Loucura escrita por Unknown Griffin


Capítulo 1
Louca Três Vezes


Notas iniciais do capítulo

Um simples experimento. Caso leia, espero que goste.



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I

Era a primeira vez que faria aquela loucura – e ela estava nervosa.

Ela apenas o tocou quando teve certeza que ele adormecera. Depositou a cabeça de Naruto sobre seu colo, acariciando as madeixas loiras de forma terna. Seus longos cabelos escarlates jaziam espalhados pela grama vívida. Seus lábios curvados em um doce sorriso.

Ficou satisfeita por apenas ficar ali, perto daquela criança teimosa e extravagante que sempre estava sozinha. Quando Naruto finalmente começou a abrir os olhos, a incerteza brotou em seu coração – ela realmente tinha um? — de forma imediata.

Os olhos azuis do pequeno vagaram pelo vasto campo até mirarem os seus próprios orbes vermelhos.

“Eu morri?”

Ela piscou confusa, inclinando levemente a cabeça.

“Por que pergunta?”

Naruto permaneceu sério.

“Porque você é um anjo, não é?”

Suas sobrancelhas arquearam-se em espanto com as palavras do loirinho. Ela riu melodiosamente enquanto sentiu sua face esquentar em rubro.

“Não, você não morreu e eu não sou um anjo.”

Ele franziu o cenho, como se a estivesse julgando a veracidade daquelas palavras.

No final das contas ele apenas sentou-se e olhou em volta do lugar onde estavam antes de mirá-la mais uma vez.

“Onde estamos?” ele lhe perguntou após alguns momentos.

“Eu um lugar muito especial, Naru-chan.”

Ele observou o campo verdejante mais uma vez, vendo o céu azul e o lago que jazia no horizonte quando estreitou seus olhinhos pequenos. Voltou a encarar a mulher de cabelos vermelhos.

“Especial?” Naruto perguntou.

Ela sorriu mais uma vez.

“Sim, um lugar muito especial, aqui ninguém poderá machucar você.”

O garoto arregalou os olhos quando ouviu aquilo. Realmente existia um lugar assim – longe dos olhares frios, dos sussurros e do desprezo? Ele levantou-se rapidamente, encarando-a de forma intensa.

“É mentira!” ele gritou.

Ele não soube o porquê, mas sentiu seu peito apertar quando viu a expressão triste que se formou no rosto daquela bela mulher. Ela levou seus olhos escarlates até o chão, aparentemente procurando algo para dizer.

Naruto falou novamente antes que ela pudesse dizer algo.

“Não existe um lugar assim! Aonde quer que eu vá, todos nunca me reconhecem! Sempre me ignorando, me desprezando e me deixando sozinho!”

Ele tragou uma grande quantidade de ar para poder continuar.

“Eu não seu quem você é, mas não vou deixar que me-”

As palavras morreram na garganta do loiro quando ela o abraçou. Nunca tendo tido esse tipo de contato antes, Naruto pôde apenas enrijecer seu pequeno corpo enquanto ela acariciava suas costas, repousando seu queixo sobre sua cabeça. Ela o segurava forte, como se a qualquer momento o menino em sua frente fosse sumir.

“Perdoe-me... por favor, me perdoe-me.”

O menino não lhe respondeu; preferiu fazer algo que qualquer criança faria – chorar. Ela o segurou ali, aguentando toda a agonia do pequeno enquanto sentia o peso enorme da culpa cair sobre seus ombros.

“V-Você sabe? Sabe por que todos me odeiam?”

A pergunta foi carregada de esperança, ela sabia que não poderia recusar, mas também sabia que não poderia revelar a verdade – não ainda.

“Sim, Naru-chan, eu sei.”

Ele se afastou para olhá-la, seus olhos azuis estavam vermelhos pelo choro.

“Pode... Pode me dizer?”

O rosto da mulher decaiu de forma tristonha, e Naruto soube naquele momento que não conseguiria nada.

“Sinto muito, mas ainda não é a hora.”

Ela o empurrou gentilmente para baixo, o colocando na mesma posição de antes. A mulher voltou a afagar seus cabelos, o olhando de forma tão cálida que, por um instante, Naruto teve a certeza de que não estava mais sozinho.

“Têm certeza de que você não é um anjo?”

Ela sorriu mais uma vez e chacoalhou a cabeça em negação.

“Eu vou ver você de novo?”

Ela parou de acariciar suas madeixas e assumiu uma expressão distante. Naruto já se preparava para retirar o que tinha dito quando ela soltou um rápido suspiro.

“Se você precisar de mim, quem sabe, Naru-chan, quem sabe...”

Se eu for louca o bastante mais uma vez.

Naruto adormeceu segundos depois.

II

Era a segunda vez que faria aquela loucura – e ela estava aborrecida.

Ele havia sido sedado devido à cirurgia, tornando ainda mais fácil para ela aparecer em frente ao loiro. Estavam no mesmo campo de anos atrás, mas desta vez ele já não apenas mais uma criança teimosa e extravagante, agora ele havia crescido e se tornado um menino sonhador e esforçado que havia ido até o fim do mundo para tentar salvar seu amigo desertor – um Uchiha — e havia pagado um preço alto por isso.

Ela ainda não conseguia esquecer-se do chidori que quase o matou.

Foi retirada de seus devaneios quando percebeu que Naruto abrira os olhos. O garoto olhou os arredores estranhamente familiares por alguns instantes, antes de pulara para frente de forma arisca.

“Sasuke!” ele bradou.

“Onde ele está?!”

Foi então que ele a viu; ela não havia mudado absolutamente nada – estava tão bela como se recordava. A única coisa diferente sendo a carranca irritadiça que ela ostentava, fazendo seus olhos vermelhos ganharem um brilho selvagem e letal.

“Longe,” a mulher respondeu num tom áspero, “e se aquele pirralho for realmente o gênio que dizem ser, vai se distanciar ainda mais.”

“O que?! Por que diz isso?!” o loiro lançou em retorno.

Ela sentiu o resquício de paciência que lhe restavam começar a sumir.

“Por quê?! Lembra-se do que aquele bastardo Uchiha fez com você!”

Naruto não tardou em retrucar.

“Sasuke não controlava suas próprias ações por causa do selo amaldiçoado, não o culpe por algo que você nem sequer sabe!”

Ele soube que disse algo errado quando viu os orbes escarlates da mulher tornarem-se frios feito gelo.

“É claro que eu sei de tudo, eu estava lá.”

Ele não entendeu o que ela queria dizer com aquilo já que caso a visse no Vale do Fim certamente se lembraria. Então outra recordação lhe atingiu, fazendo Naruto ter uma leve epifania.

“E os outros?! Shikamaru, Neji e o resto da equipe?” o loiro inquiriu de forma frenética.

“O Nara está bem, já os outros tiveram ferimentos graves. O Hyūga talvez ainda esteja em cirurgia.”

Naruto sentiu suas pernas ficarem bambas quando recebeu aquela notícia. Ele não só havia falhado em cumprir sua promessa para Sakura, mas essa falha possivelmente também veio ao custo da vida de seus amigos – pessoas preciosas que ele jurara proteger.

O loiro sentou-se na grama, estático. Não soube dizer por quanto tempo ficou ali, parado, mas foi desperto de seu torpor pela misteriosa mulher de cabelos vermelhos quando ela se sentou em sua frente. Ambos apenas se escararam em silêncio por vários momentos até que ela finalmente falou.

“O que pretende fazer agora?”

Ele pensou bastante antes de falar.

“Irei treinar, ficar forte para trazer Sasuke de volta.”

Ela apenas suspirou de olhos fechados, já esperando aquele tipo de resposta.

Preparava-se para objetar quando vislumbrou o cintilar determinado que aquelas duas safiras ostentavam. Ela sabia que deveria dizer para ele largar seu amigo de mão, olhar olhara para frente e seguir com sua vida. Mas ao presenciar tanta convicção – e nem um pingo de malícia – esvaindo aos montesa daquele menino que a fascinara, ela não pôde ser capaz de negá-lo nada.

Ao final de tudo, ela ajoelhou-se e o chamou para deitar-se em seu colo. Naruto acatou a ordem seu pestanejar – para a eterna surpresa do loiro. Ela começou a afagar seus cabelos loiros com a mesma ternura que tivera anos atrás, e Naruto mais uma vez teve certeza de que jamais estaria sozinho mais uma vez.

“Eu vou ver você de novo?”

Ela lhe lançou um sorriso enigmático.

“Eu já lhe disse, Naru-chan... quem sabe.”

Eu já sei que sou louca o bastante para isso.

Ele tentou permanecer acordado, mas acabou dormindo tão rápido quanto à primeira vez.

III

Era a terceira vez que faria aquela loucura – e aquela seria a última.

Diferentemente da primeira vez, ele não estava sozinho. Muito pelo contrário, agora era muito difícil encontrar uma única alma viva que rejeitasse aquele sorriso enorme e personalidade aconchegante que ele não deixou de possuir. Ele agora era merecidamente reconhecido, não só por sua vila, mas por todo o mundo, como um herói que sempre foi.

Ele já não era mais uma criança, mas ainda era teimoso se extravagante.

Diferentemente da segunda vez, ele não estava abalado. Muito pelo contrário, agora ele esbanjava felicidade por ter finalmente cumprido sua promessa de trazer o Uchiha de volta para casa. E mesmo que ela não estivesse muito contente com isso, o fato dele estar feliz lhe era mais do que o suficiente.

Ele já não era mais um menino, mas ainda era sonhador e esforçado.

E era com um sorriso que ela admirava o homem em que ele havia se tornado. Era com um sorriso que ela via o resultado de tanto empenho e trabalho duro por parte dele... Era com um sorriso que ela via seus filhos sorrirem e correrem para abraçá-lo quando chegava em casa.

As crianças eram adoráveis.

Ela sabia que já não havia mais a necessidade de confortá-lo, ele não precisava mais pela para isso, mas ainda assim tinha de fazer aquilo – tinha de se despedir.

Por isso esperou até ele adormecer, e como de costume depositou sua cabeça sobre seu colo, acariciando suas madeixas loiras de forma terna. Seus longos cabelos escarlates jaziam espalhados pela grama vívida. Seus lábios curvados em um doce sorriso.

Quando as safiras de Naruto se abriram e encontraram os seus rubis, ele lhe lançou um sorriso que a deixou sem chão.

“Eu achei que não iria mais te ver.”

Ela riu, suprimindo com todo o custo os filetes de tristeza que tentavam escapar de seu coração.

“Como pôde achar uma coisa dessas?”

Eu sempre estive com você.

Naruto sorriu enquanto apanhava uma das mãos delicadas daquela mulher tão bela.

“Estou feliz por estar errado.”

Então ele depositou um beijo delicado sobre a palma macia de sua mão. Ela mordeu seu lábio inferior, tentando ainda mais ferozmente impedir as lágrimas de escorrerem por sua face. Naruto esticou seu braço direito para acariciar a face da mulher, ela estremeceu com o toque, fechando os olhos e suspirando contra a mão do loiro.

“Por que está triste?” ele perguntou.

Apesar de tudo, ela sorriu.

“Porque quando você despertar, não irá se lembrar de nada do que aconteceu.”

Ele a encarou por longos segundos, em nenhum momento parando as carícias em sua bochecha.

Ela o olhou nos olhos e, por um instante, não viu nada mais que aquela mesma criança teimosa e extravagante por quem se fascinara; aquele mesmo menino sonhador e esforçado por quem se apaixonara. E naquele momento desejou mais do que tudo poder retornar no tempo; retornar para corrigir os erros que havia cometido; retornar para confessar seu amor e, quem sabe, viver feliz ao lado daquele homem que agora jazia em seu colo.

Mas sabia que aquilo não seria possível.

“Deixe-me lembrar, então.” ele disse, como se fosse algo tão simples.

Ela sentiu seu corpo enrijecer quando ele proferiu aquelas palavras. A dor em seu coração era tanta que chegava a ser quase insuportável. Ainda assim, ela aguentou firme enquanto lhe respondia.

“Sabe que eu não posso fazer isso.” respondeu trêmula.

As safiras do loiro ganharam um triste brilho, e isso quebrou o coração da mulher mais um milhão de pedaços. Não suportando mais, ela deixou as lágrimas fluírem livremente, sentindo seu corpo estremecer conforme soluçava, sentindo-se impotente.

Ela não soube quando, mas só se deu conta de que Naruto a tomou nos braços quando seus lábios já estavam pressionados contra os dele. O choque foi rapidamente substituído por paixão, e ela retornou o beijo; quando se separaram, ele ainda a abraçava, e ela permitiu-se mergulhar no mar de calor que era Uzumaki Naruto.

“Por quê?” ele inquiriu em um sussurro.

Ela não respondeu de imediato, apenas manteve-se colada sobre seu peito largo e quente.

“Porque vai ser melhor para nós dois.”

O melhor para sua família.

“Eu vou ver você de novo?”

Ela sentiu seu peito apertar quando ouviu aquela pergunta. E mesmo tendo ensaiado inúmeras vezes a resposta, nada saíra de seus lábios. Tendo plena consciência de que daquela vez seria impossível dizer a ele a verdade por meio de palavras, ela repousou uma das mãos sobre o coração do homem que tanto amava, e enviou um mínimo impulso de chakra que se tomou a forma de um brilho vermelho.

Naruto franziu o cenho antes de ser bombardeado por uma chuva de memórias. Seu corpo e mente experimentando uma infinidade de sentimentos em apenas num piscar de olhos – ódio, tristeza, alegria, paixão e, finalmente, amor.

Ao final de tudo, o loiro estava paralisado devido às revelações que a mulher lhe concedera. Por isso não pôde fazer nada quando ela lhe abraçou pela última vez; não pôde fazer nada enquanto ela o beijava pela última vez; não pôde fazer nada quando ela começou a apagar cada uma das memórias que haviam de todos os seus encontros com aquela misteriosa mulher de cabelos vermelhos.

Ainda assim, quando tudo já estava quase acabado, quando a única coisa que o impedia de acordar daquele maravilhoso sonho era apenas um mínimo fio de chakra que ligava os dois, Naruto a ouviu confessar algo que trouxe um sorriso aos seus lábios.

“Naruto eu... eu sempre... eu-”

“Está tudo bem...” ele a interrompeu docemente, afagando as longas mechas escarlates daquela bela mulher, enquanto deixava-se perder a consciência.

Ela o sentiu se esvair de seus braços; sentiu seu calor dar lugar ao frio do vazio. E num piscar de olhos, ele já não estava mais lá. Ainda assim, ela sorriu quando escutou o eco distante das palavras que para sempre guardaria com todo o carinho em sua mente, corpo e alma.

Eu também amo você...

Kurama.


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Notas finais do capítulo

Agradeço caso tenha lido até aqui, até mais.



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