Primaveras escrita por Melli


Capítulo 18
Capítulo 18




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— Olá, boa noite! – Uma simpática moça apareceu sorrindo nos portões da casa.

— Boa noite, a Sara se encontra? – Perguntou mamãe para ela.

Aquela mocinha era a empregada da casa, e sempre quando alguém aparecia ali na casa dos gêmeos era ela quem atendia o portão. Eu não sabia o nome dela, mas me lembro de que ela também atendeu o portão quando eu fui na festa da Sagi e do Sage. Esta seria a segunda vez em que eu iria aparecer na casa deles, porque a primeira vez foi no aniversário, mas não deu pra mim conhecer mais do que o quintal da casa.

— Me acompanhem por favor. Dona Sara está lá dentro esperando-as juntamente com os gêmeos.

— Ok.

Acompanhamos aquela moça simpática até dentro da casa, e a cada passo dado, eu ficava admirada com tudo o que encontrei por ali. A sala era grandiosa, e tudo ali parecia adquirir esta dimensão. Os tapetes, as cortinas de suave e brilhante tecido, as almofadas, os sofás, enfim, tudo! Havia também  uma lareira que era muito bonita. Até então, a única lareira que eu tinha visto era a da casa da vovó, onde na véspera de natal decorávamos- a com milhares de meias natalinas. Mas a da casa dos gêmeos era diferente da que tinha lá na casa da vovó, talvez por ser brilhante e bem maior do que a que tínhamos. Vasos de cerâmica, flores e outros enfeites também faziam parte daquele elegante cenário. Ao lado da sala, tinha uma outra sala, porém menor que aquela, onde se encontravam uma mesa beeem grande, quadros e mais cortinas bonitas. Entrei ali de mãos dadas com mamãe e acompanhada pela moça simpática a qual agora seu nome foi revelado a mim: Rachel.

— Podem se sentar aqui. Irei chamar a dona Sara, com licença. – Rachel apontou para um sofá e depois se retirou dali.

Me sentei naquele sofá grandão e minhas perninhas sequer alcançavam o chão. Era engraçado. Enquanto eu ria da situação, mamãe só ficava admirando a casa com uma cara de boba. Logo a tia Sara apareceu descendo as escadas. Estava sorridente e bem elegante, como sempre. Hoje ela estava com um vestido preto bem rente ao corpo, e seu comprimento não passava da linha dos joelhos. Ela gostava bastante de decotes, mas sabia como combinar peças para que não ficasse estranho. Gostava muito de usar colares de pedras preciosas, e era raro vermos ela sem eles. Enquanto ela descia as escadas, escutávamos o som de seu salto batendo nos degraus.

— Elizabeth, Melli! Que bom que estão aqui! Fico feliz por terem aceitado o meu convite. – Tia Sara dizia isso com um largo sorriso no rosto.

— Boa noite Sara, tudo bem com você? – Mamãe a cumprimentava com um beijo no rosto.

— Tudo ótimo! E você mocinha? – Ela se abaixou a minha altura.

Eu nem tinha notado que ela tinha falado comigo, porque eu voltava meu olhar para todos os cantos a fim de procurar os gêmeos, que por sinal não estavam ali.

— Diz pra ela que está tudo bem, filha! – Mamãe deu um pequeno chocalho em meu braço.

— Tá tudo bem tia.

— Que bom! Você está linda hoje, hein! Adorei sua roupa!

— Minha mamãe que comprou pra mim. Hihii Ô tia, cadê os gêmeos?

— Eles estão lá em cima terminando de se arrumar, já irão descer.

— Ah tá.

— E então Elizabeth... – Elas começavam a conversar coisa de adulto.

Eu ficava ali do lado não vendo a hora que os gêmeos aparecessem ali pra brincar, porque já estava começando a me chatear por não ter o que fazer. De repente escutei alguém descer as escadas rapidamente, parecendo estar correndo sobre elas, olhei para aquela direção e percebi que se tratava de um dos gêmeos, mas não consegui distinguir qual dos dois eram.

— Oi filho, onde está a sua irmã? 

— Ela ficou no quarto porque ainda não conseguiu amarrar os tênis. Eu consegui amarrar sozinho, mamãe! – Orgulhoso, Sage mostrava o pé com o sapato amarrado.

— Meus parabéns! Viu, eu te disse que não era difícil. Ei, olhe quem veio jantar com a gente.

— Quem é essa mulher? – Ele se referia á minha mãe.

— É a mãe da Melli, a Elizabeth!

— Oi Sage, como vai? – Perguntou mamãe.

— Tô bem.

— Ah que legal! Ei Melli, saia daí de trás, cumprimente seu colega. - Eu estaa escondida atrás de minha mãe.

Mesmo que ele tenha me defendido da Karen e me dado um pedaço de bolo de chocolate (o meu favorito!), eu ainda tinha medo que ele fizesse algo de mal para mim e além de medo, eu sentia um pouco de vergonha. Ele era um menino que me deixava com uma sensação estranha, porque eu não sabia ao certo o que se passava na cabeça dele, porque uma hora ele me batia, e na outra me defendia de uma chata que adorava me fazer chorar. Quem dera eu saber o que se passava por trás daqueles cabelos ruivos.

— Você quer brincar de esconde-esconde, é? –Opa, meu esconderijo foi descoberto por ele.

— Não... - Me envergonhei.

Mais uma vez, alguém descia as escadas, mas este alguém deveria estar pulando em seus degraus, porque o barulho era estrondoso.  Ouvia-se ao mesmo tempo, uma cantarolação vinda daquela região.

— Sete e sete são quatorze, com mais sete é vinte e um, tenho sete namorados, mas não gosto de nenhum! Oi mããããe! – Sagi descia as escadas cantando, e depois correu ao encontro da mãe.

— Oi filha! Conseguiu amarrar seus sapatos?

— Consegui, olha aqui! – Mostrou o pé.

— Xi... Não está muito certo não, mas depois vemos isso, porque sua amiguinha veio pra jantar.

— Quem?

— Olhe ali...

— MEEEEEEEEEELLI! – Correu em minha direção e me deu um abraço tão forte que me derrubou no chão.

— Sagi, olhe o que fez! Peça desculpas pra ela. – Tia Sara dizia parecendo estar zangada.

— Desculpa...

— Tudo bem. – Sorri.

— Ei, quer brincar no meu quarto? - Minha alegre amiguinha perguntou.

— Eu quero! Posso ir lá mãe?

— Pode, mas quando eu chamar pra jantar tem que vir, hein!

— Tá.

Eu e Sagi corremos pro quarto dela, mas acabamos deixando o Sage lá em baixo, mas não demorou para que ele aparecesse emburrado no quarto.  O quarto também era grande, afinal, os dois dormiam no mesmo local. A casa poderia ser enorme, mas eles não possuíam um quarto apenas para guardar os brinquedos, sendo assim, eles ficavam ali mesmo no quarto, sendo organizados em prateleiras e em caixas de plástico lacradas com tampas.

— Que foi Sage? Porque tá com cara de cocô?- Perguntou Sagi.

— Vocês me deixaram sozinho lá na sala... – Ele fez uma cara de coitadinho...

— Vamos brincar de boneca, você quer brincar?

— Boneca é brincadeira de menina. – Cruzou os braços.

— Mas você pode ser o papai! Ou o médico, ou o... – Resolvi convence-lo.

— Monstro?

— Não tem monstro na brincadeira.

— Então eu não quero! Vou brincar de videogame que é melhor.

— Vai então! – Sagi mostrou a língua pro irmão, que não reparou no ato.

— Minha bebê vai se chamar Júlia! – Tirei uma boneca da estante.

— E a minha... Vai se chamar... Ayumi! – Ela também tirou uma boneca da estante.

— Nhé, nhéé... Não chora filhinha, eu vou te dar mamadeira! – Eu segurava a boneca no colo e a imitava chorar.

Ficamos ali brincando por um bom tempo, e o Sage ficava nos observando de longe, parecendo querer brincar também. Mas ele disse que não queria, então não o chamamos mais. Eu não achava errado meninos brincar com meninas como as meninas lá da escola achavam, mas achava legal. Talvez as coisas seriam mais chatas se os meninos não brincassem com a gente. Talvez eu ache isso porque meus primeiros amigos foram meninos, ah, eu não sei. Brincamos tanto, mas tanto, que nem vimos a hora passar. Uma hora depois, a Rachel bateu na porta do quarto e nos disse que o jantar estava pronto, o que fez com que os gêmeos saíssem correndo e gritando:

— O JANTAR ESTÁ PRONTO, ÊÊÊ!

Ei, não corram tão rápido, eu não consigo alcança-los desse jeito! Enquanto os dois corriam mais que o sonic, eu resolvi descer as escadas andando mesmo, porque me dava um certo medo em desce-las correndo. Lá na escola tinha crianças que caíam na escada por descer correndo, então a gente entende que não é bom correr nas escadas, mas os gêmeos correm...

— Oi Rachel, o que tem de janta hoje? – Os dois perguntavam eufóricos.

— Pra vocês é hambúrguer, batata frita e refrigerante!

— OBAAAAAAA! – Os dois gritavam tão alto, que parecia que o grito iria me levar pra longe.

— Humm que gostoso! Vai ser igual lá do Mc Donald’s, né?

— Sim, é igual, só que aqui não vem brinquedinho e a gente pode comer quanto quiser! – Os olhos do Sage brilhavam ao mesmo tempo que ele dizia isso.

— Não! Vocês só poderão comer dois. – Disse tia Sara.

— Ahhh... – Responderam em uma só voz.

— Nem A e nem B! Agora sentem-se para que a Rachel possa servir o jantar.

— Eu quero sentar perto da minha mamãe! – Dei um pulo.

— Ahh... Mas eu queria sentar do seu lado... – Sagi choramingou.

— EU vou sentar do lado da Melli! – Xii, lá vai começar a briga entre esses dois...

— Por favor vocês dois! Respeitem a visita né... Vocês podem tirar no par ou ímpar quem vai sentar do lado da Melli, quem ganhar senta, e quem perder, senta ali na frente. – A tia apontou para o lugar á minha frente.

— Par! – Sagi escolheu.

— Ímpar! Um, dois três e já! GANHEEEEEI! – Sage comemorava pulando.

— Ahh, mas ela é minha melhor amiga, eu tenho que sentar do lado dela...

— Olha filha, dê uma oportunidade pro seu irmão sentar do lado dela, e outra coisa, você vai estar pertinho da Melli!

— É mesmo! Bem em frente!

— Obaa, todo mundo vai estar pertinho! E minha mamãe vai sentar do meu  outro lado, não é mamãe? – Sentei-me na cadeira.

— Sim filha!

— Tudo bem, então... O jantar está servido! – Dizia Rachel ao colocar os últimos pratos sobre a mesa.

O jantar estava uma delícia! Eu adorei, principalmente porque raramente eu comia hambúrguer e ia ao Mc Donald’s. E jantar na companhia dos meus amigos era ainda mais legal! Dessa vez eles não fizeram bagunça pra comer como costumavam fazer lá na escola, e nem brigaram tanto. O Sage parecia estar gostando de estar sentando ali, porque a cada cinco segundos ele olhava pra mim e dava um sorriso cheio de pão na boca. Hahahaha E eu não parava de rir um segundo sequer. Depois que o jantar acabou todos fomos para a sala brincar, mas antes mesmo de eu dar falta do Sage, ele desceu correndo as escadas com um papel nas mãos.

— É pra você. – Ele me entregou o papel.

— Hm?

— É um desenho que eu fiz da gente comendo bolo de chocolate lá na escola. Esse aqui sou eu, e essa é você! – Ele apontava para os bonecos no desenho.

— Ah, mas que legal! Eu gostei do seu desenho.

— É... Eu fiz ele pra você!

— Ele é muito bonito, e você pintou minha roupa da minha cor preferida!

— Eu fiz ele porque... – Fora interrompido.

— Ei vocês dois, venham pegar a sobremesa!

— E o que tem de sobremesa mãe? – Sage perguntava com esperanças de que fosse sorvete de chocolate.

— É sorvete de chocolate! Você gosta Melli?

— Eu adoro!

— Então veeeem! – Ele me pegou pelo braço e saiu correndo em direção á cozinha.

Depois da sobremesa, acabamos ficando lá na casa dos gêmeos mais um pouco. E brincamos muito! Dessa vez, todos juntos sem deixar ninguém de fora da brincadeira. Quando cheguei em casa, fiquei observando o desenho que o Sage me deu , e achava estranho ele me dar um presente depois de todos estes anos de puxões de cabelo, tapas, beliscões, empurrões e outras coisas, mas era um desenho bonito que eu gostei muito! Fui até a cozinha, procurei na gaveta do armário um rolo de fita adesiva, cortei alguns pedaços e colei o desenho na parede do meu quarto, um lugar em que todos os dias eu veria o lindo desenho.


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