao térreo e nos dirigimos até a van do papai. A viagem nem tinha começado e eu já estava me divertindo muito! Os meus amigos também estavam, porque não paravam de tagarelar e rir em momento algum. Logo os quatro entraram na van e a bagunça estava declarada. Enquanto isso, eu estava colocando as malas no porta-malas da van.

— Sagi, você vai se sentar no meio! – Saga dizia para a irmã.

— Não! Você tem que ir no meio, porque... Porque eu quero ir na janela!

— Mentira! A janela é lugar da... – Assim que entrei na van, Sage me olhou.

— Oi Geeente! Tá todo mundo confortável?

Lá atrás, Sagi e Saga desciam a travesseirada no Sage, não sei por qual motivo.

— O que está acontecendo aqui? Tiffany... O que aconteceu?

— Eu não sei! Hahahaha! Começaram a rir e agora estão batendo no Sage.

— Ei ei ei! Chega, né? Assim irão machucar o menino! – Tentei colocar fim na bagunça.

— Hahahahaha! Tá vermelhinho, Sage? – Saga ria do irmão.

— Aaaaaah, que gracinha! – Sagi bagunçava o cabelo do irmão.

— Isso aí! Não ouviram a Melli? Chega de bagunça! – Sage desamarrava o cabelo e o amarrava corretamente.

— Eu vou me sentar com a Tiffany! – Dizia Sagi, passando para o banco da frente, onde estava sentada a menina.

— Eu... Vou me sentar no banco em frente a Sagi. Falou, irmãozinho... – Saga também mudou de lugar.

— Porque? Vocês irão me deixar sozinho aqui atrás? – Disse Sage.

Eu havia descido da van só para observar a discussão, e continuava do lado de fora observando tudo da porta.

— E aí, galerinha... – Papai apareceu ali na porta também. – Todo mundo pronto? Nós já vamos sair!

— É... Quase pronto. – Respondi.

— Porque ainda não está em seu lugar, filha? – Papai perguntou.

— Ah, eu já estou indo! – Eu nem sabia onde estava indo me sentar, mas acabei lá no fundo, no mesmo banco que o Sage.

Quando partimos, o pessoal pareceu ficar ainda mais animado, e o falatório não tinha mais fim. Parecia até aquelas excursões da escola, só que com menos pessoas e mais divertida! Eu estava um pouco quieta, parecendo até um pouco anti social, mas se tinha algo que eu não era, você pode ter certeza que era antissocial. O Sage não ligava muito para mim naquele momento, pois estava conversando com o pessoal, enquanto eu estava escutando músicas pelo celular. A viagem era um pouco demorada, e por isso eu sempre gostava de ouvir músicas, pois deste modo, tudo passaria um pouco mais rápido. Eu estava com um pouco de vergonha de estar ali atrás sozinha com ele, mas fazer o que...Eu me sentei ali atrás e não poderia deixar o coitadinho sozinho.

— O que você está ouvindo? – Ele se virou para mim.

— Hm? – Também me virei para ele.

— Que música você está ouvindo?

— Ah... – Retirei os fones. – É the fear, da Lily Allen.

— Posso ouvir com você?

Oi – Mas você gosta de Lily Allen?

Oi – Eu já ouvi falar dessa cantora... Eu gostaria de ouvir. – Ele se aproximou de mim, colocando um fone do ouvido.

— Ah, eu ando escutando muito essa música.

— É... Tem um ritmo legal!

Passadas as horas, enfim chegamos até a casa dos meus tios. Eles haviam mudado de casa há algum tempo, e eu estava estranhando um pouco a casa, já que agora eles se mudaram para um sobrado, bem maior do que a casa anterior. Fomos muito bem recebidos por meus tios, que nos ajudaram a carregar as malas para dentro. Estava escuro ainda, e meus primos estavam dormindo, entretanto, ouvi a porta de um dos quartos abrir, e alguém saiu de lá, mas não vi quem era.

— Quem está com sono aí, levanta a mão! – Dizia Sagi, levantando a sua mão.

— Ah, eu também estou... – Disse Saga. – E você, Sage?

— Ele capotou quando chegou da reunião... Acha que ele está com sono?

— É verdade... Não me sinto muito cansado. Ei... Onde está a Melli e a Tiffany? Estavam aqui agora de pouco...

— Elas estão no jardim... Melli deve estar mostrando a casa para a Tiffany.

— Pois ela deveria estar aqui! Eu quero dormir... E saber onde vamos ficar hospedados.

— Estes aqui são os amigos da Melli! – Dizia mamãe, juntamente de tia Amy. – Sagi, Saga e Sage! São trigêmeos!

— Olá! Sejam muito bem vindos a nossa casa! Eu sou a Amy, tia da Melli! Fiquem a vontade e precisando de algo, podem me chamar! Ah! Os garotos podem subir as escadas e entrarem na primeira porta a esquerda, e você garota, pode ficar no quarto da direita. – Dizia titia, de maneira gentil.

— Ah, valeu! – Sagi agradecia. – Bem, vou até lá levar as malas...

— De nada! Emily e Adrian estão dormindo, mas garanto que pela manhã lhes darão as boas vindas!

A casa dos meus tios sempre foi um tanto quanto... Criativa? Será que posso chamar assim? Era uma casa muito colorida, com móveis diferentes e modernos. Existiam também pelos cômodos, as famosas conchas vindas da praia. Nas paredes, pregadas em abajures, enfeitando a porta... Eu achava aquilo muito lindo, pois para mim, as conchas eram puras e algo me atraía nelas. Haviam várias estrelas do mar também na decoração, inclusive no quarto onde as meninas iriam ficar. Sagi entrou no quarto onde haviam duas beliches e posicionou sua mala ao lado de uma penteadeira que era enfeitada por conchas. Neste mesmo instante, eu subia as escadas juntamente com Tiffany. Quanto aos garotos, também estavam em seus quartos se acomodando.

— Oi Sagiii! – Entrei pelo quarto, segurando a mão da Tiffany.

— Onde vocês estavam?

— Eu fui mostrar uma coisa lá no jardim! Mamãe me disse que havia uma fonte com peixinhos e eu quis dar uma olhada. Tiffany também ficou curiosa e eu a levei junto de mim.

— Hmm...

Oi – Vamos dormir já, Sagi... Sei que você não está com sono. – Disse Tiffany, se sentando na parte de baixo de uma das beliches.

— Ai gente... O que eu faço para meu sono chegar? – Perguntei.

— Vai conversar com seu amor! – Brincou Sagi. – Ele está super acordado... Nem vai dormir agora também.

— Ah não... Eu vou tirar essa roupa e colocar o pijama. Podemos conversar só nós... – Fui até a porta e a tranquei.

— Posso me trocar aqui? – Quia saber Sagi.

— Pode... Não tem problema! Eu não me importo.

— Não tem mais vergonha, Melli? – Tiffany me perguntou, enquanto procurava na mala seu pijama.

— Bem, eu tenho um pouco sim. Mas não é a primeira vez que me troco na frente de vocês, então eu não me importo muito com isso. Vocês são minhas amigas e são garotas também...

— Ah, até que enfim aprendeu a lição! – Sagi já vestia seu pijama.

— Hahaha! Não se preocupe, Melli... Nós também entendemos os dramas de ser garota! – Disse Tiffany, colocando o pijama.

— Mas acho que nenhuma de vocês é encanada com algo do próprio corpo... – Eu também me trocava.

— Você é quem pensa... Eu tenho um seio maior que o outro! – Disse Sagi, se jogando na parte de cima de uma das beliches.

— ... Eu... Achava que só acontecia comigo! Hahahahaha! – Tiffany se acabava de tanto rir.

— Ok ok... Acho que comigo também é assim... Será que é normal? – Me sentei em frente a penteadeira e soltei meu cabelo, a fim de penteá-lo.

— Eu acho que...

~ toc toc toc~

— Quem é? – Perguntou Sagi.

— É a tia Liza, eu posso entrar?

— Ah, deixa eu destravar a porta, mãe... – Logo me levantei e abri a porta para minha mãe.

— Já estão acomodadas, meninas?

— Já sim, tia! – Dizia Tiffany, ajeitando seus lençóis na cama.

— Desculpa não acompanha-las até aqui... Eu precisava ajudar o Max com as coisas.

— A senhora deveria ter falado para nós! Assim poderíamos te ajudar, mãe...

— Sem problemas! Se vocês estão aconchegadas, então eu vou até o quarto dos garotos. Eu espero que vocês tenham uma boa noite! Durmam com os anjos e preparem-se para amanhã!

— Boa noite, tia! – Disse Sagi.

— Obrigada e para a senhora também!

— Quero o meu beijinho... – Brinquei.

— Hahaha! Não acha que está grande demais para um beijinho?

— Pro beijinho do Sage ela não está, tia!

— Sagi! – Falei, sentindo uma imensa vergonha.

— Hahahahahahahaha! – Todas riam, menos eu, que enfiava a cabeça em baixo das cobertas.

— Bem, estou de olho, senhorita Amellie!

— Ai... Esqueça o que ela disse! Boa noite, mãezinha! – Dei um beijo na bochecha dela, e a virei para o quarto dos garotos.

— Hahahaha! – Mamãe bateu na porta do quarto dos meninos.

— Ai... Estou com sede! Quem vai me acompanhar até a cozinha?

— Chama o Sage! – Sagi estava bem zoeirinha aquela noite, hein!

— Não, deixa quieto...A sede passou.

— Peraí... – Sagi descia da beliche.

— Hahahahahaha!  O que vai aprontar, Sagi?– Tiffany se matava de tanto rir.

— Sageee... – Sagi apontou a cabeça no quarto dos meninos, que era bem em frente ao nosso. – A Melli quer que você vá com ela até a cozinha!

— Quer? Tudo bem, eu vou... – Depois de descer da cama, ele calçava seus chinelos.

Enquanto ninguém estava olhando, eu desci correndo as escadarias e fui sozinha até a cozinha. O que eu faria agora? Estava com uma vergonha tremenda! Certamente a uma hora dessas ele estava vindo atrás de mim. Ainda bem que todos estavam em seus quartos, somente mamãe deveria estar no quarto dos meninos desejando para eles boa noite, mas de resto... As portas do restante dos quartos estavam fechadas. Eu só espero que ninguém me veja aqui. Acho que...

— Ei... – Senti alguém encostando em minhas costas.

— Aaaaah! – Dei um pequeno pulo, me assustando.

— Minha irmã disse que você estava me chamando... – Sim, era Sage.

— ... – Eu sequer conseguia dizer alguma coisa depois ficar olhando para os cabelos dele, que estavam totalmente soltos.

— Tá, tá... Desculpa pelo susto. Pode desmanchar essa cara de assustada.

— Hahahaha! Ai, desculpa... Você também quer um pouco de água? – Eu enchia o copo com água do filtro.

— Ah não... Valeu. A casa da sua tia é bem diferente... – Ele olhava para todos os lados.

— Sim, é bem diferente. Eles não moravam aqui, mas essa casa é bem maior que a outra e mais bonita. Se bem que não me lembro muito bem da outra, porque eu era muito pequena quando vim para cá.

— Então não é a primeira vez que você vem. Hmm... A praia é tranquila?

— A minha tia me disse que comparada com o outro lugar que moraram, essa aqui é bem mais tranquila, o mar mais limpo...

— Hmm, entendi. Vai surfar amanhã?

— Ah, eu não levo jeito... – Olhei para o chão.

— Eu posso te ajudar! Eu não sei, mas...

— Ô Melli! – Sagi aparecia ali na cozinha. – Vamos dormir! Amanhã você conversa com o Sage...

— Vai dormir você! – Sage dizia para a irmã. – Deixe ela conversar comigo, ué...

— Hahahaha! Ai Sage... Eu gostaria de ficar mais um pouquinho conversando, mas eu vou ter que ir para o quarto. Amanhã nos falamos, tudo bem? E me desculpe...

— Você e suas desculpas... Hahahaha! Tudo bem, amanhã nos falamos! Boa noite!

— Boa noite! – Respondeu Sagi, logo me levando pela mão.

— Quem disse que foi pra você? Foi pra ela, ô cabeçuda...

— Vamos Melli, vamos! A Tiffany já deve ter dormido!

Depois que me levou lá pra cima, Sagi se deitou na parte de cima da beliche, enquanto Tiffany estava na parte de baixo, já dormindo. Com toda certeza não estávamos indo dormir como a avó da Tiffany pediu e certamente ela estava bastante cansada. A avó dela era muito rígida, fazendo-a acordar cedo para estudar, mas eu garanto que daríamos para Tiffany a melhor viagem que ela já fez, e isso queria dizer que não teríamos hora para dormir e acordar! Se um dia ela teria a oportunidade de dormir e acordar tarde, a oportunidade era essa! Sem regras, sem avó chata, sem...

— Melli, deita e dorme, mulher! Já está tarde e amanhã você vai ter que acordar para ir a praia! – Dizia Sagi, do alto de sua cama.

— Ok... eu vou me deitar...

O sono demorou um pouco para chegar, mas quando chegou, dormi tão gostoso...No outro dia, enquanto eu ainda estava dormindo, as outras meninas já haviam acordado e isso incluía a minha prima Emily. Até mesmo os rapazes, que sempre acordavam mais tarde já estavam de pé e eu dormindo feito a bela adormecida. Todos estavam reunidos na mesa do jardim, já iniciando o café da manhã, quando eu ouvi alguém abrir a porta do quarto. Seria o meu príncipe encantado? Bem, continuei com os olhos fechados mesmo escutando o rangido da porta.

— BOM DIAAAAAAA!!! – Era minha prima Emily, que rapidamente pulou em minha cama e me deu um abraço. – Acooooorda preguicinha!

— Hmm... – Me virava para o lado da parede, escondendo os meus olhos da luz que vinha da direção do corredor.

— Vai Melli, acorda! Daqui a pouco nós vamos até a praia!

Rapidamente levantei a minha cabeça, mesmo me sentindo sonolenta e acabei dando uma cabeçada na madeira da cama de cima.

— Ai... Acho que agora já acordei... – Massageei a testa, na esperança de amenizar a dor.

— Opa... Machucou?

— Hahahaha! Não, eu vou ficar bem, não se preocupe!

— Prima, tem um banheiro ali atrás daquela porta, pode usar! – Apontou Emily.

— Ah, obrigada! Eu estava mesmo querendo saber onde ficava o banheiro! – Entrei ali. – Eu vou tomar um banho, tá? Prometo ser rápida.

— Ok. Ei... Posso escolher a sua roupa? – Dizia Emily, fora do banheiro.

— Bem... Pode sim, mas porque você quer escolher minha roupa?

— É porque... O seu boy é um dos ruivos, não é?

— Emily! – Ela não via, mas eu estava com vergonha.

— Não precisa esconder... Não que eu esteja interessada neles, mas estão uns gatinhos! Você tem que estar gatinha também! Mas qual dos dois é? Eles são idênticos...

— É o que não tem cara de emburrado! – Enquanto tomava banho, eu conversava com minha prima.

— Melli... Os dois tem a mesma cara! E sério... Me da medo a cara deles...

— Hahahahaha! Depois te digo qual é! – Saí do banheiro, enrolada na toalha.

— Ok... Vejamos... Coloque esse vestido aqui! – Emily me entregou um vestido estampado de flores azuis.

— Uau, faz tempo que não uso esse vestido!

— Vai lá, se troca rapidão e senta ali na cama que depois eu vou trançar seu cabelo.

— Ok ok... – Rapidamente me vesti. – Agora eu fiquei curiosa pra ver ele...

— Hahahaha! Ele perguntou de você para a irmã!

— Oh... Mas que... Tá, faça a trança no meu cabelo, por favor! Quero descer logo!

Emily tinha uma habilidade da qual eu invejava: Conseguir fazer lindas tranças em seu cabelo e mais lindas ainda no cabelo de outras garotas. Eu bem que poderia aprender com ela, mas ficar na praia é tão legal, que nunca consigo fazer em uma só viagem todas as coisas legais que eu planejo. Emily fez uma trança embutida em meu cabelo e a finalizou prendendo com uma fita de cetim azul ao final. Após meu cabelo estar pronto, me perfumei, escovei os dentes e então pude descer ao jardim, onde todos estavam nos aguardando para tomar café.

— Bom dia! – Dizia titio, animado em me ver. – Dormiu bastante, hein?

— Hahahaha! Bom dia, gente! Me desculpe pela demora, tio... O sono veio tarde.

— Não se preocupe! Vamos, sente!

Ao olhar para frente, percebi que titia havia preparado uma mesa imensa cheia de coisas gostosas para a gente, assim como também fazia vovó Savannah quando recebia muitas visitas em sua casa. O jardim da nova casa de meus tios era muito bonito! Repleto de plantas e flores coloridas e um gramado imenso. Havia também nos fundos da casa uma grande árvore que fazia sombra no local onde ficava a mesa onde iríamos tomar café. Todos me aguardavam, e acho que por sorte ninguém havia tomado café ainda, já que titia e mamãe acabava de preparar algumas coisas. Olhei diretamente para a mesa, estava morrendo de fome! Entretanto, onde eu iria me sentar? Ah, consegui um lugar vago ao lado de minha mãe e logo em frente a mim, estava a figura ruiva e sorridente que logo me cumprimentou.

— E aí, Melli! Bom dia! – Eu nunca havia visto o Sage tão bem humorado e sorridente!

— Bom dia! Dormiu bem?

— Ah, dormi sim! E você?

— Eu dormi bem também! Uma pena que o sono chegou bem tarde. Faz tempo que você desceu?

— Faz um tempo sim...

— Podem se servir, pessoal! – Dizia minha tia, posicionando na mesa uma garrafa de café.

— Hmm, entendi. O que vai comer? – Perguntei.

— Eu ainda não sei... Mas o pão está com uma cara ótima! E você? Vai fazer sanduíche de queijo aqui também?

— Hahahaha! Eu bem que poderia... Mas vou comer um pedaço de bolo. – Me levantei a fim de cortar uma fatia. – Você também quer um pedaço? Eu posso cortar...

Enquanto isso, do outro lado da mesa, Tiffany e Adrian conversavam sobre os seus tão amados livros e cada vez mais percebiam o quanto tinham em comum um com o outro. Sagi e Saga, devoravam um pouco de cada coisa que estava naquela mesa e pareciam estar com tanta fome quanto eu. Naquela manhã, Sage estava diferente. Pois é, estava  acostumada a ve-lo todos os dias vestindo o uniforme da escola, e vê-lo em uma roupa mais folgada era uma coisa interessante. Vestia uma regata juntamente com uma bermuda e os cabelos estavam semi presos, assim como o do irmão. Realmente estava muito bonito! Será que eu deveria contar o que estava achando de seu visual, ou eu deveria permanecer quieta?

— É Sweet Amoris o nome da escola não é, filha? – Mamãe me perguntava, como se estivesse me trazendo para o mundo real.

— Isso, é assim mesmo!

— Já te contei que também vamos com você, não é? – Sage me perguntou, ao mesmo instante em que estava comendo.

— Me contou sim, aliás... Você já deu uma olhada nos clubes dessa escola?

— Sim! Eu achei muito legal. Será que é fora do horário de aula?

— É, é fora do horário. Eu estou ansiosa! Só de pensar que eu não terei mais Karen, já é um alívio!

O café já chegava ao fim quando meus primos eu e o pessoal subimos para o quarto, já que antes mesmo disso acontecer, os adultos nos disseram para nos arrumarmos a fim de ir até a praia. Eu estava muito ansiosa, pois adorava ver de perto o mar e aquela seria a minha segunda vez na praia onde meus primos moravam. Meus amigos estavam comigo e isso me deixava ainda mais empolgada! Subi rapidinho pro quarto e logo coloquei o maiô que mamãe havia comprado para mim. Eu iria nadar de maiô porque além de ser mais confortável também era seguro e isso queria dizer que eu poderia brincar a vontade na água, sem me preocupar com as ondas traiçoeiras. Assim que as meninas também se vestiram, fomos até o jardim esperar os meninos.

— Está gostando do passeio, Tiffany? – Perguntei, me sentando em um banquinho no jardim.

— Ah, eu estou adorando! Você mora em um lugar muito lindo, Emily!

— Eu também acho a casa da minha tia muito bonita! Quem me dera ter um jardim como este em casa...

— Obrigada, meninas! Eu também acho essa casa muito mais bonita que a de antes. Desculpe eu falar disso agora, mas... Meu irmão ainda está surpreso em te ver aqui, Tiffany! – Dizia minha prima.

— Ele... Está? – Ela sabia disfarçar muito bem o quanto sentia vergonha.

— Sim! Ele disse que gostou muito de você, e que tem coisas pra conversar com você, que na noite do aniversário da Melli ele não pode dizer!

Sagi e eu ríamos, suspeitando do que se tratava, enquanto a coitadinha da Tiffany ria um pouco sem graça, como se já imaginasse também que tipo de assunto o meu primo iria ter com ela. Eu acho que se eu estivesse no lugar dela, eu também ficaria nervosa, mas eu confesso querer que um certo alguém diga “Eu preciso falar com você”. Bobeira minha pensar isso. Ele nunca iria me chamar para conversar em particular, e aliás, eu não sei porque eu ainda insisto em pensar que algo poderia surgir entre nós dois. Você estava mais simpático essa manhã, mais alegre, exibindo um lindo sorriso e seus cabelos pareciam ainda mais vivos quando o sol estava sobre eles. Sempre fomos diferentes e você sabe muito bem do que estou falando. Você era corajoso, do tipo que não tem medo de nada e eu... Apenas uma menina covarde e chorona. Era possível que um coração tão duro e aparentemente frio pudesse se desmanchar de amores por alguém tão sentimental? Será que você não se importa por eu ser uma garota insegura e com baixa autoestima? Eu gostaria de um dia lhe dizer tudo o que sinto, e compartilhar também o medo de estragar uma amizade tão bonita e antiga como a nossa.


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