Just Another Summer Love escrita por IsaW


Capítulo 1
We know what we are, but know not what we may be


Notas iniciais do capítulo

Oláá!!
Queria só dizer que, apesar de Just Another Summer Love ser minha primeira história postada aqui no Nyah, ela foi escrita por mim há quase um ano, e resolvi (finalmente) reescrevê-la para vocês lerem.
Divirtam-se!



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—Droga...-murmurei, quando me cortei com a maldita tesoura de aparar plantas.

Apesar de eu amar jardinagem, minha experiência não era tão boa quanto parecia. Eu gosto de ver, cheirar, tocar e cuidar de plantas, do jeito mais delicado possível. Odeio apará-las, tirar mudas de ervas daninha, espinhos e qualquer outra coisa que se encontre num espaço entre o perigoso e o dolorido. De uma maneira mais específica, eu amo plantasflores. Exceto as daninhas, claro.

Limpei rapidamente o sangue fresco que saia do meu dedo no short jeans que eu usava, fazendo uma careta que estaria engraçada se meu corte não estivesse doendo tanto. O incidente me relembrou da vez que eu plantei minha primeira muda de rosas na casa da vovó, quando dei o grande azar de cortar minha palma da mão de fora a fora ao aparar os espinhos da maldita flor. Lembro-me até hoje da cara de poucos amigos da enfermeira que me deu pontos. A pequena cicatriz em minha mão direita não me deixaria esquecer.

—EI!!- Ouvi um berro do outro lado da rua, que me pegou despercebida, e quase me fez cair para trás.

Uma mulher baixa, de mais ou menos 38 ou 40 anos e cabelos curtos e loiros estava parada do outro lado, na calçada, acenando para mim, como se já me conhecesse há anos. Me senti irritada por ter me assustado e fiquei imaginando se eu seria capaz de cravar uma briga com a baixinha. Refutei minha própria ideia ao ver que ela usava salto alto do tipo agulha. Minha ferida na mão latejou.

Levantei-me, batendo as mãos na jeans para tirar toda a terra, acenando de volta para a moça que aparentava ser simpática, imaginando que ela estaria perdida.

Ela então olhou para os lados como se estivesse esperando um carro passar, o que não fazia sentido, pois o bairro em que eu morava era bem longe do centro de Toronto e uma média de três carros (e, se der sorte, um caminhão) passavam por ali em um único dia. Segurei a vontade de gritar para ela "Ei, versão gordinha da Tinker Bell, isso aqui e um bairro isolado!"

—Você mora aqui? – A moça perguntou com um sorrisinho simpático no rosto, enquanto se aproximava do jardim e apoiava os braços na cerca branca que circundava minha casa. Passo alguns milésimos de segundo pasma com a altura da moça, que mesmo de salto agulha parecia ser uma adolescente que fez botóx demais.

—Moro sim.- eu sorri de volta, tentando ser simpática (e também tentando ignorar o fato de que ela era muito parecida com uma personagem da Disney.)

Foi aí que eu vi, por trás do ombro dela, que um carro preto e um caminhão de mudança estavam estacionando rente ao meio fio, em frente a casa vizinha, que estava para alugar desde o começo do ano.

—Acabei de me mudar pra cá.- A moça voltou a dizer, vendo que eu me interessei no caminhão.- Sou Stacey Jacobs.- Ela esticou a mão pela cerca branca. Forcei os olhos contra o sol forte e a encarei, esticando meu braço, que depois percebi estar sujo de terra, e apertando sua mão macia.

—Isabela Heylmann. - respondi.

Stacey sorriu novamente. Ela me parecia estranhamente familiar (tirando, é claro, o fato de se parecer com a Tinker Bell). Acho que seu rosto me recordava uma antiga professora de piano.

—Muito prazer. - ela disse, com cara de anjo. Eu estava prestes a dizer alguma coisa e ser educada, quando me interromperam, coisa que odeio que façam.

—MÃE! - Uma voz masculina veio de trás da mulher e nós duas nos viramos para ver quem nos interrompera. Um menino alto, que julguei ter minha idade, estava em cima do caminhão de mudança, ajudando um homem a tirar um sofá marrom escuro do veículo. Apertei meus olhos de novo, na esperança de ver o garoto melhor, o que não funcionou muito bem por conta do sol forte.

—Só um minuto, querido, estou tentando conhecer nossos vizinhos! - Ela gritou, com uma voz doce, e percebi que eu nunca tinha ouvido um grito doce antes do da Sra. Jacobs. 

—Você pode fazer isso DEPOIS de colocarmos as coisas na casa. - Ele respondeu, lançando-a um olhar furioso, movendo o sofá para a rua e depois desaparecendo por trás do caminhão com a ajuda do outro homem. Acabei por me sentir mal por Stacey, e senti vontade de abraça-la.

Ela voltou a me olhar, com a feição desapontada e eu imediatamente guardei a risada no fundo da garganta.

—Desculpe, Connor não é muito amigável.- ela disse, em seguida abrindo um sorriso simpático. -De qualquer maneira, foi muito bom conhecer você.

Tinker Bell se virou e parou na calçada, novamente checando os dois lados da rua antes de atravessar, e abriu a porta do carro preto estacionado atrás do caminhão, deixando um segundo menino de mais ou menos oito ou nove anos sair, com os mesmos traços dela e um boné azul escuro na cabeça. Ele carregava uma caixa de papelão com alguma coisa escrita em um marcador preto. Stacey o ajudou com uma segunda caixa e os dois foram para dentro da casa. Fiquei observando aquela família por alguns segundos, pensando na minha própria vida enquanto eu fugia um pouco da realidade. Voltei ao meu jardim para terminar de regar meu pequeno pé de rosas, tomando cuidado para não me cortar. Depois, peguei a tesoura que tinha deixado no chão e me virei para ir para dentro, mas quando pisei no primeiro degrau da varanda, a mesma voz masculina, que dera uma bronca em sua mãe, me interrompeu.

—Hey...-Ele disse. Me virei com uma velocidade que nem mesmo sei explicar como fui capaz de fazê-lo. O menino, Connor, estava ali, andando em minha direção, me olhando como se eu fosse uma pessoa louca. Fiquei imaginando como ele tinha atravessado a rua tão rápido. Peter Pan era alto, de mais ou menos 1 metro e 85, com os cabelos bagunçados naturalmente em um topete de um loiro do tom dos cabelos de Stacey. Os olhos eram verdes como os mares do Caribe, e seu rosto era mais que angelical. Os traços do rosto eram fortes e saudáveis, e ele literalmente parecia ter caído do céu.

Ele também sorria, e por Deus, que sorriso era aquele? Ajeitei rapidamente meu macaquinho jeans completamente sujo de terra e tentei arrumar minha trança de lado, que no momento já se desmanchava.

—Ah, oi.- eu disse, enquanto o garoto se aproximava de mim com passos largos.

Ele passou as mãos no meio topete que formava seu cabelo, ainda sorrindo abertamente para mim.

—Quero me desculpar pela minha mãe - Ele fez uma cara tímida de quem sente muito.- Ela é meio...- "estranhamente simpática e sorridente, talvez?" - ...imprevisível.

Sua voz também era muito sedutora. Em bom e alto som, um pouco rouca e extremamente bonita (Não que eu esteja flertando com ele, obviamente). Algumas gotas de suor escorriam pelo lado esquerdo de sua face angelical, e uma delas tentava alcançar seu queixo definido. Paro por alguns segundos para pensar no meu próprio suor que deveria estar longe de ser sexy

—Ah! - Exclamei, sorrindo.- Tudo bem, na verdade ela foi bem... simpática.

Ele sorriu de novo, dessa vez sem mostrar seus dentes alinhados.

—Meu nome é Connor.- Ele disse, desviando completamente o assunto e esticando a mão para mim, sendo mais que educado. Seu rosto me deixa confusa e eu quase estico a ele minha mão machucada.

—Isabela. - Respondo, trocando um aperto de mãos firme, que provavelmente deixaria vestígios de terra ao redor de seus dedos.

—Isabela...- ele murmurou para si mesmo, como se meu nome, para ele, fosse de outro mundo.- Nome legal.

Tentei dar meu melhor sorriso. Nome legal? Sinceramente, que tipo de elogio foi esse? Quer dizer, isso ao menos foi um elogio? Ou ele tinha tirado com minha cara? 

Antes que eu pudesse responder alguma coisa que provavelmente não faria sentido algum, minha irmã deu um berro de dentro de casa, que pode ser ouvido por todo o quarteirão.

—ISABELA! ALMOÇO!

—Ah- Voltei à atenção para o menino de olhos verdes e sorri, agradecendo Natalie mentalmente por ter chamado meu nome. - Eu já vou entrar... -Fiz um sinal com a cabeça indicando a porta. Acho que eu o chamaria para entrar, se não fosse minha desconfiança exagerada sobre pessoas novas.- Foi bom te conhecer.

Me virei na mesma velocidade que tinha me virado para falar com ele, quase tropeçando para subir as escadas da varanda e fechando a porta num baque absurdo, que aposto que toda a vizinhança ouviu.

Tive uma impressão, quase certeza, de que antes da porta se bater, eu ouvi um "Também foi bom te conhecer".

E foi por isso que sorri.

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Natalie, minha irmã, estava sentada na cadeira que ficava bem ao lado da janela da cozinha, me olhando sorridente.

—Que foi? - Perguntei, me sentando de frente para ela e pegando o garfo cintilante que repousava ao lado de meu prato.

Ela abaixou os olhos sorrindo, enrolando um dos cachos de seu cabelo nos dedos.

—Nada, oras.

Dei de ombros enquanto colocava o macarrão no prato.

—Quem é seu amigo? - ela perguntou com um sorriso no rosto, enquanto olhava pela janela. Ah, mas é claro que ela estava espiando...

Coloquei meu prato na mesa e sorri para mim mesma. Ela puxou toda aquela dúvida da mamãe? Por Deus, que coisa mais irritante...

—São os Jacobs.- respondi, colocando uma porção de macarrão na boca e mastigando devagar.

—Finalmente alguém na casa... -Ela disse, tentando disfarçar sua enorme curiosidade com um sorrisinho tímido.

Mas por outro lado, ela tinha razão. A casa estava abandonada há praticamente um ano e meio, quando a família de lá se mudou para Brampton e eu, secretamente, dei graças a Deus. O homem que morava lá costumava trabalhar com concerto de carros, então todos os dias, por volta das 6:30, ele estava fazendo barulho em um carro qualquer, acordando até o cachorro surdo do vizinho do lado.

Eu morava num bairro bem isolado para a possibilidade de um interessado nas casas daqui. Era praticamente há 10 minutos de carro de distância do centro da cidade. Não que eu tenha algo contra cidades grandes, é só que eu sentia muito mais confortável fora do alcance de barulhos de indústrias e tráfego a toda hora. Além disso, o bairro era ótimo. Há duas esquinas de casa, localizavam-se uma padaria, uma farmácia, uma mercearia e um minimercado, além de uma sorveteria um pouco mais adiante que servia o melhor sorvete de chocolate da cidade.

Natalie estava olhando sem parar para fora da janela, o que despertou minha curiosidade e me fez desviar o olhar também. E lá estava ele. O loiro com cara de anjo, carregando as caixas de mudança para fora do caminhão e levando para dentro da casa, uma por vez.

—Ele é um gatinho... -Nat disse de repente, quebrando todo o silêncio e por uma razão me deixando desconfortável.

Vagamente, me lembrei da mamãe. Sempre quando íamos ao shopping ou em algum lugar assim, quando um menino bonitinho passava, ela me cutucava discretamente e dizia que um menino era “gatinho”, quase em um sussurro, enquanto papai ficava olhando de relance para nós como se quisesse decifrar nossas conversinhas de mulher.

E então, me bateu uma saudade tremenda deles.

Ainda me lembro do dia em que eles nos deixaram. Eu tinha 11 anos, e Nat tinha 16. Lembro-me que estava chovendo. Era dia 5 de abril, perto das 9 da noite, quando o telefone antigo da vovó começou a tocar sem parar. Papai e Mamãe tinham saído ás 2 da tarde para chegar ao aeroporto um pouco antes das três, e eu e Nat ficaríamos com a vovó até que a reunião de trabalho deles acabasse na semana seguinte. Lembro-me que quando o telefone tocou, vovó começou a chorar enquanto a moça do outro lado da linha falava baixo e devagar. Lembro também de Natalie chorando, perguntando desesperada o que havia acontecido, enquanto eu estava presa na minha própria inocência de criança, perguntando-me mentalmente onde estariam meus pais, puxando a barra do vestido rosa da vovó enquanto ela tentava se controlar em meio á mil lagrimas.

— É... - respondi, murmurando baixinho, voltando a comer em silêncio.

Natalie deve ter percebido meu desconforto, pois ela ficou em silêncio até acabarmos de comer, e eu fiquei pensando inutilmente o quanto mamãe e papai faziam falta em minha juventude.

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Eram quase 5 da tarde quando ouvi o caminhão partir. Levantei-me rapidamente da cama e fui até minha janela, que coincidentemente dava de frente para a janela do segundo andar da casa dos Jacobs. Afastei minhas cortinas brancas do vidro e procurei o carro preto luxuoso da família, de repente pairando o olhar numa figura na rua.  Era o menino de novo, Connor, carregando mais uma caixa de papelão escura para fora do porta malas do carro. Ele mal deu dois passos para a calçada, quando a caixa se espatifou no meio da rua, que me fez sentir pena dele. Vários livros grossos, papéis grampeados e marcadores caíram no chão, e ele se apressou em se abaixar para recolhê-los. Quando ele levantou o olhar, foi tudo muito rápido. Connor olhou diretamente para o segundo andar da minha casa, justamente para a minha janela aberta pela qual eu estava observando, como se ele tivesse algum tipo de instinto natural. Em questão de milésimos, nossos olhares se encontraram, e eu não hesitei em abaixar a cabeça o mais rápido possível, fingindo não estar olhando e esperando realmente que ele não tivesse me visto.


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Notas finais do capítulo

Reviews construtivas serão muito bem-vindas!
Beijos!



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