Unknowns escrita por Serena


Capítulo 3
The Murder Suspect


Notas iniciais do capítulo

Oláaa, meus leitores lindos, tudo bom? Espero que sim.

Já peço perdão pela demora do capítulo — de novo —, mas dessa vez teve motivo. Eu tinha feito o capítulo inteiro e só faltavam alguns ajustes. Legal. Aí a vida quis me sacanear mais uma vez: o arquivo simplesmente foi contaminado e nem pedindo para todos os deuses eu consegui abrir. Bom, tive que reescrevê-lo — o que foi bem difícil, por sinal — e acabei mudando drasticamente o rumo desse capítulo. E não é que eu gostei do resultado? Enfim, agradeço pela paciência.

Aliás, eu vou tentar começar a postar, por enquanto, um capítulo por mês. Se esse método funcionar, eu passarei a postar dois. Obrigado por lerem Unknowns!

XOXO



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Abro os olhos. Estou em um quarto privativo branco e iluminado — antisséptico demais —, deitado sobre um confortável leito hospitalar. Alguns fios estão conectados em minhas veias e um aparelho próximo da cama apita conforme meu coração bate. Há flores sobre o criado-mudo ao meu lado, junto a um pequeno cartão escrito a mão. A televisão está ligada. Alguém esteve aqui há pouco tempo, porque, independente de onde eu esteja, a pessoa responsável pela minha saúde já teria a desligado.

Então, de repente, enxergo Trinity, sentada num sofá a poucos metros de mim. Ela está segurando uma caixa de bombons e a balança perto do ouvido para ter uma noção de quanto chocolate há lá dentro. Não demora muito para eu perceber que aquilo supostamente seria para mim.

— Isso não é legal — falo. Minha voz está um pouco rouca, mas ela escuta de qualquer jeito. Ela abre um sorrisinho, mas não responde.

— Cheguei a pensar que você não iria acordar, Princesa Aurora — debocha Trinity. Ela finalmente abre a caixa e come vários chocolates antes de se lembrar de ser cortês e me oferecer alguns. Eu recuso; não estou com vontade de comer ou fazer qualquer coisa.

— Por quanto tempo estive apagado?

— Ei, vai com calma. Você acabou de acordar de um coma — Trinity quase se levanta, mas eu concordo com a cabeça.

— Tudo bem, eu vou descansar, mas, por favor, só me responde umas perguntas.

— Merda... — diz Trinity — sei lá, uns dois ou três dias.

— E eles sabem da causa?

— Dizem que sabem — Trinity revira os olhos e dá uma risada amarga. Ela joga a caixa de bombons pro lado e se endireita no sofá —, a única coisa que eles disseram que fez sentido foi que uma alta dose de estresse causou o seu desmaio, mas aí começaram a explicar um monte de merda sem sentido. Eles ao menos sabiam do que estavam falando. Sabe, eu contei a eles que você tava mais quente que uma chaleira antes de desmaiar, mas nem um daqueles idiotas me escutou...

— E o que você acha que aconteceu? — pergunto.

Trinity olha em volta por alguns segundos, puxa uma cadeira e se aproxima.

— Droga, eu nem devia estar falando isso pra você, mas... pessoas como nós, às vezes...

No entanto, nossa conversa é interrompida pela porta se abrindo. Trinity rapidamente se afasta e finge estar assistindo à televisão. Fetcher e um garoto alto passam pela entrada e caminham até nós. Os sapatos dela produzem um som que combinam precisamente com o clima de suspense que se alastra pelo ar. O garoto me olha de um jeito estranho, mas sei lá... não me causa nenhum desconforto.

Só queria não estar vestido desse jeito.

— Olá, garoto. Fico feliz que tenha acordado — diz Fetcher.

— Eu não. — falo. Fetcher me lança um profundo olhar de desaprovação enquanto Trinity faz um barulho engraçado com a garganta, sem tirar os olhos da televisão. — Estou brincando. É bom vê-la novamente.

O garoto disfarça um sorrisinho.

— Tanto faz — diz Fetcher. Ela está meio séria hoje, talvez tenha sido alguma complicação em seu projeto, uma bronca do alto escalão ou eu confundido as coisas. Afinal ela é minha dirigente, não minha amiga. — Cora Halsey. Esse nome significa algo para você?

— Não... por quê?

— Porque ela é uma suspeita de assassinato e exigiu falar somente na presença de Hugh Skeyholm — O garoto finalmente dá sinal de vida. Sua voz é clara e tem um inconfundível sotaque britânico. — Estaremos voando pela manhã.

[...]

— Por que uma suspeita de assassinato quer minha presença em sua declaração? E como diabos ela sabe meu nome? — pergunto baixinho para Trinity, enquanto somos encaminhados para um helicóptero do Departamento. Ela apenas dá de ombros, tão confusa quanto eu.

— Talvez ela possa ter tido acesso aos relatórios de Peter White — diz Trinity. — Seu nome estava escrito em todo lugar. Mas por que você?

— Aliás, quem era aquele garoto de ontem que não parava de me encarar?

— Na ala hospitalar? Nicholas Thurman. Inglês. Pai e mãe divorciados. Fez uns comerciais na televisão quando criança que transformaram seu ego em um tipo frágil de buraco negro. Ele faz parte do projeto da Fetcher também, mas eu não vou muito com a cara dele.

— Então ele é estrelinha, entendi. Deve ser por isso que ele ficava me olhando. Todo mundo só fala de Hugh Skeyholm. “Hugh Skeyholm é sobrinho-neto de Peter White”, “Hugh Skeyholm surtou e matou um monte de policiais”, “Hugh Skeyholm é o novo protegido de Fetcher”. Estou me sentindo um Harry Potter, sabe, famoso por algo que não é legal e que até pouco tempo eu ao menos sabia.

— Não se culpe por isso — Trinity diz, com os olhos fixos no chão. Seu tom não é de pena e ela não está tentando me confortar, é mais como fúria. Eu gosto disso. Não quero que sintam pena de mim. — Só vá até Boston, escute o que Cora tem a dizer e não faça nenhuma besteira. Não confie em ninguém além de Fetcher.

Concordo com a cabeça e Trinity dá umas batidinhas no meu ombro. Eu aceno com a cabeça e me viro até a plataforma de desembarque. Fetcher está me esperando ao lado do helicóptero, vestindo um sobretudo de alta costura que se agita conforme o vento bate em seu corpo. Quando me aproximo, ela me escolta com seu braço em minhas costas e, logo, estamos no céu.

[...]

Estamos no departamento da polícia.

Fetcher pede para que eu espere com o segurança Paul na entrada enquanto ela vai falar com os detetives responsáveis pelo caso de Cora. Esse lugar me dá arrepios depois de tudo o que passei. Até o uniforme desses policiais me traz lembranças do policial Collins e, junto a isso, o tiro que saiu de sua arma em direção ao cérebro de Anna. Estou bem quente quando Fetcher sai pela porta e diz que está tudo pronto para a declaração da suspeita.

Quando entramos na sala de interrogatório, Cora Halsey vira o rosto para mim e me olha bem no fundo dos olhos. Ela tem cabelos pretos e olhos verde-esmeralda e lembra um pouco, em estatura, Anna, porém parece ser um pouco mais nova do que eu. Sento em frente a ela e um dos detetives fica em pé, escorado na parede.

— Por favor, me deixe sozinha com ele — diz Cora, rouca.

— Sem chances, espertinha, não até depor — O detetive parece já ter perdido a paciência com a suspeita, porque seu tom de voz soa ríspido, bem diferente do modo que ele nos trata.

— Tudo bem, Cora, apenas fale — digo baixinho. Eu não a conheço, mas sei como apoio é importante nessas horas. Ela suspira e assente com a cabeça. — Depois, me deve explicações.

Então, ela começa. Ela conta sobre um suposto álibi* — que o detetive desmerece, mesmo não sabendo se aquilo era verdade —, fala sobre como tentou ligar, desesperadamente, várias vezes para a vítima no momento em que ela estava sendo assassinada e, finalmente, entrega o nome de alguém próximo da vítima que poderia ter a matado.

— Satisfeito agora? — Cora provoca. — Agora preciso falar com Hugh Skeyholm em particular.

— Nós nem teríamos feito essa merda desse acordo se Hugh Skeyholm não fosse um protegido de Fetcher, sua psicopata de merda — O detetive dá um soco na mesa que faz tanto eu quanto Cora pularmos de susto. Ele dá um longo suspiro e se acalma — Cinco minutos. Nada mais.

E então ele sai pela porta.

— Eu não fiz isso — Cora começa a chorar, ainda trêmula pelo susto. — Eu não quero ir para a cadeia, eu não posso...

— Então devia ter chamado um advogado, não um completo desconhecido — falo.

— Não foi por isso que te chamei...

— Como você me conhece? — pergunto, irritado. — Leu algum registro? Sabe sobre algum segredo a meu respeito do qual nem eu sei?

— Como é? — Cora parece realmente confusa. — Não é nada disso, eu tive uma visão sua...

— Visão? Tipo clarividência ou tarô? — interrompo. — Porque convenhamos, não acredito nessas tolices.

— Até pouco tempo eu também não acreditava — Cora baixa a cabeça. — Há uns meses eu comecei a ter umas visões estranhas. Elas se parecem com sonhos, mas são vívidas e eu não controlo quando e onde acontecem. Eu comecei a fazer umas pesquisas, mas a maioria dos sites são de charlatões falando para acender um incenso ou focar num caldeirão enquanto desenvolvo o terceiro olho...

— E o que você viu?

— Algumas visões são sobre o passado, algumas são sobre o futuro, algumas até sobre o presente. Enfim, eu... eu vi o seu surto em Seattle. Vi como aquela menina foi morta, vi como você matou cada um daqueles policiais — Ela volta a chorar, mas dessa vez não é medo de parar na prisão, é algo mais profundo. — Eu senti sua dor, Hugh... nós estamos conectados pela sua dor.

— O quê?

— Acredite em mim...

A porta se abre e o detetive entra apressado. Ele solta Cora das algemas vinculadas à mesa e rapidamente já vai a prendendo em soltas. Ele a levanta e praticamente a arrasta até a porta. Cora se agita em seus braços e grita que precisa de mais tempo, mas o detetive a ignora.

— Conte a Fetcher, Hugh — grita Cora. — Eu sou como você!

E então fica mole e quieta, como se tivesse desmaiado. Logo enxergo a seringa em suas costas: ela foi sedada.

— Por que diabos você fez isso? — exclamo.

— Porque ela não é mais problema nosso. Ela irá com vocês para o complexo.

— Mas ela ainda nem teve a sua defesa no tribunal! Ela é suspeita de um crime, porra... como a Fetcher faz essas coisas?

— Eu tenho os meus meios — Fetcher aparece logo atrás do detetive, com um sorriso soberbo no canto do lábio.

É, Mathilda Fetcher é definitivamente a mulher mais badass que eu já conheci.


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Notas finais do capítulo

*Defesa que o réu apresenta quando pretende provar que não poderia ter cometido o crime por, por exemplo, encontrar-se em local diverso daquele em que o crime de que o acusam foi praticado.



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