Quando passei por aquela porta escrita por Luana Willemann


Capítulo 9
Capítulo nove - Amnésia




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Nykolas havia dormido pela primeira vez em meu apartamento, fora carinhoso comigo durante essas horas em que estive deprimida, mas eu sei que ele sabia que o que eu sentia por ele não era apenas amizade, por mais que eu tentasse negar. Talvez ele estivesse esperando o momento de certo de agir, isso já não sei.

Preparei o café da manhã do jeitinho que sei que ele gosta e o acordei com vários beijinhos em seu rosto. Ele apenas sorriu e devolveu. Seu cabelo estava bagunçado, mas de um jeito sexy, sua roupa estava amassada e não havia nenhuma outra em meu apartamento, até porque não faria sentido ter roupas dele aqui.

Estava um dia bonito, mas quando digo isso, na verdade quero dizer que estava frio, garoando, e a vontade era de ficar em casa assistindo algum filme ao lado dele embaixo das cobertas, mas infelizmente tínhamos que trabalhar. Eu estava bem nos negócios, cada vez mais pessoas me procuravam e meu trabalho estava sendo reconhecido, estava sendo convidada para projetar grandes edifícios, o que me deixava muito orgulhosa.

No final da semana recebi uma mensagem de texto, era de Richard. Eu sei que eu precisava conversar com ele, mas ainda não era o momento certo, não me sentia bem para tocar neste assunto, nem mesmo com Nykolas falávamos sobre isso, era apenas espontâneo, como se isso já fosse parte de nossa rotina há anos. No momento apenas ignorei e sequer contei para Nykolas, que agora freqüentava mais vezes meu apartamento. Ajudávamos um ao outro em projetos, com os serviços de casa e estávamos saindo mais vezes juntos. Alguma das vezes convidava Hope, já que ela havia achado um cara bem parecido com ela. Ela parecia feliz, não que ela precisasse de um cara para ser, mas ela estava muito mais entusiasmada com as coisas agora do que antes.

Agora já estava ficando extremamente exaustivo, todos os dias ele me enviava cerca de cinco mensagens dizendo que quer falar comigo, que gostaria de voltar e que poderia esquecer o que ele viu. Sim, eu também precisava falar com ele, mas agora eu precisava do meu tempo, queria que tudo ocorresse bem nestas semanas, nada poderia dar errado. Tive que manter meu celular no silencioso para que não pudesse ouvir quando cada mensagem chegasse, até que finalmente retornei para ele da maneira mais direta possível.

Apesar de todas as vezes que não o respondi ele aparentava estar bem confiante em que iríamos voltar. Bem, se enganou. Nossa conversa não durou muito, tentei não magoá-lo, mas também não queria dar esperanças, pois agora com Nykolas estava tudo completamente bem e ele precisava entender isso. E acho que entendeu. Ele não falou muito, falei três vezes que o meu normal, mas acho que nos próximos dias não serei mais incomodada por ele. Quem sabe nos encontramos novamente, no futuro.

***

Eu estava ficando um pouco estressada com esses grandes projetos, mas agora já conseguia me bancar e, além disso, guardei boa parte do que ganho para finalmente poder me mudar para uma casa. Não que eu não goste de onde estou morando, mas uma casa parece ser muito mais aconchegante. Decidi então procurar algumas que estavam a venda, nada muito interessante, então resolvi eu mesma projetar a minha. Ás vezes penso se essa casa ficará enorme apenas comigo lá dentro, mas logo me vejo sonhando acordada com crianças correndo pela casa, fazendo muita bagunça, o pai delas se divertindo junto e eu como uma louca preparando o almoço de domingo enquanto limpo o rastro de brinquedos espalhados pela casa. E então vejo que não, não será nem um pouco grande, será pequena.

Passei a noite inteira rascunhando idéias de planta baixa, cobertura e também fachadas, procurando o melhor jeito de posicionar os cômodos, deixa uma ótima circulação e iluminação natural. Eu queria algo simples, mas também moderno. Ás vezes penso em me profissionalizar um pouco mais nessa área, talvez daqui alguns meses quando enfim minha casa estiver pronta.

Adormeci e acordei extremamente atrasada para uma reunião, não consegui tomar café direito, apenas coloquei meu traje formal e desloquei-me até o carro ouvindo algumas das ligações perdidas. Era incrível que, quando estou empenhada em algum projeto não ouço o que está ao redor, qualquer barulho ou movimentação que seja. Saio da garagem e pego logo a avenida, paro no sinal vermelho e espero alguns segundos até seguir em frente. Meu celular toca e atendo sem mesmo olhar quem é, reconheço pela voz, era Richard. Eu realmente achava que ele tivesse entendido e que não iria me procurar por um bom tempo, ele estava furioso, agressivo, não parecia ser o Richard que conheço, ou o Richard que eu achava que conhecia. Não sei bem o que aconteceu, mas quando me dei conta estava deitada em uma cama de hospital com Nykolas e Hope ao meu lado. Estava com as costas e a cabeça um pouco dolorida, não sei bem o porquê, não conseguia me lembrar de nada. Tudo que me vinha à memória agora era a minha vida na minha cidade natal. Apesar de essas duas pessoas terem dito seus nomes, eu não lembro quem são eles, e me sinto mal por isso, com culpa, pois acho que devia lembrar.

— Como você se chama? – perguntou a médica ao meu lado.

— Lauren – falei.

— Muito bem. Acredito que esteja um pouco assustada com tudo isso, não quero magoá-la, mas preciso lhe contar o que ocorreu e como está o seu caso. – disse ela por fim.

— Tudo bem. Acho que consigo lidar com isso – concordei.

— Então, você estava dirigindo seu carro em velocidade normal, mas não parou no sinal vermelho e... – falava a médica com uma voz mais baixa, parecendo ter muita experiência no que está fazendo – um carro vindo na sua esquerda não conseguiu parara tempo, mas você está aqui bem, e o outro motorista também. Mas... – tentou terminar.

Sempre há um mas nisso, e eu sabia que isso não era coisa boa, eu ainda estava no hospital, então eu realmente não estava em um bom estado, conseguia ver isso por mim e pelas caras dessas duas pessoas que estavam em meu quarto.

— Como sua pancada na cabeça foi forte, você adquiriu amnésia psicogênica. Não se preocupe. Com o tempo você poderá recuperar sua memória, mas levará um pouco de tempo e dedicação. – completou.

Fiquei abalada, mas aliviada por pelo menos saber que poderia lembrar realmente quem são as pessoas que agora estão conversando comigo, cada um sentado em um lado da minha cama. A Dra. Cloe disse que teria alta amanhã mesmo, mas escreveu uma folha inteira para mim com os cuidados que devo ter durante alguns meses, e claro, para que eu não me esqueça.


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