Lealdade sem Fronteiras #1 escrita por Nath Schnee


Capítulo 5
Capítulo 5 - Versus Shuckle


Notas iniciais do capítulo

"Minha primeira Batalha Pokémon oficial, minha primeira Insígnia, meu primeiro Ginásio! Estou tão ansioso! Depois será o Monte Lua e a Cidade de Cerulean, para outra Insígnia!
... Mas por que tenho um mau pressentimento?"



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P.O.V: Dan Young

Eu já não sabia mais o que sentia. Obviamente ansiedade para minha primeira batalha de ginásio, entretanto estava também abismado com as recentes notícias, que consistiam em algo que surpreenderia qualquer um:

Eu havia recebido ajuda de uma genocida.

Mesmo que eu tentasse ao máximo, não conseguia tirar aquilo da minha cabeça. O modo como ela tratou aqueles selvagens perigosos, a habilidade com a qual subiu na árvore, o modo como se guiou através das estrelas... Tudo parecia surreal demais, mas, ao mesmo tempo, tão possível quanto real. Eu estava praticamente revivendo toda a aventura em Viridian Forest quando Ária me tirou dos distantes pensamentos, trazendo-me de volta à realidade agitada.

— Eu infelizmente só tenho esse Shuckle na equipe que não esteja incapacitado para lutar. Todos os outros foram derrotados por outros treinadores. Importar-se-ia se fosse uma batalha de um contra um?

Neguei e a observei seguir até o Juiz Eletrônico para ajustar suas configurações para uma batalha única. Olhei para aquele Pokémon que eu teria que derrotar. Seu casco era vermelho com buracos cercados por rodelas esbranquiçadas, seu corpo era por completo amarelo e de aparência maleável. Sua casca não parecia resistente, mas algo me dizia que ela seria meu maior problema. O Pokémon em si lembrava uma espécie de pequena tartaruga. Pensei em meu Bulbasaur e Squirtle. Ambos também lembravam vagamente por conta do seu estilo de corpo, mas enquanto Bulbasaur parecia durão e o Squirtle aparentava valentia, mas aquele cara na minha frente…

Ele parecia mais do tipo que estaria "amarelando" quanto à batalha.

Eu simplesmente não conseguia levar aquele Pokémon a sério. Ele tinha cara de bobo, como poderia lutar com uma coisa daquela? Apenas Sawk parecia concentrado, ajoelhado na arena e observando o adversário como se analisasse cada centímetro dele, esperando uma batalha grandiosa. Já eu, esperava um K.O.

— Ah, devo avisar-lhe que não deve subestimar esse meu Pokémon. Ele até mesmo surpreende a mim.

Assenti e ela voltou ao local de antes. Sawk assumiu sua posição de batalha, equilibrando-se habilidosamente em uma perna, mas erguendo a outra e os braços à frente de si de maneira defensiva, todos os três dobrados junto ao corpo. O Juiz Eletrônico deu o sinal para o início da batalha, e logo eu havia esquecido de qualquer garota. Só pensava em uma coisa:

Minha primeira insígnia.

Eu começava, pois era o desafiante.

— Corte Karatê!

Sawk correu na direção de Shuckle, que apenas inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse confuso com a cena. enquanto meu Pokémon se aproximava.

— Retire-se!

Eu estava mesmo certo quando senti que o casco seria um problema. A velocidade e a força de Sawk foram boas, entretanto, não adiantou, porque a energizada e brilhante mão de Sawk apenas bateu estrondosamente contra o casco, que escondia o Pokémon, e ele recuou fazendo uma leve careta. O lutador tentou se afastar mais para a própria segurança, porém Aria foi mais rápida.

— Use Tóxico!

Não houve tempo para Sawk desviar, apesar de sua velocidade ser considerável. O Shuckle recolheu seus braços em sua concha e dos furos em sua concha jorraram dois grandes fluxos de um grosso líquido roxo, que atingiu todo o corpo do meu Pokémon e este ficou não só envenenado como sim gravemente envenenado. Sawk soltou um grunhido gutural, algo entre a raiva e a dor, parecendo bem irritado com sua tentativa falha de atacar e ainda mais com a baixa de sua defesa.

— Sawk!

Eu simplesmente não posso perder para aquela coisa!

— Sawk, avance para cima dele com Multi-Soco!

O humanóide novamente tentou usar de sua velocidade como impulso para um golpe mais poderoso, parecia enfrentar o líquido roxo o máximo que conseguia, mas Shuckle sempre se encolhia em seu casco, impedindo meu Pokémon de atacar novamente. Os golpes de Sawk foram ininterruptos, variantes de chutes, socos, joelhadas e cotoveladas, mas de nada adiantava. Eram simplesmente inúteis contra o casco do adversário.

Continuei tentando. Eu precisava fazer alguma coisa!

— Tente Chute Duplo!

Meu Pokémon falhou novamente.

Nada adianta.

— Chute baixo!

Nada!

Ária sorriu, empolgada com a iminente vitória. A cada movimento, Sawk perdia mais saúde pelo veneno. Ela apontou para meu Pokémon determinada.

— Shuckle! Envolver!

O meu adversário, para maior desespero meu, abriu a boca e de lá saiu uma estranha substância delgada, esbranquiçada e pegajosa. Ele rapidamente prendeu Sawk com aquilo, envolvendo ele dos pés à cabeça mal deixando espaço para ele respirar. Eu já havia tentado todos os ataques de Sawk. Aquela luta era impossível!

Meu coração estava acelerado,  meu peito apertado e minha respiração presa na garganta, assim como qualquer ordem que eu pudesse dar a Sawk. Suor pela tensão descia através do meu rosto. Meus joelhos queriam ceder. Aiden tinha razão. Eu era um treinador inexperiente.

Ao ver que eu não sabia o que fazer e que Sawk não aguentaria muito mais aquilo, Ária tentou ser misericordiosa.

— Finalize com Pedra Pontiaguda!

Apenas observei, inutilmente, enormes rochas pontiagudas, com mais de três metros e rodeadas com uma energia azulada, saírem do solo em uma fileira, em direção ao meu quase mumificado Sawk. Ele foi jogado violentamente para a minha esquerda, colidindo dolorosamente contra a parede atrás de mim e soltando um alto gemido de dor.

A poeira pela parede destruída invadiu todo a arena e logo eu não pude mais fazer nada, nem mesmo saber o que restara dele. Cobrindo os olhos da terra levantada com o braço, olhei para o telão, mas ele era ilegível em meio a tudo. Apenas olhei para a direção que meu Pokémon foi jogado e lentamente caminhei até lá, segurando sua Poké-Ball para retorná-lo e sair logo do ginásio.

O que eu vi fez algo dentro de mim se aquecer de orgulho.

Sawk estava caído, sentado contra o que restara daquela parte da parede. Seu corpo azulado estava coberto por arranhões e cortes, empoeirado da cabeça aos pés e em algumas partes ainda enrolado pelo ataque de Shuckle, além de um pouco molhado pelo Tóxico ainda. Porém, mesmo tão machucado, ele permanecia consciente.

O lutador fechou seus olhos por um instante e começou a brilhar de maneira avermelhada. Seu corpo tremeu, seus músculos se tencionaram e pareceram até mesmo aumentar. Ele esticou os membros do corpo e toda aquela força o fez se soltar do Envolver. Fez uma careta, o veneno ainda agindo, e se voltou para a batalha, esperando uma ordem minha, mas eu estava confuso.

Olhei para o telão novamente, agora mais visível pela areia abaixando.


Shuckle
em 97% de saúde
Último movimento: Obelisco
Sawk em 23% de saúde
Movimento usado: Aumento de Massa

Eu me alegrei, surpreso. Até um instante atrás, ele não tinha aquele ataque. Olhei para Sawk novamente. Ele levantou completamente trêmulo, suas pernas e braços estavam fracos, entretanto logo pareceu respirar fundo e disparou na direção de Shuckle, desistindo de esperar uma ordem minha.

O meu Pokémon, em vez de dar a volta pelas pedras, na verdade correu até elas e pulou no topo de uma, seguindo por cada uma através de pulos elaborados, sem perder o equilíbrio. A poeira estava baixa, mas ainda atrapalhava um pouco a Shuckle por conta do seu tamanho, então não foi surpresa que Sawk conseguisse chegar por cima do desapercebido daquela maneira, percebida apenas por Ária.

Uma das mãos do lutador brilhou branca outra vez. Ária conseguiu ainda ordenar uma Retirada, mas o ataque de Sawk não era um Corte Karatê como pensávamos. Era Quebra-Telha.

Quando atingido, o casco de Shuckle estremeceu e uma enorme trinca atravessou desde o buraco da cabeça até o de uma das patas. O Pokémon ali escondido voltou a sair, assustado e confuso, e eu vi minha oportunidade. Eu não fazia a mínima ideia de quais ataques Sawk ainda tinha, mas tentei um deles.

— Chute Duplo!

Meu Pokémon deu um chute, jogando ele para cima, na direção dos próprios olhos, e com um pulo e um giro, acertou um segundo chute, jogando Shuckle para o outro lado do campo de batalha.

Se o casco de Shuckle fora um problema para a gente, não foi muito diferente para ele próprio. Nosso adversário caiu de barriga para cima e, por não conseguir arrumar os membros em locais diferentes por conta da trinca, não conseguia levantar.

Sawk, que estava em posição de luta depois de sofrer dano pelo veneno, arrumou a postura para algo menos combativo e seguiu andando até Shuckle. Achei que atacaria sem minhas ordens novamente. Ao invés disso, Sawk pegou cuidadosamente Shuckle e arrumou-o da maneira certa, com a barriga para baixo. Depois pareceu conversar um pouco com Shuckle, não que eu entendesse algo daquilo. A seguir fez uma reverência que me lembrou a garota de antes.

Os dois voltaram a se posicionar na arena e ali ficaram, como se esperassem nossas ordens. Ária e eu nos entreolhamos. Nenhum de nós esperava uma atitude como aquela. Ela resolveu começar, apesar de confusa.

— Shuckle... Use Obelisco!

Era o mesmo ataque de antes, no entanto, sendo uma versão diferente. A mesma energia azulada envolveu Shuckle e se expandiu, saindo do seu corpo e se transformando em um anel. Este anel se separou em pequenas orbes  que se tornaram pequenas, mas perigosíssimas pontiagudas, pedras. Elas imediatamente voaram contra Sawk. Vi a chance de escapar em menos de um segundo.

— Suba na pedra à sua esquerda!

Com um pulo invejável, Sawk me obedeceu. Shuckle não parou e jogou o Obelisco novamente, agora para cima.

— Venha para trás!

Com mortais para trás, meu Pokémon lutador conseguiu ir desviando dos ataques, que destruíram todas as rochas que pisava um segundo antes. Quando elas acabaram, meu Pokémon conseguiu cair de pé no chão. Havia poeira na arena de novo e isso dificultava a todos nós enxergarmos nosso adversário. Sawk perdeu mais pontos de vida pelo veneno. Eu não podia perder tempo.

— Chute Duplo!

Meu Sawk correu com toda a sua velocidade em direção ao local que Shuckle estava. Ele não andava, até onde reparei, mas não vi Sawk voltar a se afastar quando entrou naquela nuvem de poeira. Fechei minhas mãos, o suor da tensão escorrendo pelo rosto ainda. Aquela era a sensação que muitos treinadores procuravam quando queriam fazer suas jornadas. A excitação, a tensão nos ombros, a esperança de vitória, a vontade de vencer...!

Mas, quando se vence a todos, surge o problema. O que fazer? E era aquilo que estava afastando os treinadores de suas jornadas. De que adianta viver um sonho que se acabará sem um final satisfatório? Aquela pergunta estava acabando com todas as esperanças de novos treinadores.

Eu me arriscava por gostar de adrenalina, apenas, mesmo que seja temporário daquela forma. Até mesmo nas derrotas uma jornada é boa, acredito eu, pois era nelas que se aprendia as próprias fraquezas. Mas eu não queria saber minhas fraquezas. Eu queria provar minhas forças. Ária também estava empolgada com tudo, observando o campo encoberto como eu.

A poeira se abaixou lentamente e nós estávamos prontos para qualquer resultado. Mas não aquele. Sawk e Shuckle estavam caídos, desmaiados. Não era possível saber quem havia caído primeiro.

Empate, declarou por fim o Juiz Eletrônico. No telão, foi mostrada a foto de Ária junto com Shuckle e uma minha com Sawk. A palavra dita pelo J.E se repetiu e eu fiquei completamente perdido, hesitante. Eu não me lembrava de batalha alguma de ginásio que se acabava com um empate. Eu ganharia insígnia? Eu não perdi, mas precisa-se ganhar a batalha para ter a insígnia...!

— E-E agora? — olhei para Ária, mas ela olhava para o campo, para os dois ainda. Parecia concentrada.

— Espere um momento…

Olhei para lá com mais atenção. Shuckle estava completamente imóvel, os chutes que levou ainda visíveis em manchas avermelhadas em sua parte amarela do corpo. Já Sawk era possível ver o motivo de seu desmaio ao ver as diversas rochas ao seu redor. Sua mão direita estava até mesmo afastando as pedras para se levantar.

Espera…

SAWK ESTAVA CONSCIENTE!

Meu coração acelerou com toda a força que ele tinha para gastar em se levantar. Olhei para o Juiz Eletrônico e em seguida para o telão. Ambos estavam desligados, mas muito enganados quanto a antes.

Não era um empate.

Era uma vitória.

Uma vitória minha!

— Você venceu, desafiante.

Eu não podia acreditar. Instintivamente e alegremente corri até Sawk e, logo após ajudá-lo a levantar, o abracei com firmeza. Admito que fiz isso, assim como admito tê-lo afastado com um empurrão em seguida.

Encarei minhas mãos.

Por que diabos eu abracei um Pokémon? Um Pokémon! Ele não passava disso! Envergonhado, retornei o confuso Sawk para sua Poké-Ball e me virei para Ária. Ela parecia tentar fingir que não havia visto a cena.

— Então... Uh... Aqui está sua insígnia. Você conseguirá seu Porta Insígnias na saída da cidade.

Assenti, pegando a insígnia. Eu arrumei meu boné para disfarçar, agradeci a batalha e corri para a saída. A cidade não era grande, pelo menos não tão grande quanto Pallet City, logo não demorei a encontrar o Centro Pokémon, restaurar a saúde da minha equipe e seguir para o Monte Lua.

Moon era uma montanha que se tornava perigosa com o passar do tempo, mas não chegava nem aos pés de Viridian. A única coisa que se igualava à floresta era seu mistério. Pokémon Rangers, Policiais e Cientistas Pokémon, como meus pais eram. Mas meus pais preferiam outras regiões, como Sinnoh, no ano passado, e Johto, atualmente, respectivamente na Ilha Fullmoon e no Bosque de Ilex, lugares mais tranquilos para eles.

Esquecendo de mim, é claro.

Fechei minhas mãos e continuei andando, tentando afastar qualquer resquício da minha família de minha mente. É claro, minha família tinha suas exceções, como um tio meu, Explorador em Alola, por exemplo, e um antepassado extremamente importante meu.

Tentei me concentrar nessas pessoas que me motivavam na jornada, e não apenas esqueciam de minha existência.

Enfim, cheguei à Rota Três, a que separava a Cidade de Pewter com o Monte Lua. Ainda estava com apenas quatro Pokémon na equipe. Entrei na grama alta e comecei a procurar por Pokémon. Um Rattata foi o primeiro a aparecer, atacando com Ataque Rápido meu Bulbasaur. Derrotei-o facilmente, apesar de admitir que aquele Hiper Presa deu trabalho. O Pokémon seguinte fui eu quem achou, pois ele estava parado próximo a uma árvore. Novamente liberei Bulbasaur. Meu adversário era um Pokémon humanóide, mas ligeiramente... cômico, pois parecia usar uma camisola branca que se alargava aos pés. Cabelo verde em um estilo tigela impedia-me de ver seus olhos e em sua cabeça havia dois chifres achatados dos lados, avermelhados, sendo um grande na frente e outro menor atrás.

O Pokémon Selvagem começou atacando, um brilho rosado surgiu através do cabelo, provavelmente dos olhos, e uma energia telecinética atingiu Bulbasaur, que já fraco pela última batalha, caiu inconsciente. Retornei ele e mandei Charmander.

— Brasas!

Meu Pokémon atacou abrindo sua boca e atirando desta diversas fagulha de fogo, que atingiram nosso adversário bem em cheio, fazendo-o se encolher. O selvagem hesitou, sem atacar. Olhava frequentemente para trás e parecia até mesmo assustado. Mas aquilo era ridículo. Ele estava no meio de uma batalha.

— Charmander, finalize com... — fui interrompido.

— Você é tolo o suficiente para deixar esse Ralts fugir? — aquela voz...

Olhei para trás. Lá estava ela novamente, carregando lenha nos braços em meio às árvores. Parecia quase uma camponesa qualquer, se eu não vivesse num ano onde não existem camponeses. Era uma das vezes que não parecia deslocada, parecia na verdade confortável ali, assim como na Floresta de Viridian e completamente diferente do Ginásio de Pewter, do qual ela parecia querer sair correndo. Sua expressão era algo entre o tédio e a descrença.

— Estou batalhando com ele, claro que não vou deixá-lo escapar.

Ela revirou os olhos.

— Pelo contrário. Ele está com medo. Se atacar de novo, ele vai fugir. E é bem possível que ele saiba Teleporte.

Olhei para o Pokémon Selvagem, só então percebendo o seu jeito hesitante, talvez até medroso. Seu corpo brilhava por completo fracamente, mostrando o perigo que era eu atacar. Olhei para ela. Não me deixaria parecer convencer tão fácil.

— Então o que você faria, gênio?

Ela novamente pareceu me avaliar. Fazia isso várias vezes, e até agora eu não sabia o que pensava.

— O que você acha... Aliás, o que os Pokémon são para você?

Eu já estava irritado. Ela não se decidia nunca entre ajudar e agir de modo estranho.

— Volte a me chamar quando for para falar algo útil.

Fechei minhas mãos e me virei para o Ralts.

— Vamos, Charmander, acabe com isso! LANÇA-CHAMAS!

Ela continuava ali, enchendo saco.

— Não faça isso, Charmander. Diferente do seu treinador, você sabe que o Ralts se importa com o que Dan acha dele. Você sabe que o Ralts pode ler as emoções dos humanos. Assim como você pode me entender.

Meu Charmander a fitou. Minha irritação chegou ao limite.

— Obedeça-me, seu inútil!

Dessa vez, ela ficou completamente em silêncio. Não fiz questão de ver sua expressão. Meu Pokémon pareceu se encolher e abaixar a cabeça. Depois olhou para nosso adversário de novo. Achei que ele fosse atacar por fim, mas ele apenas correu.

— Charmander...?

Eu fiquei confuso e o observei rumar para as árvores, onde a garota estava. Ele se escondeu atrás dela, como se estivesse com medo de mim.

Meu coração se apertou. O que eu fiz?

— Charmander, eu... Eu não quis...

A menina me observou, depois abaixou o olhar. Pareceu conversar com o Pokémon Lagarto e este voltou ao meu lado, mas apenas para tocar em sua Poké-Ball e entrar nela sozinho. Fitei a grama, a terra, as folhas das árvores, a caverna ali perto, qualquer coisa que me distraísse, mas nada me fazia tirar o remorso do peito.

Senti algo estranho no meu cinto, algo se mexendo. Levantei a camisa. Havia uma Poké-Ball se soltando do cinto, estava envolta numa energia azulada. Ela se soltou e flutuou tranquilamente até minhas mãos. Eu a envolvi com meus dedos. A última vez que vi aquela energia veio...

Do Ralts.

Ele me observava. Quando viu que eu não entendi o que ele quis com aquilo, ele apontou para o objeto em minhas mãos e depois para si mesmo. O Selvagem caminhou até mim e pareceu tentar conversar comigo. Mas tudo o que eu ouvia era ele dizendo o próprio nome. Depois de um longo momento, onde ele estava em silêncio e eu ainda confuso, a estranha deu dois passos em nossa direção, quase temerosa.

— Ele está pedindo para que capture ele.

Abaixo dela, o Growlithe latiu para ela e rosnou para mim.

— Eu sei, eu sei, — ela suspirou, parecia falar com o próprio Pokémon novamente — mas é só dessa vez, eu juro, ok? — voltou-se para mim a seguir. — Meiko Hikari. É o meu nome.

Ergui uma sobrancelha.

— E não é que a desconhecida tem nome?

Meiko fez a mesma expressão.

— E não é que o novato aprendeu a esperar?

Nós sorrimos um para o outro. Era um momento estranho, mas relativamente confortante depois do que fiz. Ela olhou para o pequenino Pokémon Selvagem.

— Ralts são capazes de ler as emoções dos humanos. Ele temia ser capturado por um mau treinador, e achou que isso aconteceria, até que viu... ouviu... — ela fechou os olhos por um momento e voltou a olhar para o Pokémon. — Perdão, esqueci o que você havia dito.

— Ralts, ral...

— Ah, sim, obrigada. — voltou a olhar para mim. — Ele sentiu que você se arrependeu e percebeu que você não é o treinador perfeito, mas pode se tornar melhor. Ele aceita seguir jornada se tentar não tratar seus Pokémon como tratou o Charmander agora.

Eu teria levado tudo aquilo como uma lição importantíssima de vida, uma importante anotação sobre a moralidade de um bom treinador quanto aos seus Pokémon, mas minha mente estava meio ocupada com uma pergunta. Logo após jogar a Poké-Ball em Ralts, que não lutou nem um pingo para sair, eu pego a Poké Bola de volta e indico para ela.

— Você consegue entender o que os Pokémon dizem?

Meiko assentiu, parecendo constrangida.

— Sim.

— Mas como? — eu estava completamente confuso. Como era possível?

— Eu não sei ao certo. — ela deu de ombros. — Apenas consigo entende-los mais do que qualquer outra pessoa, desde que me lembro. — ela abaixou o olhar.

Eu a encarei, incrédulo. A garota na minha frente não só destruíra toda uma cidade, com pessoas e Pokémon inocentes, usando um lendário como também se dava tão melhor com Pokémon do que com humanos que chegava a entender sua linguagem, coisa que eu pensava ser impossível, pois eles apenas repetiam o próprio nome, afinal.

Como uma simples humana podia ser tão incluída naquele mundo que os humanos tanto desconheciam? A não ser que...

Talvez ela não seja humana.

Por um breve momento, tudo pareceu fazer mais sentido. Talvez fosse uma nova espécie de Pokémon, talvez nem ela mesma soubesse. Ou então ela simplesmente era louca. E eu precisava tratá-la como uma pessoa normal para não ser morto. Procurei rapidamente um outro assunto, mas sendo o treinador que eu era, só um me veio em mente.

— Você conseguiu a primeira insígnia. Pretende participar da Liga Pokémon?

Eu mudei de assunto. Ela olhou para mim, parecia quase aliviada.

— Sim. Quero ser Campeã da Liga.

Ergui uma sobrancelha.

— Então você será minha adversária, pois eu vou ganhar a liga antes de você.

Sorrio orgulhoso. Ela sorriu, desafiante.

— Veremos.

Agora que eu sabia quem ela era, eu queria saber o que ela era, mas aquilo não seria de um momento a outro. Guardei a Poké Ball de Ralts e indiquei o Monte Lua.

— Já que temos nos esbarrado com frequência, que tal se fizéssemos a jornada juntos?

Surpresa, ela olhou dentro dos meus olhos. Eu torcia internamente para que ela não fosse capaz de perceber meus verdadeiros planos. A garota sorriu de felicidade, algo que eu ainda não havia visto fazer.

— Sério?

Eu assenti e forcei um sorriso.

— Eu sempre quis fugir da polícia, afinal.

Ela riu, algo que eu esperava ainda menos do que o sorriso de antes.

— Isso é bem corajoso da sua parte.

Eu segui andando. Apesar do que acabara de dizer, ela me acompanhou.

— Eu sou corajoso.

Ela sorriu para mim de novo. Eu tinha que admitir, mesmo com aquela postura sempre orgulhosa e os olhos melancólicos, a menina tinha um lindo sorriso quando este era verdadeiro como aquele.

— Veremos, meu amigo.

Nós entramos juntos na caverna, prontos para quaisquer aventuras que houvesse ali e em qualquer outro lugar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. É um momento raro no qual me arrisco a mudar o P.O.V (Point of View - Ponto de Vista), narrando pela visão de outro personagem. Peço para que digam nos comentários o que acharam do capítulo e o que achariam se em intervalos de tempo eu mudasse o ponto de vista da história. Juro que fiz e sempre farei o meu melhor.
Gostaram? Comentem! Não gostaram? Digam o que eu devo melhorar!
Obrigada por lerem e até mais!



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