Primaveras escrita por Melli


Capítulo 39
Capítulo 39




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— Vamos, menina! – Mamãe me cutucava enquanto eu ainda dormia na cama. – Já está na hora de levantar! Se continuar dormindo, vai chegar atrasada ao colégio!

— Hmm... –  Sonolenta, levantei a minha cabeça com os olhos semi abertos.

— Vamos, vamos, vamos! Deixe de preguiça! – Minha mãe retirava de mim o cobertor quando assim disse.

— Porque tanta pressa? – Resmunguei, enquanto coçava os olhos.

— Seu pai irá te levar mais cedo para a escola! Tome um banho, e assim que estiver pronta, pode ir para a cozinha. O café já está na mesa.

— Tá mãe... – Sentindo a preguiça tomar conta de mim, me levantei da cama.

Bem, como toda manhã, eu me arrumei para mais um dia na escola. Eu não fazia nada de especial, a não ser colocar alguns acessórios no cabelo quando me dava vontade. Algumas meninas da classe costumavam a se encherem de maquiagem, e para mim não era nada bonito. Claro que a Karen e suas amiguinhas faziam parte das garotas que mergulhavam o rosto em farinha de trigo e usavam uma chinelada no lugar do blush. Isso não acontecia, mas foi uma metáfora que achei interessante usar, pois é o que realmente parece devido ao uso exagerado de maquiagens. Nunca fui de me enfeitar muito para ir estudar, e pra mim, bastava passar gloss nos lábios e tudo estava lindo. Algumas vezes eu passava lápis preto nos olhos, mas não era sempre. Neste dia, deixei meus cabelos soltos e decidi que não colocaria nada prendendo. Lá fora fazia frio e chovia, segundo mamãe, que havia ido até a padaria comprar o pão. Por este motivo, decidi deixar meus cabelos soltos, cobrindo as orelhas para que ele pudesse as esquentar.

— Minha filha, arrume este cabelo! – mamãe ajeitava a minha franja, enquanto eu andava para lá e para cá arrumando o meu material.

— O que tem o meu cabelo? Porque não posso jogar a franja de lado?

— Porque você não tem franja comprida! Veja... Não da cinco segundos e está espetada de novo. Deixe ela para frente, é melhor assim...

— Bem, mãe... Vou experimentar desta forma. Se eu não gostar, jogo tudo pra frente de novo.

— Tudo bem... Vá tomar café, vá... Daqui ha alguns minutos o seu pai já vai te levar.

Rapidamente segurei o copo de leite e em um instante eu já havia tomado tudo. Sequer eu havia sentado a mesa, e assim que acabei o café, corri para terminar de arrumar meu material.

— Ah, filha... Hoje chegarei mais tarde do trabalho, e eu conversei com a Sara para que você fique de tarde lá, tudo bem?

Não poderia estar melhor!

— Ah sim, claro! Mas me diga... Onde estão minhas galochas? – Com pressa, eu ainda colocava alguns livros na mochila.

— Você as deixou no escritório do papai. Gostou da ideia, não é?

— Amei, mamãe... – Mas o que eu estaria falando. – Digo...  O meu fichário... Tá lá no quarto! – E logo saí correndo.

— Vamos, filhote? – Ao findar o seu café, papai apareceu no corredor já pegando as chaves do carro.

— Vamos! – Saí pela porta da sala.

— Ah, filha! Sua sombrinha, você estava se esquecendo... Não está esquecendo mais nada?  Agasalho, galocha...?

— Tudo aqui, mamãe! Até mais! – Dei um beijo em seu rosto.

— Tenha uma boa aula! – Mamãe também deu um beijo em minha bochecha.

— Até mais, querida... – Papai dava um beijo breve em mamãe, e não sei por qual motivo, senti um pouquinho de vergonha.

— Até! Bom trabalho para você!

~ Alguns minutos depois... dentro do carro...~

— Sua mãe me contou... – Dizia papai, enquanto dirigia.

— Hm? O que ela contou?

— Melli e Sage, sentados em uma árvore, se beijando sem parar! – Papai cantava, ao mesmo tempo que ria de mim.

— Aaaaaah, mas o que é isso??? – Me espantei.

— Hahahahaha! Brincadeirinha... Sua mãe me disse que você está gostando de um rapaz da sua escola.

— Nem preciso dizer quem é....

— Diga a ele que venha conversar comigo antes, viu!

— O que?

— Diga ao Sage que seu pai quer falar com ele. Ah, diga que eu sou bravo...

— Hahahaha! Ele conhece o senhor... Sabe que não é tão bravo assim...

— Eu preciso saber quais são as pretensões dele com a minha filha!

— Paiê... Menos, tá? Aliás, nem vá dizer nada pra ele, se não eu vou morrer! E... Mamãe te contou meu segredo que ela prometeu guardar?

— Calma, filhote... Sou seu pai! E prefiro que você fique com o Sage do que com os meninos bagunceiros da sua sala!

— Está bem senhor Maximillian... não falamos mais neste assunto.

— Hahaha! Não precisa ficar vermelha...  Bem, nós já chegamos na escola, vai la! Tenha um bom dia! – Papai me deu um beijo em minha bochecha.

— Obrigada!

Logo que fechei a porta, abri a sombrinha e quando assim fiz, reparei que havia alguém se escondendo em baixo de uma das árvores do outro lado da rua. Me aproximei um pouco do sujeito, e percebi que era...

— O que está fazendo aí, Sage? – Me aproximei dele.

— Esperando a chuva passar...

— Mas... E seus irmãos? Não trouxe sombrinha hoje?

— Eu esqueci em casa, e por isso os dois me fizeram ficar aqui.

— Ah, pois eu te dou uma carona na minha sombrinha até o pátio.

— Você não se importa?

— De maneira alguma! Vamos, o seu uniforme está um pouco molhado... Você precisa se secar.

Estendi a sombrinha para que o cobrisse, e logo ele se abaixou, ficando na minha altura.

— Acho melhor você segurar... Haha! – Passei a sombrinha para as mãos dele.

Enquanto caminhávamos, eu sentia a minha pele se arrepiar. Porque será que isso acontecia? Não era frio, pois eu estava bem agasalhada. Estar perto dele era uma coisa a qual me deixava nervosa e com muita vergonha. Olhei para o lado, seus cabelos esvoaçavam com o vento e você sequer reparava em meu olhar, e espero que continue olhando para frente, pois certamente desviaria o olhar se olhasse para mim.

— Pronto, aqui estamos! – Logo chegamos ao pátio.

— Valeu, Melli... Agora onde estão aqueles dois?

— Ah, eu não faço ideia... Se você quiser, na hora da saída eu te empresto a sombrinha de novo.

— Ok. Mamãe disse que hoje você vai lá em casa... É verdade?

— Sim! Se você quiser, posso de ajudar com o dever de Biologia...

— Hm... Não é má ideia... Podemos jogar videogame depois, o que acha?

— Oba! Eu adorei sua ideia! Mas eu não vou incomodar?

— Ai Melli... Não começa!

— Ok, ok... Não está mais aqui quem falou. Vocês estão treinando de tarde?

— Não, treinamos de noite... Acho que mamãe ainda não se acostumou com isso, porque ela ainda diz que treinamos de manhã.

— Hahahahahahaha! – Involuntariamente soltei uma risada escandalosa.

—?? – Ele me olhava, estranhando a minha reação.

— Desculpa... – Envergonhada, tampei a boca com a mão.

— Hahahaha! Ai que zoada...

— Eu?

— Sim... Meu, eu queria te entender... – Sage se sentou em um banco no pátio.

— Falando assim eu me sinto uma anormal...

— Não, você não é anormal, mas sei lá... Você é engraçada...  E não é como as outras meninas que ficam correndo atrás de menino. Veja a Karen se esfregando nos meninos... Depois vem atrás de mim.

— Eu acho que tudo tem seu tempo. Não acho que namorar é lá uma coisa sensacional... As meninas hoje só  querem ficar com os meninos, não querem assumir um compromisso sério... Digo, algumas, né... E eu me pergunto porque é que estou dizendo isso pra você?

— Hahaha! Relaxa... Eu não ligo se você quiser conversar sobre isso. – Depois de assim dizer, Sage lançou a mim uma piscadela.

— ... – Sentindo o rosto queimar, deixei a sombrinha cair no chão depois de me atrapalhar com a piscadinha que ele lançara sobre mim.

— Opa! Pode deixar que eu pego! – Sage se abaixou para pegar a sombrinha, no mesmo momento em que eu também fui pegar.

Assim como nos filmes de romance água com açúcar, nossas mãos se encontraram, e naquele instante me bateu uma vontade de correr rapidinho pro banheiro, pois eu não aguentava mais tanta vergonha.

— ... – Evitei olhar para cima, e parece que ele percebeu que eu estava com vergonha de olha-lo.

— Então quer dizer que... – Apoiando as mãos em meu queixo, ele o levantou, fazendo-me olhar para ele – Você tem vergonha de olhar para mim? – Sage abaixou uma sobrancelha e levantou outra, lançando para mim, mais um de seus olhares maliciosos.

— Páááára! Hahahahaha! – Escondi novamente meu rosto atrás das mãos.

— Ok, ok... Eu só estava brincando. Mas... É só um...

 – SAAAAAAAAAAAAAGEEEEEEE!! – Os dois irmãos apareciam, e quase o jogaram no chão.

— E aí? O que me contam?

— Melli, nós vamos roubar ele por um instante, tá? – Dizia Sagi, logo puxando o irmão pelo braço.

Oi – Tudo bem...

~ Mais tarde... Na aula de história...~

— EEEEEEEEI! – E o professor dava um berro que até me gelou a espinha. – EU PEDI SILÊNCIO! – E toda a sala agora olhava para ele.

— Que página é o exercício, professor? – Tiffany levantou-se de sua cadeira e perguntou.

— Da 114 até a 116. Você não ouviu, gênio? – Karen logo caçoava Tiffany, e fazia com que suas amiguinhas começassem a rir.

— Mais uma gracinha e você passa o intervalo no gabinete da irmã, escutou Karen? – O professor a bronqueava, enquanto uma boa parte da sala ria em um tom baixo.

— Agora chega! Eu quero silêncio! Quem acabar, traga até a minha mesa para que eu dê visto.

— Professor... – Levantei a mão.

— Oi, Melli...

— O senhor quer que copie a pergunta, ou só a resposta?

Karen revirava os olhos, do lugar onde estava sentada.

— Algum problema, Karen? – Perguntou o professor.

— Não, teacher... – Logo começou a responder as questões.

— Não precisa, Melli. Só enumere e responda as questões.

— Aaaah sim. Obrigada, professor!

— Por nada.

A aula estava bem tediosa, mas no momento em que o professor nos passou os exercícios, eu me senti bem confortável, pois a sala estava quentinha, e o barulho da chuva, que era tão relaxante, parecia de alguma forma me ajudar a resolver as questões. Uma a uma, fui as respondendo em meu caderno, enquanto ouvia um “zum zum zum” vindo do fundo da sala. Certamente era Karen e suas amigas, mas resolvi ficar quieta e nada dizer ao professor. Olhei para a vidraça da sala, e por alguns instantes, meus pensamentos foram para o lado de fora da sala, onde a chuva caía sem cessar. As vezes eu tinha vontade de brincar nas poças, não sei porque. Nos filmes isso parecia tão divertido, e eu não via motivo para não me divertir como uma criancinha. Aliás... Eu acho que eu não deveria pular em poças exatamente por isso: Eu não sou mais uma criança.

— Dez minutos para o intervalo, pessoal! – Alertava o professor, sentado em sua carteira.

— Ai... Ainda faltam duas questões! – Olhei para meu caderno.

— Pelo menos você conseguiu fazer alguma coisa... – A voz com certeza era de Sage.

— Ah... Não está difícil, você quer ajuda? – Perguntei.

— Você senta do lado da Tiffany... Alguma coisa é difícil para você? – Perguntou.

— Mais é claro! Física, por exemplo... Bem, vamos lá. Sagi, posso me sentar no seu lugar só um pouco?

— Pode... Se quiser, pode sentar aí pelo resto do ano. Ele não vai se importar, né Sage? – Sagi dava uma cotovelada no irmão.

— Aiii! Não me importo,  mas... Não tem mapa de sala?

— Depois conversamos sobre isso. Agora, vamos ler as questões... – Logo coloquei meus olhos no livro.

Depois que expliquei como se chegar nas respostas, fui respondendo as questões que me faltavam, enquanto Sage respondia as questões em seu caderno. Infelizmente não deu para terminarmos tudo antes dos dez minutos que faltavam para o intervalo, entretanto ele ficou resolvendo as questões que faltavam nos cinco minutos iniciais do intervalo, e me disse que entregaria ao professor na próxima aula, já que esta era o prazo final para o visto dos exercícios. Eu resolvi espera-lo para que pudéssemos descer juntos, mas ele insistiu dizendo que eu poderia descer sozinha, e foi isso que eu fiz. Logo que entrei no refeitório, percebi uma grande concentração de alunos por ali. Isso acontecia toda vez que chovia, e aquele espaço virava um caos. Em meio a tantas pessoas, encontrei Sagi e Tiffany, que me disseram para que eu guardasse uma mesa para que nós pudéssemos nos sentar juntas. Então, naquele empurra empurra de alunos desesperados querendo comer, eu fui procurar uma mesa, e não demorei muito para que encontrasse uma perto das vidraças do refeitório. Lugar perfeito para que eu pudesse observar a chuva cair. Eu gostava de fazer isso, pois eu me lembrava da época em que eu morava na fazenda de minha avó. Sempre que eu não tinha o que fazer,  e o tempo estava chuvoso, eu ficava com o nariz na janela espiando a chuva cair lá fora. Aparentemente não era um passatempo divertido, mas para mim era sim. Vovó acendia a lareira da sala quando estava frio e chovendo, e isso era muito confortável, pois ficávamos aquecidos dentro de casa, e a sensação que o calor me transmitia era ótima. Talvez seja por isso que eu goste tanto de dias chuvosos, porque podemos ficar o dia inteiro em casa nos aquecendo com cobertas e bebidas quentinhas. Além do mais, eu achava que o céu cinzento era mais bonito do que quando o dia estava ensolarado.

— Você gosta de chuva? – Alguém se sentou frente a mim na mesa, e rapidamente reconheci a voz do sujeito.

— Ah, eu gosto sim... E aí, você conseguiu terminar as questões?

— Consegui. Estava um pouco difícil, mas valeu. Você me ajudou. – Sage era quem estava ali.

— Por nada. Ai... – Me dei por falta de alguma coisa. – Agora é que percebi! Esqueci meu lanche em casa! Saí com pressa e deixei em cima da mesa da cozinha...

— Puts... E agora?

— Vou ficar sem lanche... Eu não tenho dinheiro para comprar alguma coisa.

— Mas assim você vai passar fome! Não, nada disso! Pode pegar os meus biscoitos pra você. – Sage colocou em minhas mãos um pote com vários biscoitos que me pareciam ser de aveia.

— Eu agradeço, mas agora você é quem vai ficar com fome!

— Eu não me importo. Sei que você gosta de biscoito de aveia... Pode comer, não ligue pra mim. – Logo ele debruçou sobre os braços e olhou para a janela, parecendo estar com um pouco de sono.

— Não é certo te deixar com fome... – Coloquei frente a ele 4 biscoitos. – Eu prometo que amanhã mesmo eu trago algo só para você!

— Não precisa... – Ele dizia, permanecendo na posição em que estava.

— Deixa de ser teimoso! Hahaha! Ei... Você está com sono?

— Não... Porque você acha isso? – Mais uma vez, ele permanecia debruçado sobre os braços.

— Porque... – Os olhos dele pareciam cansados, mas eu não poderia dizer que estava olhando para eles. – Você está deitado aí!

— Hahahaha... Não seja boba! Não é porque estou deitado que estou me sentindo cansado.

— Tudo bem, me desculpe... Eu não quis te chatear.

— Não me chateou. Você se preocupa demais... E eu acho graça nisso.

— Porque?

— Não sei... – Seu olhar ficara distante e suas bochechas ficaram ligeiramente vermelhas. – Ah, come seus biscoitos, vai...

— Olha que liiiiiindo... – Sagi se aproximava juntamente de Tiffany.

— ... – Arregalei os olhos, pois pensei que estivesse falando da gente.

— O que é lindo? – Sage perguntou.

— Ela comprou um bolinho em forma de coelho! Hahaha! É muito fofo! – Tiffany assim dizia, e logo se sentou junto a nós.

— É fofo né, Sage? – Sagi perguntava ao irmão, com os olhos brilhando diante de tamanha fofura.

— Ah, vai se despedaçar no seu estômago... Não é tão fofo assim. Cadê o Saga?

— Eu garanto que você gostaria de dar um pa.... – Logo Tiffany tampou a boca de Sagi com a mão.

— Hahahaha! Come logo seu bichinho! Está quentinho! Não quer que ele esfrie, não é?

— ?? – Eu sequer entendia o que estava passando com aquelas duas.

— O Saga foi até a biblioteca devolver um livro. – Sagi dava uma mordida em seu bolinho.

— Hmm... Eu vou até lá então. – Sage levantou-se do banco.

— NÃO! – Quase gritei. – Digo... Nada. Pode ir... – Sorri, disfarçando a minha mancada, enquanto Tiffany e Sagi disfarçadamente riam.

— Alguém anda atrapalhada demais... – Sage se sentou novamente no banco.

— Eu? Ah, é normal. Hahahaha!

— Saaabe, quando as pessoas ficam assim é porque elas estão com... – Interrompi Tiffany.

— Dor de barriga! É isso! Eu vou lá no banheiro, tá? Tchauzinhoo! – Logo corri para o banheiro, pois sentia que um segundo a mais por ali resultaria em vergonha.

— Hahahahahaha – Sage ria sozinho, enquanto Sagi e Tiffany o olhavam.

— Nossas hipóteses foram confirmadas, Tiffany... – Sagi sussurrava para a amiga.

— Com toda certeza... Ele está bobinho!

— Maaas, vamos mudar o assunto. Eu vi que alguém conseguiu um amiguinho novo na festa da Melli...

— Eu? Hahaha! Eu adorei conhecer o Adrian!

— Tá, já estou me mandando. Falou aê! – Sage se retirou da mesa.

— Falou! – Sagi acenou para o irmão. – Acho que a Melli tá mexendo com ele...

— Como assim?

— Ele tem sentimentos por ela... Bem, eu acho...

— Você poderia perguntar para ele!

— Não é tão fácil assim... Sage é duro como pedra!  Nem pra nossa mãe ele diz...

— Talvez se você for com calma... Converse na boa. Acho que pode lhe dizer alguma coisa importante!

— Hoje ela vai estar lá em casa. O que acha que eu devo fazer?

— Bem...

~ Mais tarde... Na hora da saída...~

— Ai... Que preguiça... – Deixei minha mochila cair no chão, próximo aos armários.

— Anima aí, Melli! Você vai lá pra casa! Vamos fazer o dever juntos, vai ser divertido! – Sagi apoiava a mão em meu ombro.

— É, você está certa. Acho que fazer o dever juntos é bem melhor do que fazer sozinha! Mas... Onde estão os meninos?

— Daqui a pouco eles chegam. Eu precisava mesmo falar com você sem ninguém por perto.

— Porque…?

— Acho que você não deve fugir dele... Deixe tudo rolar naturalmente.

— Mas fico com vergonha de ficar perto dele... – Já entendendo de quem se tratava, logo respondi.

— Ficou perto hoje e nem percebeu. E sabe porque? Você agiu naturalmente. Seja você mesma! Ele vai ficar encantado com isso. E olhe... Pelo jeito ele está se divertindo muito com você.

— Então... Eu não devo sair correndo pro banheiro?

— Não, mas olha... Ele gosta de pessoas divertidas. Você fez ele rir sem o mínimo esforço. Ponto positivo pra você!

— Ah, mas que coisa boa! Eu fiz sem querer...

— Exatamente! Ele gosta disso. Não precisa tentar ser engraçada, porque ele gosta de você assim!

— Então ele gosta de mim?

— Se não gostasse, nem falaria com você, assim como faz com a Karen. Mas é como amiga! Não va pensar que ele te quer como namorada.

— Pelo menos isso...

— É um ótimo começo! Aos poucos você vai conquista-lo. Tenho certeza! Ah! Mesmo que você sentir vergonha, o olhe nos olhos. Agora vamos falar da aula de matemática porque os dois estão chegando. – Sagi dizia em um tom baixo a ultima frase para que os irmãos não ouvissem.

— Ah claro! O professor deveria ter considerado as minhas respostas! – Disfarcei.

— Vambora – Disseram os dois, com suas mochilas nas costas.

— Esperem! Melli está acabando de arrumar os livros na mochila dela.

Logo senti algo vibrar dentro de minha mochila, e com certeza era meu celular. Rapidamente o puxei e atendi a ligação.

— Alô?... Oi mãe!... Sim!...Eles estão aqui.... Sim.... Não, não. Tá... Tchau, um beijo!- E a ligação finalizou.

— Era a sua mãe? – Sagi perguntou.

— Sim... Queria saber se eu já tinha saído da escola.

~ Mais tarde... Na residência dos Yamazaki...~

— Foi minha avó que enfeitou com flores o salão! – Falei para tia Sara.

— Diga a ela que está de parabéns! Ficou muito lindo! Ela trabalha com isso?

— Pode deixar, eu direi. Ah, não... Na verdade foi a primeira vez que ela fez uma coisa do tipo, mas as flores ela mesma planta e vende.

— Ela deve ter um trabalhão para fazer tudo isso...

— Na verdade ela gosta... Pra ela não é trabalhoso. De certa forma, ela ganha algo vendendo as flores também.

— É mesmo? Ela vende flores?

— Vende!

— Que lindo! – E os trigêmeos só observavam eu conversando com a mãe deles. – Um dia eu gostaria de comprar algumas!

— Pra que, mãe? – Perguntou Sage.

— Para que você possa dar pra sua namorada!

— Pff!!Hahahahahahahaha! – E os outros irmãos riam.

— Parem com isso! Eu não tenho namorada! – Esbravejou.

— É brincadeira, filho... Bem, eu vou deixa-los sozinhos, daqui a pouco eu vou precisar sair. Já terminaram a lição? – Antes que tia Sara se retirasse, perguntou.

— Já! E a Melli ajudou o Sage com a lição dele!

— É mesmo? Puxa, que legal! Está gostando da ajuda de sua amiga, filho?

— É... Está sendo melhor do que tentar sozinho.

— Que bom! Vou pedir a Rachel preparar algo para vocês. O que você quer, Melli? – Tia Sara me perguntou.

— Sanduíche de queijo! – Repetiram os trigêmeos, como se já soubessem a minha resposta.

— Ah, hoje eu quero algo diferente. Se bem que eu adoro o sanduíche de queijo que a Rachel faz.

— Eu quero chá. – Disse Saga.

— Está ótimo pra tomar chá hoje! Eu também quero! – Me sentei no chão.

— Eu quero chá também!

— Igualmente. Sai do chão, menina! Sente no sofá! – Disse Sage.

— Vai pegar resfriado no fiofó! Hahahaha. – Sagi brincava.

E com essa brincadeira, foi a primeira vez que eu vi Saga rindo, aliás, até a Rachel estava rindo. A brincadeira não tinha tanta graça assim, mas pelo jeito que Sagi disse, ficou engraçado.

— Rachel... Eu quero torradas.  Com geleia, por favor! - Assim que parei de rir, fiz meu pedido.

— Tudo bem! E vocês, o que irão pedir?

— Rosquinhas!

— Croissant!

— Torradas! – E a lista dos trigêmeos era imensa.

— Ok. Não vai demorar pra ficar pronto, tudo bem?

— Não tem problema se demorar... – Abracei Rachel. – Você é um amor!

— Hahaha! Obrigada, Melli... Você também é!

Assim que a empregada se retirou, tia Sara estava arrumada para sair. Logo pegou sua bolsa no cabideiro próximo a porta da sala e antes mesmo de sair disse alguma coisa para Rachel, e disse aos trigêmeos que cuidassem do pequeno Aoi, que estava dormindo em seu quarto.

— Ah não... – Disseram os três, assim que a mãe saiu pela porta da sala.

— Ah não o que? Tem alguma coisa errada? – Perguntei.

— Sim! – Logo os três responderam.

— Não gostamos de ouvi-lo  chorar! – Dizia Sagi com ar irritado.

— Mas ele é um bebê... É normal que chore. As vezes está com dor, fralda suja e até mesmo fome.

— Vai me dizer que você não se irrita ao ver uma criança chorar? – Sage me perguntava.

— Não... Eu não tenho porque me irritar.

Estávamos reunidos na sala assistindo TV, quando ouvimos o choro  do bebê Aoi  vindo lá no quarto, o que deixou os irmãos com uma cara não muito agradável. E logo começava a discussão para ver quem iria até o quarto buscar a criança.

— Você vai, Sagi! – Os irmãos diziam.

— Mas porque eu??

— Você é mulher, tem mais jeito com criança!

— Hahaha! – Ironizou. – Estão zoando comigo, não é?

— Não! – Aos risos, responderam os dois.

— Podem deixar, eu vou pega-lo e trazer junto de vocês aqui na sala. – Disse Rachel ao passar correndo da cozinha em direção ao quarto do bebê.

— Tadinho, gente... Porque não gostam de ficar com ele? – Perguntei.

— Porque ele chora demais...

— Porque faz sujeira...

— Porque é muito pequeno! –Um por vez, os trigêmeos iam complementando a fala do outro.

— Todo mundo foi bebê um dia... Inclusive vocês! – Apontei para um dos porta retratos da sala onde estavam algumas fotografias dos trigêmeos quando ainda eram bebês. – E eram tão fofinhos...

— Não gostamos de bebê e pronto! – Disseram os três.

— Tudo bem... Mas é o irmão de vocês!

— Nós gostamos do Aoi, mas ele não faz nada a não ser chorar...

— Olha quem está chegando! – Rachel trazia consigo o pequeno Aoi, que estava vestindo um fofo macacão azul.

Logo meu olhar atraiu-se para a fofa bolotinha azul que chegava na sala. Ao contrário dos trigêmeos, eu amava crianças! Ficava encantada ao brincar com minhas priminhas pequenas e adorava quando elas me chamavam para brincar. Aliás, eu acho que eu ainda era um pouco criança, já que brincava com minhas bonecas, mas começava a não ter mais interesse em reunir as amigas em casa para brincarmos de casinha, mamãe e filhinha, etc. Eu gostava de penteá-las, trocar as roupas e deixa-las cheirosinhas nas prateleiras do meu quarto. Como eu estava sempre as limpando, não tinha tempo para que ficassem cobertas de pó. As vezes eu queria ter para mim as bonecas que mamãe tinha quando era criança. Eram branquinhas como neve , e seus traços delicadamente pintados a mão, e vestiam lindas e delicadas roupas repletas de babados, rendas e pequenas pérolas. Era realmente um tesouro, e de uma delicadeza infinita. Enfim, acho que me distanciei do nosso assunto! Hahaha! Com tudo isso, eu  quis dizer que eu posso estar com quinze anos, mas acho que meu coração ainda é o de uma menininha que adora brincar. Na escola por vezes eu era zoada porque ficava saltitando e por ter um jeito meiguinho, mas as pessoas não podem mudar o seu jeito de ser, não é mesmo? Bem, desde que o pequenino desceu, não tirei meus olhos dele. Gostaria de segura-lo em meus braços mas estava com vergonha de pedir para os trigêmeos.

— Ai... Voltou a chorar... – Aoi agora estava nos braços de Sagi. – O que eu faço? Ei... Não chore... – A irmã balançava delicadamente a criança, mas por sua expressão, estava desesperada para que a criança parasse logo de chorar.

— Está vendo? Ele só chora... – Sage disse a mim.

— Eu posso segura-lo um pouquinho? – Perguntei, logo estendendo os braços.

— Pode... Se você conseguir acalma-lo, eu te dou um prêmio! – Sagi o colocou em meus braços.

Eu estava morrendo de pena em ver o pequeno chorar, pois parecia que estava com dor pela carinha que estava fazendo. Entretanto, decidi observar mais algumas coisas antes de dizer que estava mesmo com dor. Perguntei para Rachel se eu poderia desabotoar o macacão dele para ver se havia algo na fralda, e quando fui autorizada assim fiz, e reparei que tinha algo ali. Logo avisei a empregada para que o trocasse.

— Ai Melli... Me desculpe. Agora estou fazendo o café de vocês. Peça para os meninos trocarem... Eles sempre fazem isso.

— É mesmo? Eles não ficarão com nojo?

— Bem, ficam um pouco, mas... Eu sinto muito. Se eu pudesse, ajudaria vocês sem problemas!

— Tudo bem, Rachel! Não se preocupe, nós cuidamos dele.

Logo fui contar a notícia para os trigêmeos, e não foi bem como Rachel disse.

— Eca! Ele fez cocô? – Sagi perguntou com cara de nojo.

— Fez... – Respondi. – O cheiro pode não estar muito bom, mas alguém tem que trocar ele...

— Troque ele você! – Saga dizia de uma maneira um pouco grosseira.

— Se me deixarem, eu posso troca-lo! – Neste momento, Aoi que estava em meus braços, estava mais calmo.

— Você já fez isso alguma vez? – Sage me perguntou.

— Não, mas já observei minhas tias trocarem a fralda das minhas priminhas. Eu posso tentar, mas vocês terão de me ajudar!

— O Sage vai te ajudar com isso. Ele é ótimo para trocar fraldas. Hahaha! – Sagi brincava com o irmão.

— Ra Ra! Porque eu?

— Porque eu e Saga vamos até a cozinha ajudar a Rachel com o café! Pedimos muita coisa, irmãozinho... A coitada não vai dar conta de fazer tudo sozinha.

~ Alguns minutos depois...~

— As fraldas estão aqui. – Sage jogou em cima do trocador.

— Cuidado! Quase acertou nele... – Eu me referia ao Aoi.

— Ah, desculpa... – Ao mesmo instante , ele se colocava ao meu lado e observava o irmãozinho brincando com as mãozinhas.

— Pronto, agora o nenê está limpinho e cheiroso! – Acariciei o queixo de Aoi.

— Ainda bem! Acabou a choradeira...

— É só ter um pouquinho de paciência... – O tirei do trocador e o segurei em meus braços. – E aí, acha que fiz certo?

— É... Aparentemente está tudo bem. Mas o macacão... Hahaha! Você abotoou errado ali em baixo!

— Ai ai... Essa tia Melli é atrapalhada, hein Aoi... – Novamente brinquei.

— Ah, relaxa... – Eu não sei porque, mas achava tão lindo quando ele dizia “relaxa”... – É normal.

— Vocês já trocaram a fralda dele com certeza, não é?

— Já trocamos, mas não gostamos de fazer isso. Mamãe disse que ou a gente aprende, ou ela irá contratar uma babá. Então eu disse para ela contratar uma.

— Puxa... Então a tia Sara precisa de babá?

— Precisa, mas não acha ninguém de confiança. Você sabe... Para deixar o Aoi sozinho com uma pessoa, não pode ser qualquer um.

— Ela está certa. De gente maldosa o mundo está cheio, e pra cuidar de um bebê... – Reparei que ele estava colocando meu cabelo na boca. – Não não não, Aoi! Cabelo é “caca”! – Logo restirei da mãozinha do pequeno, a mecha de cabelo.

— Hahahaha! Tá com fome, Aoi? Eu também estou...

— ... – Por um instante, fiquei reparando em como ele fica fofo na presença de uma criança.

— Hmmm! Hmmm! – Aoi esticava os bracinhos para o irmão.

— Acho que ele quer você... – Passei Aoi para os braços de Sage.

— Pode vir, mas não é pra comer meu cabelo. Tá ouvindo, baixinho?

— Hahahaha! Será que estão nascendo os dentinhos dele?

— Não sei... Ele coloca tudo na boca. Vamos descer? Você também deve estar com fome, e querendo logo seu sanduíche de queijo.

— Hahaha! Hoje eu pedi torradas! Mas outro dia pedirei o sanduíche. Aliás... Quando você leva algo pra comer na escola... O que mais gosta de comer?

— Sanduíche de presunto e queijo...Mas porque a pergunta?

— Só uma curiosidade... Eu gosto quando mamãe faz bolo! – Saíamos do quarto em direção a cozinha.

~ lá na sala... ~

— Mas já começaram a comer? Nem nos esperaram? – Disse Sage, sentando cuidadosamente no chão junto com Aoi.

— Ficaram lá em cima enrolando... A gente tava com fome, poxa! – Sagi logo enfiava um pedaço de croissant na boca.

— Desculpa, gente... Eu me atrapalhei um pouco quando fui abotoar o macacão do Aoi, mas já está limpo!

— Uauaaah! – Aoi esticava a mãozinha em direção a mesa de centro em que estavam os lanchinhos.

— Acho que ele quer também... – Puxei um pedacinho de pão de forma. – Toma... – Entreguei na mãozinha dele. Não se preocupem, o pão é molinho, ele vai chupar.

Aoi parecia feliz com o seu pedaço de pão, e eu achava uma gracinha o ver segurar algo naquelas mãozinhas tão pequenas.  Era fofo, bochechudo e minha vontade era apertar aquelas gostosuras, mas certamente iria ser uma judiação. Bem, ao final da tarde enquanto jogavamos videogame e Aoi estava sentado em meu colo, mamãe chegou em casa para me buscar. Eu disse a ela que gostaria de ficar mais, entretanto ela me disse que eu teria de ir embora, pois ela iria dar uma passada na fazenda da vovó. Então me despedi dos tigêmeos e do pequeno Aoi e entrei no carro. Mamãe me perguntou como havia sido o meu dia, e eu também perguntei de seu dia. Logo me lembrei de meu amigo, não sei por qual motivo, mas o momento em que estávamos no quarto do Aoi ficou em minha mente. É loucura dizer, mas eu começava a pensar em como ele se comportaria quando fosse pai. Será que a relação dele com seus filhos seria igual a com o irmão? Porque será que em frente aos irmãos ele se comportava de um jeito, e quando estávamos somente nós dois ele se comportava de outro modo? Ah, vai saber. O que importa é que parecia que seu olhar enchia-se de doçura quando segurava o irmão nos braços. Seria verdade, ou mais uma observação de quem se está apaixonada? Opa, apaixonada? Eu acho que sim...


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