Lealdade sem Fronteiras #1 escrita por Nath Schnee


Capítulo 3
Capítulo 3 - Versus Sawk


Notas iniciais do capítulo

"Viridian Forest nunca foi mais a mesma. Com uma vastidão de tamanho desconhecido para os humanos, ela se tornou um teste de sobrevivência para os humanos e um estranho refúgio para os Pokémon.
Mas e se um humano se refugiasse ali?"



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Calafrios e tensão era tudo o que Dan sentia ao encarar o caminho. À sua frente se estendia um dos piores desafios de uma Jornada Pokémon em Kanto, o pior desafio para qualquer Treinador que se aventurasse por aquela região:

A Floresta de Viridian.

Claro, isso é algo estranho a se dizer sobre uma floresta que, até onde sabem, havia apenas Pokémon de no máximo nível 5. No entanto, desde que os humanos e os Monstros de Bolso vem se tornando cada vez mais inimigos, a floresta tem se tornando mais perigosa.

Como eu dissera anteriormente, Viridian havia invadido a cidade de mesmo nome e a primeira rota obrigando-nos a mudar nossas localizações. Ainda assim, mesmo que pegando um caminho diferente, os Treinadores precisavam seguir por ela para chegar à Cidade de Pewter e conseguir vencer o primeiro Ginásio Pokémon de Kanto.

Viridian City deveria ser a cidade do primeiro ginásio, porém, por conta da dificuldade que todos passavam na floresta, os líderes da região decidiram que era melhor deixá-la como a central de todos os hospitais e Centros Pokémon de Kanto e criar, em uma ilha que antes fora um local pouco habitado, uma vila que era chamada de Summelower Town e seu ginásio sendo o Ginásio de Summelower.

Todos essas mudanças e diferenças mapa por causa de como os humanos subestimaram a força da natureza. Agora, diante daquela grandiosidade de mata, Dan se sentia um simples Flabébé, um dos menores Pokémon do mundo, contra um Wailord, o maior de todos.

Respirou fundo e ignorou o fato de estar trêmulo.

É só uma floresta idiota, resmungou sua mente.

Uma floresta idiota que mudou quase metade do mapa e que ainda não foi completamente desvendada, disse seu coração acelerado e medroso.

Não é preciso medo. Seguirei direto e sem olhar para trás. pensou confiante.

Não é preciso olhar para tudo para correr perigo, seu burro! , retrucou.

Balançou negativamente a cabeça. Era tudo o que faltava. Estava brigando consigo mesmo. Olhou para frente e deu seu primeiro passo de muitos.

E quando digo muitos, quero dizer muitos mesmo. Ele estava com um mapa e Squirtle ao lado, mas era necessário mais do que um simples papel e um Pokémon para vencer o lugar. A aparência esverdeada da floresta parecia dar um novo significado a "esmeralda".

Árvores de diversas espécies erguiam-se de maneira quase orgulhosa ao redor do menino. Suas copas se estendiam acima de tal maneira que ele precisava manter a tela da Pokédex acesa para poder enxergar pelo menos um metro a sua frente, pois, apesar da claridade da manhã, a floresta estava sombria.

Quem diria que a única coisa que faltaria nos itens do garoto seria a lanterna.

Tentou esquecer o medo se concentrando nos detalhes. Notou que, ao contrário das outras florestas, Viridian abrigava não apenas as árvores comuns de Kanto. Aquele lugar, de algum modo, abrigava árvores que deveriam existir apenas em outras regiões. Aquilo apenas o assustou mais. Não. Ele precisava sair dali logo, mas só sairia quando chegasse a Pewter. Isso era certeza.

Andou mais rápido, frequentemente olhando para um mapa que indicava o caminho certo, apesar que não haver nem mesmo uma trilha. Não que devesse confiar plenamente naquilo, pois era incompleto.

Depois de pelo menos uma hora tropeçando através das árvores, Dan encontrou uma clareira e ali resolveu parar por pelo menos alguns minutos. Ela era comprida, cercada por arbustos enormes e só atrás destes vinham as árvores, ambos se movendo por conta da brisa leve e limpa de poluição. A grama do local era alta, mais ou menos na altura do joelho do menino. Ele não se importou. Apenas afastou algumas e sentou ali, fazendo uma careta ao perceber que caíra numa pedra.

Enquanto olhava em seu mapa, Squirtle correu e saltitou através da clareira, brincando sozinho com a folhagem. Dan sorriu. Aquilo até que era uma visão divertida. Nem parecia o mesmo Pokémon chorão de antes.

Mas tudo o que é bom dura pouco.

Uma moita farfalhou mais alto que as outras e uma criatura pulou de lá. O corpo do quadrúpede era magro e esguio, com pelos roxos e a região do abdômen sendo branca. Havia dois grandes dentes visíveis em seu focinho. Ele saiu ao lado de Dan, que deu um pulo de susto. O Rattata deu um salto na direção do garoto e mordeu sua mão, que instintivamente se abriu com a dor. Olhou para o garoto, que gritava por conta do ferimento, e roubou seu mapa. Correu através da clareira e se despistou entre as árvores.

— Ei! Devolva! — Dan levantou num salto e correu atrás dele, com Squirtle também seguindo.

O menino correu através das árvores, ignorando os tropeços nas raízes. Estava alcançando seu alvo quando Squirtle repentinamente começou a agir de um jeito estranho, entrando na sua frente e o impedindo de continuar. Repetia diversas vezes seu próprio nome, mesmo que Dan não entendesse sua linguagem.

— Squirtle! Deixe-me passar! Ele roubou meu mapa! Nunca sairemos daqui sem usá-lo! — O Tipo Água ainda protestava, mas Dan ignorou e continuou correndo.

Começou a diminuir o passo quando um forte odor o atingiu. Era podre, como de algo morto. Mas por que haveria Pokémon mortos se aquele era o lugar mais seguro para eles? A curiosidade do garoto falou mais alto e ele passou o último arbusto e pulou na outra clareira, se arrependendo por tê-lo feito.

Seu coração parou e sua respiração falhou. Squirtle, ao seus pés, se agarrou a sua calça, tentando não ver o corpo que ali havia de bruços. Era de uma garota, talvez a idade de Dan. Seus cabelos que deveriam ter sido loiros estavam sujos, seu rosto cheio de hematomas e alguns cortes, assim como o resto do corpo. Um de seus braços estava inchado e roxo com no meio do ferimento pus, como uma picada de algo venenoso. Era possível ver que estava ali há um tempo, pois já haviam moscas ao redor e seu cheiro era quase insuportável.

Tudo em Dan pareceu perder o rítmico. Respiração, coração, pensamentos... Já estava tremendo quando conseguiu fazer a mente clarear um pouco, conseguiu gaguejar uma frase para o acompanhante:

— T-Temos que sair daqui... — sussurrou, virando-se, pegando o Pokémon e correndo o mais rápido possível, sem se importar com o mapa que perdera.

Correu por tanto tempo quanto conseguiu, mas não houve resultados. Mesmo que tentasse seguir o caminho anterior, não conseguia encontrar a saída da floresta, e isso só o estava deixando mais agitado. Continuava tentando sair, mesmo sem forças para correr. Tudo o que conseguiu foi adentrar mais na floresta, algo perigoso para qualquer um.

Quando resolveu parar, temia descansar e ser atacado. Não queria acabar como a garota. Tudo o que queria era a paz da civilização, mas sabia que para isso precisava andar muito.

Já não aguentando mais, sentou-se no chão e encostou a cabeça numa árvore, encarando o pouco que podia ver do céu amarelado por conta do sol poente. Seu coração ainda estava fazendo sua própria corrida. Começou a controlar a respiração. Mesmo que conseguisse se acalmar, não conseguia o que mais queria: Esquecer aquilo.

Em seu colo, Squirtle voltara a ficar encolhido. Parecia ter voltado a ficar como antes ou até ter piorado. Dan levou um tempo para associar tudo.

— Aquela menina... Era sua treinadora? — Dan questionou, sua voz mais baixa do que pretendia.

O Pokémon Aquático olhou nos olhos castanho-mel de Dan de um modo que Pokémon algum havia feito antes. Talvez nem mesmo um humano. Os olhos daquela criatura demonstravam a mais profunda das melancolias, contrariando qualquer que fosse o documentário que Dan vira sobre Pokémon não terem sentimentos. Ao ouvir sua pergunta, ele assentiu e para a surpresa do menino, o abraçou.

Young por um momento apenas ficou surpreso, mas logo retribuiu, dizendo algo que vinha apenas pensando sem nem uma "coragem" de falar.

— Não acabarei como ela, Squirtle. E nem abandonarei ninguém. — afastou o Pokémon para olhar em seus olhos de novo. — Nós seremos grandes amigos.

Os dois sorriram, mas seu momento foi interrompido por uma voz distante, um grito de dor, provavelmente vindo de uma garota.

Ela ainda está viva?!, pensou Dan. Levantou-se depressa e correu na direção do grito, seu Pokémon em seu colo também parecendo agitado.

Próximo a uma outra clareira, ele parou e se abaixou atrás de um dos arbustos. Aquela clareira era bem maior do que as outras que encontrara, mas não significava que era mais segura. Dan havia encontrado o local no meio de uma batalha. Do lado direito havia não só um, como três Pokémon selvagens, que consistiam de um Rattata já desmaiado, a espécie que roubara Young antes, um Beedrill, que era uma espécie de abelha com dois enormes ferrões nas patas dianteiras e um outro que estava escondido nas sombras das árvores. Uma aranha com grandes olhos pretos e com o corpo com cores alternando entre verde, branco, preto e vermelho. Spinarak.

À esquerda estava os dois Pokémon não selvagens. Um deles parecia uma espécie de cachorrinho filhote. Seus pelos eram alaranjados com listras pretas. De seu focinho era possível ver quatro presas afiadas. A memória do garoto demorou para lembrar seu nome. Growlithe. O outro era do mesmo tamanho, mas parecia mais um filhote de leão. Seu pêlo era azul marinho com preto, estava todo eriçado.

Quem ali estava os comandando era realmente uma garota, mas não a mesma de antes. Essa tinha cabelos escuros e a pele pálida. Usava uma surrada calça Jeans azul, uma blusa de frio preta com vermelho e tênis. Suas condições não eram das melhores. Haviam arranhões através do corpo e estava suada com o esforço. Mas mesmo assim, ela de alguma forma mantinha-se em uma postura rígida e orgulhosa como Aiden, o que deixou Dan desconfortável. Não estava com vontade de ter outro rival em sua jornada.

Tomara que perca a luta, murmurou para si mesmo.

Mas então ele olhou em seus olhos e se arrependeu por tê-la comparado a ele. Apesar do pequeno sorriso no rosto e da postura orgulhosa, seus olhos guardavam uma estranha melancolia, algo misterioso.

— Rex, Mão Amiga! — Rex?, questionou-se. Ela nomeava seus Pokémon? Aquilo era tão... Antiquado!

O Growlithe se concentrou e o azulado pareceu se preparar para o ataque, brilhando avermelhado por alguns segundos ao ter seu poder de ataque elevado em dois níveis.

Mas antes que conseguisse atacar, o Spinarak aproveitou da fragilidade no tempo de um e outro Pokémon se movimentarem e usou Olhar Paralisante, paralisando o Growlithe. Irritado por ficar sozinho, o felino pulou e acertou o adversário com um ataque desconhecido para Dan, na qual parte do corpo dele foi envolvida em eletricidade e ele se chocou contra a aranha. Não era forte como um Investida Trovão, mas também não era frágil como um Investida comum.

Era a vez de Beedrill, mas o Tipo Fogo, que deveria ser uma defesa, não conseguia se mexer e ao contrário do que qualquer batalha com normas de segurança, ele resolveu atacar a treinadora diretamente, seu corpo envolvido em uma energia escura. Ela foi atingida em cheio, apesar de ter tentado desviar, e foi jogada contra uma das árvores, caindo sentada com um gemido alto. Aquele com certeza fora um Perseguição, impossível de desviar.

Irritado, o Pokémon de Nome Desconhecido atacou o Beedrill com um Onda de Choque. Fora com força total, dano crítico, o que o fez cair desmaiado. Ainda faltava Spinarak, mas este não durou muito ao errar seu Picada Venenosa e ser acertado por um Brasas do Pokémon de Fogo, que finalmente havia se recuperado.

Os dois vencedores correram até a treinadora, que já estava de pé, mas curvada apoiada sobre os joelhos. O suor escorria de sua testa e pingava no chão. Assim que recuperou a postura de antes e respirou fundo, olhou diretamente na direção de Dan, que sentiu o coração parar.

— Seja você quem for, apareça. Diga seu nome e porque está me espionando. — Dan e Squirtle se entreolharam surpresos. Como ela os descobrira? O Growlithe começou a se aproximar dos dois e rosnar. — É melhor saírem daí. — advertiu. — Rex não é tão calmo quanto eu. Não que eu seja muito. — Um meio sorriso surgiu no rosto dela, mas seus olhos demonstravam tamanha desconfiança, e sua frase foi tão cínica, que seu sorriso pareceu forçado e sarcástico.

Dan ergueu as mãos — achou necessário, quem é que reagiria diferente a um Pokémon normalmente pertencente às autoridades? — e seguiu com Squirtle até a clareira.

— Desculpa. Não queria ficar espionando. Só escutei um grito e vim ver o que havia acontecido, saber se... — Ele foi interrompido.

Aqueles olhos cor de ônix dela pareciam irritados. Pareciam até a cor que envolveu Beedrill pouco antes.

— Bom, eu estou bem, então não precisa se preocupar. Pode ir embora. — Ela se virou para também ir para longe, mas logo voltou-se a ele novamente. — Perdeu algum mapa?

— Perdi! Você o encontrou?! — Ele estava desesperado.

— Pensa rápido. — ela jogou uma Poké Ball e ele pegou no ar. — Está aí.

— Como colocou um mapa numa Poké Bola? — Young estava confuso.

— Não, gênio. — ironizou a garota. — O Pokémon aí dentro está segurando.

— Por que não só pegou o papel dele?

— Quer ou não o Pokémon? Não foi ele quem roubou, mas foi quem mandou roubar. Ele foi meio orgulhoso e queria uma jornada a todo custo. Expliquei que não era comigo que teria que falar. Se não quiser, eu o liberto.

Dan estranhou. Como ela poderia saber das vontades da criatura? Mas deu de ombros e liberou-o. Era ligeiramente humanóide, mas sua pele era azul e rochosa. Usava um karategi e uma faixa preta. Seu rosto era coberto por uma espécie de sobrancelha preta. Pareceu se preparar para a luta, olhando ao redor com uma atenção treinada.

A garota se aproximou dele. Diferente de outros Pokémon, não precisava se abaixar. Ele tinha mais ou menos um metro e meio. Ela olhou nos olhos do Pokémon e falou com a voz estranhamente calma e amorosa.

— Ei, Sawk. Lembra que eu disse que eu não seria sua treinadora? Ele será. — apontou para Dan, que estava distraído observando o Growlithe e o outro de vigia, mas logo se virou confuso. — Proteja-o e ele o protegerá também, ok? Serão grandes amigos algum dia. — lançou um olhar quase assassino a Young, que entendeu o recado. Faria de tudo por aquele Pokémon, que assentiu como se entendesse o que ela dizia, o que, tecnicamente, era impossível, pois os Pokémon entendiam os humanos tanto quanto esses os entendiam.

Sawk e Dan se entreolharam. Era difícil saber o que os dois pensavam. A menina pareceu querer dizer alguma coisa, mas foi interrompida pelo seu Pokémon Elétrico, que veio correndo ao seu encontro falando desesperadamente seu próprio nome. Algo como "Xinx". Dan pegou a Poké-Agenda de novo. Shinx. Agora que estava perto podia ver seu nome. E o Pokémon ao seu lado era realmente um Sawk.

A treinadora olhou para o Shinx e assentiu, parecia até mesmo entende-lo. Em seguida se dirigiu ao garoto.

— Melhor irmos. Há mais de onde esses vieram. — ela seguiu na direção dos Pokémon desmaiados. Mas não foi apenas aquilo que a surpreendeu.

Ela os ajudou! Cuidou de seus ferimentos, deu-lhes Revive para que voltassem a acordar e eles foram embora!

— O que você fez?! — questionou Young, sem saber se estava assustado ou com raiva. — Era melhor tê-los deixado daquele jeito! Podem voltar para nós atacar! — reclamou.

A garota o olhou nos olhos, sua expressão indecifrável. Não era possível saber o que estava pensando ou sentindo

— Vamos. Embora. — disse pausadamente como se ela fossem quem estivesse se controlando. Seguiu na frente, carregando no colo os dois pequenos acompanhantes.

Ele seguiu com Squirtle no colo também, apesar de não estar confortável com aquilo. Squirtle não era um animal de estimação. Era algo que o ajudaria na jornada, só isso, não um amigo para a vida toda.

Young correu todo o caminho apenas seguindo a garota, que estranhamente não parecia estar olhando algum mapa. Apenas algumas vezes olhava para cima. A floresta foi ficando mais densa e a caminhada mais difícil. Logo não era possível enxergar o céu por completo.

A desconhecida parou. Estava tão cansada quanto Dan. Olhou para cima novamente. Já era noite e nem mesmo a lua cheia daquela noite aparecia através das copas das árvores. A essa altura, só havia o Growlithe fora da Poké Ball.

— Não dá para me localizar sem a lua... — murmurou distante, parecia falar com as estrelas.

— Eu tenho o mapa, lembra? Quero dizer... O Sawk tem.

Quando a menina olhou para ele, foi a primeira vez que não havia irritação em seu olhar. Havia uma estranha serenidade.

— Não encontrará o caminho. Não estamos no mapa. — declarou a menina.

— O que quer dizer? — questionou ele.

— Quero dizer que essa parte da floresta ainda não foi explorada. E, se foi, ninguém voltou.

A respiração e o coração de Dan perderam o ritmo. Ele já tinha ouvido falar de muitas pessoas que haviam tentado explorar Viridian por completa e não voltaram. O último Ranger conhecido, filho de Ash Ketchum, Henry, tentou fazê-lo e não conseguiu. Até hoje ninguém sabe onde ele está.

Mesmo assim, a menina não parecia preocupada.

— Mas eu sei o que fazer. Fiquem aqui. Vocês três. — disse, também referindo-se ao Growlithe e ao Shinx.

Em vez de simplesmente ir andando como pensou Dan, ela agarrou num dos galhos e começou a subir na árvore ali em frente. Young se surpreendeu com a rapidez e agilidade da garota. Não havia visto algo parecido nunca. Logo já não era possível vê-la, e ele ficou ligeiramente apreensivo com o Growlithe, apesar deste só estar sentado tranquilamente esperando como um bom Pokémon fiel.

Logo o garoto começou a se perguntar se eram reais as lendas sobre aquela espécie, sobre serem fiéis para sempre ao seus donos, mesmo depois de abandonados.

Houve uma agitação acima das árvores e ambos se preocuparam.

— Não! — ouviu ela gritar pouco antes de cair da copa da árvore, batendo em todos os galhos até chegar ao chão.

Dan e Growlithe correram até ela.

— Estou bem. — murmurou, apesar de não estar conseguindo se levantar.

Por algum instinto bondoso quanto a estranhos que nem mesmo Young lembrava ter, ele se abaixou até ela, passou seu braço atrás do próprio pescoço e serviu-se de apoio para que levantasse. Ela pareceu constrangida, seu rosto ruborizando, olhando para o chão.

— Obrigada. Mas temos que ir logo. — recuperou a postura orgulhosa, apesar de tudo. — Um outro Beedrill me atacou e há outros vindo para cá. Temos que ir agora.

Ele entendeu o recado e, ainda apoiando-a, tentou correr o mais rápido possível para onde ela indicava pelo caminho. Fosse lá o que tivesse feito em cima da árvore, havia funcionado, pois logo estavam nos altos muros da cidade. Correram até os portões, fortemente guardados por Guarda-Treinadores Pokémon com seus Golem, criaturas grandes e semelhantes a pedregulhos.

Os dois, como tradição da entrada e saída da floresta, passaram e os guardas e anotaram seus nomes numa lista. Era o modo de vigiar quem conseguia sair da floresta e em quanto tempo. A média sempre era sete horas, sendo o maior tempo nove horas e o menor tempo cinco.

Dan escreveu seu nome primeiro. Um dos guardas verificou a cópia da lista de entrada de treinadores.

— Sr. Young... Você acaba que bater nosso recorde de nove horas. Ficou doze horas e quarenta e um minutos na floresta! Parabéns! — eram dados prêmios aos que resistiam mais e os que levavam menos tempo. Ninguém nunca se arriscava a voltar o caminho. Todos que tentaram não voltaram.

O outro guarda lhe entregou uma Poké-Flauta, um instrumento útil dentro e fora das batalhas.

— Será que a senhorita também bateu um recorde?

Dan olhou para a garota atrás de si, que mantinha-se cabisbaixa e com capuz. Growlithe a esperava mais a frente, enquanto o Shinx parecia observar tudo com atenção, esperando. Dan fez um esforço para ler seu nome, mas a caligrafia da menina, ao contrário das outras, era ilegível.

Ela passou direto, só parando ao ser chamada.

— Espere, menina! Seu nome é... Isso é um N? Um M? — Ele parecia também ter muitas dificuldades. Mal conseguia entender a primeira sílaba. — Qual seu nome? — Ele perguntou.

Ainda sem olhar diretamente no rosto dos dois, ela voltou e apontou, na lista de entrada, o próprio nome na mesma caligrafia. Ao ver o horário, um guarda olhou abismado para o outro, que estava estagnado. Eles se voltaram para a garota, que parecia impaciente esperando que deixassem-na passar.

— A senhorita ficou... — Ele engoliu seco. Mal conseguia falar. Olhou para ela novamente. Dan se perguntou se a aparência dela estava tão péssima quanto ele pensava. — Vinte e sete horas... — A voz dele falhou.

— É. Fiquei. — ela desviou o olhar. — Podem me deixar ir agora?

Eles abriram o portão, apesar de suas expressões permanecerem em espanto. Dan não estava diferente. Vinte e sete horas?! Aquilo era mais do que um dia!

Estavam andando quando a curiosidade de Dan venceu e ele parou. Tinha que perguntar.

— O que foi aquilo lá atrás?

A menina tirou o capuz, não antes de olhar ao redor com atenção, e olhou para ele.

— Minha letra não é das melhores.

— Não. Não isso. — Ele balançou a cabeça. Estava tentando organizar o raciocínio. — Reviver os Pokémon, subir na árvore, resistir tão bem aos ataques, o tempo que ficou lá... Tudo!

— Eu... Sou diferente. Só isso. — ela desviou o olhar.

— Como conseguiu ser tão... Apegada... — era difícil falar aquela palavra referindo-se a algo tão selvagem quanto os Pokémon — À Natureza e os Monstros de Bolso?

— É uma história longa. — ela abaixou a cabeça.

— Está bem. Entendi. Você ao menos pode falar o seu nome? O meu é Dan Young.

Ela olhou para ele. Pela primeira vez, parecia afim de falar de si mesma. Abriu a boca para o responder, mas sua expressão se tornou de surpresa, temor, e o menino olhou para trás, já pensando ser um Pokémon agressivo.

Mas tudo o que viu foram agitados, curiosos e ambiciosos jornalistas correndo em sua direção. Vieram já fazendo perguntas — aparentemente, haviam passado informações sobre a aparência dos novos recordistas. Dan olhou para trás, sorrindo com toda aquela fama, mas a garota não estava mais ali, havia se misturado à cidade.

As perguntas seguintes foram sobre elas, questão em cima de questão, mas ele não respondeu nenhuma. Estava encarando o vazio, os pensamentos longe.

Os pensamentos em apenas uma coisa que queria resposta.

Quem é ela?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Estou torcendo para que sim. Estarei esperando reviews. ♥ Até!



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