Primaveras escrita por Melli


Capítulo 36
Capítulo 36




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— Me Ajude, mãe! – Estirada em cima de minha cama, eu perguntava para a minha mãe. – Qual fantasia a senhora acha que tem a ver comigo?

— Monstra, ogra... – Respondeu brincando.

— Muito engraçado, dona Elizabeth... É sério, mãe... Eu não consigo pensar!

Poucos dias faltavam para o aniversário de quinze anos dos Yamazaki e como podem ver, estava sendo difícil resolver o dilema da minha fantasia. Eu sequer tinha ideia de qual fantasia usar, mas uma coisa era certa: iríamos alugar as fantasias dessa vez. Já usei muitas fantasias nesses meus quatorze anos de vida, e a maioria delas feitas pela vovó Savannah. As que não éram feitas para mim, com certeza éram emprestadas das minhas primas. Borboleta, gatinha, bailarina, flor... Mas a mais bizarra com certeza era a de besouro. Pois é amiguinhos, já fui besouro um dia na peça de teatro na escola. Enfim. Mamãe dobrava as minhas roupas e as colocava no guardaroupa enquanto eu ficava jogada em cima da cama pensando, pensando e pensando. Rápido, Melli! Daqui há poucos dias será o aniversário dos seus amigos! Não vou poder deixar para alugar a fantasia de última hora, então eu tinha de resolver isso o quanto antes possível. Ah! Não seria uma fantasia qualquer! Teria de ser relacionada com a era medieval, já que este era o tema da festa.

— Depois podemos dar umas voltas nas lojas se você quiser... – Mamãe sentava-se ao meu lado quando acabara o seu dever.

— Mesmo? Puxa vida... Imagine... Se eu não tiver fantasia, eu não entro na festa, e se eu não for, os tri irão ficar muito chateados comigo.

— Eu e o seu pai também temos que ir de fantasia?

— Acho que sim... E é mais divertido se todo mundo usar, não é?

— Claro! Eu e o seu pai vamos arrumar algo bem legal!

— Ainda bem que vocês não sentem vergonha de fazer isso. Eu me animo ainda mais!

— Hahaha! Temos de comprar os presentes também... Já tem ideia do que quer comprar?

— Não... Mais uma coisa para eu pensar! Hahaha!

— Ah, tudo se ajeita! Vamos sair hoje, e se conseguimos resolver tudo, vai ser muito bom!

— Oh! – Preocupada, coloquei as mãos na cabeça. – O dever de matemática! Vou ter que fazer antes de irmos.

— Então vai! Mãos a obra!

Os dias passaram-se, e chegou então a tão esperada festa! Em cima da cama estava a minha fantasia. Asas cintilantes, um vestido comprido verde água (repleto de tule) e uma coroa de flores que pedi para vovó Savannah confeccionar. Já adivinharam a minha fantasia? Quem pensou em fada, acertou!

— Sua avó está aí, Melli! Veio entregar a cesta que você esqueceu de pegar.  – Mamãe aparecia na porta do quarto.

— Ah, mas estou só de toalha agora...

— Oi filha! – Vovó apontou a cabeça para dentro do meu quarto também. – Está boa?

— Ótima! E você, vovó?

— Estou indo... A vó trouxe sua cesta, tá? Coloquei bastante flores! Assim você vai poder entregar para muitas pessoas!

— Obrigada vovó! – A abracei e dei um beijo em sua bochecha.

— De nada! Quando você precisar de flores, a vó sempre vai te ajudar com isso, tá? Sua cestinha está em cima da mesa da sala, é só pegar depois.

— Tudo bem.

— A vó já está indo. Só passei mesmo pra deixar a cesta que você esqueceu. Deixei uns doces com a sua mãe também!

— Doce de leite?

— De leite e goiabada também! – Vovó sorria.

— Oba! Que delícia!

— Ela vai se empanturrar, mãe! Hahaha!

— Um beijo e fique com Deus! Se divirta na festa!

— Beijo, vovó! Boa noite pra senhora!

Vovó saiu do quarto, e eu comecei a ficar “pirada”. Não sabia se vestia primeiro a fantasia, se arrumava o cabelo ou se fazia a maquiagem.

— Meu senhor, como se veste esse vestido? Tem mais tule do que meus vestidos de ballet! Ô MÃÃÃE! Opa... – Me lembrei que ela estava se despedindo da vovó na porta do nosso apartamento. – E agora? Preciso fazer alguma coisa!

Logo mamãe entrou e pode me ajudar a vestir o meu vestido bonitinho. E tinha ficado uma gracinha!

— Own... Está uma bonequinha! – Ela ajeitava o meu vestido. – Vai arrumar o cabelo antes de colocar as asas?

— Sim! Nossa... Com esses brilhos todos, acho que vou ser confundida com um vaga-lume... E esses sininhos no vestido então...

— As fadas brilham! Fadas tem pózinho mágico!

— Êêê dona Liza... Tá com saudade de ser criança!

— E você também não sente? Eu sinto saudades de pegar aquele bebezinho lourinho nos braços... - Ela se referia a mim.

— Eu daria tudo pra ser criança, mas... A gente cresce, né?

— É verdade... Quer ajuda com o cabelo?

— Ah, me ajude a soltar os bobs, por favor! Será que as ondas ficaram boas?

— Tá... – Mamãe me ajudava. – Seu pai não sai mais daquele banheiro!

— Ah, daqui a pouco ele sai.

Meus cabelos estavam ondulados, e quer que eu diga uma coisa? Nessa noite eu arrumo um namorado! Brincadeira. Eu estava ficando bonita, mas acho que não despertaria a atenção de ninguém, muito menos do... Do... Puxa, não me faça dizer. Toda vez que me lembro dele, eu sinto vergonha. Hihi. Só espero que hoje eu não fique com o rosto todo vermelho na frente dele, mas acho que vai ser impossível. Desde que ele voltou do Japão, eu comecei a reparar mais nele. Estava diferente, os cabelos mais compridos, mais vivos e o sorriso? Tão lindo... Seu corpo cada vez mais assemelhava-se ao de um homem, e eu gostava disso. Não me importava que não tivesse os braços fortes, mas Ah... Como eu gostaria de cair em seus braços... Me segure forte, querido. Segure e não me solte mais...

— Melli! Ainda não arrumou o seu cabelo? – Mamãe apontava a cabeça no quarto, já com a sua fantasia no corpo. – Eu já estou quase pronta, e você nem ao menos se maquiou! Vai logo, menina! Daqui a pouco seus colegas vão estar aqui e você empacada aí na frente desse espelho! 

— Aaai, desculpa... – Rapidamente coloquei a coroa de flores na cabeça.

— Filha! Vai amassar as flores assim! Mais cuidado... E outra, arrume esse cabelo melhor! Está paçocado! – Ela passava as mãos no meu cabelo, tentando deixar as ondas mais soltas.

— Aiiii... Eu estou ansiosa!

— Contenha-se! Isso é porque nem é seu aniversário. A não ser que...

— Iiiih... Quando você fala desse jeito, até sei do que vai falar.

— Vai ter algum menino que você está de olho lá na festa?

— Claro que não! Deixa de pensar coisa, mãe... – Senti meu rosto esquentar. – Eu não estou de olho em nenhum menino!

— Ah, claro! Seu rostinho e as folhas do seu fichário não dizem isso...

— O que a senhora estava fazendo no meu fichário? – Acho que cada vez mais eu estava vermelha.

— Você o deixou aberto quinta-feira, enquanto fazia o dever de matemática... Se não gosta de ninguém, porque nas folhas tinha o nome do Sage e um monte de corações? – Fu&%@! Ela já sabe de tudo.

— Me da licença que eu vou tomar água... – Eu ia em direção a cozinha, tentando escapar daquele momento frustrante.

— Nananinanão! Sente aí e vamos conversar. – Ela me colocava de novo sentada no banco da penteadeira.

— Eu não tenho o que dizer... Agora a senhora vai me zoar, e contar tudo pra tia Sara...

— Pra Sara eu posso dizer...

— Ai nããããão... – Choraminguei.

— Ela não vai contar pra ele, fica sossegada!  Não precisa se sentir assim... É normal gostar de um colega.

— Não é normal quando ele não gosta de você!

— E quem disse que ele não gosta?

— Ele só gosta de mim como uma amiga! – Oh céus, cada vez mais eu estou piorando minha situação.

— Você não sabe! Own... Minha filhinha está vivendo o seu primeiro amor...

— Ai, pára! – Escondi meu rosto atrás das mãos.

— Seja você mesma.

— O que?

— Seja você mesma! Não há nada mais natural do que ser quem você é!

— Puxa... Estou envergonhada. Deixe eu acabar de me arrumar... – Voltei-me ao espelho e comecei a me maquiar.

— Sorria e confie em você mesma! – Mamãe se retirou do quarto.

Alguns minutos depois, Bany e Aoi já estavam em casa para seguirmos para a festa dos Yamazaki. Mamãe e papai já estavam com suas orelhinhas de elfos ajeitadas e eu já estava toda purpurinada. Digo, eu já estava pronta. Finalmente todos partimos para a festa dos trigêmeos, Weee! Demoramos uns vinte minutos para chegar até lá, pois a festa não iria ocorrer no perímetro urbano de nossa cidade. Quando pudemos chegar, na entrada da festa havia grandes portões, como nos castelos dos contos de fadas! Puxa, é hoje que me sinto como nos livros das princesas!

— Uooooou! – Eu olhava pelo lado de fora a decoração já na portaria.

— O negócio vai ser top! – Dizia Aoi.

— Puxa vida... Deve ter ficado muito cara essa festa! – Bany também “grudava” o nariz no vidro do carro, admirando tudo.

Depois de conferirem nossos nomes na lista de convidados, nós entramos e a primeira coisa que avistei foi um jardim repleto de flores.

— Já me apaixonei pelo jardim! Achei meu cantinho, haha!

Quando descemos do carro, eu pude reparar mais na fantasia dos meus amigos. Aoi estava vestido de soldado, e com aquela roupa eu sentia ainda mais medo dele, pois seu olhar sempre me foi ameaçador. Bany estava uma verdadeira amazona! Estava faltando o cavalo, mas quem liga para isso? Parecia aquelas moças  que moravam no meio da floresta. Forte e corajosa, como uma guerreira!

— Ai meu deus, eu não estou me contendo! Cadê os aniversariantes? – Aflita, eu olhava por todos os lados procurando meus amigos.

— Ah, olhem eles ali! – Aoi apontou.

— AEEEEEEEEEEEEEEEE! – E os três vieram correndo em nossa direção.

— Vocês vieram! – Sagi abraçava Aoi e Bany ao mesmo tempo.

— Oláá! Como vocês estão? Meus parabéns, viu! Muita saúde, paz... Tudo de bom! – Mamãe e papai cumprimentavam os meninos, enquanto eu ficava com uma cara de nada ao lado dos dois.

— MEEEELLIIIIII! – Ouch, acho que fui agarrada por um urso. Ah não... Era a Sagi.

— Sagizinhaaaa! Parabéns! – Entreguei o presente dela, que estava em minhas mãos, e logo a abracei.

— Obrigada! Que bonitiiiiinha você está! – Ela observava a minha fantasia dos pés a cabeça.

— De nada! Você também está muito bonita vestida de... – E agora? Eu não sabia do que ela estava vestida.

Oi – Arqueira! Hahaha!

— É, isso aí! Arqueira! Olhe as flechas aí nas suas costas. – Ri, um pouco sem graça.

— E nas suas tem asinhas... Tá brilhando bastante!

— Demais?

— Hahaha! Não se preocupe! Está bem assim.

— Não tem nada a me dizer, senhorita fada? – Oh senhor... Sage estava cutucando o meu ombro.

Oh... My... God! Não querendo imitar a linguagem irritante das patricinhas, mas eu realmente estava pasma. Pisquei inúmeras vezes para acreditar no que eu estava vendo e eu não estava sonhando com bruxaria, mas o bruxo Sage estava ali mesmo frente a mim. Eu deveria estar boquiaberta e fazendo papel de besta na frente dele, e o coitado se perguntando o que é que aconteceu comigo.

— Ei? O que houve com você? Te jogaram pó paralisante? – Ele olhava diretamente para mim, e seus olhos pareciam ter certa malícia.

— Oi? Ah, não não! Hahahahaha! Eu... É... Meus parabéns... – Eu o abracei, e o meu corpo começava a estremecer.

— Acho que você foi enfeitiçada... Posso fazer algo para reverter isso!

Isso, faça algo para reverter o meu problema. Passe o resto da festa comigo, me de uma flor, diga que eu estou bonita, fique ao meu lado... Segure em minhas mãos. Acho melhor eu parar com isso, se não quiser ficar com cara de boba na festa inteira.

— Bem... Minha mãe já te deu o presente, não é?

Oi – Deu sim! Mas... Depois nós conversamos, falou?

Oi – Ok! Ah! Tome isso pra você... – Entreguei a ele uma rosa vermelha, e pude sentir sua mão segurar a minha. – É uma... uma... Uma... – Cara de boba de novo não...

— Uma rosa...

— Isso! Você pode usa-las em seus feitiços!

— Eu não faria isso com o presente de uma amiga!

— Oh... – Segurei o meu rosto. – Onde está Saga? Ainda não o cumprimentei...

— Está ali com Aoi e Bany.

— Vou até lá cumprimenta-lo, tá? Depois a gente se fala! – Corri em direção a Bany e Aoi.

— Tudo bem. Haha.

Eu estava um pouco receosa de cumprimentar o senhor cientista louco, não por sua fantasia, mas acho que ele não gostava muito da minha pessoa. Desde que ele chegou do Japão, sempre estava sério, com cara de bravo.... Parece que não quer a minha amizade, que me acha uma boba... Sou boba mesmo, mas só eu posso me achar boba! Talvez seja o jeito dele, ou talvez não goste e não queira a amizade de meninas como eu.

— Ei Saga... – Cheguei de fininho perto dele. – Feliz aniversário...

— Ah, é você. Obrigado Melli. Seus pais já me deram o presente... Pode entrar, aproveite a festa.

— Ah... Ok. – Corri junto dos meus pais, que já haviam entrado no castelo.

Cada vez mais eu me encantava pela festa! Não era o tipo de festa que eu queria para mim, mas achava perfeita para eles. A cada canto que eu olhava, eu via coisas dos trigêmeos. Digo, tudo o que eles gostavam estava ali, dentro daquele salão enorme. Grandes mesas com castiçais, Lustres que iluminavam os vitrais, e algumas tochas de fogo perto dos mesmos, que ficavam bem acima dos convidados. E claro! Comida! Muita comida! E convidados de sobra também! Pelo jeito a família era grande, pois a cada segundo parecia que eu via alguém semelhante a eles em todos os lugares. E tia Sara e tio Leon? Onde será que estavam?

— Vem sentar, Melli! – Bany me puxava pelo braço.

— Pfff, sai do caminho! As pessoas querem entrar na festa também, sabia? - Aoi dizia.

— Ai. Hahahaha! Eu nem vi que estava no caminho! – Me virei para encontrar um lugar.

— Eita! Tome cuidado com essas asas, hein!  - Bany desviava das minhas asas, que por pouco não a acertou.

— Desculpa... Eu não vejo por onde elas passam... Por isso se eu machucar alguém, vai ser sem querer.

— Mentira! Ela quer arranhar todo mundo com essas asas de mosquito!

— Fica quieto, Aoi!  Ela é uma fada, e não mosquito!

Nos sentamos na mesa grandona ao lado dos meus pais, e enquanto os dois conversavam, eu Bany e Aoi também assim fazíamos. Coloquei minha cesta de flores sobre a mesa, e começamos a fuxicar.

— Mas espere... Vocês dois conheciam os Yamazaki? – Perguntei.

— Sim! Nos conhecemos na sua festa de aniversário lá na fazenda! – Disse Bany.

— Você passou o Msn deles pra gente... Não lembra? – Aoi perguntou.

— Não lembro... Então é meio que uma surpresa vocês estarem aqui na festa dos três?

— Digamos que sim! Nós nos falávamos, mas nunca nos vimos. Nem por web can!

— Que legal! Então ficaram surpresos quando viram vocês por aqui!

— Isso mesmo! – Aoi respondia, logo enfiando comida na boca. – Nos vimos depois de anos que começamos a conversar!

— Eu queria encontrar meus colegas lá da fazenda...

— Você tinha amigos lá, não é? Acho que seria bem ruim se fossemos embora do condomínio...

— Eu iria dar graças a Deus! – Aoi levantava as mãos pra cima.

— Aoi, é melhor você ocupar a sua boca com a comida! – Bany dava um pequeno tapa nas costas do irmão.

— Aaah! Não me bata, ô mula!

— Que feio... Não trate assim sua irmã! – Abracei a Bany, que também me abraçou. – Coitadinha... Eu iria adorar ter ela como irmã!

— É toda sua! Ou melhor... Por umas 5.000 pila te vendo ela.

— A irmã é sua, menino! Não se pode fazer isso com ela.

— Posso sim! Preferia ser filho único!

Tia Sara tinha se aproximado, e depois de nos cumprimentar, ela conversava com os meus pais. Resolvemos nos levantar e dar uma volta por aí. Vai que encontravamos os trigêmeos por aí, não é mesmo? Deveríam estar ocupados com os convidados, ou com as fotos que os fotógrafos não paravam de tirar. Se fosse na minha família, com certeza eu estaria cercada das minhas primas puxando cada parte do meu vestido, dizendo que eu deveria mostrar tal parte do corpo mais do que a outra, mas acho que não era o caso deles. Passávamos por diversas pessoas, e para algumas delas, eu estendia a minha mão entregando-lhe uma flor.

— Vocês também querem uma? – Perguntei para Bany e Aoi.

— Pra que eu vou querer isso?

— Aaaai Aoi, seu grosso! Não ligue pra ele, Melli... Eu quero uma florzinha!

Oi – Hmm... Vou te dar uma... Margarida! É alegre e bem fofa! Assim como você!

— Awn... Obrigada!

— Puxa saco... – Aoi revirava os olhos.

— FICA QUIETOOOOOOO!!!

— TIFFANY! – Assim que avistei minha amiga por perto, corri e a abracei.

— Oi Melli! Que fofinha você está com essa fantasia de fadinha!

— Obrigada! Você também está fofinha vestida de princesa!

— Hahahaha! Arrumei essa fantasia de ultima hora!

— Não vai nos apresentar para a sua amiga não? – Perguntava Aoi, zangado.

— Ah, claro! Eu tinha me esquecido! Tiffany, esses são Aoi e Bany, meus amigos lá do condomínio.

— Oi! Prazer em conhece-los! Eu sou a Tiffany, como vocês já devem saber. Haha! Sou amiga da Melli e dos trigêmeos... Estudamos na mesma sala.

— Oi Tiffany! O que você está achando da festa? – Perguntou Bany.

— Está bem animada! Eu ainda quero brincar lá no arco e flecha!

— Who’s that chick? Who’s that chick? – Enquanto as duas conversavam, sem que ninguém visse, eu ensaiava alguns passinhos atrapalhados e também cantava a música que estava tocando.

— Mas o que você está fazendo? – Opa, ninguém... Menos o Aoi. – Quase acertou essas coisas aí nos meus olhos! – Ele se referia ás minhas asas.

— Você estava me espiando?

— Meio difícil não te notar, vagalume... – Ele dava um peteleco na minha orelha, e por pouco não derrubou a minha coroa de flores.

— Você faz isso só porque não posso te acertar!

— Hahaha! Porque a sua cara é engraçada! Hahahaha!

— Eu acho que o bobo da corte é o Aoi pequenininho... E não eu!

— Uiii! Ela tá bravinha!

— Claro que não, bobão! Só pára de me zoar, e vamos seguir sua irmã e a Tiffany.

— Ow, onde vocês vão? Nos esperem! – Aoi saia correndo e me deixava pra trás.

— Aoooi, me espera! Não posso correr com esse vestidão! – Eu tentava alcança-lo, segurando o vestido.

E novamente saímos lá fora mas dessa vez, em um cenário totalmente medieval. Atrás de alguns arbustos, algumas crianças brincavam de fazer bolhinha de sabão. É, não tem nada de medieval nisso, mas eu também gostaria de me juntar a elas naquela brincadeira que lhes parecia muito divertida. A cada bolha que voava com o vento, as crianças caíam em um riso gostoso! Ah, por favor... me chamem para brincar... Eu me aproximava delas, mas acho que não gostaram muito da minha presença ali, pois me olhavam com cara de “O que essa menina doida tá fazendo aqui?”

— Ooooi! – Me aproximei mais um pouco delas.

— Oi... – Diziam as duas crianças, parecendo ainda me estranhar.

— Eu posso brincar com vocês? – Perguntei, me abaixando na altura das duas.

— Quem mandou você se enfiar aí? – Aoi aparecia... Aff! Acabou com a minha graça.

— Aaah... Bem agora que eu iria brincar com as crianças você apareceu...

As criancinhas acabaram correndo, acho que por medo do Aoi! Hahaha! Também, quem não tem medo daquele vampiro dos olhos vermelhos? Olha, vou confessar que sinto até hoje. Bem, eu fui pro tal lugar onde estava acontecendo o tão falado e esperado tiro ao alvo. Estava ansiosa pra chegar a minha vez, mesmo achando que eu não iria me sair tão bem assim.

— Tchu tchu tchu, tiro ao alvo! – Eu saltitava remexendo os braços, me animando pra tal brincadeira.

— Ai meu deus... Nunca viu isso não? – E Aoi mais uma vez querendo acabar com a minha graça.

— Claro que não!

— Ué, lá onde você morava o povo não caçava assim?

— Nãão! Era com espingarda mesmo! E coitados dos bichinhos... Na casa da minha avó tem alguns empalhados... Mas eu não gosto de ver.

— Aoi, ela veio de uma fazenda, e não de uma aldeia, ô anta! – Bany entrava na conversa.

— Fica quieta aí que a conversa não chegou no chiqueiro!

— Tiffany... Não liga, tá? É assim mesmo! Hahaha! – Falei para a minha colega, que estava com uma cara de medo.

— Puxa, é mesmo? Bany me contou que são irmãos... É um pouco triste ver irmãos brigando.

— Pfff... Não viu os trigêmeos brigando ainda! É pior que esses dois.

— Jura?

— Juro juradinho! Nossa, eu esquei! Vou te dar uma florzinha, para que você fique mais feliz! Vejamos... Vou te dar um lírio do vale! É puro... Remete a doçura... – Entreguei a ela.

— Que lindinho! Parecem sininhos... Obrigada Melzinha, eu adorei! – Com delicadeza, ela acarinhava as pétalas das pequeninas flores.

— Melli e as flores... – Aoi parecia se irritar com a minha atitude.

— Pra você, Aoi... Vou dar um cactus! É aspero e cheio de espinhos! – Entreguei a ele um pequeno vaso contendo um cactus.

— Valeu... Eu gostei.

— Vai logo Aoi! Chegou a sua vez! – Bany empurrava o irmão.

— Espera eu... AU! – Ops, acho que ele espetou o dedo.

— Hahahahaha!

— É tudo culpa sua, ô pulga alada!

— Aaaah nenêzão... Quer remédio no dedinho? Ou quer um beijinho?

— Essa Melli é triste! – Bany dizia para Tiffany. – Vive provocando ele também... Mas ele merece!

— Coitado! Hahahaha!

Aoi foi lá brincar com o tal arco e flecha, Bany estava o espiando, e no mesmo instante eu conversava com a Tiffany.

— Onde será que estão os trigêmeos? – Perguntei, olhando para todas as direções.

— Estão ali, olha só! – Tiffany apontou para o arco e flecha, onde os três também estavam.

— Oh, é mesmo! Bem, depois espero que possamos falar com eles...

— Sim!

— Porque... Porque... Porque... Por... Quequeee... – Comecei a gaguejar assim que vi Sage brincando de arco e flecha.

— Você está bem? Quer água?

— Não não, amiguinha... Obrigada! Hahaha!

— Você... Ele... Por um acaso... – Tiffany olhava para ele e para mim, remexendo a cabeça.

— NÃO! – Ops, acho que falei alto demais... Todo mundo olhou pra mim.

— Calma Melli... Eu só ia te perguntar se você gosta dele... É porque sua atitude foi suspeita, amiga...

— Podemos falar disso depois? Aqui todo mundo pode ouvir, inclusive... Você sabe, o sujeito!

— A sua amiga já sabe que você gosta dele?

— Não, depois vamos conversar só nós... As meninas!

— Sagi também?

— AI! Eu não tinha pensado nisso... E se a Sagi souber? Será que ela contaria pra ele?

— Talvez não. Ela pode te ajudar!

— Com o que?

— Bem, você sabe...

— Ai... Não, nãão... Vamos parar de falar nisso...

— Hahaha! Que dóó! Tá ficando vermelhinha! Relaxa... É só um... Garoto...

— Um garoto que odeia meninas delicadas...

— Não, Melli... Não pensa assim. Ah, olhe! Vamos lá, chegou a nossa vez.

Tiffany e eu nos aproximamos de alguns montes de feno que estavam aglomerados naquele local que parecia um celeiro. Alguns metros de distância, estavam os alvos, prontinhos para serem acertados. Será que a Tiffany sabia como acertar o alvo? Se soubesse, bem que poderia me ensinar a atira-lo de maneira que acertasse a linha do meio, pois quem acertasse lá, disse o monitor, ganharia um ótimo prêmio. Eu queria saber o que era, então, começava o meu esforço para conseguir acertar uma flecha no alvo do meio. Bany deveria ter se sentido uma verdadeira amazona atirando, entretanto, eu não tinha força para atirar, e muito menos sabia como posicionar o arco.

— Estique o braço de trás, moça... – Dizia o monitor, que deveria estar cansado de ensinar as menininhas bobas como eu a atirar no alvo.

— Tá... É assim? – Estiquei pra trás o meu braço, mas a flecha acabou escapando e caíndo no chão.

— Hahaha! Mais força, mocinha! Vamos lá, segure o arco com essa mão... – Ele segurava em minha mão, e a posicionava no local correto. – Com a outra você estica e... – Uow! A flecha voou, e acertou o alvo! Não foi na maior pontuação, mas eu estava feliz com o que havia acertado.

— Yeeees! Acerteeeei! – Comemorei com alguns pulinhos. – Uhuul! Já posso ser cupida! É.. acho que não. – Pensei.

— Acertou, Melli? – Sagi, que estava logo ao meu lado perguntou.

— Siiiim! Olhe lá! – Eu apontava contente.

— Rá! Só acertou porque o moço segurou na sua mão... – Dizia Saga, com aquela cara de mau humorado que sempre tinha.

— Sage, olha lá! A Melli acertou o alvo! – Sagi cutucou o irmão, que estava próximo a ela.

— É... Um bom começo! Continue treinando!

Ele me... Elogiou? Sei lá... Nada de pensar coisas, Melli. Ele te elogiou porque quer ser legal, porque é teu amigo e nada mais! NÃO! Ele me quer, ele me acha bonita, ele gostou da maneira como eu atirei o arco e...

— Moça, você tem mais duas chances. Agora sabe como atirar,então... Va em frente!

— Ok!

Vou dar o meu melhor! Sage estava bem ali ao lado, eu teria que atirar bem, para ele ver que eu sou boa em outra coisa que não ballet. Vamos lá, você consegue Melli, você consegue!

— Hahahaha! – A gargalhada do monitor quebrava os meus pensamentos. – Vai, moça... atire mais uma vez! Essa vez não vai falhar!

Fechei meus olhos, posicionei a flecha e...

— Boa! É isso aí! – Será que eu acertei o meio?

— Eu acertei o meio?

— Não, mas foi quase! Venha até aqui escolher seu prêmio!

Bem, eu não tinha feito uma pontuação muito alta, então saí dali com um frasco brilhante de fazer bolhas de sabão. Oba! Agora eu poderia brincar sozinha! Até que ele era bonitinho, e eu não me importava em receber um prêmio desses, afinal, eu adorava brincar de bolhas de sabão! É, brinco mesmo! Algum problema?

— Olha Tiffany, Olha! – Corri até a minha amiga, que também tinha ganho um prêmio, e agora partia em direção a outra parte da festa.

— Oi! Ahh que linda a sua bolinha de sabão! Eu também ganhei uma! Nós podemos brincar com elas, o que acha?

— Legal!

— Vejam! Aqui estão nossas amigas! – Diziam os trigêmeos em meio a um bando de crianças, qu deveriam ser seus primos, amigos, ou sei lá. – A fada Melli e a princesa Tiffany! Ambas vindas do reino algodão doce! – Completou Sagi, nos apresentando.

— Olá pessoal! – Tiffany sorria de forma simpática.

— Oiie! – Acenei.

Logo os trigêmeos partiram, pois disseram que tinham algumas bandeiras coloridas para procurarem na festa, e eu e Tiffany pudemos brincar com as nossas bolhas de sabão.  Saltitavamos para todas as direções tentando fazer com que as bolhinhas voassem o mais alto possível, porém não tivemos muito sucesso em nossa tarefa. No nosso reino do algodão doce, as fadas e princesas eram boas amigas, que repartiam seus pães de açúcar e que ajudavam a todos do reino.  Eu, a fadinha das flores, tinha a missão de fazer com que todas as flores crescessem e desabrohcassem assim que a primavera chegasse. Eu teria de tomar conta para que tudo ocorresse da maneira como tinha de ser:  As abelhas e outros insetos polinizando as flores, os pássaros espalhando as sementes para que novas plantas pudessem brotar... E além disso, a minha missão era espalhar a felicidade por todo o reino através de flores, que soassem como uma mensagem de tranquilidade e alegria para todos que as recebessem.  Bem, a Tiffany começou a ficar com fome, e então ela  partiu para a mesa, a fim de realizar a missão de saciar sua fome. Haha Bem, eu voltei para a mesa onde estavam meus pais porque também queria comer, mas logo soaram as cornetas, ou sei lá que instrumento eram aqueles. Um tapete vermelho fora estendido no meio do salão, e logo uma multidão começou a se formar em volta do mesmo. Corri rapidamente, e por sorte consegui um lugar perto do tapete, e por mais sorte ainda, um empurra empurra não começou atrás de mim. Boa ultilidade para as minhas asas!  Logo após os rapazes que tocavam o tal instrumento, vinha tia Sara com o pequeno Aoi nos braços e o Tio Leon. Em seguida deles, apareceu um senhor muito bem vestido com um manto vermelho e uma grande e brilhante coroa no alto de sua cabeça. Acho que era o rei! Puuxa... Mas que legal ter um rei em sua festa! Certamente deveria ser o avô dos trigêmeos, mas mesmo assim, eu me apaixonei pela ideia. Por último, uma melodia diferente soou nas cornetas, e então entraram os três aniversariantes. Os meus olhos certamente não piscavam, e brilhavam admirados com a formalidade da ocasião. Queria eu também em meu aniversário descer de uma escadaria bem grande, enquanto todos olhavam para mim admirados com a minha beleza... E no final da escada, o meu príncipe seguraria a minha mão e então dançaríamos a valsa juntamente com os quinze casais.

— Ah... – Suspirei bem no momento em que os três passavam em minha frente.

Puxa, acho que acabei me desligando do aniversário dos trigêmeos haha! Mas acontece que quando passávam próximos a mim, Sage acabou por me olhar e sorrir para mim, e você imagina qual foi a minha reação. Meus olhos se arregalaram, pisquei inúmeras vezes e é claro que morri de vergonha. Que nenhum de meus amigos estivessem por perto para presenciar a minha cara de boboca apaixonada. Será mesmo que eu estava apaixonada? Por favor, alguém me diz como uma pessoa se apaixona por outra! Isso é desesperador. Você é adolescente, está passando por mudanças constantes em seu corpo, e é normal que não entenda muitas delas, mas poxa... As vezes eu queria me entender! É como se... Eu já não mandasse mais em mim mesma, ou... Alguma coisa não está me deixando ser a Melli de antes, aquela menininha que brincava junto de seu amigo sem nenhum problema. Mas porque sempre que eu o olho fico envergonhada e quero me esconder? Ele é tão belo... Não entendo o porque de querer me esconder, afinal, eu gosto muito de olhar para ele, mesmo que algo dentro de mim faça eu sentir arrepios.

— Filha? – Mamãe me encontrou, em meio aquele mundaréu de gente. – Você está passando bem?

— Ah, é... Oi? Eu? Bem? Acho que...

— Você está vermelha... Está com falta de ar? – Ela olhava diretamente para o meu rosto.

— Tem muita gente aqui. Vá lá fora tomar um ar... Eu filmo o discurso do rei para você, pode deixar! – Papai e dizia, já segurando a câmera.

— Isso, filha... Vá dar uma volta. Vai ser melhor.

Ok, eu não estava passando mal, mas mesmo assim eu me retirei,morrendo de curiosidade para saber como seria o brilhante discurso do rei... do rei... Eu não sei qual é o nome dele. Bem, me retirei do salão e fui dar uma volta pelos jardins e para a  minha surpresa, estavam vazios. Ao lado de alguns arbustos floridos, encontrei um balanço onde me sentei para pensar sobre o que estava acontecendo comigo. Dizem que é muito bom quando desabafamos com um amigo a respeito das coisas que sentimos, mas nesse instante, eu gostaria de ficar sozinha. Nem mamãe, nem Tiffany, Bany e muito menos Sagi. Em minha mente, a dúvida que reinava era: O que estaria eu sentindo por aquele que eu chamei por anos de amigo? E aliás, eu não deixei de ser amiga dele, só que... Eu não queria agir de modo estranho na frente dele, entretanto, eu não sei controlar minhas emoções.

Vamos ao início de tudo. Quando crianças, ele me odiava. Me batia, puxava meu cabelo e me fazia comer a areia da creche. Até aí nada de mal. Todas as crianças brigam quando são crianças. Crescemos um pouco e ele ainda era rude comigo. Quebrou minha tiara preferida e não me deixava brincar com ele. Ok... Logo que ficamos grandinhos, ele começou a ser legal comigo. Opa! Será que tudo começou por aí? Ah, eu acho que não. Lanchinhos eram trocados na hora do intervalo, ele me comprava um chocolate as vezes e brincávamos bastante na casa um do outro. Ainda acho que nada surgiu daí, porque pra mim isso era como uma amizade normal. Bem, ele viajou para o Japão e... E... Voltou mais bonito que antes! Calma, epere aí... Acho que não gosto dele só por ser bonito. Ele me trata muito bem, sempre ri das coisas bobas que eu digo, adora repartir seu lanche comigo, sempre passamos o intervalo juntos e... Somos bons amigos! Desde a infância vamos um na casa do outro, eu o vi crescer, o vi tornar-se o que é hoje... Meu coração está palpitando forte, sua imagem está em minha mente, mas ao mesmo tempo, penso em ser uma bobagem tudo isso que eu estou sentindo... Do que adianta eu estar aqui, toda “rodeada de corações”, achando ele um gatinho, se ele não sabe dos meus sentimentos? Bem, eu prefiro até que ele não saiba, porque acho que iria rir de mim.

``Honoráveis cidadãos do reino de Crystallia! Eu, o rei Magnus,humildemente vos agradeço por comparecerem neste baile feito para os meus destemidos netos,herdeiros do trono. Eles passaram os últimos 15 anos de suas vidas em treinamentos,testes,provações,tudo isso para provarem que estão finalmente prontos para receberem as coroas e assumirem o legitimo trono! Mas mesmo que tenham recebido as coroas dos 15 anos,o desafio de verdade começará somente agora! Este baile,esta festa,deverá ser lembrada como um novo passo na vida de vocês. Terão que enfrentar muitos turbilhões e tempestades,mas sei que se manterem unidos e firmes,poderão passar por qualquer dilúvio e juntos,poderão ver o sol nascer no horizonte novamente. Vocês são muito inteligentes,amigáveis,corajosos e leais,tudo o que líderes e reis deverão ser. O seus corações,são as maiores jóias deste reino,então lembrem-se de nunca perderem a fé,pois uma nova jornada espera por vocês a partir de agora e eu sei que terão muita coragem e valentia para superarem tudo. Parabéns meus netos.´´ Ai é nessa hora que um ``guarda do castelo´´ exclama ``POR FAVOR,RECEBAM AGORA AS VOSSAS MAJESTADES SAGI,SAGE E SAGA FERRANTE DELLACOUR YAMAZAKI´´

E assim, o avô os apresentava, e os três agora vestiam-se como príncipes e princesa. Porque eu tinha que perder essa parte?? Bem, papai certamente havia filmado tudo para que eu pudesse ver depois.

Minutos depois... No jardim das flores coloridas...

— Ei... – Uma voz conhecida me chamava, e alguém tocava em meu braço.

— Hm? Quando me despertei dos meus pensamentos, meus olhos arregalaram-se involuntariamente pois ele estava ali, bem na minha frente e vestido de príncipe! – Ai...

— O que foi?  – Sage se sentou no balanço que estava ao meu lado.

— Nada  não... É... Que... – Eu queria sair dali o mais rápido possível .

— Você tá bem? – Certamente eu deveria estar super vermelha e com uma cara de assustada.

— Ah, mas é claro! – Me levantei do balanço, me afastando dele.

— Hm... Não me convence... – Ele se levantou do balanço e se aproximou de mim.

— É... Não tem porque se preocupar! Estou ótima! – Cada vez que ele se aproximava de mim, eu iria andando de costas,  me afastando dele.

— Você está assustada... E porque foge de mim?

— Porque... – Antes que eu caísse em cima de um arbusto, ele me segurou pela mão.

— Ei, toma cuidado aí... Iria se rasgar se caisse aí!

— Ah, é mesmo, não? Imagina só se eu caísse ali! – Eu queria prolongar o papo. Quem sabe assim ele não esquecia do assunto de antes?

— É... Mas voltando ao assunto. Me diz, porque está fugindo de mim? – Ele me olhava com cara de bravo, e se eu não soubesse que ele era o Sage, diria que era o Saga.

— Eu não estou fugindo de você... – Desviei o olhar para outro lado.

— Tem certeza? A cada passo que dou você se esquiva de mim... Eu não vou te morder! Sou um bruxo e não um vampiro. Quer dizer... Agora sou um príncipe!

— Você... Você... Quer me aprisionar em um vidro! É! E depois me transformar em uma mariposa preta e feiosa! – Disfarcei, começando a interpretar a minha personagem.

— Você é minha amiga! Eu não faria isso com você. Aprisiono somente as fadas maléficas. Aquelas que espalham o caos pelo mundo inteiro. Você é somente uma fada das flores... Não tem porque fugir de mim!

— Eu acho que... Os elfos me chamam! Tchaaau! – E lá fui eu correndo em direção aos meus pais, enquanto os guizos do meu vestido faziam barulho.

Logo após o parabéns, Tiffany se lembrou que eu havia comentado com ela que nós, as meninas teríamos uma conversa, conversa esta em que eu iria “abrir o jogo”, esclarecer de vez o que estava acontecendo, e esperar que alguém ao menos me ajudasse a desvendar tudo aquilo que eu estava sentindo. Será que alguma delas já passou por isso em algum momento? Bem, nos reunimos em um local um pouco distante do salão, e diria que um pouco escuro também. Deveria ser uma espécie de floresta sombria, ou um local misterioso com muitas árvores e tochas de fogo.

— Aee, estamos todas aqui! – Sagi se sentava no chão, ao lado da Tiffany.

— Sim! Diz logo Melli... Porque nos chamou aqui? – Bany ainda comia um pedaço de bolo.

— Bem, na verdade eu já sei do que se trata, mas eu vou deixa-la explicar. Vai Melli, a palavra é toda sua!

— Ai... Eu não sei por onde começar... Tá, vocês vão me prometer que não irão rir de mim!

— Nós prometemos... – Disseram todas.

— Você vai dançar até o chão no seu aniversário? – Perguntou Sagi.

— Não! É que...

— Você não vai me chamar pro seu aniversário né, sua coisinha... – Bany me olhava com cara feia.

— Claro que vou, mas...

— Meninas... Não é nada disso! Ela só está a fim de um dos meninos! – Tiffany se levantou no meio da rodinha.

Sagi e Bany logo se espantaram.

— É um dos meus irmãos? – Quis saber Sagi.

— Ou é o Aoi? Se for ele, vou logo dizendo que ele é doente! Você merece coisa melhor.

Me encolhi toda sentada no chão e escondi meu rosto com as mãos.

— Não é o Aoi... – Falei.

— Então quem é??? – Disseram todas, em uma só voz.

— Não tenho coragem de dizer...

— Se você não disser, eu digo pra você, tudo bem? – Tiffany apoiava a mão sobre meu ombro.

— Não... eu digo. – Ergui a cabeça e minha cora de flores caiu. – Eu gosto do irmão da Sagi!

— Nossa Melli... Bem específica você! Eu tenho dois irmãos, ô criatura! Qual dos dois idiotas é?

— Tanto mistério... Vaaaai, fala logo! – Bany quase arrancava as minhas asas, de tanto que me chocalhava.

— Do Sage! Pronto, agora vocês sabem. Tchauzinho, vou pegar algo pra beber. – Antes mesmo que eu me retirei dali, elas começaram a gritar.

— AAAAAAAIII!!!!

— Que bonitiiiinha! – Bany me abraçava.

— Meu deus... O que você viu nele? Mas tudo bem, eu vou adorar ter você como cunhada!

Nós não percebíamos, mas os meninos não estavam muito longe, e ouviam toda a gritaria.

— O que você acha que estão fazendo? – Perguntou Saga ao irmão.

— Vai saber... Fazendo o que fazem de melhor: Gritar.

— Vamos lá zoar elas!

— Ah não... Vamos continuar a nossa luta!

— Se é assim que você quer...

Os meninos voltaram a sua luta, e pelo menos agora minhas amigas já sabiam de quem eu gostava. Será que isso iria ser bom?

— Bem, se você diz que gosta, você gosta, né...  – Dizia Bany. – Acabou de admitir...

— E será que isso é amor? – Perguntei.

— Ah, eu acho que é... Vai na fé. Eu te dou permição pra dar uns pega nele.

— Sagi! – Diziam Bany e Tiffany, enquanto eu permanecia em silêncio.

— Eu nunca me senti assim... Não sei como é se apaixonar por alguém...

— Diz pra mim... O que você sente quando o ve?

— Eu sinto algo em minha barriga... Ela estremece, mexe, remexe...

— Pra mim isso é fome... – Sagi brincava. – Dor de estômago... É, se você cheirar os tênis do Sage, é bem essa a reação que você vai ter.

— Hahahahahahaha! – E todo mundo caía no riso.

— Aiaiaiai... Essa Sagi... E o que mais você sente? – Bany me perguntava.

— Sinto calafrios quando ele se aproxima... E o meu rosto fica muito quente!

— Xi... Ou é febre, ou insolação! Procure um médico!

— Ai Sagi... Ela está apaixonada, menina! HAHAHAHA – Bany dava um empurrãozinho na amiga.

— Eu estou? – Perguntei, alisando uma mecha de cabelo e olhando para o chão.

— Talvez esteja sim! É ele quem está te deixando assim...  Digo... São os sentimentos que você tem por ele. Certamente foi a convivência entre vocês dois que te deixou deste jeito. – Tiffany explicava.

— É, porque ela vive em casa... Bem que a mamãe sempre suspeitou!

— Ai, a minha mãe!!! – Observei que ela estava vindo até a gente. – Rápido, vamos disfarçar! Falemos de outra coisa.

— Olá meninas! – Dizia Mamãe, se aproximando da nossa rodinha. – O que fazem nesse lugar tão escuro?

— Nós?... É.... – Olhei para a minha mãe.

— Vai láááá! – Sagi girava uma garrafa de água que estava ali. – Bany pergunta pra Tiffany!

E as meninas certamente já entenderam o que Sagi havia planejado.

— Verdade ou desafio? – Perguntou Bany.

— Porque vocês não brincam em um lugar mais claro? Não é perigoso ficarem aqui?

— Que nada, tia! Não tem perigo não! – Disse Sagi, toda confiante.

— Tomem cuidado! Ah, filha... Você não quer um pedaço de bolo?

— Agora não, mãe... Quem sabe depois?

Logo minha mãe se distanciou dali, e aliviadas, pudemos voltar a falar do que eu estava sentindo. Eu não queria que ela ficasse escutando que estavamos falando do Sage, afinal, ela já encontrou uma pequena declaração em meu fichário... Mesmo assim, eu ainda não estou convencida de que isso seja mesmo amor. Mas uma coisa é certa: Eu gosto dele sim. Gosto quando se senta perto de mim, quando conversamos, quando reparte o seu chocolate comigo... Ele poderia fazer isso com qualquer outra menina da escola, mas porque escolheu fazer isso comigo? Ah, não vou criar expectativas. É claro que é por conta de sermos amigos! Sage não tem cara de quem gosta de meninas choronas, delicadas, emotivas e bla bla. Por isso eu duvido muito que um dia ele possa gostar de  mim de verdade, no sentido de ficarmos juntos, mas mesmo sabendo disso, eu não posso me esquecer e desfazer do dia pra noite, todos os sentimentos que nutri por ele.

Bem, depois que saímos dali, todos fomos dançar loucamente na pista de dança.  Na verdade eu não estava com muita vontade de dançar, mas Sagi acabou me “arrastando” pra lá. Enquanto as meninas dançavam, eu ficava parada no meio delas, ou melhor, eu até tentava dançar, mas estava um pouco travada. Corri meus olhos pelas pessoas que ali estavam e eram muitas! Naquele mundaréu de gente, eu teria de encontrar o Sage e ficar de olho nele. Hohoho! Ta aí uma missão! Mas os trigêmeos “borboletavam” por todos os cantos da festa, e era um pouco difícil o encontrar. Ao mesmo tempo que eu queria ele longe de mim, gostaria que estivesse perto para que eu pudesse o olhar.

Terminei a minha noite com os pés imundos, descabelada e sem as minhas asas, mas com certeza eu estava feliz pela festa de aniversário dos meus amigos. Mais um ano de vida dos meus ilustres amiguinhos! Mais um ano de zoeiras, de guerrinhas de travesseiros e conversas durante a madrugada, bem, que assim seja, não é mesmo? Meus amiguinhos: Desejo tudo de melhor para vocês, que vocês nunca percam a alegria de viver, e acho que nunca perderão, não é? E por falar em aniversário de quinze anos, era o meu que estava se aproximando...


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