O som estridente da campainha localizada em cima da porta deu fim a aula. Guardei minhas coisas em minha bolsa tira colo e coloquei-a no ombro, sentindo o peso fazer meu ombro inclinar levemente, de um jeito quase imperceptível. Olhei de relance a entrada da sala. Ele já estava ali na porta, a minha espera. Quando me avistou sorriu. Aquele sorriso...

Subitamente senti uma mão robusta, mas suave em meu ombro.Alguém acabar de perguntar-me, brevemente se o livro violeta e azul-safira com “Ciências” no centro, bem grande e verde, era meu, estendendo-o

Virei-me enquanto agradecia sorrindo. Ele era lindo, com os cabelos dourados, alto, e com os olhos azuis.

Começamos a conversar. Ele tinha um bom papo e ficamos falando ate que Thomas chegou. Thomas era meu melhor amigo, e sempre voltávamos pra casa juntos.

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Eu costumava correr depois da aula para chegar à sala de Katherine, antes dela mesma sair. Então eu a ficava esperando, observando-a. Fiquei olhando ela guardar suas coisas, ainda não entendia o porquê das garotas carregarem tanta coisa. Nossos olhos se encontraram no meio daquela multidão. Sorrimos um pro outro. Tudo estava correndo como qualquer dia normal ate um garoto, loiro e ligeiramente mais alto que eu, ir falar com Katherine.

Eles ficaram conversando mais um tempo, ignorando praticamente a minha existência. Fui ate os dois e ela parou rapidamente de falar com o loiro. Sussurrei a ela que iríamos perder o ônibus, e que era pra ela se apressar. Infelizmente, aquele cara veio conosco, falando por todo o caminho com Katherine, o que eu me incomodava muito.

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Naquele dia fora diferente. Voltamos junto com Felix, o garoto loiro que eu acabara de conhecer. No ônibus, que pegávamos para voltar para casa, fiquei falando com ele, ignorando totalmente meu melhor amigo. Felix descera um pouco antes, deixando-nos sós.

No caminho, ainda longe de nossa parada, perguntou-me, um pouco alto sem querer, o que nos conversávamos. Notei que estava corando. “Está com ciúmes?” perguntei passando meus braços no dele, apoiando meu rosto em seu ombro. Negou brevemente com as maçãs do rosto vermelhas, gaguejando. Ri por dentro. Lhe disse que Felix já tinha namorada, e so havia me devolvido o livro de ciências. Ele sorriu, discretamente, um pouco envergonhado.

Fora preciso mais alguns minutos para chegar, e descermos do ônibus. Assim fizemos, só precisávamos atravessar a rua e descê-la. Estávamos passando, como fazíamos todos os dias, e de súbito, meu mundo parou.

Tudo começou a passar devagar. Um carro vermelho, correndo e vindo em nossa direção, desgovernado. Ele iria atropelar nós dois. Empurrei Thomas para a calçada e senti uma pancada entre minhas costelas e minha cintura.

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-Do que vocês falam tanto?- perguntei, um pouco bravo.

Ela riu, fazendo meu rosto corar. Eu virei o rosto, vermelho, pondo a mão no bolso, enquanto tentava disfarçar. Então, senti algo entrelaçar-se no meu braço. Nem imagino a cor de meu rosto naquele momento. Ela apoiou seu delicado rosto em meu ombro. Envergonhei-me, mas no fundo fiquei feliz.

O ônibus parou e nos descemos. O dia estava nublado, parecia que iria chover mais tarde. Andamos um pouco mais abaixo pela rua, com as casas pintadas, mas que desbotaram pelo tempo.

Foi naquela hora. Nos íamos atravessar a rua, como todos os dias. Ate eu sentir um empurrão súbito, me derrubando na calçada do outro lado da rua, causando um baque estridente na queda. Vi um borrão vermelho. Pareceu ser o carro vermelho que quase me atropelado por pouco, mas infelizmente descobri ser sangue. Tentei gritar, mas nada saia de minha boca. Estava perplexo. Corri ate Katherine.

-Por que fez isso? Katherine, fale comigo- sussurei perto de seu ouvido, pegando-a no colo, e limpando o sangue de seu rosto com meus dedos.

–Alguém chame uma ambulância!-gritei pela rua.

Passei minhas mãos em seus cabelos. Eu devia ter falado a tanto tempo, eu devia ter feito isso a muito tempo.

Beijei-a, foi um beijo quente, seus lábios tinham gosto de amora, sua fruta favorita. Ouvi uma sirene cada vez mais alta. A ambulância chegara.

“Eu te amo” sussurrei ao seu ouvido, enquanto sua pele ficava mais pálida a cada minuto, ate ela fechar suas pálpebras.

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Sentia cheiro de sangue, fiquei mais enjoada ainda quando notei que era o meu próprio. Minha visão, por causa de lagrimas, tornara-se embaçada, a ponto de eu apenas ver vultos quase sem formas. Não sei se deitei no chão ou cai, eu não sentia meu corpo, ou boa parte dele. Vi alguém correndo ate mim, Thomas. Pisquei fortemente expulsando as lagrimas de meus olhos. Eu não conseguia ouvir nada, mas mesmo assim eu disse a ele. Num ultimo movimento, me beijou. Um ultimo beijo. Superficialmente, nunca achei que isso poderia acontecer, mas no fundo, eu sabia que ambos éramos apenas pessoas que não sabia que estavam namorando.

         A morte veio rápida. Minha visão começou a tornar-se turva e distingui uma sirene ao fundo. Ouvi muitas vozes, e ouvi um ultimo “Eu te amo” antes de apagar completamente.