Ela não conseguia dormir. As lembranças não deixavam. E aquela troca de olhares? Fora como se uma descarga magnética, como um raio, uma magia forte, fosse despejada entre os olhos dos dois. Era perturbador. O olhar do professor Snape era normalmente assustador, intenso, sinistro, mas naquele momento havia algo mais. Alguma barreira desaparecera, e tudo que ela podia ver era fogo. Era algo que ela ainda não sabia nomear, mas que nunca havia visto antes. Só nos olhares entre seus pais, quando sua mãe era viva.

Severus Snape se apressou o mais que podia para seus aposentos. Eram quase ao lado da sala, mas muitas vezes poderia topar com algum aluno ou professor por ali. Não poderiam vê-lo daquela forma, naquele estado. Era impróprio para uma escola.

Escola. Ensinar. Luna o pedira para ensiná-la a ser mulher.

Só havia uma forma para aquilo. E era completamente impossível.

Apesar de que durante muitos meses fora um dos pensamentos de Snape. Quando via a distraída prima de Draco Malfoy na sala, ou passeando fora do castelo, zanzando num ritmo só dela (e num mundo também), nào podia dela tirar os olhos. Ela era linda, delicada, como outras meninas. Mas a inocência dela era o que mudava tudo. Não era forçado, era simples, sutil. Ela era inteligente, sagaz, sabia bem das coisas, mas tinha seu ritmo tão dela que era impossível não se encantar. Snape notara isso desde que Luna chegara a Hogwarts, mas com seu crescimento, seu "florescer" em uma mulher, as coisas se intensificaram, esquentaram.

Precisava se manter atento para não cometer deslizes no que a ela estava ligado.

Ele nunca vira os olhos dela daquele jeito. Abertos, atentos, quase como se ordenassem alguma coisa. Ele tornaria-se um súdito se olhasse mais cinco segundos naquele mar azul claro que eram os olhos de Luna.

Um mestre dos desejos dela, se ela assim o quisesse. WISHMASTER.

Ela só precisaria o olhar de novo.

E foi dessa forma que ele percebeu que não poderia continuar com aqueles encontros, com aquelas "aulas de Oclumência".