Tons de Cinza escrita por Hurricane


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Quero constar que uso do Universo Legends ao invés do dos filmes e que eu provavelmente não sou o cara mais fissurado, então talvez encontrem alguns errinhos bobos quanto à mitologia. Nesse caso só posso pedir que relevem em favor de aproveitar a história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673616/chapter/1

HÁ MUITO TEMPO EM UMA GALÁXIA MUITO, MUITO DISTANTE...

 

UM CONTO DE STAR WARS:

TONS DE CINZA

A Força entrou em descompasso quando HAL'ZARR abandonou os JEDI CINZA, defensores do equilíbrio da Força, para juntar-se ao Lado Negro.

ALDREITH STARSEEKER, um antigo amigo e companheiro, o caça desde então para cumprir seu dever. Hal'zarr, contudo, sempre faz com que ele perca o rastro ou distraia-se pouco antes de finalmente alcançá-lo.

Mas suas artimanhas uma hora teriam de acabar, e Starseeker pode ter descoberto uma maneira de adiantar o processo.

O planeta era coberto de oceanos azuis e cristalinos. A cidade flutuava sobre essas águas como se fosse um tipo de boia. Os prédios eram altos e apertados no centro dela, deixando apenas construções baixas e de tetos planos em direção às bordas.

A maioria dos viandantes não sabia que o grande diferencial, as grandes e magníficas metrópoles daquele planeta quase ignorado, ficavam em baixo d'água.

Starseeker havia passado muito tempo lá, mas estava pronto para partir finalmente.

Acabava de sair de um tipo de tubo de metal — perfeitamente feio para desencorajar pessoas estranhas a se aproximarem — em um beco — igualmente feio.

Usava um manto bege e sujo que cobria seu rosto e corpo quase que inteiramente. A postura era tal que o tecido não mostrasse nada do que estava por baixo.

As ruas não eram apinhadas de estrangeiros, embora tivesse um número considerável de nativos — com suas peles roxas, guelras nos braços e pescoços — e isso não mudaria nem no porto. Mesmo com as naves que chegavam e partiam, poucas eram as pessoas que vinham tão longe na Galáxia.

Por isso Starseeker descobrira o lugar como perfeito para meditar.

Isso e o fato do planeta guardar a Joia, claro.

Sem muita dificuldade encontrou um piloto que sairia logo. Tinha a pele verde, três pares de olhos e parecia não ter lábios, mas era um humanoide simples. Starseeker vira coisas piores em sua vida.

— Preciso de uma nave que me tire daqui em segurança, sem perigo de ser atacada... algo que possa, por exemplo, fazer o Percurso de Kessel em menos de doze parsecs — disse Starseeker, sua voz calma e convidativa.

— Isso não existe, camarada. Mas eu posso te tirar daqui... por um preço.

— Claro, sempre existe. Quanto e em que sistema monetário?

— Por acaso não teria... Pedras de Mirr com você, teria? — perguntou baixo, em tom conspiratório.

Aldreith abriu um sorriso que o capitão pôde ver por entre todas aquelas sombras em seu rosto. Todos os olhos dele se iluminaram quando o Jedi Cinza colocou as tais pedras — vermelhas e luzentes — à sua frente. Eram apenas seis, mas provavelmente eram o suficiente para comprar a nave duas ou sete vezes — era um material extremamente raro, servindo tanto para fins energéticos quanto para fins alucinógenos. Raro e proibido na maior parte do Universo.

— Partimos assim que o segundo sol nascer.

O capitão H'ulf apresentou a nave: um pequeno cargueiro meio quadrado, longo e cheio de turbinas abaixo — e duas muito maiores atrás — para propulsão. Starseeker adentrou, indo atrás de suas acomodações: um quarto pequeno, com bancos estofados que serviam de cama e tamanho quase claustrofóbico. Com certeza pagara muito mais do que valia.

Sentou-se pacientemente, esperando a hora da partida. Os olhos fechados, a mente vagueando pelos conhecimentos que tinha. Pela própria Força.

Se alguém pedisse para que Starseeker explicasse a Força ele se veria impotente. Não tinha palavras para explanar o que ela era. Diria que você pode sentir a Força quando fecha seus olhos e medita, que pode senti-la permeando todas as coisas vivas — uma presença além do material, algo interligado à própria essência das coisas.

Aldreith podia sentir a Força permeando aquela nave, podia sentir a calma das pessoas lá fora, a pressa no porto, o vindouro choro de uma criança.

E mais além.

Podia sentir o medo das pessoas em um mundo em guerra — o desespero — e ouvir os gritos. E, ainda mais além, podia sentir seu próprio medo, sua própria raiva. Um ódio quase auto depreciativo.

Foi quando ouviu a voz de Hal'zarr dizendo:

— Por que você ainda continua com isso? Pare, deixe-me viver!

— Não posso.

— O que você tem a ver com isso? Não é seu problema quem está ou não está no Lado Negro, não importa quem é ou não é Sith!

— Não é sobre quem é ou não é Sith, Hal, é sobre você! Não importa quem tende ao Lado Negro ou não, importa o equilíbrio. É por isso que prezo e é por isso que você devia prezar também.

— E você acha que vai vencer? Já fazem quantos anos que me persegue? Quantos anos que o engano e misdireciono?

Starseeker pensou em responder, mas sabia que o capitão se aproximava. Quando ele entrou no pequeno quarto, o Jedi Cinza abriu os olhos e o encarou. O capitão sentou à frente dele, deixando as longas pernas e braços relaxados e soltos.

— Posso fazer algumas perguntas?

— São importantes?

— Algumas sim, outras nem tanto.

— Então as faça.

— Primeiro de tudo, preciso saber para onde você vai.

Starseeker parou um pouco e pensou. Não tinha certeza ainda.

— Deixe-me onde você parar.

— Meu amigo, você não entendeu: no mínimo essa nave aqui foi comprada doze vezes com o seu pagamento. Você escolhe onde paramos nem que sejam os destroços da Estrela da Morte.

— Na verdade, eu ainda não tenho um destino certo. Ainda preciso cuidar de alguns pequenos detalhes para poder localizar... meu objetivo.

— Você é... um Caçador de Recompensas? Um soldado ou algo assim?

— É... podemos dizer isso — respondeu Starseeker, outro sorriso rompendo as sombras. — Mas prefiro ser chamado de Starseeker. Aldreith Starseeker.

O brilho quase exótico do reconhecimento atravessou os olhos de H'ulf. Pelo visto já ouvira alguma história sobre ele. Mas não comentou nada. Fosse uma história de seu passado longínquo ou recente, H'ulf conhecia o nome e talvez a reputação.

— Agarath... Leve-me para Agarath. De lá eu devo descobrir com certeza meu destino.

O capitão assentiu com a cabeça e saiu. Pelas contas de Starseeker o segundo sol já devia estar nascendo e a partida se aproximava a passos largos. E de fato não levou mais que dez minutos para ele sentir o leve coice que a nave deu ao acionar todas aquelas turbinas. Os primeiros minutos — dedicados ao preparo do voo — foram barulhentos e chacoalhados.

E então a nave partiu.

O Jedi Cinza reclinou-se no banco uma vez mais, contemplativo. Hal'zarr sabia que ele o estava seguindo outra vez e logo poria em ação seus planos. A Força podia ter sido sua aliada em batalhas anteriores, mas nessa em particular ela parecia ser uma poderosa inimiga.

Exceto por ajudá-lo a perceber uma outra presença na nave. Um passageiro clandestino. Aldreith levantou-se curioso, disposto a investigar. Andando pelos corredores cruzou com alguns agentes do Império discutindo com alguns passageiros e tantos droides que ajudavam no carregamento e manutenção da carga e da nave.

Starseeker caminhou por entre grandes contêineres de carga, seguindo aquele rastro que sentia. Finalmente aproximou-se de um contêiner bem menor. Enquanto todos os outros poderiam facilmente transportar um TIE fighter, aquele ali mal poderia transportar uma unidade R2.

O Jedi Cinza tentou empurrar, mas não teve efeito algum. Bateu no contêiner com os nós dos dedos e percebeu um som oco. Viu de canto de olho os agentes vindo em sua direção, então decidiu ser eficiente. Projetou-se com a Força até aquele falso-contêiner e o tirou do lugar apesar de estar bem preso ao chão. Abaixo dele havia um quarto parecido com o seu, exceto que ocupado por uma moça de vestes ainda mais surradas.

Os agentes chegaram, olharam para ela e se entreolharam.

— Você a encontrou? — perguntou um deles, o que tinha o maior blaster.

Essa era a única diferença real entre eles, ademais eram todos trajados em armadura comum de Stormtrooper — quase inteiramente branca, exceto por alguns detalhes em preto onde as peças não formavam conjunto — e o capacete padrão.

— Encontrei quem? — perguntou Starseeker — Não estou vendo ninguém aqui. — Então fez um movimento rápido com sua mão, usando a Força para projetar para dentro da cabeça dos três agentes aquilo que queria que fosse a verdade: — E nem vocês.

Eles pareceram confusos a princípio, então assentiram e foram embora. O Jedi Cinza pulou para dentro daquele quarto e trouxe a porta falsa de volta ao seu lugar.

Encarou a mulher, observando seu rosto de traços gentis. A tez era escura, seu cabelo estava cortado curto e os olhos... Os olhos eram duros, olhos de quem já tinha matado antes e tornaria a fazer. Embora parecesse inquieta, Aldreith sabia que não era bem assim. Suas mãos não estavam trêmulas, estavam pretendendo agarrar um blaster ou qualquer outra arma.

Sentado à frente dela, deixou os ombros caírem em total relaxamento.

— Acha que essa é a melhor opção? Acabei de afastar três agentes do Império com três simples palavras. Quais seriam suas chances, afinal?

Ela deixou as mãos silenciarem, encarando-o interessada.

— Não sou idiota e nem novo no campo de batalha, garota. Agora diga-me o porquê de eles estarem atrás de você e o seu nome.

— Não caio em truques baratos como esse seu! — defendeu-se a mulher.

— Não estou usando um truque barato. Mas poderia. Agora... você decide quanto a isso.

— Ada Amear — respondeu ela, por fim, após pensar por um longo minuto — e eles estão atrás de mim porque sou parte da Aliança Rebelde. Recentemente andei atrapalhando os planos do Império comandando um batalhão em um planeta onde eles fizeram contratos em troca de suprimentos para fins militares.

— Devia ter imaginado. E H'ulf sabe que você está aqui?

— Se ele sabe? Ele é um dos homens em que mais confio. Está fora da Rebelião só em título mas foi o próprio que me tirou de algumas das maiores enrascadas da minha vida. Quando meu batalhão todo foi capturado e executado, ele mesmo arriscou a pele para me contrabandear de lá.

— Suponho que isso o faz um alvo em potencial, então?

— Só se descobrirem. E não maior do que eu... ou você. Você é um Jedi, não é? Não foram eles todos mortos?

— A maioria foi, mas alguns de nós sobreviveram. Minha ordem, em especial, não é considerada como uma grande ameaça ao Império.

— Sua ordem? Então você não é um Cavaleiro Jedi?

— Não. Sou um Cinza. Não andava por aí tomando decisões no Conselho ou atrapalhando os planos de ninguém, nós apenas prezamos por... Ah, você não quer saber sobre isso.

— Corretíssimo. Na verdade, sequer gosto de sua presença aqui, mas como você mesmo apontou: eu não posso impedir.

— Algo que eu possa fazer para mudar isso?

— Bem... — ela disse com um ar pensativo, o ar de quem cogita possibilidades. — Talvez. Na verdade, ando me sentindo bem sozinha aqui em baixo...

E foi assim que começaram a se conhecer. E por isso Ada seria grata mais tarde, pois o Cinza seria de extrema importância quando os agentes do Império a localizaram por descuido de H'ulf. Se Ada jamais tivesse conquistado a afeição de Aldreith, ele jamais se importaria em tomar posição quando aquela enorme nave triangular de muitos armamentos — um Star Destroyer — interceptou o cargueiro.

A nave menor foi obrigada a parar e logo foi invadida por um fluxo constante de troopers. H'ulf, sem perder tempo, ativou seus droides para a programação de batalha e agarrou um blaster modelo DH-17, pequeno e parecido com uma pistola de ponta fálica.

Aldreith saiu de seu quarto, irritado pelo incômodo, só para encontrar alguns dos agentes do Império disparando contra simples robôs inocentes que atiravam de volta. Embora os robôs estivessem em maior número, os troopers eram dotados de treinamento e mira excelentes — o suficiente para reduzir a desvantagem numérica drasticamente.

— O que vocês querem? — gritou Starseeker por sobre o som da batalha para os agentes do Império.

— Há uma tenente dos Rebeldes nessa nave e vamos pegá-la!

O Jedi Cinza sopesou se devia ou não envolver-se, mas acabou tendendo ao apoio. Esse confronto nada tinha que ver com ele, mas gostava profundamente de Ada.

Ao ver que alguns dos troopers já avançavam pelos corredores, Starseeker suspirou.

— Não posso permitir isso.

Alguns troopers o encararam confusos, mas logo entenderam. Starseeker os atirou contra as paredes e contra o teto, deixando-os então cair e se desmontarem contra o chão. Muitos dos blasters viraram-se para ele e os lasers voaram, mas com o simples movimento de colocar as mãos à frente do corpo conseguiu não só parar mas também reverter muitos deles.

Muitos dos inimigos saíram voando, gritando, perfurados por seus próprios disparos. Os que sobraram estavam com medo, tremiam — Aldreith podia sentir isso — e não sabiam o que estava acontecendo quando começaram a apontar suas armas uns para os outros.

O Jedi Cinza os fez atirar e logo o chão estava coberto de corpos.

Percebeu, no entanto, que muitos outros estavam se aproximando. Fechou a nave às pressas e porcamente, pondo-se a correr atrás de H'ulf. O capitão, por sua vez, estava em um tiroteio contra cinco agentes do Império, seus disparos atingindo as paredes, o chão, a porta...

E os sistemas de controle.

— Maldição! — rugiu ele antes de dar três disparos certeiros que matou todos os cinco.

Ele parou, tentando entender como seus simples tiros tinham feito os troopers saírem voando tão longe. Foi quando Aldreith apareceu virando a esquina, andando calmamente.

O capitão cogitou se deveria atirar nele ou não, mas a ideia fugiu rapidamente. Aldreith parecia o estar ajudando agora.

— Temos de encontrar Ada!

O capitão apenas acenou com a cabeça e o seguiu, não demorou muito para a localizarem.

Ela tinha um Stormtrooper de escudo, disparando contra os outros usando seu próprio blaster — o maior, percebeu Aldreith. Após derrubar três ela avançou, derrubando seu "escudo" no chão, e acertou uma potente coronhada na cabeça de outro, logo colocando a arma em seu pescoço e o atirando contra outros dois.

Naquela confusão de corpos, seus tiros eram certeiros e logo ela tinha resolvido a situação.

— Por que demoraram tanto? — perguntou ela ao terminar.

— Não temos tempo! H'ulf, nos tire daqui!

— Certo, mas acho que os sistemas foram danificados!

A conversa foi interrompida por mais três troopers. Aldreith, já muito irritado, esticou sua mão e projetou a Força até eles. Os três foram levantados no ar e começaram a sufocar até que morreram por fim. O Cinza sabia que o fluxo só aumentaria com o tempo, por isso não o desperdiçou: agarrou o pulso de H'ulf e de Ada e usou a Força para projetar-se fisicamente em alta velocidade de volta para o cockpit.

Lá o capitão pôde observar que o sistema principal estava hediondamente avariado.

— O cargueiro não vai poder continuar! — anunciou ele — Teremos de mudar para o modo de voo alternativo e torcer para que tudo dê certo!

— Modo alternativo?! — inquiriram Ada e Aldreith em uníssono.

— É, mas vamos precisar redirecionar a energia do resto da nave pra cá e isso pode levar algum tempo!

A frase foi acompanhada pelas ordens gritadas de mais troopers e o som do portão de embarque sendo escancarado. Starseeker estava mais do que irritado agora.

E sabia que isso era exatamente o que precisavam.

O Lado Luminoso podia ser o que mais o chamava, mas agora o Lado Negro tinha seus dedos férreos ao redor de seu coração. O Cinza gritou em um ódio enfurecido, atirou H'ulf para o lado e, com toda aquela sua violência, convocou a Força a fazer algo que não era certo.

Transformou aquela violência toda em energia, e a energia tornou-se raios e que chisparam e saltaram da ponta de seus dedos até o console principal de comando. A energia que ele gerava junto da energia já desviada logo foi o suficiente para acionar o modo secundário e a nave partiu.

Partiu deixando para trás a maior parte da fuselagem e das turbinas, partiu deixando para trás muitos troopers confusos. Com uma decolagem muito mais suave que a primeira, eles saíram em direção às grandes portas fechadas do Star Destroyer. Enquanto Ada e H'ulf acharam que era o fim, o Cinza trincou os dentes.

Projetou a Força como se fosse um enorme punho invisível e arrebentou o aço maciço da nave, abrindo um rombo muito mais do que enorme nela. Troopers foram sugados para o vácuo do espaço em meio ao fogo da explosão enquanto a nave — agora pequena — disparava pelo mesmo caminho.

No momento em que Starseeker caiu exausto, o capitão entrou na velocidade da luz e eles sumiram da vista do Star Destroyer.

O Jedi Cinza bufava, tentando recuperar o controle de si mesmo.

— Ei — começou Ada —, você está bem?

— Sim, sim. Só um pouco de exercício matinal.

— É saudável usar a Força assim? Por que não usar seu sabre de luz? Você tem um, não tem? — perguntou, aflito, o capitão.

— Porque eu só uso meu sabre quando é extremamente necessário. Ele sempre vem acompanhado de violência — respondeu Aldreith quase rispidamente.

Não era a Força que o exauria, mas o estresse.

Ada e H'ulf cuidaram de levá-lo para um quarto — haviam sobrado apenas dois agora na nave toda — e lá o deixaram, deitado, para descansar.

— Então... parece que o Império te achou — disse, com um meio sorriso, o capitão.

— Pior ainda, H'ulf... Eles provavelmente te marcaram como um inimigo a essa altura — tornou Ada.

— Bem... Que venham, malditos bastardos. Já estou de saco cheio deles atrapalhando em tudo que fazemos! — bradou brandindo seu punho acima da cabeça.

A viagem demorou tão pouco quanto o sono de Aldreith, mas não foi nem de longe tão interessante. Isso porque o Cinza não simplesmente sonhou, ele também pode predizer o futuro.

Viu a ele e seu antigo companheiro, ambos se encarando em um planeta desértico.

— Jakku é um planeta bem isolado, nem imagino como você me encontrou aqui...

— Você mesmo me trouxe, acredite ou não.

Então viu outras coisas: uma lua... não, aquilo não era uma lua! Pequenas criaturas peludas atacando Stormtroopers, viu um Fantasma da Força tentando comunicar-se com um jovem viciado... Tantas, tantas coisas.

Quando acordou sentia-se quase pior do que quando dormira. Quase, pois finalmente sabia para onde ir. E nem precisou ir atrás de outra Joia ou qualquer coisa que o ajudasse a acessar a Força mais livremente.

Levantou-se prontamente da cama, saiu do quarto em busca de seus companheiros mas encontrou apenas Ada.

— O que há? — perguntou ele.

— Paramos para reabastecer, consertar o que precisa ser consertado. H'ulf me mandou ficar aqui para cuidar da nave e de você.

— E onde estamos?

A resposta para isso foi um simples dar de ombros.

Aldreith praguejou, irritado. Estava tão perto e, mesmo assim, tão longe... Bem, não havia mais porque se preocupar também. O encontro era certo, afinal de contas.

— Sabe, Cinza... Nossa viagem já está chegando ao final, não é? Depois que você descer, eu e H'ulf teremos de seguir viagem até Hoth, talvez. E quando você terminar... o que vai fazer?

— O que tenho feito desde muito tempo: manter o equilíbrio da Força.

— Nenhuma chance de unir-se a nós?

— Não. Meu dever é distinto, mas necessário.

Ada pareceu um pouco decepcionada com isso, mas o Jedi Cinza nada podia fazer.

Ficaram em silêncio por longos minutos até H'ulf aparecer uma vez mais. Meteu-se para dentro carregando bugigangas e parafernálias sem fim, e logo começou a conectá-las, enfiá-las, atochá-las e tudo mais.

— Capitão, preciso mudar meu destino.

— Qualquer lugar, Aldreith.

— Preciso chegar em Jakku o mais rápido possível.

— E nós precisamos sair daqui o mais rápido possível. O Império já anunciou uma recompensa pelas nossas cabeças. Infelizmente, a nave deve ficar estacionada por... tempo indeterminado. Preciso fazer os reparos e aqui já não confio em pessoa alguma para ajuda. Qualquer um pode ser um agente querendo nos sabotar.

Aldreith respirou fundo antes de se dirigir à saída.

— Ei, aonde vai?

— Caminhar. Não serei de ajuda alguma aqui na nave, mas talvez eu possa ser de alguma ajuda lá fora.

Na verdade, o que Starseeker queria era pensar. Percebia agora o erro que havia cometido.

Era um Jedi Cinza, seu único motivo era cuidar do equilíbrio da Força. Não precisava nem devia ter se envolvido com esses Rebeldes, não devia ter tomado parte naquela batalha.

Agora devia ser um alvo do Império.

Starseeker amaldiçoou-se ao perceber o tamanho de sua burrice, mas o seu primeiro impulso havia gritado muito mais alto à hora. Fosse como fosse, agora não tinha como voltar atrás. A única coisa que podia fazer agora era terminar sua missão.

Precisava pegar Hal'zarr a todo custo antes que o Império tivesse a chance de pegar a ele.

Foi enquanto caminhava absorto em seus pensamentos que percebeu uma movimentação suspeita atrás de si. Não olhou para trás, preferiu apenas fechar seus olhos e deixar que a Força falasse.

Cerca de vinte passos atrás dele estava alguém que realmente o seguia. Podia perceber em sua intenções. Apertou seu passo e o perseguidor começou a fazer o mesmo. Aldreith virou uma esquina subitamente e o obrigou a começar a correr.

A cidade tinha prédios altos e ruas apinhadas de pessoas, construções que arranhavam os céus carmins. Aldreith simplesmente pulou e se içou para cima no apoio das construções de um desses prédios.

Seu perseguidor pareceu confuso ao não vê-lo, mas o Jedi Cinza sabia como se mesclar às sombras. Quando seu perseguidor quase chegava à parede no fim do beco ele saltou e aterrissou atrás dele, bloqueando a saída.

O perseguidor o encarou surpreso. Usava um capacete azul e armadura de mesma cor com uma capa simples — à moda de Boba Fett, em quem muitos mercenários tomavam inspiração — no entanto lhe faltavam muitos dos equipamentos de seu original.

O mercenário tinha como arma um bastão de controle de revoltas modelo Z6, que esticava-se ao modelo de uma tonfa e tinha sua ponta eletrificada. Uma arma para enfrentar um inimigo que tivesse um sabre de luz.

— Traidor! — ele gritou enquanto ativava sua arma e a girava para criar um ar ameaçador.

Avançou empunhando-a com violência no olhar. Starseeker não tinha tempo para isso. Assim que o mercenário chegou perto ele atirou-se para cima, girando, e chutou as costas do oponente.

Desequilibrado, foi fácil para que o Cinza girasse sobre os calcanhares e agarrasse seu braço. Com um movimento rápido estavam encarando-se uma vez mais, e Aldreith arrancou o capacete azul com a Força.

Mais do que pasmo o mercenário sequer teve tempo de pensar em abaixar quando o Jedi desarmou-o e arrebentou o bastão contra sua face. No chão, com a face deformada e sangrando, ele ainda esticou a mão para um pequeno blaster e intentou atirar, mas suas mãos trêmulas não eram páreo para a Força — que arrancou a arma e a depositou em mãos mais competentes na batalha.

— Agora me diga o que você quer.

— Queríamos vocês — disse o mercenário com um sorriso em seu tom — que pena termos julgado sua capacidade tão mal. Pelo menos o trabalho não vai ser assim tão feio...

Aldreith podia perguntar o que ele queria dizer com isso, mas o som de uma explosão colossal e os gritos assustados logo revelaram-lhe. Uma emboscada.

O Jedi Cinza correu em direção à nave e lá encontrou apenas destroços e alguns corpos carbonizados.

Isso e outros três mercenários.

Sua mão desceu ao sabre enquanto o sangue subiu aos olhos, a raiva gritando e martelando contra sua cabeça e costelas.

Refreou-se no último segundo, inspirou fundo e expirou.

— Ei! — gritou ele, chamando a atenção dos mercenários.

Os três viraram-se para encontrá-lo com a mão estendida à frente de seu corpo. Então ele a fechou em punho e todos foram ao chão, gritando enquanto Aldreith comprimia seus órgãos internos. Se não usassem capacetes já teriam manchado o chão de carmim há muito tempo.

Starseeker viu alguns troopers aproximando-se, então afastando-se enquanto percebiam o que acontecia ali.

Quando acabou, Aldreith percebeu que havia se deixado levar muito longe. Os corpos vazavam o sangue viscoso no chão, mas aquilo não era problema seu. Precisava, agora, de uma nova nave.

Seguiu a passos calmos, por entre olhares horrorizados, até o bar mais próximo. Era um lugar escuro, com muitas pessoas sentadas em mesas redondas bebendo líquidos coloridos e brilhantes.

O Jedi Cinza sentou-se ao balcão mas nada pediu, apenas pensou um pouco com pesar.

Teve sua meditação interrompida, contudo, quando alguém sentou-se ao seu lado e começou a puxar conversa:

— Ei, você.

Não respondeu.

— Aquilo que você fez lá fora foi... incrível.

Continuou sem responder.

— A nave era sua?

Nada.

— Se era, eu posso lhe oferecer um trato.

De súbito, interesse.

— Um capitão me mandou te falar que ele pode oferecer uma viagem a qualquer lugar, desde que você o ajude a... recuperar uma nave.

Àquela altura esse era um dos melhores tratos que Aldreith poderia conseguir, pois, afinal, para quem não tem nada, metade é o dobro.

Teria de encontrar o tal capitão ao cair da noite, perto do porto. Com o aproximar da hora começou uma leve chuva, e o Jedi Cinza achou que aquilo era perfeito. Lágrimas metafísicas para seus companheiros caídos.

Podia ver, sentado em um banco, a silhueta de seu contato. Aproximou-se com cautela, imaginando que aquele devia ser um homem procurado ou que, se não fosse, ser visto com um poderia torná-lo.

No fim das contas, suas suspeitas confirmaram-se.

O capitão H'ulf era, de fato, um homem procurado.

Um sorriso cresceu aos poucos no rosto de Aldreith, sem acreditar.

— É preciso um pouco mais do que aquela presepada para nos pegar, Starseeker.

— Onde está Ada?

— Um pouco mais escondida. O Império a quer muito mais do que quer a nós. Agora, meu amigo, venha. Precisamos capturar a nave daqueles caçadores de recompensa se quisermos sair daqui.

H'ulf guiou-o por entre algumas ruelas escuras e apertadas até que finalmente encontraram a nave: guardada junto de outras muitas em um gigantesco galpão, sendo vigiada incansavelmente por troopers de armadura branca.

A nave deles era uma Slave II grande e pintada de azul — a cor de sua companhia, pelo visto —, de ângulos quadrados e pouco atrativos.

Aldreith não precisou se esforçar para capturá-la. Bastou dizer aos guardas que eles não se lembrariam de nada e tirá-la de lá usando a Força. H'ulf a botou para funcionar e encontraram Ada pouco antes da partida, vestida como mendiga, no porto.

Afinal a viagem se concretizou e eles chegaram finalmente a Jakku.

— Ora, ora — suspirou Ada. — Imagino que você se junte à Rebelião quando acabar aqui? Sendo procurado pelo Império e tudo o mais agora...

— Não — respondeu Starseeker resolutamente. — De forma alguma.

— O quê? E o que pretende fazer, então?

— Aceitar as consequências de meu ato. Traí as convicções de minha Ordem duas vezes, uma quando Jedi e outra como Jedi Cinza. Talvez eu tenha bagunçado ainda mais a Força em minha missão, e, nesse caso, tenho de ser punido. E se for a morte minha punição, não há nada que eu possa fazer.

O clima na nave ficou tenso. A tenente e o capitão ouviram suas palavras com um semblante triste.

— E como saberá o que o destino lhe reserva... Jedi?

— A Força me dirá, capitão. Bem, obrigado por toda a ajuda. E até mais.

Despediram-se assim, simplesmente. Aldreith ficou no planeta observando a nave partir. Só quando ela já estava muito longe foi que ele percebeu que jamais poderia saber quão longe no futuro havia visto.

Hal'zarr nunca chegara no planeta, e ficaria longe dele por meses que seguiriam.

Sendo impossível de se rastrear, tudo que Aldreith pode fazer foi esperar. E esperar.

E esperar.

Até que, finalmente, acordou com uma sensação estranha. A Força havia sido perturbada pela aproximação de seu antigo companheiro.

Afinal.

Hal'zarr vinha em um TIE fighter, e Aldreith seguiu a nave até seu ponto de pouso. Ele desceu no meio do deserto — o que não dizia muito, dado que o planeta inteiro era areia amarela e reluzente, quente sob seus pés — e, então, seguiu em frente a pé por algum tempo.

Estava sozinho.

O Jedi Cinza seguiu-o escondido até constatar esse fato, quando parou de se esforçar. Simplesmente saltou da duna que usava como esconderijo e encarou seu ex-companheiro. Hal'zarr parou.

— Jakku é um planeta bem isolado. Nem imagino como você me encontrou aqui... — disse Hal'zarr.

— Você mesmo me trouxe, acredite ou não — retrucou o Jedi Cinza.

Enquanto Starseeker parecia usar a mesma veste surrada desde sempre, o companheiro agora estava diferente. Trocara seus robes por uma roupa negra de longa capa nas costas, as mãos estavam cobertas por luvas, os pés enfiados em botas. Tudo negro.

Hal'zarr virou-se lentamente na direção de Aldreith, revelando seu rosto agora marcado de cicatrizes. Tinha a pele azul e os olhos amarelos dos quais o amigo se lembrava, mas não era o mesmo olhar.

— Sempre soube que seria você a vir atrás de mim, Al. Soube antes mesmo de você começar sua caçada infrutífera.

— Era preciso.

— Sabe que eu acho que você é um Cinza por pura consequência? Sempre adorou o Lado Luminoso, sempre foi o mais correto possível. Mesmo quando banido ainda achou uma forma de ser um Jedi, não é?

— Isso não importa agora. Importa que estou aqui para corrigir seu... meu... nosso erro. Jamais deveria tê-lo instruído nos caminhos da Força.

— Infelizmente o fez. E agora vem correndo ao chamado do dever. Eu sempre entendi essa sua dedicação, sabe? E agora acho isso lamentável. Se você pudesse ser menos dedicado, não teríamos de nos enfrentar.

— Mas temos. Você não é um Sith ainda, e não posso permitir que torne-se.

— E como fará isso? Ao fim de duas décadas, serei o melhor Sith que já houve.

— Não se trata de ser o melhor deles, trata-se de ter sido o melhor de nós e então ter-nos abandonado. Você deve ter sentido, não? O desequilíbrio na Força.

— Sim, senti. Mas isso não é mais problema meu.

— Tem razão. — Sacou seu sabre de luz, segurando a empunhadura na mão direita. — É meu.

Atirou longe sua capa, revelando pela primeira vez, em muito tempo, o que havia por baixo: uma armadura branca que chegava a reluzir naquele deserto. Era formada de muitas placas no peito e no torso como um todo, poucas placas — muito longas — para as pernas e uma só, maciça, às costas. O capacete era achatado e contornava quase exatamente sua cabeça, cobrindo-lhe o rosto inteiro exceto pela parte inferior — por onde deixava sair um queixo pontudo e de pele rosada.

A viseira era um vidro negro por onde não se podiam ver seus olhos. Tudo feito de uma liga mandaloriana — um material que nem mesmo sabres de luz conseguiam cortar — e era dura só de olhar.

Hal'zarr não conhecia aquela armadura e não tinha certeza de quão resistente era, por isso alcançou seu sabre também. Este tinha a empunhadura curvada, indo além de sua mão. Era vermelho como o de um Sith e servia bem para o que ele era agora: um Jedi Negro.

— Ainda não disse o que te faz pensar que vai me derrotar agora.

— A Força está comigo — respondeu Aldreith, acionando o seu também.

O sabre de Aldreith era bem comum: tinha uma empunhadura reta, porém longa, que o permitia usá-lo com uma ou duas mãos. O que se diferenciava era a cor do laser: apagado, sem muita iluminação — diferente dos sabres comuns —, tinha somente uma leve aura bruxuleante ao redor enquanto a cor, em si, era cinza. Poucos eram os sabres descoloridos como o seu, e isso só mostrava o tamanho de sua — e de sua ordem — dedicação ao equilíbrio da Força.

Por um momento eles se encararam com aquele som característico — parecido com uma vibração — como trilha sonora.

— Não se dê o trabalho. Você mesmo disse que eu era o melhor. Acabou. Você não pode mais me ver.

E de fato não mais podia. Hal'zarr manipulava sua mente de forma a simplesmente se apagar do campo de visão de Aldreith. Mas o Jedi Cinza não precisava ver o Negro, podia simplesmente senti-lo com a Força.

Fechou seus olhos e sentiu a Força, sentiu-a correr por todas as coisas vivas naquele deserto. A maioria estava distante ou em baixo de seus pés, enquanto apenas uma forma amorfa avançava contra ele.

Ainda de olhos fechados, levantou seu sabre e aparou o golpe de Hal'zarr. O outro veio pela esquerda, mas também foi aparado. Os sabres soltavam pequenas explosões de luz ao colidirem, e colidiram diversas e diversas vezes até Hal'zarr recuar e permitir que Aldreith o visse outra vez. Estava admirado, apesar de tudo.

O Jedi Negro atirou seu sabre contra o Jedi Cinza, mas ele aparou o golpe e jogou a arma para trás. Percebeu quase tarde demais o que acontecia ali, e teve de ser rápido para impedir o sabre voador de cortar sua cabeça. Tinha de lutar com o sabre enquanto preocupava-se com qual seria o próximo movimento do inimigo. Não tinha tempo de armar um plano de verdade.

Foi quando a lâmina vermelha desceu contra ele, que segurou-a com sua lâmina cinza. Sentiu-se ser desequilibrado por um golpe imaterial advindo da Força. O Jedi Cinza precisou se concentrar para poder ficar em pé, mas logo após conseguiu força o suficiente para fazer com que ambos os sabres lutassem sozinhos enquanto ele avançava até Hal'zarr.

Vendo mais uma técnica falhar, ele pulou por cima de Aldreith e puxou seu sabre de volta, pulando para pegar o do inimigo. O Cinza, no entanto, fez com que seu sabre rodopiasse no ar e abrisse um lanho dolorido nas costas de Hal'zarr antes de voltar para sua mão.

Eles avançaram uma vez mais, os sabres colidindo e se repelindo.

Aldreith pulou, usando a Força como propulsão, e ergueu o sabre acima da cabeça. Hal'zarr colocou o seu como se fosse uma barra para defender do golpe, mas o Jedi Cinza simplesmente desligou seu sabre no último segundo, passando direto pelo do inimigo e tornando a ligá-lo na altura do peito.

O Jedi Negro não poderia defender-se deste golpe, então simplesmente pulou para o lado e rolou na areia. Ao ficar em pé teve de erguer o sabre rapidamente e usar sua Força para combater os raios de Aldreith.

— Sabe... Sempre adorei aquele seu primeiro sabre. Lembra? O que tinha duas pontas? Então eu fiz algo parecido com esse.

Desativou a lâmina e virou a empunhadura. Do lado curvado surgiu outro raio vermelho.

— Usei cristais diferentes aqui... para que fosse mais fácil de manipular.

A lâmina então caiu em direção ao chão, enrolando-se como uma corda. Hal'zarr empunhava um maldito chicote de luz. E era enorme.

O chicote estalou perigosamente perto do rosto de Aldreith, que pulou e avançou. Outro estalo, agora no peito de sua armadura, que o atirou para trás de costas na areia. Rolou para um lado e para o outro antes de ficar em pé. Precisava dar um jeito de parar aquele chicote.

O raio de luz avançou contra ele outra vez, e o Jedi Cinza teve a ideia de erguer seu sabre para parar o golpe. O resultado foi que o chicote enrolou-se na lâmina cinza e, com um puxão mais forte, Aldreith acabou desarmado.

Pulou para a direita, avançando com um ataque de Força, mas Hal'zarr permaneceu sem ser afetado. Foi só quando o chicote subiu que ele entendeu a ideia por trás do golpe. O sabre que fora atirado para atrás dele de repente ligou e avançou. Embora o Jedi Negro conseguisse desviar, seu chicote não teve a mesma sorte e acabou tendo a empunhadura cortada ao meio — efetivamente inutilizando-o.

Starseeker encarou-o, e Hal'zarr pareceu confuso.

— Vamos! Acabe comigo, droga!

— Apesar de tudo, ainda o vejo como meu velho amigo, meu antigo companheiro... Por isso, ofereço-lhe uma chance. — Enfiou a mão em um compartimento escondido da armadura e pegou alguma coisa. — Embora eu tenha me desfeito de meu antigo sabre, aquele cujas duas pontas mataram outros Cavaleiros Jedi e mesmo simples inocentes, tenho aqui comigo um outro sabre. — Dizendo isso, jogou a empunhadura à frente do rosto de Hal'zarr. Esta era simples, reta, sem nada que chamasse a atenção. — Use seu sabre original, padawan, e me enfrente não como Jedi Negro, mas como Hal'zarr.

Sua resposta foi acender o raio azul daquele sabre.

Finalmente, muito mais como iguais do que como inimigos mortais, avançaram um contra o outro. Hal'zarr pulou e girou por cima de Aldreith, que defendeu seus golpes com maestria. A lâmina cinza fez um golpe rápido à direita, à esquerda, por cima, e Hal'zarr começava a ceder terreno.

Agora ele via a verdadeira capacidade de seu antigo mestre.

Enquanto o sabre azul aparava com cada vez mais dificuldade, o sabre cinza cortava, recuava e descia outra vez. Aldreith atacava com cada vez mais força, talvez cada vez mais raiva. Quando Hal'zarr achou que teria a chance perfeita de um ataque, Starseeker simplesmente propulsionou-se em uma velocidade assustadora, um Force Dash, para trás dele e cortou-lhe transversalmente nas costas.

Hal'zarr gritou. Atacou seu mestre, mas este aparou o golpe. As lâminas desceram até os combatentes terem seus rosto colados e Aldreith o acertou com uma cabeçada. Sem equilíbrio, foi fácil para Hal'zarr terminar desarmado.

Seu mestre o atirou ao chão com a Força e praticamente o prendeu lá. O golpe final estava vindo.

Hal'zarr finalmente entendera: não importava se eles se envolviam com a Força para se proteger de golpes da Força; em algum momento alguém teria um domínio muito além disso. Esses dois eram assim.

Por isso ele conseguiu revidar. Simplesmente fechou os olhos e atacou o antigo mestre com a Força, atirando-o para trás. Starseeker largou o sabre azul, e o Jedi Negro o recuperou.

Mais uma vez cruzaram lâminas. Hal'zarr atirou-se ao chão e tentou cortar fora as pernas de seu mestre, que deu um salto mortal e caiu em cima dele. O Negro afundou a cara na areia, mas conseguiu virar a tempo de desestabilizar Aldreith.

Levantou com velocidade e fúria, brandindo seu sabre de forma a cortar mesmo através da armadura e arrancar sua mão direita. Enquanto Starseeker gritava de dor, penetrou Hal'zarr no estômago.

Ambos caíram.

— Bem — bufou Hal'zarr —, pelo menos agora você tem algo para se lembrar de mim.

— Jamais me esqueceria de você, amigo. Jamais me esqueci. — Sua mão tateou até estar perto do antigo padawan. — Agora... espero que você possa me perdoar algum dia.

— Era preciso... É preciso. Faça.

"Mestre."

Foi sua última palavra antes de Starseeker ativar o sabre de luz outra vez e atravessá-lo diretamente no coração, antes de subir a lâmina e abrir-lhe um corte até o pescoço.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Antes que alguém fale, eu vou contar: a Joia é meio que um Easter Egg "hardcore", só pra quem sabe de Star Wars antes de Star Wars. George Lucas tinha o plano de que Darth Vader buscasse um tipo de "Santo Graal" da Força e foi isso que referenciei quando falei da Joia. Espero que tenham gostado e até mais o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tons de Cinza" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.