Fix Me escrita por Angel


Capítulo 70
Balde de Lágrimas




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Acordei com gritaria vindo do lado de fora. Não era nem nove da manhã e esse pessoal já está acordado?! Resmunguei e depois de muito esforço, sai da cama. Tomei um banho e senti a coisinha se mexer novamente,  me pegando pensando nele. O aroma de menta, será que foi apenas sonho? Acho que estou mesmo carente! Lucas logo bateu na porta do meu quarto e deixei ele entrar. Terminei meu banho, me enxuguei e voltei para o quarto para me arrumar enquanto meu irmão estava deitado na minha cama encarando o teto.
— Se divertiu ontem a noite?
— Desculpe, pequena. Eu disse que iria te proteger, mas logo no primeiro dia aqui eu já te abandonei.
Falou com um sorriso triste. Eu coloquei uma leggy preta e uma camiseta branca folgada e deitei ao seu lado encarando o teto também.
— E eu te esqueci e fui comer pipoca com a Lauren.  Desculpe. Estamos quites agora?
Ele riu e me abraçou.
— Você não existe.
Falou me encarando com um sorriso. Para não ficar pensando besteiras,  tentei troca de assunto.
— E então... o que você fez ontem?
— Bebi pra caramba com uns caras e ficamos jogando dominó até a madrugada. Esses caras são engraçados.
Falou sorrindo.
— Que bom que se divertiu. Faz tempo que não vejo você sorrindo. Senti falta disso.
— Dormi tanto assim?
— Acho que mais de um ano e meio.
— Nossa. Por isso estou magro.
Rimos de sua careta e saímos de casa para tomar café. Durante o caminho para a casa grande, um menino pequeno estava andando com dificuldade e caiu perto de Lucas. Ele se abaixou e levantou o pequeno que estava quase chorando.
— Não chore. Não foi nada.
Balançou e brincou com o bebê até ele sorriu. Eles até se pareciam... espera, este não é...
— FILL!
Ouvi uma outra voz feminina conhecida. Alex. Congelei na hora, e quando ela encarou Lucas com Fillmore, ela se aproximou, abriu a boca e quase começou a chorar,  se não tivesse desmaiado primeiro.
***
Após duas horas num quarto bem iluminado e cheio de camas arrumadas, Alex acordou aos poucos.
— Alice?
—Sim?
— Tive um sonho estranho.
— Qual?
— Sonhei que Lucas estava vivo e com o Fillmore no colo.
— Como você sabe meu nome?
Lucas perguntou do outro lado da cama, sentado no chão enquanto brincava com o bebê. Alex levantou rapidamente e fez careta de dor.
— Lu. ..Lucas?!
— Sim. Sou eu. Já nos conhecemos?
Ele perguntou neutro e sem tirar os olhos do Fill.
Alex olhou para mim triste querendo uma resposta.
— Ele esteve em coma na casa de Dragon,  e acordou com amnésia. Parece que ele só lembra de mim, porque eu falava com ele todos os dias que eu tive lá.
— Espere. Você estava na casa de Dragon.
— O nome dele é Rodrigo, e parece que ele é meu pai.
Lucas concluiu.
Alex começou a respirar rápido e começou a chorar.
— Alice... o que eu faço?
Ela me olhou enquanto chorava e eu a abracei. Lucas se levantou assustado.
— Eu disse algo que não deveria?
Olhei para Lucas triste.
— Não,  maninho. Você não tem culpa disso. Apenas nos dê um tempo.  Por favor.
Ele assentiu, deixou o bebê em cima das pernas de Alex e saiu fechando a porta.
— Alex, ele não sabe de nada. Nem do Fill. Você quer falar a verdade?
— Não.  Não vou deixar ele preso num lugar que ele não pertence mais. Sou esposa de Nicolas Sarkozy e Lucas tem que viver a vida dele. Mesmo, mesmo que isso doa no começo,  é o certo a fazer.
Ela voltou a chorar e soluçar.
— Sabe que pode confiar em mim sempre que precisar. Fillmore ainda é meu sobrinho e considero vocês dois como parte da família. Então não se esqueça,  esta bem?
Ela assentiu e me abraçou mais forte antes de se acalmar.
— Obrigada, Alice.
Sorri enquanto acariciava seus cabelos cor de fogo. O clima estava legal, até minha barriga começar a falar e Alex começar a rir.
— Desculpe.
— Tudo bem. A culpa é minha por ter te segurado logo de manhã. Vai tomar café, ficarei mais um pouco aqui com o Fill.
Deu um beijo nela e no bebê e sai em direção a cozinha, quando vejo um vulto familiar que aperta meu coração e inquieta o feto.
Comecei a andar rápido para onde foi aquele vulto,  os fundos da casa, um corredor infinito de portas e entre uma delas, a sombra entrou. Parei na frente da porta escolhida e respirei fundo antes de entrar. Encontrei um quarto vazio, com apenas um piano e uma pequena caixa de madeira em cima dela. A janela estava aberta e eu não encontrei ninguém no ambiente. Sentei no banco do piano e abri a caixa, encontrando fotos do meu casamento. Folheei todas, e cada uma me dava um sentimento nostálgico e único. As lágrimas não resistiram e começaram a sair. Ao tirar as fotos, encontrei a aliança que Thomas deu para mim, como um pedido para eu ficar ao seu lado...
— Pela eternidade. - Suspirei. -  Não era para acabar assim.
Falei antes de tampar a boca e me encolher para abafar os soluços.
Após me acalmar um pouco,  guardei as fotos, tentei colocar o anel no dedo anelar esquerdo, mas meus dedos estavam inchados, então coloquei no colar que eu usava, depois abri o piano preto. Passeei os dedos nas teclas e comecei a tocar uma música tranquila que não sabia o nome, mas era a memória de uma lembrança boa para mim. Eu sinto isso ao fechar os olhos e apreciar o som, até ouvir um acompanhamento ao meu lado. Não queria estragar o clima, e, com medo, continuei com os olhos fechados tocando com meu companheiro misterioso. No final da música, o vento trouxe um aroma calmo de menta, que acelerou meu coração e reiniciou o choro. Me afastei das teclas e virei o rosto. A pessoal parou de tocar, pegou em minha nuca com delicadeza e puxou com cuidado para perto. Minha respiração falhou e ainda com os olhos fechados, senti algo úmido e quente tocar em minha testa. Um beijo.
— Sempre estarei por perto para te proteger, mesmo você não vendo. Acho que assim é melhor, para nosso filho.
Coloquei a mão na boca para abafar os soluços e encostei em seu peito e virava a cabeça para os lado, mostrando que não queria isso enquanto ele continuava a sussurrar.
— Está tudo bem, Minnie.  Não se preocupe comigo e, obrigado pelos vídeos. - Ele riu fraco. - Eu amei cada detalhe do quarto do pequeno. Mas, posso te pedir um favor? Se for menino, poderia colocar o nome dele de.. Timothy?
Abri os olhos e percebi encontrei Thomas pálido e com olheiras.
— Tommy,  o ... o que houve? Você está tão...
— Fraco?
Ele desviou o olhar e riu sem força.
— Thomas, o que você andou fazendo?
— Se você acha que eu estava atrás de Dragon,  não precisa se preocupar.  Não estava. Fiquei aqui por um tempo para voltar a treinar e ajudar a construir novas casas. Parece que muitos querem ficar aqui. Mas não consigo dormir e nem relaxar. E-eu não sei porque.
— Já falou com Charlie?
Ele ficou sério.
— Não. Desde o dia que ele te pegou.
— Fazia parte do plano. Não o culpe!
Ele suspirou e apoiou sua cabeça em meu ombro. Coloquei a mão em seus cabelos e comecei a passar a mão.
— Quem era Timothy,  Thomas?
Ele se afastou e levantou, sentando no chão perto da janela. Acompanhei ele e sentei ao seu lado, com sua ajuda, por causa da barriga.
— Meus pais já foram mais... apaixonados. Eles se conheceram na faculdade e depois de anos de amizade,  o amor floresceu. Mas os pais de nenhum dos lados aceitavam essa união. Os pais de James eram da máfia e os de Amélia trabalhavam no governo. Mas os dois não conseguiam viver longe um do outro e fugiram e viveram nas montanhas. Mas meus avôs de ambos os lados descobriram e separaram os dois a força,  foi aí que Amélia descobriu que estava grávida e, por obrigação,  meu pai teve que cuidar dela e do bebê.  Eles se casaram e Timothy nasceu, perfeito e com saúde. Assim eu vim em seguida,  depois de três anos.  Parecíamos uma família feliz. Eu lembro até hoje de brincar com meu irmão no jardim de meus avós no palácio da rainha.
— A-A rainha da Inglaterra?!
Ele sorriu.
— Sim. Mas na volta nosso carro foi atingido e nos pegaram. Lembro até hoje de estar preso em uma jaula de animal com meu irmão enquanto via meus pais sendo torturados por caras com capuz vermelho que cobria a cabeça toda. Meu irmão já tinha sete anos quando conseguiu nos tirar daquela jaula e soltar nossos pais. Conseguimos fugir até o portão principal. Até ...
Senti suas mãos apertarem e ele baixou a cabeça.
— Tommy,  se não quiser contar, tudo...
— Não. Você precisa saber de tudo. Do porque eu ser assim e não conseguir confiar em ninguém. - Ele respirou fundo novamente e me olhou. - o chefe daquela família que contratou uns mercenários conseguiu pegar Timothy e começou a torturar ele na nossa frente,  enquanto os seus empregados nos prendia e nos imobilizava para ver aquela cena. Ele quebrou os dedos do meu irmão e ficou fazendo cortes em lugares fatais que doía muito e poderia levá-lo a morte. Mas meu irmão não desistiu.  Mesmo ele sabendo que estávamos preocupado com ele, ele não deixou de lutar e cortar um olho do homem.
Tapei a boca e voltei a chorar enquanto imaginava cada cena. E a última me deixou enjoada. Me encolhi um pouco para pegar ar. Thomas não se mexeu e não mostrou preocupação. Ele fica diferente quando fala de seu irmão.
— Con... continue.
— É isso. Meu irmão morreu com um tiro no coração,  mas morreu lutando.  Um ano depois disso minha mãe ficou grávida novamente e meu pai acordou para a vida e mirou em mim para ser o próximo herdeiro. Ele queria que eu fosse forte como o Tim, mas eu não conseguia e, com medo, fugi. Foi aí que te conheci e ganhei esperanças novamente.
Eu já não parava de chorar, meus olhos ardiam e a cara, com certeza já estava um tomate de vermelho.
— Alice,  te contei minha história toda. Agora, você me conhece todo. E sabe o porque estou longe.  Do porque precisamos nos separar.
Ele ia passar a mão na minha cabeça mas eu evitei batendo nela e levantando o rosto brava.
— Como assim: "eu sei do porque de estar longe?!". Já disse para você me perguntar sobre as coisas, droga! Já disse para não ficar decidindo tudo por nós!  Você sabe disso! Você prometeu para mim que. ..
Senti uma pontada na barriga, desta vez, mais forte do que o normal, e fiquei com medo e me encolhi.
— Alice, se acalme. Respire.
— Não me peça para ficar calma!
Falei entre dentes.
Ele se aproximou e me abraçou,  fazêndo carinho nas minhas costas.
— O que...
— Shi!
Ele me fez ficar quieta até eu me acalmar.
— Passou?
Perguntou se afastando e eu assenti sem olhar para seu rosto. Ele suspirou.
— Você sabe do porque de eu ficar assim. Você causa isso quando acha que está certo e me irrita!
Falei encarando o chão. Ouvi Thomas rir.
— Eu tinha medo de ter uma recaída e te machucar.
— Isso não é desculpa. Charlie te curou!
— Eu sei. Mas eu não senti confiança, então percebi que eu precisava ficar sozinho para pensar.
— Pensar em que? Se iria ficar comigo ou não?  Se iria cuidar deste bebê ou abandoná-lo?
Virou para mim e me encarou com um olhar vazio.
— Se viver valeria a pena.
Bati em seu rosto forte e levantei ficando na sua frente.
— Como pode pensar numa coisa dessas? Você não pode morrer! Sua mãe, pai, irmão,  amigos, eu e SEU filho sofreriam se você não estivesse aqui. Então eu te PROIBO de pensar em algo assim ou querer fazer algo desse jeito! - os hormônios estavam me matando e eu voltei a chorar,  de novo! - eu... Não consigo viver sem você,  Thomas. E não quero me separar. Eu quero ter uma família com você. Por favor, não. .. Não me deixe, de novo.
Ele me encarou surpreso e se levantou devagar, se aproximando do piano e parou por um tempo. Depois virou, tirou meu colar e se ajoelhou diante de mim e colocou aquele solitário em meu dedo novamente, com um pouco de esforço.
— Nunca mais tire isso de seu dedo.
— Porque? Você nem me deu uma resposta.
— Dei sim. Essa aliança prova nosso amor e união, assim como a flor lilás.  Continue com ele e eu sempre voltei para você.
Ele se levantou e me abraçou.
— Me perdoe,  Alice. Eu também não consigo viver sem você. Eu te amo.
Eu o abracei de volta e chorei até acabar meu estoque.
— Também te amo, seu Bobo.
Senti um ser humaninho se mexer dentro de mim. Acho que ele também amou nossa união de volta.


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