Primaveras escrita por Melli


Capítulo 13
Capítulo 13




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Um mês havia passado desde que eu estava morando no apartamento, e até agora não me acostumei com a ideia de ter que me separar de meus amigos da fazenda, tanto que as vezes eu me entristecia, e chegava a chorar por sentir a ausência de Leigh e Lysandre. Mesmo que a vontade em vê-los fosse grande, isto não iria ser possível, já que segundo minha mãe, alguns telefonemas de vó Savannah, diziam que os dois, juntamente com os pais, sumiram da fazenda às pressas, pois precisaram vender sua propriedade, por motivos desconhecidos. Vovó também dizia que não tinha ideia de onde estariam morando, porque saíram sem informar nada. Com isso, eu continuava tristonha, e sem conhecer nenhuma criança daquele edifício.  Mas naquela manhã, parecia que a situação iria mudar.

— Melli, vamos logo á padaria filha! – Minha mãe dizia da porta de casa.

— Não encontro meu chinelo, mamãe...

— Você o deixou no banheiro ontem logo depois de tomar banho, se lembra?

— Ah, encontrei! – Vim correndo para onde minha mãe estava.

— Bem, então vamos!

Deveria ser oito horas da manhã, quando eu e minha mãe fomos até a padaria comprar algo para o café. Neste mesmo instante, no apartamento de frente ao meu, saía uma menina misteriosa juntamente com uma moça, que pela semelhança, deveria ser sua mãe.

— Bom dia, Cecily! – Mamãe dizia para... Seria para a moça ou a menina com quem estava de mãos dadas?

— Olá Elizabeth, bom dia para você também... Oh, minha nossa filha! Vamos logo, pois estamos atrasadas! Tchau para vocês. – Dizia a moça, que parecia atrapalhar-se à medida que o tempo passava.

— Hahaha, Até mais!

Antes de partirem, percebi que a menina retinha seus olhos em mim. Ah, os olhos dela... Me davam medo! Não só os olhos, como ela também me parecia uma menina sombria. A pele alva, não mais branca que a neve, era destacada pelo par de olhos levemente puxados, os quais tinham a cor de sangue. Os cabelos eram negros, lisos e não passavam da altura dos ombros. Tinha uma franja curta, que relava nos olhos, deixando a menina com o olhar ainda mais misterioso. Fiquei um pouco assustada com ela, mas mesmo assim, tinha a curiosidade de saber seu nome, já que não havia o escutado até agora.

— Já sabe o que vai querer? – Perguntou minha mãe, enquanto chegávamos á padaria.

— Hmm... Quero pão doce! – Dei um pulo de felicidade.

— Ai... Acho que não trouxe dinheiro o suficiente para comprarmos isto. Não tem outra coisa que queira comprar?

— Não, eu quero meu pão doce! – Cruzei os braços e emburrei.

— ÊÊ, vamos parar com isso já, hein!

— EU QUERO PÃO DOCE!

— Melli, olha...

— EU QUEROOO!

— Escute aqui: se você não parar com isso agora, voltamos para casa e não levo é nada. Ouviu bem? – Minha mãe dizia, enquanto apertava a minha mão.

— Aiii doeu!

— Então para de graça.

Por falta de dinheiro, acabamos comprando uma porção de bolachinhas de chocolate. Quando chegamos em casa, eu não quis come-las, porque queria meu pão doce á qualquer custo.

— Come, filha... Você vai passar fome se não comer.

— Eu quero pão doce!

— Vou te falar uma coisa, Melli. Se a mãe tivesse mais dinheiro, compraria quantos pães doces você quisesse, mas como eu só tinha algumas moedas, só deu pra comprar bolachinhas de chocolate. – Sua expressão parecia triste.

Eu era nova demais pra entender que o pão custava mais do que minha mãe poderia pagar, então, comecei a chorar.

— Ô meu santo... – Mamãe passava as mãos no rosto, parecendo perder a paciência.

— Buáááá, eu quero pão doce, eu quero, eu quero!

— Chega de birra, bebezão! Você não tem mais quatro anos pra fazer isso...

— Mas eu queroooooo! – Pulava nas pernas de minha mãe

— CALE A BOCA PELO AMOOOOOR!

— Buááááááá – Chorei mais ainda com os berros de minha mãe.

— Vem aqui... AGORA VOCÊ VAI CHORAR COM CORAGEM! – Levei uma palmada no bumbum.

— AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!

— Senta aí nesse sofá, e não me atormente mais!

Pelo menos ela ligou a Tv pra mim assistir desenhos. Ain, tirei minha mãe do sério... Será que ela vai voltar a falar comigo? Minha pergunta foi respondida há algumas horas depois, quase na hora do almoço, quando ela se aproximou de mim e parecia estar mais calma.

— Está mais calma agora?

Balancei a cabeça que sim.

— Quando a mãe tiver mais dinheiro, eu prometo que irei comprar pra você um pão doce bem bonito e gostoso, viu?

— Um pão doce de coração?

— Sim, um de coração!

Depois de um abraço da minha mãe, corri para o banheiro a fim de tomar banho para ir para a escola. Na hora do almoço, quando eu já havia tomado banho, papai chegou em casa com um pacote  dourado em mãos.

— Bom diaaa! Opa, acho que é tarde já, não é? Hehe

— PAPAI! – Corri de braços abertos em direção á ele.

— E aí filhota, já vai para a escola? – Passava as mãos em meu cabelo.

— Sim!

— Oi meu amor! – Minha mãe deu um beijo no papai, enquanto eu torcia o nariz vendo aquilo.

— Olá querida... Então, como estão as coisas por aqui? – Puxou uma cadeira e sentou.

— Está bem, mas certa pessoinha não se comportou muito bem hoje... – Ela olhava pra mim.

— Ixi... O que aconteceu hein, dona Melli?

— Eu queria pão doce, e a mãe me bateu...

— Acho que ela se esqueceu de contar, que tirou minha paciência fazendo birra, viu papai...

— Hmm... Já conversamos sobre isso hein, mocinha. – Meu pai fez uma cara feia... Ui!

— Agora ela já está mais calma, e também já falei com ela.

— Acho que devemos fazer algo para isso ter fim.

— Mas o que?

Enquanto os dois falavam sobre os meus comportamentos, eu fui para a sala acabar de pintar um trabalho da escola. Eu me divertia pintando, pois era um dos meus passatempos preferidos!

— Hm... De que cor posso pintar minha casinha? – Corri para a cozinha. – Mãe, pai, que cor eu posso colorir minha casa?

— Pinte de amarelo. Não é essa sua cor preferida?

— Sim sim! Vou pintar de amareloo, oba! – Saí correndo para a sala.

Depois que acabei de almoçar, papai me levou na escola porque minha mãe estava um pouco atarefada com os serviços de casa.

— Tchau, boa aula e comporte-se, viu! – Papai despedia-se de mim com um beijo e um abraço.

— Tchau, pai!

Entrei correndo por ali feliz da vida e ansiosa por mais um dia de aula. Logo o sinal soou, fazendo com que muitas crianças corressem nos corredores em direção á suas salas. As freiras que ficavam por ali, sentiam-se perdidas naquela multidão de crianças.

— Eii, por favor, não corram no corredor!

— É perigoso, vocês podem cair!

Era uma cena um pouco engraçada de se ver! Aquelas senhorinhas no meio de um bando de crianças alvoroçadas... Hahahaha! Coitadinhas. Entrei correndo na sala, e a professora já estava aguardando os alunos sentados em sua mesa.

— Opa opa opa! Isso é jeito de entrar na sala de aula, dona Amellie?? Meninas não devem se comportar assim. Olhe seu cabelo o estado que está!

Abaixei a cabeça, e fui para a carteira como se nada tivesse acontecido.

— Ei, volte aqui! Deve algo a mim, vamos, onde estão as desculpas?

— Desculpa professora... – Disse em um tom baixo.

— Não ouvi direito.

— Desculpa professora.

— Hum, bom mesmo. Esta sala não toma jeito mesmo... Nunca vi crianças tão mal educadas quanto estas.

— Com licença professora, boa tarde. – Karen entrava na sala toda metida.

— Boa tarde. Viram? Vocês deveriam seguir o exemplo dela, ao invés de ficarem pulando feito bichos do mato.

— A Melli é bicho do mato, professora. Ela morava no meio do mato junto com os cavalos. Hahahaha – Sage se acabava de rir.

— Então ela tomava banho com os porcos! Hahaha

— Hahahahaha É por isso que tem dentão de coelho! – Os meninos caçoavam de mim.

— PAREM JÁ COM ISSO! Tudo bem que os comportamentos dela são iguais os de um menino, mas isto não é motivo para tratarem-na assim. Se fizerem isto novamente, os punirei severamente!

 Todos eles abaixavam a cabeça, enquanto eu me debrucei sobre a carteira. Não chorei, mas no fundo, me senti magoada com aquilo, afinal, eu não tinha culpa nenhuma de morar em uma fazenda, e não via motivos para tirarem sarro dos meus dentes. Passadas as horas, no intervalo, me juntei á Sagi e Alessa, para que depois do lanche pudéssemos pular corda.

— Pronto, acabei! Podemos ir? – Sagi guardava rapidamente as coisas na lancheira.

— Sagi come rápido. Parece o come-come hahahaha -Alessa achava graça.

— Teenho dentes de ferro. Nham nham!

— Hahaha você tem bastante fome! Ei Alessa, vai me ensinar a pular corda, não é mesmo? – Me levantei do banco.

— Siiim, é fácil você vai ver!

— Ain, vamos logo!- Sagi estava eufórica.

Depois de lancharmos, fomos pular corda, e após pequenos tombos, consegui aprender a pular! Fiquei muito feliz, e mal via a hora de contar a novidade para mamãe.  Um pouco mais tarde, na hora da saída, papai e mamãe foram me buscar, e rapidamente fui ao encontro dos dois. Chegando no edifício, percebi que algumas meninas estavam sentadas em uma mureta, uma delas tinha um longo cabelo verde e parecia ser a mais velha, a outra tinha cabelos platinados e ria sem parar, e por ultimo... A menina misteriosa que eu havia visto naquela manhã. Olhei para ela, e vi que também me olhava, foi então que pela primeira vez ouvi seu nome.

— Venha com a gente, Bany! – As outras meninas gritavam para ela.

Ela ficou olhando pra mim até que eu entrei pela porta do prédio. Subi de elevador até o 15° andar, onde se localizava meu apartamento, entrei correndo e sorrindo em casa, quando vi em cima da mesa dois embrulhos: O primeiro, um embrulho dourado de fitas amarelas era uma Barbie, o segundo embrulho, um pouco mais simples que o primeiro, era o que eu mais desejava naquele dia: um pão doce.


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