Conto das Marés escrita por J L Vianna


Capítulo 4
Descobertas Perigosas


Notas iniciais do capítulo

Voltando após um longo bloqueio imaginário e muitas coisas pra fazer, mais um capítulo novinho e dessa vez com mais presença da Diana. Essa seria uma história curta, mas o desenrolar dos acontecimentos ficaria muito rápido, então teremos provavelmente mais uns dois ou três no máximo. Boa leitura e desculpe os errinhos. ^^



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Já havia passado mais de uma hora desde que Fortune e Nami começaram a procurar pela pedra. O sol começava a se recolher no horizonte, tingindo o azul do céu com tons fracos de laranja, diminuindo a claridade ambiente. Se demorassem mais um pouco, a busca se tornaria mais difícil do que já estava. Precisavam agir rápido, mas pernas da pirata doíam e a temperatura do ambiente fazia Fortune suar, contudo, a capitã manteve-se firme enquanto vasculhava cada metro quadrado do edifício.

Nami estava um andar abaixo dela, observando os corredores de pedra atentamente enquanto os atravessava. Não havia desenhos ou qualquer coisa que decorasse as paredes, nada além do cinza morto e monótono das armaduras presas em seus cavaletes bem tratados. A sereia não entendia o porquê de tudo ter permanecido intocável, ante a presença da guerreira lunar. Ela levantou o báculo na esperança de que ele a guiasse, mas este permaneceu apagado. Ela estava revoltada, com raiva por estar falhando em sua missão. Mesmo admirando muitas coisas nos humanos, ela detestava estar em terra firme. O ar, o calor e até o solo, eram coisas impossíveis de se acostumar para alguém que sempre viveu submersa. E agora permaneceria presa entre eles, impedida de voltar ao seu lar sem cumprir seu objetivo.

Em meio aos seus devaneios, Nami nadou levemente de costas, até encostar sua pele úmida no frio seco das rochas da parede. Permaneceu ali durante algum tempo, pensando em sua derrota certa, cabisbaixa. Tanto esforço, tanta esperança para chegar a nada mais uma vez. Os raios solares diminuíram de intensidade conforme a noite vinha chegando, atraindo a atenção da sereia. Foi então que ao cruzar o olhar com a parede a sua frente, um desenho foi avistado. Duas semi-esferas estavam viradas em posições opostas e ao se aproximar, Nami pode notar que as figuras estavam em cima de uma superfície que se destacava sutilmente da rocha.

Ela tocou a figura da direita e pode senti-la mover levemente. Intrigada, ela girou as duas formas geométricas até que ambas completassem uma a outra. Como uma fruta partida ao meio. Então empurrou para dentro. Durante alguns segundos nada aconteceu, mas depois o coliseu começou a se agitar. Tremores abateram sobre o edifício, fazendo com que a sereia fosse obrigada a segurar-se nas pilastras. Barulhos de engrenagens puderam ser ouvidos e depois de alguns longos segundos, tudo parou. Recuperando-se, Nami encarou abismada o centro da construção. Bem no meio da arena, um quadrado se abriu, revelando uma escadaria para o subsolo. O destino havia atendido sua prece silenciosa e conspirado ao seu favor, a pedra só podia estar naquele local.

— Nami! – gritou a pirata alguns andares abaixo – Seja o que é que tenha feito, você conseguiu!

Metros abaixo, Diana caminhava tranquilamente no grande salão do templo enterrado. Ela havia descoberto o local meses atrás, e desde então passara todos os dias dentro dele, porém nunca deixava de se maravilhar com a construção sagrada de seu povo e muito menos deixava de imaginar, como era o local quando este ainda estava na superfície. Pela planta que havia encontrado na biblioteca Lunari, a estrutura possuía uma beleza única e delicada. Diferente dos traços rústicos das construções dos Solari, os arquitetos lunari planejaram cada linha de cada parte do templo, com bastante cuidado e capricho. Uma verdadeira obra de arte esculpida a mármore.

Apesar de só restar o Grande Salão, onde eram feitas as reuniões, a biblioteca e a Sala da Adoração, Diana tinha recriado em sua mente a estrutura completa em seu apogeu.  Uma enorme cidade construída de forma circular, segmentada em círculos, onde havia comércios, casas e edifícios públicos. Bem no seu centro, exatamente onde se localizava atualmente o coliseu dos Solari, seu templo emergia majestoso em mármore branco, rodeado por torres de observação contendo materiais para o estudo da Lua e das estrelas.

Ela podia imaginar crianças correndo, sacerdotes orando em adoração à grande deusa e estudiosos caminhando e debatendo suas teses enquanto voltavam para o circulo comercial ou habitacional. A imagem lhe parecia tão real, mas ao mesmo tempo tão distante. Como ela queria viver naquele tempo, onde seus semelhantes governavam e a liberdade de pensamentos perpetuava a sociedade. Sociedade esta focada nos estudos e no futuro, muito mais avançada do que à dos bárbaros Solari, que só possuíam olhos para a arte da guerra e o derramamento de sangue desnecessário.

Ela nunca se sentiu em casa em meio à eles. Talvez, parte da sua alma já sabia de sua verdadeira origem. Naquele dia fatídico, quando foi humilhada na frente de toda a corte e condenada por sua “heresia”, Diana voltou à biblioteca antiga do seu povo e passou dias e dias, procurando escondida algo que comprovasse sua teoria: De que há muito tempo atrás, outros povos adoravam a Lua.

Ela se lembrava muito bem de onde surgiu esta teoria. Sua mãe antes de falecer trabalhava na mesma biblioteca. Organizando pilhas e pilhas de livros, era um trabalho um tanto cansativo e sem importância alguma para os outros, já que poucos eram aqueles que visitavam o local, o que se resumia somente aos anciões aposentados de guerra.  Mas ela estava sempre empenhada em deixar tudo em perfeita ordem. Melina, sua mãe, era uma mulher enigmática e determinada. Seus olhos acinzentados, congelados em uma expressão indiferente, escondia a personalidade doce e agradável que ela demonstrava em casa. Os longos cabelos loiros caiam-lhe pela cintura, dando um ar jovial e mascarando sua idade.

A voz doce era a melodia mais bela que a pequena garota já escutara, principalmente quando esta lhe reservava um tempo para ensiná-la a ler. Horas e horas debruçadas sobre livros, aprendendo mais e mais sobre o mundo que as cercavam. Enquanto outras crianças corriam e brincavam, Diana passava suas tardes ajudando a mãe e permanecendo na companhia de uma boa leitura. Melina dizia que havia puxado isso do pai, o prazer do silêncio e da solidão, assim como o jeito sério e direto. Mas o tempo passou e vieram as dificuldades. Cuidando da vida da filha e da própria sozinha, já que o marido havia morrido em batalha, a senhora que já beirava a casa dos quarenta adoeceu de forma grave. Os sacerdotes lhe disseram que estava com uma doença rara e terminal e que não teria muitos anos de vida.

Diana estava com dezesseis anos quando foi abandonada à própria sorte. Assumiu o lugar de sua mãe e passava seus dias longe de tudo e de todos. Ela não sabia dizer, mas algo lhe incomodava quando estava no meio dos outros Solari, por isso preferia companhia de seus silenciosos e amarelados livros.

Certa vez, enquanto vasculhava o lugar à procura de um livro perdido, ela se deparou com um título atípico. Um livro muito velho com as letras comidas pelo tempo, mas com uma palavra que lhe chamou sua atenção: Lua.Mal sabia ela que ali começaria seu destino e sua dolorosa caminhada em busca do seu verdadeiro povo.

Ela estudou cada capitulo do que parecia um livro de instruções para a adoração da Lua. Era estranho, diferente e até pecaminoso. Mas quanto mais lia, mais ela sentia algo no seu interior preencher-se. Após terminar o livro, a garota havia chegado a uma conclusão: Precisava apresentar isso aos anciões.

Se os antigos adoravam a Lua, isto mudaria muita coisa na forma como a sociedade Solari vivia. Estariam eles adorando a entidade errada? O que aconteceu com esse povo? Por que não há nenhum vestígio da existência deles? Seriam eles mais avançados? Quem eram esses que se intitulavam Lunari? Muitas perguntas rodeavam a cabeça da jovem de cabelos loiros, quase brancos. Ela passou as mãos sobre o livro, pensativa.  Como eles reagiriam, não havia como saber. E se ordenassem que destruísse o livro? Ela não podia deixar que isso acontecesse, precisava preservar aquele conhecimento com o poder de mudar o seu mundo. Decidiu por fim fazer uma cópia e esconde-la em um lugar seguro.

Meses se passaram e Diana então decidiu mostrar sua descoberta. Convocou uma audiência e várias pessoas compareceram, pessoas de diversas idades e divergentes posições sociais. Os anciões se permitiram a ouvi-la e pareciam interessados em escutar o que ela tinha a dizer. Porém, quando ela abordou a hipótese da adoração de outra divindade, foi interrompida e confrontada como se tivesse cometido um ultraje. Talvez ela havia mesmo, mas precisava ir até o fim, erguendo a voz em meio aos gritos de fúria da platéia e até mesmo dos anciões, ela apresentou o livro como prova de suas afirmações. Seu pior erro. O grande ancião ordenou que os guardas a prendesse e a jogassem nas masmorras. Diana tentava resistir, gritando em desespero que eles analisassem o livro, mas o líder dos Solari rasgou-o bem na sua frente. Ódio queimou em seus olhos enquanto era retirada sob um coral de vozes que a chamavam de herege. Foi acorrentada e violentada como uma verdadeira criminosa. Naquele dia ela sentiu o peso da ignorância e do violento repúdio dos Solari, por aqueles que pensavam de forma diferente. Naquele dia ela descobriu que havia encontrado seu destino.  


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Querem que mudem ou coloque algo? Fala pra mim, Braseeeel!


Obs: Gostaria de dizer que elaborei a história e os capítulos antes das att das lores do jogo, por isso pode ser que esteja diferente.



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